segunda-feira, 7 de junho de 2010

a doce visita

fazia um ano que não nos víamos. ele chegou na hora em que eu tinha de levar os meus filhos e os filhos da roberta pra escola. eu tava louca pra encontrá-lo, mas fui pro trabalho. ligava pra minha casa de 15 em 15 minutos, mas ninguém atendia. eu tinha deixado a chave na portaria.
só fui encontrá-lo quando voltei pra casa. eram quase 7pm.
é engraçado como a distância é abstrata. meu irmão mora nos estados unidos há mais de três anos, e só nos vimos duas vezes desde então. uma vez ano passado, quando ele veio com a leila e as gurias passar as férias na bananaland. e agora.
meus filhos foram passar o feriado na casa do pai. eu tinha de trabalhar um pouco no feriado, e o paulo tinha de estudar para o concurso que ele está prestando esta semana. a cobaia era eu: ele me deu aulas sobre dramaturgos, e eu ia dando palpites leigos sobre as aulas dele, muitas delas cheias de informação e sem nenhuma emoção.
ele queria ir ao teatro. eu queria ir ao cinema. eu sugeri um acordo, mas ele queria que fôssemos ao cinema e depois ao teatro durante os três dias. mas eu não aguento.
fomos ao cinema e ao teatro, e no terceiro dia meus filhos ficaram com saudades e pediram ao pai que os trouxesse de volta pra casa. eles devem ter sentido o cheiro de felicidade. e quiseram participar.
eu bebi muito vinho, dei risadas o dia inteiro, e fiquei tão feliz que parecia que eu pesava o que uma pena pesa. o paulo dormiu até as 10am, e não acreditou. disse que fazia mais de dez anos que não dormia tanto.
férias são sempre boas, mesmo quando não são. o paulo veio para o brasil, mas a leila e as gurias ficaram em casa, lá na terra do obama. ele sente muita saudade, e parece que sofre. e a leila, minha cunhada, também.
a gente ligava todos os dias pros estados unidos e pra porto alegre, onde estavam meus pais e minha irmã. como se ligando pra todo mundo nós estivéssemos todos juntos.
eu moro longe de todos eles há muito tempo. e toda vez que os encontro fico muito, muito feliz. mesmo quando é chato.
eu falei coisas engraçadas pro paulo. no nosso primeiro jantar juntos, pedi desculpas por pegar as folhas de alface com a mão. e disse que estava muito contente de jantar com ele, porque eu sempre janto sozinha.
domingo, quando ele estava arrumando a mala e vendo o que ia deixar dentro do meu armário - porque ele volta pra minha casa daqui a uma semana, para então voltar pras terras longínquas onde faz um doutorado -, eu disse que achava engraçado estar deitada na minha cama e conversando com ele. porque nunca fico deitada na cama conversando. porque durmo sozinha.
ele dava risada com os meus comentários. não sei se ele entendia o que eu tava dizendo, porque ele é casado há muito tempo. mas se não entendia, acho que ele sentia o que eu tava dizendo.
eu acho que ele pode passar no concurso. ele não acha. e só de pensar nisso fico feliz. de pensar que o meu irmão pode morar perto de onde eu moro, e que as crianças podem passar férias juntas. claro que não é tão simples assim, porque quando estamos com filhos eu e o paulo brigamos muito. eu fico mais chata, ele também. não conheço ninguém que não perca a compostura quando está com os filhos. faz parte.
e enquanto os dias passam, fico torcendo pra que ele se dê bem nas provas, mesmo sabendo que se ele passar ele não consegue a vaga, porque tem de voltar pro colorado e terminar o doutorado dele.
daqui a três dias ele volta pra minha casa, que vai ficar cheia de alegria. a lívia, que não lembrava do tio, passa o dia dizendo "ô paulo", como se tivesse visto meu irmão todos os dias desde que nasceu, cinco anos atrás. e o joão dá gargalhadas sonoras e felizes com as barbaridades que o meu irmão fala o tempo todo. e então ele pergunta: "tu prefere um tio lento ou um tio demente?", e o guri cai na gargalhada e diz "demente".
se tem uma coisa que ele NÃO é, é demente. mas como ele passa representando o tempo todo, o joão acha que isso é ser demente.
compraremos mamão - artigo de luxo lá naquele país onde ele mora - e bons vinhos. e vamos comemorar por poucas horas a distância inexistente. depois vem a distância concreta, que eu chamo de abstrata. e que mesmo assim me faz chorar de saudades.

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