sexta-feira, 14 de novembro de 2008

la vraie liberté c'est le vagabondage

a imagem é a de uma janela aberta, e a perspectiva é de alguém que olha de dentro pra fora. fora, no caso, são montanhas e umas casinhas aqui e acolá. fiquei olhando agora pra esse quadro, um pôster comprado numa livraria em pamplona, na espanha, quando eu estava a caminho de um refúgio nos pirineus espanhóis, refugio de bel'água. como eu ia seguir viagem, despachei o pôster por navio. demorou meses pra chegar, e até hoje, passados 20 anos, tem as marcas amassadas - a embalagem chegou bem avariada.
e enquanto os rapazes trabalham na obra do metrô, eu tento me concentrar pra escrever sobre a paz. ela veio me visitar ontem à noite. partiu de madrugada, e eu já acordei esgoelada, e fui pra corporação bem cedo. trabalhei feito uma mula jovem - ou feito um macaquinho, já que este tem mais penso, de acordo com uma das mais de 200 pessoas que trabalham no mesmo andar que eu e que pegam café da mesma máquina e água do mesmo filtro. e cheguei em casa e ela chegou logo depois.
como é estranho. depois de morrer de tensão, ficar mole. não super hiper mole, mas mole. sei que a sensação é pontual, e que de madrugada vou acordar pensando no trabalho, nas pessoas do trabalho, nas tarefas do trabalho, nas expectativas do trabalho. mas só o fato de ficar sem falta de ar por algumas horas já é um alívio.
e será que quem lê isso acha que eu estou enlouquecendo? penso di no. e espero que não. pelamordedeus. porque acho que a paz é uma indicação do caminho para o nirvana. e eu juro que vou estudar a respeito para poder escrever sobre isso.
será que eu chego lá?

domingo, 9 de novembro de 2008

sonhos de um domingo de (quase) verão

um helicóptero, para chegar a um sítio bem rapidinho. um marido podre de rico, que tenha o tal do helicópetero. uma equipe gigantesca de serviçais - babás, mergulhadores, salva-vidas, motorista (para se alguém preferisse ir para o sítio pela estrada, que é mais bucólico). e um saquinho de paciência que se expandisse toda vez que isso fosse necessário, o que, fazendo umas contas rápidas, seria umas 476 vezes por dia.
pronto. e então meu domingo no sítio perto de são paulo, com sol, flores belíssimas, uma piscina geladinha e todas as tortas salgadas feitas por mulheres prendadas teria sido um sossego. mas não foi.
dois adultos no banco da frente do carro, três crianças no de trás. uma hora de atraso para sairmos, e as crianças gritavam e cantavam e ouviam música no carro, enquanto os dois adultos tentavam manter o bom humor às 8am e pediam aos pequenos que não gritassem para não acordar meus vizinhos.
a chegada ao sítio foi sussa, só nos perdemos uma vez. menos de 5 minutos.
mas passada uma hora de sol, piscina e a sensação de "ah-finalmente-estou-de-maiô-e-vou-tirar-o-mofo-do-corpo-e-da-alma" e onde está o meu filho?
nenhuma amiguinha dele sabia. começou a busca, e deve ter passado cerca de uma hora. todos os adultos começaram a procurá-lo. e nada. uns ficavam na piscina cuidando das 10 ou 15 crianças que pulavam e mergulhavam e gritavam e se divertiam como só menores de 8 anos conseguem por horas e horas na piscina geladinha.
eu andei pelo sítio e gritei e nada. olhei dentro dos carros. nada. olhei para cima procurando o cara trepado numa árvore. andei pela casa, entrei em todos os banheiros. nada.
me sentei e comecei a respirar fundo, afinal nada horrível tinha acontecido, só meu filho não era visto por ninguém havia muitos, muitos minutos. me lembrei de velhas que ficavam nervosas - ou simplesmente adultos - e que tomavam água com açúcar quando eu era criança. e respirava fundo, tentando me conectar com a realidade: meu filho é esperto e sumiu. só isso.
"calma, ele vai voltar", me diz minha amiga, que o procurava havia muito tempo.
de repente pessoas gritam "ele tá aqui, ele tá aqui".
vejo o cara, pergunto o que aconteceu, ele explica que "estava com a helena e a mel e elas sumiram". tipo coitado, se perdeu.
eu acreditei.
até ele contar que havia molhado os pés no rio sujo, passado por duas cercas de arame farpado, visto um cavalo "que ficou me olhando mas não fez nada", ouvido o barulho da música, passado pela floresta e encontrado uns homens que perguntaram de onde ele vinha.
a helena ficou olhando pra ele e ouvindo o relato boquiaberta. nossa, ele é um herói, deve ter pensado ela. sim, ele falava calma e pausadamente, se achando um herói.
depois disso, passei o dia olhando para ele e para ela, ela no caso a minha filha de 3 anos que não saía da piscina.
não provei todas as tortas. não comi as frutas. não relaxei. e não escutei a melhor parte do dia: um pai tocando violão, uma mãe cantando e outra mãe tocando um instrumento de sopro que eu nunca tinha visto e cujo nome me foge. mas, resumindo, um belo pocket show debaixo de árvores e sobre panos estendidos sobre a grama.
e saí do sítio resmungando meus desejos mundanos de um marido mega super hiper rico, vários serviçais que olhassem não só as minhas mas t-o-d-a-s as crianças que brincavam felizes e a paciência que às vezes falta às loucas heroínas prendadas trabalhadoras e lindas mães, que, como eu, às vezes precisam de um copo com água e muito, muito açúcar.
que deus nos abençoe. e que meus amigos me perdoem a tanta loucura.