sábado, 25 de julho de 2009

sobre as bobagens da blogosfera

eu me sinto até culpada. porque rir dos outros é uma coisa medonha. mas eis que estou trabalhando num projeto internético e tenho de ver vários sites. e eis que a rebeca, com quem trabalho e que também tem de ver vários sites, me passa esta pérola: http://uglyoutfitsnyc.com/.
é sobre gente que usa roupa feia. feia é pouco. é sobre gente que usa roupas horríveis, indescritíveis. eu vi todas as fotos do blog, e dei gargalhadas sonoras. segundo o meu irmão, coisa de mulherzinhas histéricas. fazer o quê?
e então hoje vesti meus herdeiros e me vesti para levá-los à casa do pai, onde partiriam pra praia. mas eu lembrei do blog e fiquei em dúvida se colocava minha adorável capa de chuva azul calcinha ou se brincava de gente decente e colocava um belo casaco de couro que uso duas vezes por ano. optei pelo segundo, já me achando uma ridícula.
desde sempre eu me visto muito mal. eu acho que no mundo dá pra dividir as pessoas em duas categorias, e não há meio-termo: existem os que se vestem bem e os que se vestem mal. eu nasci na segunda categoria, me esforço, tento me controlar, mas é mais forte do que eu.
vários fatores contribuem para eu viver atolada na segunda categoria, a dos mal vestidos. primeiro, acho um saco comprar roupa - experimentar já é tortura. segundo, não acho que seja um bom investimento enriquecer fabricantes de vestimentas. terceiro, me visto em um minuto. se demorar cinco minutos, é porque estou num dia surto e aí jogo sobre a minha cama uns dez cabides, mudo várias vezes as peças e saio de casa me achando o patinho feio. terceiro, tenho dificuldades em vestir roupas do meu tamanho. adoro uma calça gigantesca que sem sinto iria parar nos meus joelhos e blusas igualmente enormes. quarto, quando penso em conforto e beleza sempre, mas sempre mesmo, escolho conforto. e acho que nem sempre é possível conciliar os dois. quinto, nunca gostei de ser loira até ter uns 30 anos, que foi quando parei de pintar os cabelos de vermelho, de castanho escuro, de branco descolorido. sexto, e esse é o pior de todos, fico com vergonha quando escuto elogios. é bizarro, mas é verdade.
bom, agora acho que posso me levantar da cadeira e ir pro analista, mas ainda não acabei.
(pausa para checar o jantar. a quínua com inacreditável gosto de nada está cozida. daqui a pouco vou comê-la com muito azeite de oliva. e viva a dieta que não acaba nunca!)
há uns dois ou três anos, quando eu estava frilando na tv globo, uma repórter ultra mega gostosa me olhou na redação e disse: 'patricia, você não pode andar assim sem maquiagem'. e antes de terminar a frase, ela me sentou numa cadeira, abriu a necessaire dela com artigos de luxo lancôme, la prairie e quetais, e me maquiou. pedi pra ela pegar leve, porque eu ia no restaurante da tv almoçar e não queria parecer uma boneca emília. ela jurou que a maquiagem era leve. quando me olho no espelho, surpresa!, eu parecia a emília. minha cara branca e meus cílios beeeem pretos. mas não foi só isso. ela (a gostosa) disse que eram uma discrepância as minhas sobrancelhas, e que eu não podia usar as calças gigantescas que eu usava - na época, eu tinha me separado, sofrido e parado de comer, então estava pesando dez quilos a menos do que quando havia comprado as calças que eu usava.
pois bem, quando fui cortar o cabelo, resolvi fazer as sobrancelhas, pela primeira vez na vida. quase morri de dor, e ainda ouvi da florzinha que fazia o serviço que eu devia voltar lá a cada 30 dias. qua qua qua. pra uma pessoa que corta os cabelos duas vezes por ano, como é possível imaginar fazer a sobrancelha todo mês????
claro que nada mudou na minha vida, ou quase nada. agora eu faço a sobrancelha uma vez por ano. qua qua qua. oh my god, terei de publicar umas fotos mega incríveis aqui para não queimar meu filme.
enquanto escrevo vou dando gargalhadas, porque tudo isso é bem sinistro - tudo bem, eu ainda não fui na análise, e é claro que não é tão engraçado assim.
amanhã vou jogar sobre a minha cama t-u-d-o o que está dentro do meu armário pra dar uma geral, limpar, colocar um óleo de eucalipto num paninho, organizar a balbúrdia. e estou pensando que vou dar risada e vou doar 50% das minhas roupas.
dia desses, quando a costanza pascolato estava lançando um livro sobre a vida dela, li numa matéria dum jornal fuleiro gaúcho uma dica impressionante dela. considerando que ela é uma jackie o. da bananaland, fui lendo, atenta, mas não acreditei. a dica que ela dá pra uma pessoa saber escolher suas roupas é tirar fotos vestindo os modelitos, com diferentes enquadramentos (frente, perfil, costas), pra fazer um levantamento do que fica bem, do que fica ruim e do que fica péssimo. como eu nunca farei isso, me contentei com a ideia de que numa próxima vida eu talvez nasça com dons de mulher-insuportavelmente-chique, dom este que mrs. pascolato ganhou quando nasceu.
e isso me faz lembrar uma noite em que meu então marido lançou um livro na livraria cultura do shopping villa lobos. fui trabalhar bem linda, com um vestido maravilhoso da extinta viva vida e umas botas incríveis de uma loja caríssima do iguatemi cujo nome não me vem à cabeça, lenny, talvez. meu então marido adorava me dar presentes incríveis, e as botas eram um deles. mas coloquei por cima de tudo um jaco jeans da lee. tipo como-destruir-seu-look-bacana. estava eu perambulando pela livraria, entre os convidados do autor e meus convidados, uns 30 colegas de trabalho, quando me sento ao lado da tia betica. ela já era bem velhinha, devia ter perto de 90 anos, e nunca se casou. na família do meu ex-marido haviam apostas engraçadas sobre como deveria ter sido a vida dela quando era jovem. mas eis que a tia betica diz que eu estou muito bonita, e eu digo a ela que as botas maravilhosas de salto alto e o vestido de corte impecável eram uma exceção à regra. 'eu me visto muito mal, tia betica'. e ainda confidenciei que com pijamas a história era beeeeem mais dramática. contei que eu dormia com camisetas velhas do meu marido.
ela ficou horrorizada. me disse, em tom de alerta, que assim eu ia perder o marido. 'ele vai te trocar por outra.' e prosseguiu, dizendo que ela sempre usava salto alto, mesmo dentro de casa, porque senão o pé se acostuma ao conforto e nunca mais é possível usar um sapato de salto. essa história rendeu risadas no velório dela, uns anos depois, quando eu estava barriguda, grávida da minha filha. eu contei aos três sobrinhos dela, a rosa, o gonzaga e o guto. e a gente ria lembrando das ideias dela, que acho que nem são ideias de gente velha. são ideias de gente que acha que as roupas são importantes a ponto de colocar em risco um casamento.
depois escrevo sobre a sensacional arrumação de armário de amanhã. com fotos, i hope.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

pão, iogurte, manteiga

pão, iogurte, manteiga. pão, iogurte, manteiga. eu ia repetindo enquanto estendia a roupa hoje de manhã, pra não esquecer de escrever os itens na lista do supermercado que anda na minha bolsa há quase uma semana. e não paro de pensar no que significa as duplas (ou triplas) jornadas femininas de que tanto ouço falar mas que eu nunca tinha experimentado assim, de verdade e com exaustão.
o joão gabriel acordou cedo, foi pra minha cama e fungou durante uma hora. saí da cama às 7 e meia. pilhas de louça suja me deram bom dia quando cheguei à cozinha. e lá fui eu lavá-las, e jogar umas roupas na máquina. olho pro chão e vejo que a situação está crítica. varro tudo, e limpo a mesa, onde tinham passado a noite muitos e muitos farelos de pão do jantar das crianças.
o joão entra na cozinha e me convida para jogar canastra. ele vai pra sala arrumar as cartas, enquanto eu recolho a roupa seca do varal, dobro tudo, levo pro meu quarto, esquento água, coloco a mesa do café da manhã e faço chá e café. ele chega na cozinha e reclama: eu demorei tanto, diz ele, que ele já tinha pegado o morto. mas sem roubar, me garante, sem olhar nos meus olhos.
sento na mesa da sala e jogamos uma partida na qual ele fez muitas canastras e eu, nenhuma. a lívia acorda e vamos tomar café.
encho a banheira, convenço um de entrar no banho. depois convenço outro. limpos e vestidos, os sujeitos se sentam em frente à TV. penteio os cabelos dos dois, corto as unhas sob protestos, e vou tomar banho. quando me visto, não estou com calor, mas estou suando.
sei que são 10 horas quando toca a campainha. abro a porta e dou o lixo pro jailton, o faxineiro do prédio. vejo que ele veste uma blusa de lã e pergunto se está frio. ele diz que sim, que está muito frio.
morrendo de calor, escovo os dentes das crianças e peço que coloquem os agasalhos e sapatos. desligada a TV - depois de uma minúscula discussão, afinal são dois filhos e uma só TV, mas os dois querem desligá-la -, saímos de casa.
meu filho havia ligado pro pai dele cedo, pra perguntar se iriam pra praia hoje ou amanhã. o joão desliga o telefone e diz "não vamos pra praia. nem hoje, nem amanhã. a gabi está doente". bingo!
deixo as crianças na casa do pai e descubro que a madrasta deles está travada na cama. dores nas costas. ontem, que seria o dia de dormir na casa do pai, o próprio iria a uma festa. hoje, a mulher está doente. e amanhã, "não dá", me diz ele, meu ex-marido.
passadas quatro semanas de férias das crianças, estou exausta. passamos duas semanas no sul e duas semanas em são paulo. nessas duas últimas, eu levo as crianças pra casa do pai de manhã e busco no final da tarde.
o pão tinha acabado em casa. por isso, depois de deixá-los no pai hoje de manhã, fui ao supermercado. entrei de óculos escuros, chorando. de raiva e de solidão, acho. fui trabalhar e no trabalho cancelei com três amigas o nosso encontro de hoje à noite.
busco as crianças quando já é tarde pros parâmetros deles. hoje é meu rodízio e só saí da corporação às 8 da noite. eles já tomaram banho e "comeram na festa de aniversário da prima", me explica o pai deles. chegamos em casa e meu filho some. está na cama. escovo os dentes dele. minha filha quer tirar as compras que fiz de manhã e que passaram o dia no porta-malas do carro das sacolas. logo ela vai pra cama, e eu vou atrás escovar os dentes da guria.
então meu filho diz que está com fome. minha filha havia comido um pedaço de pão que ela tinha abandonado do café da manhã. digo pros dois que são quase 9 da noite e que não é hora de jantar. e a lívia pede água. levo um copo, que ela toma aos golinhos, bem devagar, até terminar tudo. enquanto eles dormem, penso no que sobra de mim para dar a eles a essa hora da noite. nada. ou quase nada.
mas tenho uma noite inteira de sono para amanhã acordar feliz e cansada e enchê-los de beijos, cheirar pescocinhos que têm o melhor cheiro do mundo e dizer muitas e muitas vezes que eu os amo.
e essa é a melhor parte da vida.

terça-feira, 21 de julho de 2009

saldo disponível para aplicação hoje: 267,38

ninguém merece.
eu sou uma rapariga mui organizada, daquelas que faz as contas olhando o extrato bancário e desconta os centavos. ou quase, porque agora evoluí e não anoto todos os centavos, só alguns. eh eh eh.
eis que meu extrato me informa que meu saldo disponível para aplicação é de menos de 300 reais. delícia. para ser elegante.
eu considero os meus hábitos terrivelmente pacatos. consigo comprar uma garrafa de vinho tinto espanhol que foi eleito "um dos 100 melhores vinhos do mundo" por alguma associação de produtores ou bebedores (a segunda opção é beeeem mais provável) e que está em promoção no pão de açúcar e o bebo feliz da vida sozinha em casa. como tenho filhos pequenos e moro sozinha com eles - graças a deus, antes que eu me esqueça de agradecer -, meus gastos exorbitantes são pífios. jantares? baladas? ataques de compras? isso quase inexiste pra mim.
e como o meu saldo chega a pífios 260 e poucos reais? oh my god!
mas nem tudo está perdido. minha casa está limpa, porque hoje a ana, uma faxineira da antiga e que me conhece há quase 15 anos, veio aqui em casa e mandou ver. eu estou trabalhando felicíssima. e meus filhos estão de férias, o que faz com que eu não percorra com 1500 km que percorro todo mês. percorro não, percorria. porque agora eu vou descolar alguém para fazer o resgate dos pequenos herdeiros da escola. como diz uma amiga minha, eu sou a dura mais chique que ela conhece. ou, se ela desse uma chafurdada na lama como eu dei nos últimos anos, ela diria que eu sou uma mãe solteria - como tantas que existem e vivem e criam seus filhos - que rala pra dar conta do recado. ou como disse o caio, cujo computador está quase grudado ao meu na corporação, 'deu certo'. a mãe dele se separou com um filho bebê, como eu, e ele, o caio, mostrou que ele é o resultado disso. dessa meleca que é a vida de mocinhas que dão um pé no marido e tocam a vida. às vezes felizes da vida.