sábado, 27 de setembro de 2008

meu dia mundial sem carro...

...foi hoje.
parece egoista, mas não é. como diz uma amiga minha, dia mundial sem carro é pra lugares onde há transporte coletivo. não é o caso paulistano, onde andar sem carro é uma tarefa hercúlea.
bom, vou parar de me desculpar, que é uma coisa horrível e chatíssima. a idéia não era essa. queria só celebrar que hoje, com quase uma semana de atraso, consegui andar de um lado pro outro com meus próprios pés. sem trabalho, sem escola, sem filhos, então deu supercerto.
um dia chaaaaato. mas daqueles bem chatos. nublado, frio, e eu com uma lista gigantesca de afazeres. fiquei dizendo pra mim mesma, antes de sair da cama, "calma", "devagar", "menos".
olho ao redor do computador, que está sobre a grande mesa de jantar, e acho que dei conta do recado. sobre a mesa, além do computador, há duas velas que acendi, um prato enorme para devolver pra uma amiga, os passaportes da família, dois bichinhos que vêm na caríssima revista recreio, três árvores de playmobil, uma pilha de papéis sobre como conseguir o visto norte-americano, uma lista com compras-muamba que a renata vai fazer pra mim numa super liquidação estadunidense (é assim que se escreve essa palavrinha medonha?), minhas canetas numa caneca, uma taça com vinho, uma sacola com duas garrafas de vinho que acabo de comprar, uma terceira garrafa de vinho aberta, um saca-rolhas, um celular, um controle remoto, um filme para câmera fotográfica, minha agenda, um cd, colas que comprei hoje, um marzipan para eu adoçar a vida de uma pessoa - um surto de bondade que se abateu sobre a minha pessoa há meia hora-, um trailer do playmobil, minha carteira, uma boneca do playmobil sentada com os graços perpendiculares às pernas, uma sacola com duas fadas waldorf que as mães waldorf da escola das crianças farão para o bazar de natal. e o suporte de garrafinha d'água para pôr na bike da minha filha, duas velas para quando as que estão acesas acabarem e uma caixa de fósforo.
é. consegui.
saí de manhã para dar uma renovada no meu guarda-roupa. a vida na corporação exige roupas decentes e uma variedade mínima. definitivamente meus colegas não merecem me ver com as cinco ou oito blusas dia após dia. tudo na vida tem limites.
e já que estava num grande centro de consumo, a.k.a. shopping iguatemi, aproveitei e renovei a parte dos calçados com grande alegria.
eu tenho um problema com o assunto comprar roupas. e sapatos. acho um grande saco. por isso compro tudo sempre na mesma loja: calça, vestido, blusa, bolsa, bota, sandália, bermuda. mas ao dar uma olhada no site da dita loja, vi que um vestido custava 260 pilas e uma linda sandália, 240. socorro. e também uma boa desculpa pra eu me libertar da vila madalena. me fui pro grande centro de compras, entrei na c&a e me diverti à grande. depois fui a outra loja grande, dessas que vendem roupas caras e vagabundas, e descolei duas blusas de linha por 50 pilas cada. mas o grand finale foi adquirir três sandálias pelo preço do par que eu havia gostado no tal do site da loja onde costumo comprar acho que mais de 90% do que mora no meu guarda-roupa.
depois de tudo isso, fiquei mui cansada e fui ao cinema ver um filme que não era bom. ensaio sobre a cegueira. placas brasileiras em táxis gringos, atores falando em inglês em são paulo, muito ruim. mas voltei pra casa andando - assim como tinha ido ao cinema andando - e tive a brilhante idéia de adquirir uns vinhos tintos para me aquecer. como uma boa gaúcha meio falsificada, tô achando muito frios esses dias com temperatura de 15 graus centígrados, como agora no final da tarde.
pra mim já é tarde, mas o relógio marca 7:26pm. isso é ótimo: significa que depois de esquentar uma sopinha de ervilhas maravilhosa que a santa nalva fez, vou dormir. até amanhã às 6am, que é quando meus olhos abrem quando estou sem filhos. "acostumou", como dizem as pessoas.
a vida é tão parecida pra todo mundo... só que umas pessoas estão mais ligadas ao que é importante - e isso normalmente é bem pouco - e outras tão ligadas "em tudo", queimando a energia própria à toa.
por isso vou tomar o vinho bem devagar, ligar pra minha irmã também devagar, comer e me jogar na cama cheia de cobertas e ficar lá bem quietinha. pra chapar em 5 segundos. no máximo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

as leis, o rodízio, o medo e a fuga

cheguei. depois de ficar com um pouco de culpa e ter dor de barriga ao ver um marronzinho na esquina, plantado feito uma samambaia, aplicando multas à grande.
hoje é meu rodízio. o que significa que é o meu dia de prática de exercícios compulsória. a família acorda cedo, toma café e se apronta sem demoras, e sai de casa às 7h15. andamos por mais ou menos 45 minutos. uma senhora de 37, esta que escreve, um garoto de 6 anos e uma menina de 3.
depois de deixá-los na escola, volto feliz da vida pra casa, andando. faço um pit stop na feira para comprar peixe. e depois tenho momentos de puro deleite: sou obrigada a esperar até as 10am pra sair de casa rumo ao trabalho. tenho de tomar banho e ler o jornal beeeeeem devagar. um luxo, uma delícia.
mas eis que hoje eu tinha de chegar antes das 10h à corporação, e fiquei quebrando a cabeça: levo as crianças de táxi? e depois vou andando pro trabalho? aciono o pai delas para ir buscá-las e não vou almoçar em casa? contrato um motorista e brinco de moça rica?
resolvi furar o rodízio. cousa rara, depois de três multas, uma delas anulada depois de eu recorrer e explicar numa carta que "moro sozinha com duas crianças em idade escolar, só tenho um carro e quando pego o carro no horário de restrição é por absoluta necessidade, e só para fazer o trecho casa-escola-casa". alguém se comoveu com minha carta, com a cópia do mapa que mandei marcando o trajeto, e anulou a infração. mas da segunda vez que mandei a carta, nada aconteceu. eu paguei a multa.
meu filho, animadíssimo, dizia que ia gritar quando enxergasse um marronzinho, pra que ele me multasse. suuuper emocionante, não? pra ele, que tem 6 anos. mas pra mim, um saco. saímos de casa por um caminho ninja. mas os marronzinhos estão infiltrados. no segundo quarteirão depois de sair da garagem, TRÊS marronzinhos conversam alegremente na calçada. tento ficar invisível e, por um milagre, NENHUM deles levanta a cabeça, nenhum olha pra mim, nenhum vê minha placa com final 8. ufa! ando mais três ou quatro quarteirões, dobro numa esquina e quem avisto na outra ponta, digo, outra esquina? bingo!, um marronzinho.
minha barriga ficou dura, e eu resolvi dar marcha à ré. algo tipo "já que estou fazendo uma patacoada, vou fazer bem feito". com paciência, esperei os carros entrarem na rua onde eu estava, de mão única, dei ré e voltei à rua onde estava. deixei as crianças na escola sem ver mais ninguém da CET. e dirigi até a corporação.
aparentamente não fui multada. mas fiquei com dor de barriga.
ou eu compro uma lambreta, ou ensino um cara de 6 anos e uma menina de 3 a andar de bicicleta pelas calçadas paulistanas, ou deixo de ser louca e furo o rodízio sem ficar passada.
acho que fico com a última.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

ode à amiga perfeita

o nome dela é márcia, e eu a conheço desde que pisei nessas terras, longínquas do rio grande, para ficar. há exatos 13 anos, se eu contar a partir de hoje.
pois ontem ela me ligou. domingo de manhã, eu no supermercado. quando ela me liga aos domingos sei que está de folga da rede globo. ela me diz que tem um vinho no carro. combinamos de ela passar na minha casa no final da tarde. fico de ligar para dizer "estou chegando", porque à tarde eu iria à escola das crianças, onde rolaria a frugal festa da primavera - e onde fui chamada de gângster por um dos pais presentes, o paolo, porque dancei a dança circular de calça, colete superhiperquente de pluma de ganso preto (um colete à prova de balas, me disse ele, jurando ser isso um elogio) e óculos escuros.
terminada a festa, e eu ainda não considerando os comentários do paolo uma coisa positiva, cheguei com as crianças ao apartamento e enchi a banheira. minha filha chorava, meu filho grudou na frente da TV. quando vou ligar pra márcia? dei banho nos dois, jantar pros dois. antes de levá-los à cama a márcia ligou, ufa!, e eu disse pra ela vir. amigas perfeitas, mesmo as que não têm filhos, caso da márcia, entendem o que é ter filhos. crianças na cama, porteiro avisado pra dizer pra márcia subir e entrar em casa sem tocar na campainha. canto duas músicas, minha filha chapa e meu filho quase, e escuto a márcia chegar. digo pra ele sair da cama pra ver a dinda. ele tava tão chapado que deitou no colo dela no sofá, eu coloquei um cobertor por cima e ele quase dormiu. levei o cara pra cama e ele chapou em um, no máximo dois minutos.
amigas perfeitas chegam na casa da gente a qualquer hora. a márcia não só tinha uma bela garrafa de vinho tinto dentro da bolsa, como um pão com tomate seco e um saco com 1 kg, no mínimo, de jabuticabas! amigos perfeitos não trazem presentes, trazem amor.
sentamos, bebemos, conversamos, e eu contei que estava cansada. ela só disse "eu sei". contei que estava trabalhando num projeto sobre o qual não podia falar. de novo ela disse "eu sei" e não perguntou nada.
acho que nossa conversa durou uma hora. ela disse "vou embora, você tem que dormir". disse que podíamos conversar mais um pouco, rimos, e ela se levantou e foi embora. antes das 9pm eu estava de pijama, dentes escovados, meias grossas para o rigoroso frio de 15 graus centígrados da capital paulista, deitada na minha cama, lendo o último caderno do jornal, que eu não tinha conseguido terminar de ler de manhã.
dormi feliz e acordei pensando na mesma coisa: como alguns amigos podem ser tão especiais a ponto de fazer a gente achar que a vida é mais leve do que temos pensado?