sábado, 12 de junho de 2010

a festa ia ser linda. que festa?


a lívia com a lanterna na festa do ano passado; este ano, não carreguei minha câmera

a festa é a mais linda entre as muitas que rolam na escola das crianças. é a festa da lanterna. uma peça de teatro é apresentada, e quando anoitece as crianças vêm lá de baixo, do jardim de infância, e dão uma volta pela escola, que está toda escura. a luz vem das tochas espalhadas pelo jardim e da lanterna de papel de cada criança, iluminada por uma vela. no fim, uma fogueira é acesa, ao som de um tambor, com tochas que alguns pais carregam.
eu estava meio borocoxô. na verdade tava achando muito chato ficar sozinha. a lívia foi pra sala dela, e o joão ficou correndo com os amigos. e eu fiquei olhando as pessoas se encontrando, se abraçando e se beijando, e me sentindo muito só.
o frio estava absurdo. e assim assistimos à peça, cujos atores são pais de crianças que este ano terminam o jardim de infância e ano que vem vão para o primeiro ano.
depois de um lanche maravilhoso, fomos ao pátio da entrada da escola, tudo escuro exceto as tochas, e ficamos ali esperando. o céu cheio de estrelas, e todo mundo falando mais baixo que o normal. e aí sobem as crianças, em fila, cantando, cada uma carregando a sua linda lanterna. nisso escuto uns gritos, penso que alguma criança foi atacada por formigas. e demorei até ver que meu filho rolava no chão com um amigo. quando cheguei perto alguém segurava o joão e outro alguém segurava o juliano.
eu não sabia o que tinha acontecido, e enquanto os pequenos do jardim passavam em fila cantando, peguei o joão e fomos pra entrada da escola, longe do passeio das lanternas. já faz tempo que sei o que fazer quando ele fica furioso. tenho de segurá-lo. é simples, eu tenho força, mas hoje as forças se acabaram. ele tomou muitos copos de água, que o beto, da portaria, deu pra ele. e eu me sentei no banco de madeira e comecei a chorar. o joão perguntou se eu estava chorando de alegria ou de tristeza. era de tristeza, disse.
eu não acho chato ser mãe sem marido. eu acho h-o-r-r-í-v-e-l. acho que tento disfarçar, mas às vezes não dá.
a festa terminou e eu não vi quase nada. não vi minha filha fazendo o passeio no escuro, nem a vi cantando ao redor da fogueira.
desde que eu moro sozinha com as crianças, eu faço um cálculo patético de quantos adultos e quantas crianças moram numa casa. assim, quando um casal reclama do árduo trabalho da paternidade, eu calculo em quantos eles são. comumente são três adultos (pai mãe babá) para dois ou três filhos. e se fosse pensar no equivalente, eu com duas crianças, a outra casa do cálculo patético poderia ter seis crianças (com pai mãe babá).
não sei se essa conta é uma idiotice para eu ter dó de mim, ou se vale como um 'uau, você está fazendo o que tem de fazer direitinho'.
o número de pessoas não alivia necessariamente a dura tarefa de educar. é óbvio. mas sozinha é o dobro.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

happiness is a journey, not a place

é infeliz escrever em inglês, mas me parece que é mais bem escrito do que a minha tradução, que é 'a felicidade é um caminho, não um lugar'.
eu estava trabalhando feliz da vida, numa força-tarefa para montar umas pastas para um evento. e ela perguntou: 'tita, e as crianças, tão com quem?'. disse que estavam com a santa nalva. e ela: 'vai pra casa, já tá no teu horário'.
mas eu não tenho horário. eu tenho trabalho. o que é bem mais divertido. terminei umas pastas e ela disse 'pode ir, a gente termina'.
vim pra casa pensando na felicidade. e estive pensando nisso nos últimos dias. não na felicidade, mas nas mudanças dentro da gente para que as coisas andem a contento.
ia escrever uma ode ao meu novo trabalho, mas achei brega e precipitado. mas não posso deixar de escrever sobre a felicidade de trabalhar num lugar decente, com pessoas idem. mas o que não sai da minha cabeça é a ideia de mudança para ter felicidade.
oh my god, parece que estou viajando na maionese, mas não tô.
depois de uns anos me rasgando em pedacinhos, agora parece que posso respirar confortavelmente. não é um pensamento, mas uma sensação.
dias atrás ouvi uma frase que me deixou sem ar. disse que a vida era muita dura, e ouvi uma resposta surreal: não, a vida não é dura.
como assim?
mas é uma opinião. que eu não entendo, com a qual eu não concordo e que eu acho absurda. mas é o que ele acha, não eu.
escrevendo isso até parace que finalmente consegui ser blasé. mas é só impressão. se deus quiser, nunca serei blasé. que é uma coisa tão sem graça que parece gelatina de limão. ruim e falsa, mas firme.
mas voltando aos pedacinhos, passei os últimos dias pensando em como é preciso matar o velho para deixar espaço para o novo. em outras palavras, como é importante parar de ter certezas e passar a ter muitas dúvidas. e em vez de ter medo de ter medo, ter coragem MESMO tendo medo.
toda vez que ela me pede para rezar, e ela me pede isso quase todos os dias, eu digo que eu rezo muito. acho que ela não acredita, mas não importa. até porque preces para mim têm mais agradecimentos do que pedidos.
pra isso tive que quebrar a marteladas as velhas crenças. não eram boas nem ruins, mas eram crenças ingênuas, em que o futuro era mais importante do que o presente, o dinheiro era mais importante do que o conforto do meu coração, e em que eu olhava mais pra fora do que pra dentro.
Life is what happens to you
While you're busy making other plans
e depois de tantos anos, a frase faz sentido. e eu nem sabia que era uma música do john lennon. "a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo planos."
não a minha.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

a doce visita

fazia um ano que não nos víamos. ele chegou na hora em que eu tinha de levar os meus filhos e os filhos da roberta pra escola. eu tava louca pra encontrá-lo, mas fui pro trabalho. ligava pra minha casa de 15 em 15 minutos, mas ninguém atendia. eu tinha deixado a chave na portaria.
só fui encontrá-lo quando voltei pra casa. eram quase 7pm.
é engraçado como a distância é abstrata. meu irmão mora nos estados unidos há mais de três anos, e só nos vimos duas vezes desde então. uma vez ano passado, quando ele veio com a leila e as gurias passar as férias na bananaland. e agora.
meus filhos foram passar o feriado na casa do pai. eu tinha de trabalhar um pouco no feriado, e o paulo tinha de estudar para o concurso que ele está prestando esta semana. a cobaia era eu: ele me deu aulas sobre dramaturgos, e eu ia dando palpites leigos sobre as aulas dele, muitas delas cheias de informação e sem nenhuma emoção.
ele queria ir ao teatro. eu queria ir ao cinema. eu sugeri um acordo, mas ele queria que fôssemos ao cinema e depois ao teatro durante os três dias. mas eu não aguento.
fomos ao cinema e ao teatro, e no terceiro dia meus filhos ficaram com saudades e pediram ao pai que os trouxesse de volta pra casa. eles devem ter sentido o cheiro de felicidade. e quiseram participar.
eu bebi muito vinho, dei risadas o dia inteiro, e fiquei tão feliz que parecia que eu pesava o que uma pena pesa. o paulo dormiu até as 10am, e não acreditou. disse que fazia mais de dez anos que não dormia tanto.
férias são sempre boas, mesmo quando não são. o paulo veio para o brasil, mas a leila e as gurias ficaram em casa, lá na terra do obama. ele sente muita saudade, e parece que sofre. e a leila, minha cunhada, também.
a gente ligava todos os dias pros estados unidos e pra porto alegre, onde estavam meus pais e minha irmã. como se ligando pra todo mundo nós estivéssemos todos juntos.
eu moro longe de todos eles há muito tempo. e toda vez que os encontro fico muito, muito feliz. mesmo quando é chato.
eu falei coisas engraçadas pro paulo. no nosso primeiro jantar juntos, pedi desculpas por pegar as folhas de alface com a mão. e disse que estava muito contente de jantar com ele, porque eu sempre janto sozinha.
domingo, quando ele estava arrumando a mala e vendo o que ia deixar dentro do meu armário - porque ele volta pra minha casa daqui a uma semana, para então voltar pras terras longínquas onde faz um doutorado -, eu disse que achava engraçado estar deitada na minha cama e conversando com ele. porque nunca fico deitada na cama conversando. porque durmo sozinha.
ele dava risada com os meus comentários. não sei se ele entendia o que eu tava dizendo, porque ele é casado há muito tempo. mas se não entendia, acho que ele sentia o que eu tava dizendo.
eu acho que ele pode passar no concurso. ele não acha. e só de pensar nisso fico feliz. de pensar que o meu irmão pode morar perto de onde eu moro, e que as crianças podem passar férias juntas. claro que não é tão simples assim, porque quando estamos com filhos eu e o paulo brigamos muito. eu fico mais chata, ele também. não conheço ninguém que não perca a compostura quando está com os filhos. faz parte.
e enquanto os dias passam, fico torcendo pra que ele se dê bem nas provas, mesmo sabendo que se ele passar ele não consegue a vaga, porque tem de voltar pro colorado e terminar o doutorado dele.
daqui a três dias ele volta pra minha casa, que vai ficar cheia de alegria. a lívia, que não lembrava do tio, passa o dia dizendo "ô paulo", como se tivesse visto meu irmão todos os dias desde que nasceu, cinco anos atrás. e o joão dá gargalhadas sonoras e felizes com as barbaridades que o meu irmão fala o tempo todo. e então ele pergunta: "tu prefere um tio lento ou um tio demente?", e o guri cai na gargalhada e diz "demente".
se tem uma coisa que ele NÃO é, é demente. mas como ele passa representando o tempo todo, o joão acha que isso é ser demente.
compraremos mamão - artigo de luxo lá naquele país onde ele mora - e bons vinhos. e vamos comemorar por poucas horas a distância inexistente. depois vem a distância concreta, que eu chamo de abstrata. e que mesmo assim me faz chorar de saudades.