sexta-feira, 16 de abril de 2010

sobre o cansaço e o trânsito, com amor

ting abriu a porta com um sorriso no rosto. estendi minha mão para cumpimentá-la, mas ela abriu os braços, e acabamos nos abraçando. 'tá tá', disse ela, o que para mim parecia algo como 'ok, o abraço já foi suficiente'.
ela diz para eu subir. subo e me sento, e ela logo entra na sala. sigo as instruções dela: tiro o vestido, deito de bruços, com a cabeça virada para o lado que para mim seria o lado dos pés. e começa a sova.
logo entra o dr. kong, marido da ting, e eles conversam em chinês bem baixinho, quase sussurrando, e ambos saem da sala. depois ela volta, me sova mais um pouco e então entra ele, este sim um mestre da sova. mas em vez disso, ele me enche de agulhas e sai. durmo e sonho.
ele volta, e me parece que estou ali na cama há horas. muita massagem. e antes de eu achar que aquilo era o suficiente, ele diz 'pronto. se sentir dor, pode voltar mais uma vez.' o português do dr. kong dá de 10 a 0 no português da doce ting.
saio de lá lenta, e com mais dor do que quando cheguei. uma coisa bem espalhada: doem o meu pé esquerdo, o meu joelho e o meu quadril esquerdos, e meus ombros. ando devagar, dirijo devagar, e chego em casa.
eu tinha acordado cedo, às 5h15, para levar as crianças à escola. meu filho havia pedido para não ir à escola hoje, e eu também estava exausta. foram duas festas de aniversário em seis dias. a do joão, no sábado, e a da lívia, ontem.
hoje era o meu dia de levar meus filhos e os filhos da roberta, que reveza comigo esta tarefa hercúlea. no caminho de volta - e esta é que é a parte hercúlea -, o trânsito parou. fiz um cálculo rápido, e o resultado foi este: passaria três horas dirigindo hoje. da minha casa para a casa da roberta, dali para a escola. depois, a volta pra casa. ao meio-dia, iria de novo à escola e, dali, a alphaville, para a festa de um colega do joão. e no fim do dia, ufa!, voltaria para casa.
e então fiquei feliz quando meu carro teve de parar. abri minha agenda, organizei uma lista de supermercado, vi o que terei para fazer semana que vem. e senti um alívio ao ter de parar o meu carro por causa do trânsito. lembrei que esqueci do parque villa-lobos por uma semana. e que quero começar uma dieta violenta de desintoxicação. e lembrei que preciso de um trabalho, e que isso é urgente. urgentíssimo.
lembrei também das minhas dores espalhadas pelo corpo, e esperei dar 8h no relógio para ligar pro dr. kong. sim, ele tinha horário para me atender. e fui feliz da vida para o acupunturista. um presente para mim, depois de ter dado de presente aos meus filhos duas festas maravilhosas, com brigadeiros e bolos feitos com amor, mais outras trocentas delícias.
no fim do dia, o cálculo das horas no trânsito diminuiu. dirigi só 2h e 15 min. e feliz.
meus herdeiros dormem, e o silêncio reina. meus velhos, queridos e contentes, partiram hoje de manhã cedo. foram de táxi pro aeroporto, porque eu não chegaria em casa a tempo de levá-los. por uma semana, a casa ficou cheia de gente, de alegria e de bagunça. minha mãe dizendo que é um absurdo eu dar castigo pras crianças, e meu pai levando o joão à padaria e os dois se entupindo de sorvete. alegrias da vida com o vô e a vó, que com certeza é uma vida mais divertida do que a vida com a mãe.