domingo, 14 de março de 2010

sobre amor e bravura

- vai ser complicado.
- não importa.
depois de anos de um amor platônico, ele tinha olhado pra ela com o olhar que ela tinha entendido. ela, casada, com dois filhos. ele, descasado, de saco cheio da sua vida 'vazia', coisa que ele conseguia enxergar porque estava aposentado e já não corria de um lado pro outro.
eu saí do cinema chorando tanto que olhava pro chão, tentando disfarçar. era de noite, não dava pra sair com óculos de sol. vim andando pra casa e chorando. e cheguei em casa, uns 15 minutos depois, ainda chorando. meu reservatório de lágrimas estava cheio, pensei. porque não esvaziava nunca.
as frases não me saíam da cabeça. ela, lúcida, sabia que teria problemas a resolver, e ele, depois de anos, parecia ter a coragem de amá-la. e dizia não se importar que seria complicado.
e eu continuava chorando. quando me dei conta de que tava passada com a coragem deles. sim, um filme é só um filme, mas às vezes filmes tocam o coração. talvez tocar seja pouco. é como se uma cena atingisse nossos sentimentos por uma via expressa, em que se pode andar a uns 250km/h.
é engraçado como a coragem para mim tem cada vez menos a ver com 'atos de bravura'. nem sei o que considero atos de bravura, talvez andar em montanha-russa que nos faz virar de ponta-cabeça, andar na rua no escuro, ir a um bar sozinha à noite, chegar e sair de uma festa sozinha? nadar num rio de águas escuras?
eu não paro de pensar nisso porque fico tentando achar um sentido para os 1.500km que eu dirigi em cinco dias. claro que isso pode parecer uma pergunta idiota, já que o motivo da minha viagem era uma festa de casamento. e ponto.
mas depois do ponto vem outros pontinhos. eu sabia que tinha de ir. e agora, depois da aventura, meus filhos e eu felizes da vida de volta à nossa casinha, tenho a impressão de que tive de enlouquecer pela estrada para saber que 'atos de bravura' têm pouco a ver com coragem.
o que tem a ver com coragem é o que está dentro, não o que está fora.