domingo, 23 de novembro de 2008

um domingo de sol e um passeio de bicicleta

a folga da mãe está chegando ao fim. as crianças voltam pra casa hoje. estou morrendo de saudades e acho uma delícia pensar que quando eu disser que 'tava morrendo de saudades' a pequena lívia vai dizer 'eu também tava morrendo de saudades de você, mamãe'. ela é paulistana e não fala "tu", como a mãe dela, esta que escreve. o joão gabriel não é muito chegado a declarações verbais, e quando volta pra casa vai direto pegar o playmobil, o brinquedo predileto, e começa a brincar.
depois de muita chuva ontem, hoje o céu de são paulo tem nuvens branquinhas mas muito sol. peguei minha bicicleta velhinha - fiquei fazendo umas contas, e creio que ela já passa dos 20 - e fui passear. tecnicamente eu moro no jardim paulistano. o bairro faz parte de um grupo de bairros que são chamados, aqui na cidade cinza, de "jardins". tem o paulistano, o paulista e o europa. coisa chique, mas na verdade eu moro em pinheiros. moro do outro lado de uma grande avenida, e os outros jardins ficam do lado de lá. pois bem, atravessei a tal avenida, que é uma coisa horrorosa, não atravessar a via, mas a via em si. um corredor, duas pistas para carro e uma para ônibus de um lado, o mesmo do outro lado. em dias de semana, os carros andam a 20, 40 km/h. nos fins de semana, correm.
se passa que do outro lado é um oásis. como diz meu amigo de juventude chiquinho, os ricos são formidáveis. do outro lado, mesmo passando das 10h, os jornais permanecem jogados nos quintais das casas, embalados em sacos plásticos. e seguranças cuidam da região. eu não contei, porque meu passeio de bici tava uma delícia e eu me distrairia dos pássaros e do céu azul, mas devo ter passado por no mínimo 30 guaritinhas nas calçadas, uns cubículos onde esses homens ficam sentados, ouvindo rádio ou vendo TV, cuidando do movimento.
das casas, não se ouvia nenhum som. em uma ou outra havia uma empregada, devidamente uniformizada, varrendo ou lavando as calçadas. e as crianças? se existem por ali, ou estavam dormindo, ou estavam em quartos com isolamento acústico. não ouvi nada.
o cheiro era bom. cheiro de limpeza, de sossego, de um lugar onde os problemas das pessoas devem ser bem diferentes dos meus.
passei pelo restaurante onde almocei durante os sete anos em que fui casada com o pai dos meus filhos, e as lembranças me fizeram rir. lembrei do querido clemente, avô dos meus filhos, um homem delicado e bruto como os que têm sangue italiano. fiquei com saudades e pensei que ele poderia estar dando risada do céu - será que anjos lêem pensamentos humanos?
voltei pra casa pedalando feliz da vida, o vento na minha cara, pensando que sozinha é em dobro, mas que estar sozinha às vezes não tem preço.