quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ode às rugas ou sobre as celebrações cotidianas

a reunião começou quando eu estava louca pra ir pra casa. tinha quase 15 dias que eu não via meus filhos, e eles tinham voltado da praia ontem, perto da meia-noite. eu estava dormindo, e o telefone tocou. eles estavam chegando. tirei o pijama, coloquei uma roupa e desci pra ajudar o pai deles a carregá-los escada acima. joguei os dois na cama, e dormi feliz. fritei por uma hora na cama, claro. acho que de alegria.
no meio da noite acordei, fui até o quarto deles, beijei os dois e voltei pra cama. a sensação era - e ainda é, quase 24 horas depois - de deitar e boiar nas nuvens. uma alegria que acho que nunca senti. uia!, isso existe?
...
a reunião rolou, e eu pensava em como tava boa. é engraçado quando eu acho que tudo tá bom. parece que tem algo errado. mas não tem. a reunião era sobre trabalho, mas o trabalho tem a ver com as pessoas, a idade das pessoas, e o que pensam as pessoas. o thales, meu editor, disse mais de uma vez durante a tal da reunião que se sente um 'tiozinho'. ele é um homem sábio, que já viveu quase meio século, e nem por isso é um velho. o cara tem histórias pra contar e, melhor de tudo, nenhuma arrogância. ainda bem que as rugas não vêm só. gentilemnte, elas carregam um pouco sabedoria.
...
anteontem, quando cheguei em casa, escrevi sobre as celebrações. mas deixei o texto dormindo, e ei-lo abaixo.
...
cheguei em casa quando o sol ainda brilhava alegremente no céu. abri as janelas pra iluminar minha casa. e estou curtindo meu último dia de férias de filhos. amanhã a vida doméstica volta à doce rotina, com meus filhos em casa.
enquanto estava esperando meu computador, que já é um senhor de idade avançada, fazer umas atualizações, fiquei olhando pro lustre de cristal maravilhoso da sala do meu apartamento e pensei em quantas comemorações eu DEIXEI de fazer. e em como agora eu faço celebrações diárias.
quando vim morar aqui eu pensava - não, eu não pensava, eu tinha certeza - que moraria aqui por um, no máximo dois meses. depois de morar aqui por dois anos, num apartamento emprestado, comprei o apartamento. e eu sempre pensava em dar festas: quando eu me mudar pra outro apartamento, quando eu pintar as paredes, quando eu reformar o banheiro e ali tiver uma banheira. quando não me mudei, pensava em dar uma festa "quando o apartamento estivesse pronto". mas nada fica pronto nunca. descontando as alquimias culinárias.
e hoje eu cheguei em casa feliz da vida, contente por estar trabalhando com pessoas doces, inteligentes, lindas e jovens. j-o-v-e-n-s. essa é a alegria de voltar pro mundo corporativo. eu sempre trabalho com um monte de pessoas jovens. e elas são uma alegria na vida de qualquer pessoa.
eu desconfiava disso quando era jovem, mas me relacionava com tanta gente escrota que dizia "você é jovem demais" que acabava ficando em dúvida. mas agora, com meus lindos e rebeldes cabelos brancos e minhas rugas na cara, sei que o que eu pensava quando tinha 15, 19 e 27 anos era verdade.
as minhas certezas hoje são relativas, graças a deus. e a falta de certezas dessas pessoas adoráveis que têm muitos anos menos do que eu me traz uma alegria gigantesca, quase irreal.
quando eu era jovem e trabalhava com pessoas mais velhas do que eu, ficava boquiaberta com a vida deles: posições mais elevadas do que eu na firrrrrma, mais dinheiro do que eu no banco, roupas caretas e a existência de cônjuges e filhos, o que pra mim era um cubo mágico. uma coisa que eu nunca conseguiria - e nunca consegui - montar. falo do cubo mágico, evidentemente.
mas voltando à vida 'das pessoas mais velhas', agora vejo vivo sinto e sei que consegui montar. a logística é outra, claro. porque não importa onde eu esteja, eu tenho de administrar onde meus filhos estão. a comida, o sono, o banho, as brincadeiras e os compromissos deles, meus pequenos herdeiros.
tento resolver da forma mais simples possível. meus filhos não vão ao clube toda tarde com a babá, e nem babá eles têm. não tenho dinheiro nem saco pra isso. quando me perguntam se meus filhos passam o dia todo na escola e eu digo que não, vejo pares de olhos arregalados me fitando. 'mas com quem eles ficam?'. com a empregada, ora bolas.
eu não fui criada assim. minha mãe administrava a vida dela e cuidava da gente, mas não 'trabalhava fora'. as aspas são usadas porque toda mãe trabalha, dentro ou fora de casa. mas trabalha. e duro. mas depois que meu filho nasceu e eu pude ser mãe full time por um ano, entendi que o trabalho existe dentro e fora de casa. e entendi também que eu queria ter os dois. e que precisava disso pra ser feliz, pra ganhar dinheiro, pra contar histórias sentada na cama do joão, pra dar gargalhadas muitas vezes por dia. e, óbvio, pra pagar as contas, porque nenhuma tinha milionária me deixou herança, infelizmente.
às vezes preciso de legendas pra entender algumas coisas que meus colegas que nasceram muitos anos antes de mim dizem. mas eles também precisam de legendas pra entender o que eu digo. mas isso não é ruim. isso é um tesão.
lágrimas teimosas encharcam meus olhos, e eu lembro de tanta gente rindo do que eu acreditava quando eu tinha vinte anos menos do que tenho hoje. eu não gosto disso. aliás, acho o supra-sumo (ou suprassumo?) da deselegância rir de alguém, a menos que a própria pessoa esteja rindo dela.
mas acho que tudo o que tô escrevendo me faz crer que eu acredito que a vida anda pra frente, pelamordedeus. e que estou tentando criar meus pequenos herdeiros desta forma: acreditando que ELES me ensinam e que ELES trazem verdades. e que todas as verdades, as minhas e as dos meus filhos, são relativas. e mudam duma hora pra outra.
pausa pra um cigarro, e pras lágrimas jorrarem bochechas abaixo.
a vida vai andando, e eu vou celebrando. ouvindo a trilha sonora de bagdad cafe, que é bem linda, estranha e, mais legal de tudo, alegre.
bagdad cafe? o que é isso?
ah ah ah.
ah, ia esquecendo. celebrando o que mesmo? tudo. o sol quente de hoje. o cinema de ontem. as lágrimas durante e depois do filme, à deriva - uma ode à vida, ao crescimento e à dor que tudo isso traz de presente pra gente. a cerveja preta gelada. e o som, agora abba, uma maravilha brega, linda e alegre, como esses meninos que eu encontro todo dia e com quem tenho cafés e almoços felizes.
deus esteja.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

quantos dias demora pra ter saudade?

a pergunta ficou piscando na dentro da minha cabeça no domingo. agora ela ainda pula, mas com menos intensidade.
depois de nove dias tendo "vida de solteira" na minha casa, comecei a sentir muita saudade dos meus filhos. só faltam 3 dias pra eles voltarem de "tubatuba", e eu fico fazendo contagem regressiva.
não consigo escrever agora, porque cheguei feito uma minhoca sonolenta ao trabalho um pouco antes das 7am. na lanchonete, muita gente tomando café da manhã. e, no estúdio, surpresa!, um jornal no ar. isso é engraçado de trabalhar em TV: nunca é muito cedo nem muito tarde. sempre tem gente trabalhando com cara de gente trabalhando, e não com cara de minhoca sonolenta, como eu.
esta é a sexta semana de férias escolares, e isso quer dizer que há seis semanas eu NÃO acordo às 5:30am. acordo duas ou três horas depois. mas hoje acordei no horário de sempre. e ai, socorro. muitos carros nas ruas às 6:30am, e eu com a sensação de que eu era a única que tava morrendo de sono.
ao trabalho.