sexta-feira, 21 de agosto de 2009

as minhas melhores amigas - sem singular

faz frio. lá fora e aqui dentro. o dentro é em mim.
noite passada dormi poucas horas, mas horas felizes. sonhei com o vazio. sonhos são íntimos, e raramente falo sobre eles. mas os sonhos da noite passada eram sobre o vazio. tudo era vazio. eu senti o vazio dentro de mim e as coisas que eu tinha de fazer - no sonho - eram vazias. meu trabalho, minhas ideias e o que eu sentia. tudo era vazio.
eu não tenho um dicionário de sonhos em casa, e meus muitos anos de análise ainda não me tornaram uma pessoa capaz de entender o que vem de dentro de mim quando durmo. mas quando acordei senti um alívio de sentir o vazio. é o espaço para coisas novas. e eu sei o que isso quer dizer. mas não vou contar pra ninguém, só pra mim, porque é muito pessoal.
a semana foi übermegablaster enlouquecedora. muito trabalho, fim das férias escolares, início do trânsito surreal absurdo e nojento da cidade cinza. fui uma hard working woman e uma geleca todos os dias. muita energia para acordar sair trabalhar voltar cuidar dos filhos dar conta da empregada pagar contas e dormir sossegada.
não atendi todos os telefonemas nem respondi todos os emails. e minha to-do list aumenta em vez de diminuir. me surpreendo com pessoas jovens que trabalham mil vezes melhor do que eu e com pessoas que não sabem trabalhar - ou eu sou louca?
a paciência é a maior virtude, depois vem a compaixão. aprendi isso vivendo e lendo dalai lama. mas quando vou aprender isso com o coração? não sei.
um dos telefonemas que não atendi era da minha melhor amiga flávia. mas sou educada quando sei que isso é bom para a minha alma e liguei pra ela depois que meus pequenos herdeiros estavam dormindo em suas fofas e cheirosas e muito quentinhas camas.
a flávia tava louca mas conseguimos conversar por uns longos 15 minutos. os três filhos dela ainda estavam acordados. e meu vazio recebeu doses cavalares de amor. eu adoro as minhas melhores amigas. não são muitas, mas são o suficiente para o meu coração se encher de alegria e para eu saber que tudo faz sentido.
minha melhor amiga carla veio tomar sopa de cenoura com curry e comer salada de grão de bico com quínua comigo esta semana. um dia antes da visita gastronômica ela tinha vindo à minha casa chorando para pegar o carro emprestado e ir a uma festa. a carona dela tinha dado o cano. ela raspou meu carro ao sair da garagem, e me ligou chorando. disse pra ela ir pra festa. semana que vem vou ao mecânico pra arrumar o carro. e negociar condições de pagamento decentes pra carla.
minha melhor amiga paula responde só os emails essenciais. e toda vez que eu os recebo meu coração se enche de alegria. quando fomos trabalhar juntas, um ano atrás, achavam que nunca daria certo. e tá dando certo pela segunda vez. nem sempre os achismos fazem sentido.
ufa!
como é bom sentar e escrever e saber que meus melhores amigos vão ler e seus corações vão se encher de alegria. ou se esvaziar de alegria. que no fim é a mesmíssima coisa.
minha melhor amiga reh me disse esta semana que meu corpo está livre dos metais tóxicos. e disse pra eu seguir minha dieta superhipermegablaster sinistra, sem açúcar nem laticínios. mas me disse que eu tenho de fazer algo com o meu corpo. leia "vai fazer um exercício, nega!". eu vou, quando der. mas não sei quando vai dar.
ainda faz frio lá fora. e aqui dentro também.
depois de ler "a moça sem mãos" dos irmãos grimm para o meu filho, uma ou duas lágrimas fininhas rolaram pelas minhas bochechas. "pode chorar, mãe", ele disse. "mas da próxima vez que contar essa história, não." no conto, um anjo ajuda a menina que teve as mão cortadas pelo pai a pedido do diabo. e deus faz suas mãos cortadas crescer novamente. claro que não é uma história para crianças, mas por algum motivo que desconheço meu filho decorou os contos dos irmãos grimm dos oito volumes que compõem a obra completa em português e me pede para contar contos estranhíssimos.
meu estado geleca de quando cheguei em casa há quatro horas evoluiu para um estado "i am freezing". hora de tomar uma sopa que a doce nalva fez. e de ir dormir chorando, sabendo que o vazio não é em vão.
o novo está chegando, para ocupar o lugar do velho, que já partiu. estou gelada. e isso é bom. porque vou me aquecer. e vou dar risada quando deitar na minha cama cheirosa e macia e quente e dormir. no meio da noite vou morrer de calor, chutar metade dos cobertores e lembrar da rebeca do pedro da nádia do caio. e vou dormir feliz.
assim é a vida.
deus esteja.

domingo, 16 de agosto de 2009

o corpo, a alma e a pressa

eu abri os olhos e vi que eram 6:58am. e lembrei que hoje era domingo. virei pro lado, me cobri e tentei dormir. mas minha cabeça pensava rapidamente, e meu corpo, mesmo relaxado, também parecia estar com pressa.
fiquei ainda quase uma hora na cama, mas uma falta de ar, um presentinho que a pressa traz com ela, não me deixou muito feliz. e então me levantei como se estivesse atrasada para viver.
tentei tomar o café da manhã devagar, e enquanto comia um pedaço de pão sensacional, com grãos integrais (coisa que está fora da minha dieta há alguns meses) recheado com frutas secas e castanhas, ia lendo o jornal. mas não consegui nem comer devagar, nem ler devagar. e como o antídoto da pressa para mim é a limpeza, fui lavar louça e colocar roupas para lavar na máquina. aproveitei para lavar com uma escovinha e água morna meu canivete, que tava pedindo uma limpeza. e desentupi a bomba do chimarrão, um trabalhinho zen que consiste em colocar um pedacinho de arame por dentro da bomba e depois lavar com água e assoprar. dói a boca.
estava com a sensação de estar atrasada ainda quando olhei no relógio e eram 9am!
na sala estou arrumando minha bolsa, minhas contas, uns papéis. quando meus filhos voltarem pra casa do final do dia a mesa da sala estará limpa, sem nada em cima, o que não acontece há um mês.
outro dia, enquanto arrumava meu armário, tirei umas fotos de antes e depois. here they are. e antes de eu pensar que posso estar mostrando sem inibições meu TOC, respiro aliviada ao entender que não é TOC, é inspiração. arrumar por fora para dar tempo de arrumar por dentro.

antes



não basta arrumar, é preciso limpar



inspirada no método marlene-manda-seus-filhos-arrumar-os-armários, que eu aprendi ao ouvir relatos do joão: tirar tudo, primeiro




ulalá! parece uma mágica, mas é o mesmo armário, com as mesmas coisas guardadas dentro



menos é mais





eu gosto de ter finais de semana livres. e por livres quero dizer sem nada marcado. nenhum encontro, nenhuma ida ao cinema, nenhum almoço. mas aconteceu o contrário. o pai dos meus filhos ligou na sexta pra dizer que viria buscá-los ãs 7:30am no sábado. aproveitei e minha manicure chegou antes das 8am. depois fui fazer um programa a-gente-rala-a-semana-inteira-mas-também-é-gente com a doce paula. fomos comprar roupas maravilhosas numa venda promocional, umas pechinchas. quando sentei para almoçar, numa salinha onde não se entra com sapatos num restaurantezinho indiano perto de casa, consegui COMER devagar. e pela primeira senti uma alegria enorme por estar separada. pensei no horror, no caos, na tristeza que seria a minha vida se eu não tivesse escolhido viver sozinha com os meus filhos. mas assim que saí do restaurante, depois de ter comprado uma caixa de incensos gorduchos e excepcionais, minha pressa voltou. e dirigi por uma hora para passar a tarde sentada escutando sobre shiva e parvati, divindades hinduístas que representam o homem e a mulher e que na mitologia passaram milhares de anos fazendo amor. quando dirigi outra hora para voltar pra cidade - o workshop era fora de sp -, encontrei com minha dinda, que está na cidade cinza a trabalho. exausta, fomos jantar. e assim que a comida acabou, disse 'vamos embora?'. fina, eu.
quando cheguei em casa, meu corpo doía. e pensei que ele doía não porque eu tinha passado o dia todo fazendo coisas em vez de não fazer nada, mas porque eu só tinha feito coisas boas e meu corpo doía de felicidade. iguais às dores que sentimos depois de passar um dia fazendo uma caminhada de 15km pela chapada diamantina ou depois de nadar por uma hora no mar.
hoje acordei pensando em shiva e parvati, pensando que eu queria sair para andar de bicicleta, pensando na ida a uma exposição com uma amiga querida, pensando no almoço que eu tenho na casa de outra amiga que tá numa casa nova, pensando na volta às aulas das crianças amanhã, pensando no abraço meu-deus-eu-vou-desaparecer-me-tornar-uma-nuvem-que-delícia que recebi depois do workshop de ontem. mas não tinha pensado numa coisa maravilhosa: eu não posso ir morar numa casa nem me mudar pro meio do mato porque eu não aprendi a viver sem pressa. só quando eu não sentir mais que estou atrasada para a vida é que vou poder construir uma casinha com janelões gigantescos e chão de madeira e uma varanda com rede e poltrona e mais um gramado pros meus filhos correrem e ficarem bem sujos de terra.
por ora minha visão idílica de mundo é morar no meu pequeno apartamento. e quando meus pés ficarem com saudades de pisar no chão, ir ao parque pisar na grama ou ir pra praia correr na areia.