sábado, 25 de abril de 2009

a casa ficou pronta

quando eu era casada com o joão, nós éramos jovens, desencanados e felizes. às vezes ele ganhava bem, às vezes ficávamos duros, mas isso não fazia a gente arrancar os cabelos da cabeça. adorávamos viajar, e saíamos de porto alegre sexta à noite ou sábado, de manhã ou de tarde, para ir pra praia ou pra serra. meus pais até hoje têm uma casa na praia, que cuja maior graça são os três terrenos cheios de grama e plantas, e um micro apartamento na serra, onde mesmo no verão faz frio e tem cerração à noite.
tínhamos uns amigos com quem alugávamos casas de pescadores nas praias de santa catarina. passávamos os feriados de ano novo e carnaval em casas cheias, às vezes com gente dormingo na sala. e achávamos tudo ótimo.
um dia o betinho, que pelo que me lembro tinha tido dois namoros com fins bem tristes - mas será que axiste namoro legal que quando termina não é triste? - apareceu com a cris. vários anos mais nova que ele. e eles se casaram e pareciam feitos um para o outro.
eles tinham uma idea de felicidade que eu achava - e ainda acho - um pouco estranha. eles pareciam acreditar em amor eterno, em fidelidade até a morte. mas uma vez, jantando na casa deles com o joão, eles disseram que não iam viajar enquanto o apartamento deles não estivesse pronto. e por pronto eles queriam dizer colocar quadros, mandar fazer armários, pintar as paredes, comprar belas luminárias.
eu achava tudo isso inconcebível. pra mim, a ideia de uma casa pronta era a ideia de uma casa morta. é como dizer que uma pessoa tá pronta. ninguém nunca tá pronto, porque sempre tem algo para mudar, graças a deus.
mas hoje a minha casa tá ficando pronta.
pela primeira vez nos 20 anos em que tenho minhas casas - foram muitas, quase 20, acho - eu fiz tudo o que queria fazer num lugar. as duas janelas podres foram substituídas. a cortina grossa e curta foi trocada por cortinas longas, leves e coloridas. o filtro de água que não existia foi instalado. os puxadores dos armários, que eram ordinários, agora são lindos, feitos sob encomenda. o banheiro, que era bonito mas escuro e sem banheira, agora é branco, tem uma bela banheira e, melhor de tudo, tem uma carpa feita com pedacinhos de azulejos vermelhos no chão.
as portas do armário da cozinha, tão velhinhas, foram trocadas por portas vermelhas de correr, gigantes e lindas. as paredes têm cores alegres. os brinquedos das crianças estão t-o-d-o-s numas prateleiras instaladas na parede.
mas o grand finale é hoje. vou me livrar das luminárias que eu tinha aproveitado da casa que eu tinha quando era casada. e vou tirar de uma caixa de papelão o lustre de cristal grande, antigo e lindo que uma vez meu marido e eu compramos da nossa cunhada, a jô.
e então eu não terei mais nenhuma caixa, nenhuma luminária embalada, nada esperando 'para ver o que acontece'.
minha casa está pronta, pela primeira vez na minha vida.
e agora eu posso mudar tudo, porque não tem nada sobrando. só o que interessa, só o que eu, a lívia e o joão gabriel gostamos. só o que importa pra nós.

terça-feira, 21 de abril de 2009

feriado com chuva, sono, febre e playmobil

eu ia começar a trabalhar ontem, mas trâmites da burocracia me fizeram ficar em casa. e em casa também fiquei hoje, feriado. com filhos, e sem ajuda da santa nalva.
como a minha semana anual de aniversário de filhos terminou no domingo, havia muitos brinquedos para arrumar. e eu, feliz da vida, propus às crianças, hoje de manhã, que nos concentrássemos na tarefa 'vamos limpar e arrumar todos os brinquedos do quarto'. a lívia nos ajudou por aproximadamente três minutos e caiu fora. o joão gabriel resolveu jogar no chão t-o-d-a-s as peças de t-o-d-o-s os playmobil deles. não que eles tenham muitos jogos diferentes, mas cada playmobil deste século tem uma infinidade de peças que não existiam nos do século passado: ratinhos, escadas, passarinhos e ninho com ovinhos, câmera fotográfica, talheres, gatinhos num cesto, teddy bear, mamadeira, esquilos, porco-espinho, livros.
estava eu a tentar organizar a zona das prateleiras quando o joão solenemente pede para parar de arrumar. 'vou montar lego', anunciou. eu tentei ser dura e proibir, achando, na verdade, que era ridícula qualquer tentativa de fazê-lo mudar de ideia.
ele foi pra sala, e na saída do quarto tropeçou numa sacola grande onde eu estava jogando inutilidades, de acordo com o meu ponto de vista. o cara deu uns gritos, tirou umas quatro coisas da sacola e eu imediatamente desapareci com ela.
pausa para a preparação do almoço, enquanto o joão gabriel tirou uma soneca, e para uma ida à locadora, onde o joão queria gastar o dinheiro que ganhou do avô. enquanto eles assistiam a um filme, eu me sentei no chão do quarto deles para montar o chalé do caçador e evitar que todas as peças de playmobil espalhadas pelo chão fossem esmagadas pelos nossos pés. tive se seguir as instruções. o joão havia desmontado a casinha por completo, não sei como. e eu fiquei animadíssima montando o telhado, a cerca, a janela que tinha caído, os galhos das árvores e os passarinhos coloridos sobre as folhas verdes.
terminei meus afazeres pouco depois das 4:30pm!!! e a coisa ficou mais ou menos: há dois gavetões que eu nem abri. ou melhor, abri, coloquei uns jogos ali, vi muito pó e um montinho de pozinho de cupim e fechei.
eles assistem a um filme dos muppets, o joão com febre e todo enrolado em cobertores, a pequena lívia só de camiseta. sim, a soneca do final da manhã e o almoço, em que ele comeu menos que um passarinho, indicavam algo.
preparei o jantar deles, e depois os levei pro banho. a lívia dormiu em poucos minutos, com um cobertor novo que eu comprei ontem e lavei hoje - até então a guria dormia com um cobertor de bebê que nunca a deixava tapada por mais de 10 minutos durante a noite. a febre do joão baixou dos 39 graus pra pouco mais de 38, depois do banho morno que ele tomou sob protesto. e ele ficou preocupado com a possibilidade de amanhã acordar sem febre e ter de ir pra escola. disse que ele não iria pra escola, mesmo sem febre. e ele deu um doce sorriso - não vou ter de fazer lição, me contou.
ele dormiu com os braços pra cima, naquela posição que deixa claro que a felicidade acompanha sempre o sono das crianças. a livinha já roncava quando saí do quarto.
amanhã eu vou trabalhar, depois de um recesso involuntário de dois meses e meio. claro que moças que não trabalham comem mais do que convém. ou seja, há um problema com as minhas calças. talvez tenha de comprar uma imediatamente.
minha mãe me ligou para avisar que minha tia querida foi hospitalizada ontem. um câncer vai matando a tia ienete devagarinho, e eu rezo que para o devagarinho não seja tão lento assim, pra ela não ficar sofrendo em salas sinistras de hospitais. não posso vê-la, como gostaria, e tenho medo de que quando meu trabalho terminar ela já tenha partido. ela me disse, na última vez em que nos falamos por telefone, que só ia cozinhar quando eu fosse visitá-la. isso porque tradicionalmente toda vez que um irmão dela ia para o interior visitar a família, era na casa dela que nos concentrávamos. nos hospedávamos lá, comíamos lá, brincávamos com os trocentos primos lá. mas ela e meu tio resolveram sair da casa e foram morar num apartamento. onde, diz ela, não havia mais aquelas pajelanças de outrora.
tomara que dê tempo de eu ir vê-la, pra gente encher a barriga de cuca e chimarrão.

domingo, 19 de abril de 2009

a festa acabou

minha barriga tá gelada. então pareço uma senhorinha demente, com um cobertor enrolado ao redor da cintura. dei banho de banheira nas crianças, com o motor da hidromassagem ligado, e tomei um banho involuntário.
minha mãe, uma senhora por vezes excessivamente asséptica, chegou do parque e disse que ia tomar um banho. no parque havia pingos e ela não sabia se eram xixi de passarinho. então ela tinha de se lavar para ficar limpa.
meu pai chegou do parque exausto. prometeu ao meu filho que dormiria somente 15 minutos. e quando reapareceu na sala, sentou-se na poltrona enquanto o joão gabriel abria, em êxtase, seus presentes, e depois montou um mega lego. o velho ligou o rádio e a TV ao mesmo tempo para ver corinthians e são paulo. mas ele é colorado.
minha filha chegou à nossa casa um pouco depois, porque o pai dela disse que teria de levar a filha dele ao médico e, por isso, a pequena lívia não poderia ficar na casa dele, como ela queria.
estamos todos cansados e felizes, depois de uma bela festa no parque, num dia em que o sol estava com um azul incomum para a cidade cinza. parece que todos que foram à festa se divertiram. e festas assim é que são as boas.
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eu tenho horror de ter dó de alguém. mas há pessoas que fazem esse sentimento jorrar da minha alma. como tenho dó das pessoas que não enxergam. que não olham pro lado, que não vêem ninguém, que têm uma visão horrivelmente limitada que não as permite ver ao redor, cheirar ao redor, sentir ao redor.
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minha barriga já esquentou. meus filhos perguntaram se eu estava grávida. ops! menos mal. melhor gorda do que grávida. ah ah ah. uma dieta medieval, que estou combinando comigo mesma há meses, far-me-á entrar na linha. só me faltam forças para tomar sopinhas com tanta verdura que têm a cor verde.
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uma mistura de alívio com leveza e otimismo faz meus pés andarem bem firmes no chão e com alegria. quase distração. mas não é. o trabalho faz eu dormir noites maravilhosas, com sonhos maravilhosos. e faz eu acordar feliz, feliz da vida.
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meus pais partirão amanhã de manhã. e então a vida retomará seu suave ritmo. voltarei a dormir na minha cama.
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meus filhos fazem aniversário na mesma semana. e esta semana acaba de acabar. não vou fazer nenhum bolo amanhã, nem vou enrolar nenhum brigadeiro, nem vou encher nenhum balão. mas vou ter de me sentar numa cadeirinha no quarto deles amanhã para separarmos brinquedos para doação. cada presente recebido, um brinquedo a ser doado. assim tem sido desde que o joão gabriel tem 2 anos. é uma traalho hercúleo e maravilhoso. para mim. e para eles.