terça-feira, 26 de janeiro de 2010

será que dá pra viver sem ser rabugento?

mães sem filhos nem trabalho têm muito, mas muito tempo livre. por isso é preciso ir devagar para não ficar tonta. depois de muito viajar, não quero mais ir a lugar nenhum. quero ficar em casa.
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ele falava de como as pessoas vão ficando cada vez mais rabugentas. quanto mais velho, mais rabugento, argumentava. e eu andava, nos últimos dias, pensando exatamente o contrário. em como os anos podem passar e a gente ficar MENOS rabugento. estávamos na praia, onde tomamos banhos de mar sensacionais e vimos o céu ficar de todas as cores: azul, branquinho, cinza, cinza escuro, quase preto, e depois uns pedacinhos de azul que apareciam entre as nuvens. e eu bem feliz. curtindo dormir na cama que não é a minha, almoçando no final da tarde, vendo um filme - eu, que acho péssimo ver TV - e ajudando a bater umas claras em neve, que depois fizeram parte do pavê mais doce de todos os tempos.
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era um dia daqueles bem sem graça. e, depois de um compromisso, eu ia tomar café na casa de uma amiga. que é argentina, fala rápido e eu sempre perco no mínimo uma palavra do que ela disse. chego à casa dela, nos sentamos no sofá e descobrimos que não nos víamos havia mais de um ano. e ela me conta das belas férias na europa, da história de santiago de compostela, que eu desconhecia, e que como o ano que passou tinha sido difícil e que, por isso, ela tinha ido viajar para descansar.
e então eu pergunto se ela não quer ir ao cinema. ela pega na minha mão, me leva até a cozinha e me mostra um queijo português sensacional que ela tinha trazido da viagem. e diz que um amigo nosso, o feres, chegaria com um vinho maravilhoso.
o café nem foi feito. o feres, que tem um senso de humor absurdo, chegou com uma bela garrafa de vinho. nos sentamos ao redor da pequena mesa que a nora tem na cozinha. ela, o marido, miguel, o feres e eu. comemos o queijo com pedaços de pera, com torradinhas e com fatias de pão integral quentinhas. demos muita risada e gritamos. um militante de esquerda, miguel dizia que assim era o encontro entre um árabe e uma judia divertida. além de uma mãe até então entediada.
cheguei em casa tarde, gargalhando sozinha. como é bom não esperar nada. e conseguir se divertir - ou não - com o que se apresenta na nossa frente.
e pra fechar o dia que parecia tão chato e foi tão divertido, tem bebê na barriga da minha comadre. soube por um telefonema no final da tarde. e antes de me jogar na cama, dei oi pro meu irmão, que mora na terra do tio sam. e fiquei feliz de vê-lo dando risada. tão longe mas tão perto.
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quando o feres me viu, me elogiou. disse que eu estava muito bonita e muito magra. eu fiquei feliz e não contei a verdade: o 'magra' era ilusão de ótica. como disse um outro amigo meu, quando ligou pra minha casa e soube que eu estava descansando: 'você tava descansando do quê?'. descansando de viver, ora bolas. depois ele me disse que eu estava com uma cara ótima. claro, o ócio tem alguma utilidade na vida da gente.
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happiness is a journey, not a place, diz o botton que o meu irmão, a pessoa mais doce do mundo, me deu quando veio ao brasil ano passado. mas quando será que vou aprender essa lição?