quarta-feira, 6 de agosto de 2008

faltou luz. e agora?

estava eu a trabalhar alegremente quando muitas nuvens escuras fizeram o início da tarde parecer o início da noite. abri as cortinas da imensa janela, mas mesmo assim tive de acender as luzes. a chuva chegou, e levou a energia elétrica. faltou luz.
a bateria do meu computador estava dentro dele, não sei por que. e continuei trabalhando alegremente, mas sem conexão com internet. viva! não podia mandar emails nem recebê-los. nem poderia mandar mensagens ou recebê-las pelo msn. viva! concentração total.
meu filho, jogado sobre a mesa gigante onde trabalho, começou a gemer gemidos de criança entediada. ele havia acabado de começar a ver um filme.
o que eu faço?, resmungava. e eu dizia pra ele brincar. e os resmungos não passavam.
mas eis que a bateria do meu computador acabou, e assim meu trabalho teve de ser encerrado, até a luz voltar. mas a tal da luz não voltava. e então fui dar uma dormida, daquelas bem no meio da tarde, maravilhosas.
quando acordo, meu filho está recortando, desenhando e colando pedacinhos de papel, uns sobre os outros. os serviços domésticos também foram suspensos, de forma que a santa nalva estava a desenhar e recortar e colar com meu filho.
sem internet, sem telefone - que está ligado "com" a internet -, sem computador. sem ferro de passar, sem luz para enxergar.
as crianças saem para a casa do pai, a santa nalva vai embora - porque não havia nada a ser feito sem luz. e eu sem trabalhar.
aí finalmente a noite chegou. e nada da luz. e nada de trabalho, nada de mensagens, nada de telefone, nada de barulho.
parei.
acendi as velas dos meus três castiçais, abri mais ainda as cortinas da imensa janela e fiquei olhando pra fora. vi a lua, e vi apartamentos sem nenhuma luz. "ufa, não é só comigo", percebi, aliviada e louca, ainda achando que era ruim não ter luz, não poder trabalhar, não poder nem ler o jornal.
a única coisa que dava pra fazer era parar. sentar no sofá e olhar pra fora. bem quietinha. sem barulho nenhum, sem filho nenhum, sem empregada nenhuma. e então finalmente comecei a achar bom. praticamente atingi o nirvana, sentada no sofá, olhando pra fora da janela. sem luz, sem barulho.
mas com a chegada da noite chegou também a energia elétrica. imediatamente me levantei, abri meu computador e me pus a trabalhar: ver emails, escrever meus textos, ver quem estava online. uma amarga paranóia.
e me deu uma saudade do escuro, uma saudade do silêncio, uma saudade de ter de ficar sentada olhando pra fora da janela, sem falar, sem escutar, sem ter o quê fazer. só olhando e respirando.
e então me veio uma idéia perversa: por que todos os dias eu não desligo a chave geral do meu apartamento e vivo uma ou duas horas no escuro? por que mesmo adorando jantares à luz de velas organizados no chão da sala pelas crianças sempre tenho uma "luzinha" acesa - fraquinha, 25w, mas uma luzinha? por que não consigo desligar o computador e esquecer que ele existe por algumas horas? por que não me sento no sofá e olho pra fora da imensa janela todos os dias?
e então comecei a ouvir o barulho dos ônibus e o barulho dos carros. e comecei a ouvir os barulhos dentro de mim. e achei uma pena a tal da energia ter voltado, e as luzes poderem ser acesas.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

a paciência

"a paciência é um músculo, e ele tem de ser exercitado diariamente." filosofia de botequim. nesse caso, um pouco pior: filosofa de pracinha. ouvi essa frase em alguma ida à pracinha, cousa tão usual na vida de seres humanos que já procriaram.
mas estou precisando de um "método avançado de exercícios de paciência" já. não vale nada do que eu já conheço: respiração, meditação, prática regular de exercícios físicos, observação de passarinhos que cantam de manhã cedo quando ainda não saí da cama, idas à praia com pés na areia, longas noites de sono, amigos divertidos que fazem a gente rir, uma casa com as cores que a gente gosta pra fazer a vida ficar mais leve. também não vale boas bebidas nem boas comidas. tudo isso eu já conheço, mas não me parece suficiente.
vou fazer uma pesquisa e quando descobrir o método que faz a paciência da gente ser um músculo extremamente flexível vou vender o método, ficar beeeeem rica e tomar banho de mar na grécia toda vez que meu próprio método não funcionar comigo.
ah ah ah.