segunda-feira, 22 de setembro de 2008

ode à amiga perfeita

o nome dela é márcia, e eu a conheço desde que pisei nessas terras, longínquas do rio grande, para ficar. há exatos 13 anos, se eu contar a partir de hoje.
pois ontem ela me ligou. domingo de manhã, eu no supermercado. quando ela me liga aos domingos sei que está de folga da rede globo. ela me diz que tem um vinho no carro. combinamos de ela passar na minha casa no final da tarde. fico de ligar para dizer "estou chegando", porque à tarde eu iria à escola das crianças, onde rolaria a frugal festa da primavera - e onde fui chamada de gângster por um dos pais presentes, o paolo, porque dancei a dança circular de calça, colete superhiperquente de pluma de ganso preto (um colete à prova de balas, me disse ele, jurando ser isso um elogio) e óculos escuros.
terminada a festa, e eu ainda não considerando os comentários do paolo uma coisa positiva, cheguei com as crianças ao apartamento e enchi a banheira. minha filha chorava, meu filho grudou na frente da TV. quando vou ligar pra márcia? dei banho nos dois, jantar pros dois. antes de levá-los à cama a márcia ligou, ufa!, e eu disse pra ela vir. amigas perfeitas, mesmo as que não têm filhos, caso da márcia, entendem o que é ter filhos. crianças na cama, porteiro avisado pra dizer pra márcia subir e entrar em casa sem tocar na campainha. canto duas músicas, minha filha chapa e meu filho quase, e escuto a márcia chegar. digo pra ele sair da cama pra ver a dinda. ele tava tão chapado que deitou no colo dela no sofá, eu coloquei um cobertor por cima e ele quase dormiu. levei o cara pra cama e ele chapou em um, no máximo dois minutos.
amigas perfeitas chegam na casa da gente a qualquer hora. a márcia não só tinha uma bela garrafa de vinho tinto dentro da bolsa, como um pão com tomate seco e um saco com 1 kg, no mínimo, de jabuticabas! amigos perfeitos não trazem presentes, trazem amor.
sentamos, bebemos, conversamos, e eu contei que estava cansada. ela só disse "eu sei". contei que estava trabalhando num projeto sobre o qual não podia falar. de novo ela disse "eu sei" e não perguntou nada.
acho que nossa conversa durou uma hora. ela disse "vou embora, você tem que dormir". disse que podíamos conversar mais um pouco, rimos, e ela se levantou e foi embora. antes das 9pm eu estava de pijama, dentes escovados, meias grossas para o rigoroso frio de 15 graus centígrados da capital paulista, deitada na minha cama, lendo o último caderno do jornal, que eu não tinha conseguido terminar de ler de manhã.
dormi feliz e acordei pensando na mesma coisa: como alguns amigos podem ser tão especiais a ponto de fazer a gente achar que a vida é mais leve do que temos pensado?

Um comentário:

Anônimo disse...

tita, vc realmente tem um olhar peculiar sobre os acontecimentos. Vou lendo e fazendo um videozinho imaginario das cenas, por vc descritas. Adoro ler seus textos!
bjs
Mari