quarta-feira, 10 de março de 2010

vamos pro rosa, crianças?

a família da minha mãe é pequena. meus avós tiveram três filhas. e cinco netos. minha tia mais velha tem dois filhos, minha mãe tem três, e minha dinda não tem nenhum.
e eis que minha mãe me diz que meu primo iria se casar. evento. eu adoro ir a casamentos. e o casamento seria na praia do rosa, em santa catarina. outro evento. eu adoro viajar.
antes de receber o convite, marquei na minha agenda a data da festa. e achei que tinha de ir. fui ver passagens de avião, achei muito caro. e resolvi ir de carro.
as semanas entre a minha decisão e a festa propriamente dita foram um pouco insones. de dia eu tinha certeza que queria ir de carro, e à noite morria de medo de dirigir sozinha, cruzar três estados brasileiros para ir a uma festa. com os meus dois filhos.
mas a desculpa que inventei pra bancar a empreitada era ótima: o dimitrios era o último a casar da família. eu tinha ido ao casamento do meu irmão, mas não fui ao casamento da minha irmã nem da minha prima. gravidez, filho pequeno, trabalho, as desculpas são muitas.
meu pai, que acha que viajar é uma coisa mui chata, me disse que o meu argumento era uma bobagem: as pessoas casam mais de uma vez. o velho disse isso porque não queria ir ao casamento e também porque ele tem duas filhas divorciadas, sendo que uma delas já se divorciou duas vezes. ele é gato escaldado.
mas eu fui.
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saímos de casa um pouco depois das 6am. as crianças tinham participado da preparação: ganharam sapatos novos, separaram brinquedos, escolheram as toneladas de comidinhas que foram conosco.
chegamos ao rosa um pouco antes das 6pm. na alça de acesso a garopaba - para depois pegarmos a estradinha que dá no rosa - vi um carro preto atrás de mim e achei que fosse o carro do meu pai. e era.


o joão e a lívia vão com a cabeça pra fora, tomando vento na cara, na estradinha de terra esburacada e cheia de poças d'água, na qual a velocidade chega a 20km/h
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as crianças gritavam de alegria. e depois de umas pancadas de chuva, um arco-íris enfeitava a paisagem. e assim chegamos à pousada, que fica em cima de um morro - a única coisa que não fica em cima de um morro no rosa é o mar. pneus patinaram nas subidas íngrimes. mas chegamos.


eu não aguentei: fotografei os quilômetros rodados, desde a porta da minha casa até o estacionamento da pousada
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dias de chuva, e as crianças felizes da vida. na hora do casamento, a chuva parou por algumas horas. e o dimitrios e a rosana conseguiram casar à beira da piscina, numa cerimônia sem 'ensaios', improvisada e linda.
minha filha tava louca para ver a noiva, que ela sabia que se chamava rosana, mas cujo rosto era desconhecido. depois de dar um beijo na noiva e um beijo no noivo, a lívia foi dormir. e o joão ficou na balada, dançou com os olhos brilhando. me perguntou se podia pedir de presente pro pai dele um globo com luzes coloridas 'para colocar no quarto'. e ficou em êxtase quando viu a fumacinha do gelo seco. às 10pm ele foi interditado por mim. e foi dormir.
eu achava que os quilômetros rodados tinham de valer a pena. e dancei, dancei, dancei. no outro dia, saio da cama enquanto minha irmã e meus velhos dormem, para ficar com as crianças. e quando minha mãe acorda, pergunta 'como é que tu aguentas?'. eu digo que tenho filhos. ponto.
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na única tarde de sol, descemos o morro em direção à praia. o rosa é lindo. morros verdes, mar azul com ondas fortes, areia fofa. na volta pra pousada, um banho de lagoa. e a luz do final de tarde. tudo isso eram presentes que a gente ia ganhando e agradecendo.


no caminho de volta à pousada, uma lagoa de um lado, a mata do outro
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ressaca geral. as crianças jantaram na beira da piscina. e fiquei feliz de me imaginar num conto de fadas, em que a paisagem é linda e vida é doce, muito doce.


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no dia em que íamos até floripa, meu pai está com febre. são 9am e ele diz que não vai pra floripa porque quer ir pra casa. a dele, que fica em porto alegre. eu penso rapidamente e sei que saindo lá pelas 10am do rosa chegaria em são paulo às 10pm. ou seja, no way. pegar estrada à noite com dois filhos pequenos no carro? não.
um frio na barriga. fico com vontade de chorar, mas penso que seria um mico. vou pra varanda do chalé onde estamos hospedados e choro olhando o mar enorme e azul, com ondas imensas. me lembro da frase que lia nos jornais dos estados unidos, quando naquele país havia o pavor de ataques de antrax. 'stay put', diziam as matérias. e respirei aliviada e ainda com dor de barriga. quando não sei o que fazer, sei que não devo fazer nada. devo 'stay put'. ficar onde estou. não me mexer.
a família segue para o café da manhã. fotos com os noivos, risadas. e eu pensando pra onde iria. em vez de ir pra floripa, visitar a marise, minha tia querida, resolvo seguir rumo ao norte. queria chegar em casa, e estava com medo da volta.
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saímos do rosa quase ao meio-dia. meus velhos e minha irmã, com a filha dela, seguiram pro sul. e nós pegamos a BR-101 em direção ao norte.
a estrada para depois de uns 10 minutos. as pessoas descem dos seus carros e caminhões, e nós fazemos o mesmo. um sujeito da obra - toda a BR-101 e a BR-116 parecem estar em obras - diz que vai demorar 10 minutos. 'estão pintando a pista'. estamos parados em frente a um posto de gasolina. um rapaz se aproxima e me diz que eu posso pegar a estrada atrás do posto, andar 2km e chegar a um ponto da estrada onde não há engarrafamentos. mas meu filho protesta.


a lívia faz pose durante nossa parada de quase uma hora


joão se diverte com o 'trânsito'


joão tira muitas fotos, como esta

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a volta foi light. chegamos a joinville abaixo de chuva. mas acho que eu já estava mais corajosa. saímos da BR-101 na entrada 'secundária' para a cidade, e antes de reclamar, avisto uma casinha com uma placa. informações turísitcas. respiro aliviada. estaciono o carro, descemos e pergunto sobre hotéis.
tudo fácil. vou ao hotel tradicional da cidade, onde havia me hospedado cinco anos atrás, quando estava grávida da minha filha e viajava de volta a são paulo com meu filho e o pai dele, que era meu marido.
no outro dia, restavam apenas cerca de 500km para rodar. sossegado. chegamos a nossa casinha à tarde, felizes e exaustos.


nooooossa, e eu aindo consigo sorrir!
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agora eu vou pra bahia de carro com os meus filhos. se tiver parceria, vai ser lindo. se for sozinha com eles de novo, vai ser lindo também.
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ps - não posso deixar de agradecer ao duda, que me disse que a viagem era sussa, e ao juliano, que me explicou as placas para pegar a BR-101 em curitiba e que me aconselhou a andar devagar. a minha viagem foi mais que longa que as que o duda faz com os filhos dele, e eu andei mais rápido que o ju. mas foram conselhos imprescindíveis para a minha alegria e tranquilidade durante a longuíssima jornada.
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ps 2 - e palmas para os meus velhos, que bancaram a nossa estada num lugar maravilhoso, e que me deixaram com dor de barriga na hora de não ir a floripa. isso meus velhos sempre souberam fazer com maestria, pelo menos comigo: me deixaram ir, sempre. o que é a coisa mais difícil para um pai e uma mãe.