sábado, 14 de novembro de 2009

ficar doente pode?

saí da cama na hora em que o despertador me avisou que eram 5 da manhã.
fui pra cozinha fazer o que sempre faço enquanto o sol vai acordando. esquentar água pro chá, cortar o pão do lanche das crianças, escolher uma fruta pra colocar na lancheira, colocar a mesa pro café da manhã, a refeição mais doce de todas.
eu suava. voltei pro quarto pra colocar um roupão animal que eu tenho desde a época em que nadava barriguda, grávida do meu filho. o roupão, grande e quente, me esquentou. mas eu continuava suando, e sentia gotas escorrendo pelo meu corpo.
café da manhã preparado, lancheiras prontas. tomei banho, o suor parou, e eu fui acordar os pequenos.
comemos bebemos e nos aprontamos.
mas não estou bem. e acho que é frescura.
eles estavam em casa porque o pai não os havia levado para dormir na casa dele. as crianças estavam gripadas e ele, o pai, não queria que a filha pequena dele pegasse a gripe dos irmãos. mas era o dia de ir pra escola com o papai. e ele chega, e os leva.
continuo suando, e penso em não ir trabalhar. mas como não trabalhar? volto pra cama e durmo. com o despertador pra me acordar dali a duas horas, pra eu ligar e avisar que não vou trabalhar.
o corpo dói. graças a deus. é um sinal de que não sou fresca, mas estou doente. mas mães ficam doentes?
sim. mães ficam doentes. talvez porque elas se enquadrem na categoria seres humanos. e seres humanos ficam doentes vez ou outra.
o corpo dói, e ondas sinistras de calor me fazem suar.
três dias depois continuo em casa. com ondas de calor sinistras, nenhuma febre, o cérebro lento e o corpo doído.
...
o melhor de ficar doente, indiscutivelmente, é que tudo fica lento. não só o corpo, que dói, mas a cabeça, que não pensa, os movimentos, que ficam em slow motion, e a vida, que corre mais devagar.
de toda a minha gigantesca to-do list, nada foi feito nesses dias. porque quando a gente fica de cama, só dá pra resolver as coisas de dentro, não as de fora.
...
sonhos. muitos sonhos. trocentos sonhos. há os sonhos das noites que parecem insones, e há os sonhos das sonecas diurnas, esses sim sonhos bons, porque as sonecas são longas, suadas e repousantes. tudo o que não dá pra pensar nem sonhar na saúde a gente pensa e sonha na doença. como eu sempre digo, deus é pai.
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eu, como sempre me acho muito forte e muito brava, acho que meu corpo não fica doente. a culpa bate na minha cabeça feliz da vida, toc toc toc, 'você não vai trabalhar hoje? mas você tá passando mal mesmo hein?'.
e se eu não prestar atenção, vou trabalhar suando, com o corpo doendo, com os olhos ardendo.
...
e nesses dias corridos e quentes não se fazem mais amigos como antigamente. quem visita um amigo doente? eu não.
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estou cansada.
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ainda bem que antes de ser grande a gente é pequeno e grita mãe. e mães escutam os gritos antes de eles saírem da boca das crianças. como explicar? eu não sei, nem quero saber. mas assim é que é.
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como terminar um texto tão triste? eu não sei.