sábado, 30 de maio de 2009

a idade, a sabedoria e a doçura

eu lembro que quando comecei a trabalhar com jornalismo - quando eu estava na faculdade, era proibido trabalhar antes de ter o registro profissional, o mtb, e então eu trabalhei com publicidade até me formar - eu trabalhei com uma professora minha, a alice urbim. na época, hacen muchos años, a alice fez 40 anos. e me disse, gargalhando, e a gargalhada dela era altíssima e feliz, que ela daria uma festa para celebrar a data, tão importante.
eu lembro como achei incrível uma pessoa fazer 40 anos e achar isso o máximo. isso faz mais ou menos 20 anos.
e eis que chego em casa dia desses, e fui colocar meu pijama morrendo de frio. oh my god, agora posso acabar com a minha reputação! mas o frio que eu sentia - e que sinto tantas vezes - é um frio localizado. não é nos pés nem nas mãos. mas na cintura, na parte das costas. um frio absurdo, que surgiu depois que o meu filho nasceu.
coloquei meu pijama e enrolei na cintura um incrível cachecol que eu ganhei de aniversário há muitos e muitos anos, da carla. faço aniversário no verão, e a carla me presenteou com um kit "luvas cachecol gorro". ela tinha ido a paris, visitar uma amiga, e eu tinha emprestado um par de luvas. amigos gaúchos costumam ter várias roupas para emprestar a amigos paulistanos. pois ela queimou minhas luvas no aquecedor do quarto em paris, e em vez de me trazer luvas de presente, me trouxe o kit, que eu uso tão pouco nas temperaturas amenas da cidade cinza.
pois bem. enrolei o cachecol fofo na cintura e dormi como um anjo. mas antes de cair no sono, escrevi "vechia, felice" no meu caderno de sonhos, que mora ao lado da minha cama, para eu lembrar de escrever sobre isso.
"isso" quer dizer os anos que passam. como eu adoro cada ano que passa na minha vida. vou dizer a verdade: os cabelos brancos, mechas gigantescas que crescem alegremente na minha cabeça, não me deixam tãããão contente. mas do resto eu gosto. das rugas, do cansaço - eu nunca me cansava aos 20 anos, n-u-n-c-a.
a minha paciência hoje é gigantesca, e a minha intuição funciona quase 24 horas por dia. eu tenho medos que ninguém conhece, e tenho poucas, pouquíssimas certezas. eu acredito na vida e em tudo o que acontece comigo diariamente. eu descobri que amar é de fato infinito sem estar amando ninguém especificamente. e descobri que o dinheiro é tudo e nada ao mesmo tempo, dependendo de quem vê, e de quando vê. sei que devo andar com as minhas próprias pernas e não esperar nada de ninguém, mas sem dor. eu sempre soube disso, mas anos atrás isso doía, e agora não dói mais. eu rio mais e tenho mais e melhores amigos. grito menos, falo menos e faço menos.
sei me aquecer quando estou com frio - quando eu tinha 20 anos eu até sentia frio, mas não sabia que sentia. mas o melhor de tudo é que agora consigo dar conta do que sinto. não acho que quando eu era jovem e magra e louca eu não desse conta, mas eu não sabia o que estava sentindo. tudo jorrava e eu não sabia o que fazer com tudo o que eu sentia.
eu gosto de saber que meus alimentos não são mais exclusivamente externos. gosto de saber também que verdades são relativas e a justiça, mais ainda. gosto de saber que a vida que eu tenho fui eu que escolhi, considerando o que eu POSSO escolher. mas o que eu não posso escolher eu consigo aceitar. o que é uma tarefa hercúlea, que exige todos os meus músculos do corpo e todos os músculos da alma também.
acabo de chegar de uma chácara, onde fui com os meus filhos ao aniversário de um colega do joão. hoje é sábado, e as crianças deveriam ter ido pra casa do pai delas cedo. mas combinei com ele de ficar com elas hoje e de ele as buscar amanhã, domingo, para eu poder levá-los à festinha.
fomos e voltamos felicíssimos. eu levei uma marmita de pessoa-que-está-numa-dieta-que-veta-pipocas-cachorrosquentes-sucosadoçados-brigadeiros-bolos-pizzas-pasteis e quetais. pedi desculpas aos presentes e mandei ver num pote com alface e rabanetes e cenouras e tomates e quínua e muito azeite de oliva e noutro pote com grão de bico e cebola e orégano e cenoura ralada e ovo e pimentão verde. as crianças correram das 11am às 5pm non-stop. futebol, piscina num frio horroroso - eu sou uma gaúcha falsificada, depois de mais de uma década na cidade cinza -, parquinho com escorregador e algo que lembra uma micro ponte pênsil, balanço, caça ao tesouro, pebolim e amigos para gritar correr e vibrar.
pessoas civilizadas que não fazem dietas sinistras tomavam heineken em garrafinhas, e eu tomava chimarrão. qua qua qua, para dizer o mínimo.
mas eu queria falar da doçura da festa, que nada tem a ver com o bolo, que eu não comi, evidentemente. a doçura é das pessoas, as crianças e os adultos que eu tenho conhecido desde que meus filhos trocaram de escola. pessoas que têm conexão direta com seus corações e que são doces, dulcíssimas. felizes, serenas, adoráveis. que conversam animadas, sem reclamar da vida, dando risadas boas. que se sentam e escutam o que eu falo.
são 8pm e meus filhos dormem, depois de correrem talvez um quilômetro dentro de casa, fugindo da cama e dando gritinhos. lágrimas jorraram dos meus olhos enquanto eu tomava um bom prosecco e fumava um bom cigarro na janela. lágrimas têm jorrado dos meus olhos insistentemente nos últimos dias.
eu tenho o privilégio de não abrir esta máquna diariamente. assim, não escrevo todos os dias, tampouco vejo meus e-mails. tenho me esforçado para não surtar por falta de trabalho. trabalhos vêm e vão, como tudo na vida. e tento aceitar que atualmente os trabalhos mais vão do que vêm. qua qua qua de novo. não tem nada de engraçado, até porque dinheiro acaba, mas as contas, não. mas sei que tudo passa.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

a quínua e os alimentos para a alma

depois de duas semanas com uma dieta cheia de restrições, hoje comecei a passar mal de desejo de coisas gordas. na verdade um pão e um sorvete satisfazer-me-iam. oh my god! fiquei olhando meus filhos comendo cada um um potinho de sorvete e quase morri. mas sobrevivi e acabo de tomar uma sopinha suuuuuuuper sem graça. será que as pessoas que conseguem seguir as dietas médicas têm lugar garantido no céu???
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mas eu queria escrever sobre as minhas amigas.
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dia desses fui encontrar um grupo de amigas e comecei a sofrer por antecipação. não poderia comer torradinhas nem queijo brie nem pasta de ricota. nem o nhoque feito em casa que a empregada da chacha fez, com a ajuda do pequeno yan. mas surpresa!, a empregada dela fez uma sopinha de quínua com batata e cenoura s-e-n-s-a-c-i-o-n-a-l. tão deliciosa que acho que todas as quase dez pessoas que estavam na casa da chacha comeram da sopa. eu atingi o nirvana. ser paparicada é tudo de bom.
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ontem fui com as crianças pra casa de uma amiga. faríamos bifes e esquentaríamos arroz e feijão pras crianças. esta que escreve não pode comer arroz, e então o que eu levei? quínua! a júlia não conhecia, e eu pus as bolinhas para cozinhar. quase queimaram, porque ficamos no jardim com as crianças, as duas minhas e as duas dela. eles brincando, nós lendo o jornal. mas a quínua foi salva.
e surpresa! a júlia amou a quínua, disse que iria comprar para fazer pras crianças. uau!, então eu não estou comendo tão mal assim!
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mas uma dieta sem pão, sem arroz, sem macarrão, sem queijo e sem manteiga afeta a barriga, o coração e a alma que qualquer comilão.
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hoje eu e as crianças almoçamos fora de casa para comemorar meu primeiro dia pós fim de trabalho. mães que trabalham bastante comemoram quando têm tempo livre para ficar com os filhos. a comemoração prosseguiu com meus filhos ganhando um par de sapatos cada, um potinho de sorvete cada, e o grand finale foi uma partida de banco imobiliário em casa.
mas antes de todas essas comemorações, eu vinha não tão feliz voltando pra casa a 10 km/h, que é a velocidade máxima que meu carro atinge durante uns 20 minutos de avenida parada. e pensei que era bom eu ter claro na minha cabeça e no meu coração que eu devia estar pronta para o que vier. muito trabalho, pouco trabalho ou nenhum trabalho.
cheguei à pequena praça onde faço uma parada estratégica para andar e me alongar e ouvir passarinhos e ver muitas flores nas árvores e ter a certeza de que a vida é muito bela quando meu telefone tocou - sim, eu atingi um nível de surto que ando com o celular no bolso desde o dia em que meu filho cortou a cabeça na escola e meu celular estava no carro, enquanto eu escutava o lindo canto dos passarinhos. a flávia me chamava para ir ajudá-la num trabalho que ela tinha de terminar logo.
e eu tinha feito uma lista gigantesca de tarefas a executar no meu primeiro dia sem trabalho. a lista ia desde levar o carro para lavar até comprar papel crepom para a oficina de flores que eu vou fazer. disse a ela que poderia passar na casa dela e ficar 30 minutos.
cheguei e fiquei duas horas. saí quando tinha de ir buscar as crianças na escola. durante a manhã ficamos terminando uns painéis sensancionais que ela e a sócia dela, a patinha, estavam fazendo. carimbos de borboletas, de flores, de coroa. fiquei com os dedos pretos e minha calça azul ficou carimbada com um galho de flores preto, porque eu sentei sobre o carimbo.
como é bom ter amigos bons que fazem a gente achar que a vida é bela, doce e imperdível. e eu tenho muitas amigas assim. ufa!
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ah, ia esquecendo. o que as minhas amigas me dão é alimento para a minha alma. o que é muito, mas muito mais delicioso do que o pão francês com o qual eu venho sonhando há dias.