terça-feira, 30 de dezembro de 2008

será que devo fazer a contagem regressiva? oh, no!

está tudo indo muito bem nessas últimas horas do ano que já já vai ser o velho. calcinhas novas trazem sorte, dizem os entendidos, e eu resolvi abstrair. mas pra não me achar uma chatonilda que nem quer comemorar o ano que vai ser o novo, comprei esmaltes franceses incríveis. as unhas estarão coloridas, cor de rosa barbie, pro ano que vai ser o novo ser bem sussa, manso mesmo.
e hoje, enquanto enchia meu carro de caixas e sacolas - supermercado, prosecco, produtos verdes de limpeza, os tais dos esmaltes - ia pensando nos meus desejos. sim, o mínimo é ter UM desejo, afinal vai o ano que vai ser o velho e vem outro, que a gente, com otimismo sem freios, chama de o novo.
nossa que blasé. eu não quero comprar uma casa, nem trocar de carro, nem tirar férias na bósnia e na croácia. não tenho planos de mudanças significativas de peso, nem quero muitos amigos novos - poucos são suficientes.
quero ter longas horas de sono, bons sonhos, e pouco medo. quero acreditar que meus filhos crescerão fortes e que terão coragem. quero trabalhar sem taquicardia nem tristeza. quero andar mais devagar - mas isso já é uma obsessão - e dar muita, muita risada. quero viajar pouco de avião e muito de carro. beber bom vinho e em boa companhia.
deu. só.
claro que eu não tô falando toda a verdade, porque as paredes do pequeno apartamento serão mui coloridas em poucos dias, eu vou comprar uma esteira que não será um cabide de roupas mas uma possibilidade de eu correr muito cedo de manhã, quando meus filhos ainda estiverem dormindo.
mas sempre desconfiei que a vida fica enfastiada quando fazemos muitos planos. ela deve dar suspiros cansados, às vezes exaustos, com a nossa loucura do desejos planos consumos.
então que eu pelo menos tenha coragem de querer pouco. só o suficiente. pra não ficar empapuçada.

domingo, 28 de dezembro de 2008

as sacolas, os quilos, o lixo

a fixação atacou o meu espírito, e consegui juntar 10 ou 12 sacolas de lixo seco + coisas para serem doadas.
foi indolor. abri t-o-d-a-s as gavetas, t-o-d-o-s os armários, me sentei em frente aos livros, e fui descartando. meu deus, que maravilha, que libertador.
duas velas foram queimadas, e agora outras duas iluminam bem pouquinho a sala. alguns incensos perfumaram a casa durante a força-tarefa, e acho que é bom jogar no lixo uma conta de telefone de 2004, que estava perdida entre as contas de 2006, 2007 e 2008. que também foram pro lixo. foram descartados cadernos, dois porque já foram usados, dois porque traziam lembranças velhas, empoeiradas e quase bestas. as roupas foram poupadas, porque os guarda-roupas já haviam sido vítimas da fixação vamos-limpar-tudo-e-descartar-umas-coisinhas num feriado que passou. mas foram pras sacolas uns biquinis horrorosos de quando eu pesava 10kg a mais do que peso e uns shorts da minha filha que dariam ótimos panos para tirar o pó em dia de faxina. foi um copo que trazia lembranças tristes, uma faca quebrada, e umas fotos foram rasgadas - umas de 20 anos atrás, feiosas.
na verdade nem me parece que foi tanto assim. talvez a dieta hipercalórica dos festejos natalinos não me permita sentir a leveza da limpeza doméstica. vou rir sozinha, para não chorar.
nos próximos dias a casa será limpa, perfumada, e vou deixar janelas escancaradas para o bom humor tomar conta de mim e fazer os dias - os últimos dum ano e os primeiros doutro - serem leves, beeeeeeeeeeeeeem leves.

sábado, 27 de dezembro de 2008

voltei pra cidade cinza, que está vazia

como dizia um editor com quem trabalhei há mais de uma década, deveríamos colocar barricadas nas entradas de sp, pra que quem saísse não voltasse mais. é uma piadinha, claro, até porque meus filhos saíram da cidade. mas que são paulo é linda vazia, é.
estou olhando pra tv, onde na novela t-o-d-a-s as mulheres são magras, quase todas são gostosas, todas têm cabelos incríveis e todas trepam o tempo todo. meu deus!
estou me preparando espiritualmente para o primeiro réveillon sozinha. digo, sem os pequenos herdeiros. já passei natal sem meus filhos, mas réveillon, nunca. quem sabe a minha preguiça com a data passa... acho um saco ficar acordada, gritar quando chega a meia-noite, tomar prosecco com cara de feliz e usar calcinha nova.
mas como resolvi superar a crise-adiantada-dos-40-anos, vou me esforçar: vou armar um jantar, vou descolar uma festa - festinha, pelamordedeus -, não vou ficar com sono antes da meia-noite e vou brindar com, pelo menos, esperança de que o próximo ano possa ser bom. ou bem melhor que os anos que passaram.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

a lu toca piano e eu me divirto suando

o calor nesta terra longínqua é quase insuportável. na verdade, É insuportável, mas por um motivo ou outro a gente sobrevive.
as férias das crianças não estão sendo ruins, tenho de admitir. as noites de sono têm sido longas, e quando são curtas é sinal de que estou com pessoas divertidas, queridas e que me fazem bem.
as barrigas da pequena família trapo vão crescendo dia após dia, com comidas "de férias": sorvetes, cookies, torta de chocolate com avelãs, amendoins, iogurtes e outras coisas que me nego a citar.
daqui a pouco vou me aventurar e fazer um molho pra temperar um peru enorme que os velhos esqueceram de tirar do freezer ontem e que hoje jaz congeladíssimo sobre uma mesa na cozinha. no fim do dia vou me aventurar e fazer a primeira sangria da minha vida. uau! grandes aventuras na cozinha.
minha crise dos 40 chegou antes mesmo de eu completar 40 e vai se agravando nesta cidade em que as mulheres andam com decotes profundíssimos, vestidos mui justos e ou transparentes - normalmente os três juntos.
o povo daqui também é extremamente impaciente. e umbigocentrados. como disse um convidado do aniversário onde eu estava dia desses: o certo é falar tu, não você. mas certo pra quem? ele falou aquilo com uma certeza e uma tranquilidade que não tinha nem um pingo de maldade no que ele pensou e falou. o cara é gaúcho, só isso.
chove uma chuva de pingos grossos, mas o calor de 35 graus à sombra ainda não foi embora. os termômetros devem estar acima dos 30 graus. mas sobreviveremos, creio.
quando eu descer rolando do avião na cinza e bela são paulo, daqui a dois dias, vou voltar à rotina de acordar trabalhar e tal e todas as 6 mil calorias diárias que ingiro nesta terra longínqua dispersar-se-ão, se deus quiser. e eu vou morrer de saudade da piscina gelada, do azul absurdo do céu de porto alegre e da sensação de "meu-deus-como-é-boa-a-vida-numa-cidadezinha-interiorana-verde-calma-e-linda".
deus esteja.

domingo, 21 de dezembro de 2008

você não tá nem acordada, nem levantada nem andando

e assim eu fui gentilmente acordada na minha primeira manhã de folga da corporação. bon jour, feriado de natal!
minha filha estava brava, porque afinal ela estava acordada, o avô estava "tirando a barba", a avó parece que estava tomando banho e eu, a mãe, estava dormindo. inadmissível.
hoje é domingo, e a pequena família trapo - ou seria melhor família trapinho? - partiu rumo aos pampas há menos de 24 horas. no aeroporto eu me dei conta de que acho um horror ser mãe solteira, uma anomalia social. mesmo pensando que casamentos não costumam ser os eventos mais felizes/satisfatórios/alegres do mundo.
revoltas à parte, papais noéis chineses que cantam e gritam "merry christmas" fazem um barulho ensurdecedor quando são ligados. tiras e mais tiras de luzinhas iluminam portas e janelas da casa dos velhos, e a piscina nos aguarda o tempo todo com água fresca, maravilhosa para o calor porto-alegrense.
crianças e avô assistem a um filme totalmente impróprio, cujo barulho é bem insuportável, e um peru gigante foi colocado no forno porque talvez minha irmã venha almoçar aqui com a gente. e uma torta de chocolate com amêndoas sensacional aguarda nossa gula pós almoço dentro da geladeira.
eu não sei se vou sobreviver uma semana de folga, quando tudo parece mais simples - mesas fartas com comidas deliciosas feitas por doces cozinheiras - e mais denso, como a falta de ar que veio junto na minha mala sem eu tê-la colocado ali.
olho pro céu e fico boquiaberta com o azul, lindo, limpo e intenso. tinha esquecido da cor do céu desta terra longínqua e tranquila.
e tinha esquecido que férias de filhos não são férias de mãe.
mas não seria isso uma injustiça?

domingo, 14 de dezembro de 2008

ela estava sem os filhos, e eu também

domingo é dia de fazer tudo devagar. quando olhei no relógio e vi que eram 8h30 me deu preguiça: ir ao supermercado num domingo perto do natal pode ser um roubada.
e respirei e fiz tudo devagar. a manhã já estava terminando, e eu nem tinha saído de casa. e vejo um recado no meu celular. a voz dela tava estranha, e liguei, e ela me chama para almoçarmos. a voz tava preguiçosa, não estranha, ela me explica.
mas eu tinha de fazer supermercado e, bingo!, ela também. e fui ao supermercado com uma amiga. programão. cada uma com seu carrinho, as comprar nem doeram (eu sou uma pessoa imperfeita, e odeio fazer compras).
almoço. as duas bem felizes partem para a praia dos paulistanos, a.k.a. vila madalena. a tradução é "also known as", em português 'também conhecido como', que os americanos escrevem em 8 de cada 10 textos de revistas.
as duas bem felizes, comeram e beberam e falaram de rapazes, ex-maridos (por que será que eles sempre estão presentes???), filhos, trabalho, férias, dinheiro. ou seja, mais sobre coisas boas do que runis. ah ah ah. leiam nas entrelinhas, pelamordedeus.
serge gainsbourg canta alegremente agora que estou em casa, me preparando para dormir. existem homens com quem eu me casaria sem titubear. e para desespero dos que acham que beleza é fundamental, como eu, eu me casaria com ele. tudo bem, fantasias são fantasias e talvez ao vivo ele fosse xexelento, mas como é uma fantasia, eu continuo com as minhas convicções de que ele era um sujeito sensacional.
uau!
deus esteja.
e nos proteja nessa semana sinistra que antecede o natal. que andemos devagar, compremos o essencial, respiremos muito e bebamos somente o suficiente. uia! esse em homenagem à raca.

sábado, 13 de dezembro de 2008

e eu esqueci que 20 anos se passaram

dói tudo.
é um pouco ridículo, se não patético, eu andando devagar, mancando.
a festa da corporação rolou smooth, um sítio longe que parecia fora de são paulo, campo de futebol, quadra de vôlei, mesas para truco, mesa de ping pong, piscina, tonéis de cerveja, muita comida e garoa. fina, bem fininha.
e eu, que achei que só pessoas que jogam muito bem podem jogar qualquer coisa numa festa de fim de ano da corporação, chego e vejo uma pessoa que praticamente não sabia o que era uma bola jogando vôlei.
e fui bem feliz jogar também - depois que as duplas do campeonato, oficial, terminaram as partidas. joguei tanto que fiquei com muito calor e fui nadar. depois dancei, animadíssima, com uma garota que parecia uma passista de escola de samba. e nadei mais um pouco, e fiquei dando saltos mortais com uns meninos que saltavam beeeem melhor do que eu. pelo menos é que o que achei na hora. ah, os rapazes eram jovens. bem jovens.
antes de ir embora, mais um pouco de música para dançar. e já que na corporação o número de rapazes é absurdamente desproprorcional ao número de moças, foi fácil puxar os meninos para uma dança do adeus.
de volta ao ônibus que me levou até os confins de são paulo, cantamos. agora estou com dó das pessoas, porque eu cantei mais do que seria aceitável. entendam como quiserem. mas a surpresa foi ver uns rapazes - de novo eles - cantando várias músicas lindas. e (quase) afinados.
ufa, chegamos. quero dizer, voltamos a são paulo. e vamos tomar a saideira numa espelunca de 15a categoria. todos nos olham porque nossa pele era pálida, branca. e como dançávamos mal e porcamente, os locais juraram que eu e os meninos éramos gringos. tanto juraram que tentaram - os locais - me ensinar a dançar forró de verdade. e eu tentei. juro.
resumo da ópera. as dores são generalizadas. na bunda e nas pernas, de dançar, nos ombros, de jogar, num dos pés, de andar descalça e ter me cortado. coisa pouca, mas também dói.
mas o melhor de tudo é que quando cheguei em casa, estava pensando, feliz, em quantas coisas eu tinha feito, nossa, que divertido que tinha sido. aí lembrei que não jogava vôlei desde os 15 anos, quando armávamos a rede no imenso terreno da casa de praia dos velhos. e lá se vão 22 anos. e lembrei que fazia um bom tempo que não dançava a ponto de ficar com os cabelos molhados. e forró? quando será que dancei forró? quando tinha 20 e poucos anos e fui pra bahia?
meus deus. será que a velhice chega mais cedo nos dias de hoje? ou será que tenho me olhado pouco no espelho? ah ah ah.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

mas será que eu estraguei tudo?

a apresentação era pra ser singela. sim, graças a deus meus filhos estudam numa escola onde as celebrações são singelas e cheias de significados. os pais foram entrando numa das classes, esbaforidos. eram 11am, e todos - acho - saímos correndo de onde estávamos para chegarmos e vermos nossos filhos tocarem kântele. é um instrumento musical que eu descrevo como uma pequena harpa. a partir dos 5 anos, os pequenos já conseguem passar seus dedinhos pelas sete cordas.
a professora de kântele entra na sala com sua trupe - os pais se apertam, junto a babás e empregadas, que nos dias de hoje já fazem parte das famílias e às vezes têm mais espaço que os próprios progenitores. os pequenos entram e o primeiro grupo começa a tocar. duas ou três musiquinhas, e o próximo grupo. o joão gabriel era do último grupo, terceiro, pelas minhas contas. mas ele disse "não vou tocar". shalimar, a professora de música, que mais parece um anjo do que um ser humano, e que largou o jornalismo para dar aula de música para crianças (!!!), mexe os ombros delicadamente, consentindo.
quando digo 'tudo bem' e o joão gabriel volta a sentar no meu colo, ele se anima e diz 'eu vou'. e vai. tocam uma musiquinha, duas, e de repente ele põe o kântele no colo, grita 'droga' ou 'porcaria' e pára de tocar. começa a chorar.
eu fico olhando, mais atônita do que aflita, pensando sim é claro que ele vai parar de chorar e vai voltar a tocar. mas ele não volta, e chora cada vez mais alto. a professora de classe dele - a de música continua regendo aquela minúscula orquestra - anda em direção ao grupo que se apresenta e pega meu filho no colo. acho que mais por imitação do que por iniciativa faço o mesmo, e ela me dá meu filho no colo. saio da sala. ele chora muito. e diz que quer terminar a apresentação.
volto com o sujeito no colo, me sento ao lado dele e espero ele voltar a tocar, mas ele não toca. ele chora e diz "minha última apresentação e eu não terminei". chora muito, soluça, e chora mais ainda.
palmas. o grupo dele termina. mais palmas. e ele chorando alto no meu colo, e t-o-d-o mundo nos olhando. por poucos segundos penso que estraguei tudo. que estraguei a apresentação das OUTRAS crianças, cujos pais não puderam ouvir nada do que tocavam.
meu filho continua a chorar muito, e umas lágrimas correm pelas minhas bochechas - uau, eu não sou insensível! vejo uma mãe que também chora, vejo cabeças que se viram para olhar aquela criança que soluça no meu colo.
uma amiga vem aquecer o coração do pequeno joão gabriel, a professora dele vem dar um beijo nele, e ele diz que "as palmas não foram pra ele, porque ele não conseguiu terminar de tocar".
e vamos dar tchau pra adorável shalimar, e vamos pra casa.
e eu só me dou conta de por que pensei que 'pudesse ter estragado tudo' quando contei pra duas pessoas como tinha sido a apresentação do meu filho na escola. duas mulheres, é verdade, cujos olhos costumam não se importar em ficar molhados, ou enxarcados.
as duas, que não se conhecem e que ouviram a história que acabo de contar em momentos distintos, repetiram a mesma pergunta, "como você aguentou? eu não posso ser mãe".
mãe nasce com o filho. por isso que o parto dói.
e criança chora com o corpo e com a alma, e por isso a gente não aguenta.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

slow blogging and I

acabo de olhar a data do meu último post e, uia, já se passou uma semana. mais de uma, na verdade. e eu tava pensando em escrever que a culpa não foi minha, foi da minha web monguice em ficar sem conexão com o mundo virtual uns vários dias aqui no meu apartamento. ah ah ah.
mas às vezes explicações são desnecessárias. sim, porque eu descobri que não estou sozinha nesta lenta velocidade de atualização de blogs. e quem diz isso não sou eu. é o new york times. que deu uma matéria faz uns dias falando do formidável movimento de slow blogging. inspirados justamente no outro slow movement mundialmente conhecido, o slow food, uns blogueiros espalhados pela terra do obama não escrevem todos os dias em seus respectivos blogs. escrevem quando acham que têm algo para escrever. e isso pode demorar um dia ou dez. ou um mês.
eu me senti a pessoa mais in do mundo. neste caso o in significa inserida, por dentro. uau! e eu que sempre penso que nem blogueira sou, e que conto que este vaso de orquídea existe para poucas pessoas...
agora acho que falta surgir o "slow living". depois do já citado slow food, e do slow cittá - este, como aquele, também surgiu na itália, e prega que as cidades vivam de forma mais lenta também -, é hora de o slow living pregar que vivamos mais devagar, trabalhemos mais devagar, conversemos com nossos amigos e nossos filhos e nossos amores mais devagar. que tomemos banhos mais lentamente, que andemos olhando para o que nos cerca, e que se tivermos de pegar o carro - como assim? eu só me desloco de carro de casa pra escola pro trabalho pra escola pra casa pro trabalho pra casa todos os dias -, que andemos devagar, não usemos a buzina nem chamemos de bundão ou corno o sujeito indócil que nos dá uma cortada.
cheguei em casa há pouco e encontrei na cozinha uma forma enorme com muitos biscoitos de natal. meu filho pediu para me ajudar a colocá-los em saquinho, e se prontificou a descer à portaria do prédio para dar o primeiro saquinho, da primeira fornada do ano, pro antônio, um dos porteiros.
logo depois ele descobriu que o açúcar cristal e a canela em pó que sobravam na forma eram docinhos, e foi lambendo os dedos de felicidade.
a proposta do slow living é que todas as mães e pais e empregadas e avós e professores que cuidem ou vivam com crianças saibam que fazer biscoitos de natal em casa com as crianças é um tesão. e que colocar os biscoitinhos em forma de sininhos e corações e flor também é um tesão.
e que viver devagar dá barato.

domingo, 23 de novembro de 2008

um domingo de sol e um passeio de bicicleta

a folga da mãe está chegando ao fim. as crianças voltam pra casa hoje. estou morrendo de saudades e acho uma delícia pensar que quando eu disser que 'tava morrendo de saudades' a pequena lívia vai dizer 'eu também tava morrendo de saudades de você, mamãe'. ela é paulistana e não fala "tu", como a mãe dela, esta que escreve. o joão gabriel não é muito chegado a declarações verbais, e quando volta pra casa vai direto pegar o playmobil, o brinquedo predileto, e começa a brincar.
depois de muita chuva ontem, hoje o céu de são paulo tem nuvens branquinhas mas muito sol. peguei minha bicicleta velhinha - fiquei fazendo umas contas, e creio que ela já passa dos 20 - e fui passear. tecnicamente eu moro no jardim paulistano. o bairro faz parte de um grupo de bairros que são chamados, aqui na cidade cinza, de "jardins". tem o paulistano, o paulista e o europa. coisa chique, mas na verdade eu moro em pinheiros. moro do outro lado de uma grande avenida, e os outros jardins ficam do lado de lá. pois bem, atravessei a tal avenida, que é uma coisa horrorosa, não atravessar a via, mas a via em si. um corredor, duas pistas para carro e uma para ônibus de um lado, o mesmo do outro lado. em dias de semana, os carros andam a 20, 40 km/h. nos fins de semana, correm.
se passa que do outro lado é um oásis. como diz meu amigo de juventude chiquinho, os ricos são formidáveis. do outro lado, mesmo passando das 10h, os jornais permanecem jogados nos quintais das casas, embalados em sacos plásticos. e seguranças cuidam da região. eu não contei, porque meu passeio de bici tava uma delícia e eu me distrairia dos pássaros e do céu azul, mas devo ter passado por no mínimo 30 guaritinhas nas calçadas, uns cubículos onde esses homens ficam sentados, ouvindo rádio ou vendo TV, cuidando do movimento.
das casas, não se ouvia nenhum som. em uma ou outra havia uma empregada, devidamente uniformizada, varrendo ou lavando as calçadas. e as crianças? se existem por ali, ou estavam dormindo, ou estavam em quartos com isolamento acústico. não ouvi nada.
o cheiro era bom. cheiro de limpeza, de sossego, de um lugar onde os problemas das pessoas devem ser bem diferentes dos meus.
passei pelo restaurante onde almocei durante os sete anos em que fui casada com o pai dos meus filhos, e as lembranças me fizeram rir. lembrei do querido clemente, avô dos meus filhos, um homem delicado e bruto como os que têm sangue italiano. fiquei com saudades e pensei que ele poderia estar dando risada do céu - será que anjos lêem pensamentos humanos?
voltei pra casa pedalando feliz da vida, o vento na minha cara, pensando que sozinha é em dobro, mas que estar sozinha às vezes não tem preço.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

a folga da mãe

quatro dias sem crianças em casa. q-u-a-t-r-o.
é claro que eu fiz uma lista gigantesca de cousas a fazer. mas o melhor de tudo é que não levei a lista a sério. estou no segundo dia sem crianças em casa. aí começa a dar uma aflição, coisa de mãe louca, "mas meu deus, amanhã já é segunda-feira e eu nem fui ao cinema". mas amanhã não é segunda-feira, amanhã é sábado.
e a folga continua. meu carro ficou na concessionária hoje, então tenho a maravilhosa desculpa de estar sem carro, e a desculpa vale pra ficar em casa. não vou ligar pra ninguém. não vou pra nenhum sítio. a folga é pra dormir e pra não fazer nada.
amanhã talvez eu vá ao cinema, e amanhã talvez eu vá a uma festa. talvez eu vá comprar uns sapatos vermelhos, e talvez eu vá passear de bicicleta. mas eu posso também não fazer nada.
ontem eu trabalhei e não achei ruim. ontem era feriado, hoje as cousas voltaram ao barulho normal, a obra do metrô, os ônibus ruidosos, e as pessoas de carro nas ruas, e o trânsito. mas eu não voltei ao normal. andei horas, parei num café pra tomar uma água e um café, andei mais ainda. ia tomar banho e sair de vestido para almoçar com duas amigas, mas fui de tênis e calça jeans velha. o almoço não era almoço, eram petiscos de um bar maravilhoso em frente a uma pracinha e uma igreja maravilhosas. a erdinger estava deliciosas e conversar com duas pessoas adoráveis e divertidas cujos filhos estavam sendo cuidados por terceiros também foi maravilhoso.
talvez eu tenha tomado um injeção de bom humor e ninguém me contou. ou talvez as folgas das mães sejam um dos eventos mais sensacionais que deus criou, mas ninguém contou pra gente, afinal como pode mãe folgar?
às vezes eu me esqueço que mãe também é gente. justo meu slogan desde que o joão gabriel nasceu, há quase sete anos, e eu me esqueço. mas para isso as folgas existem: para eu lembrar.

domingo, 16 de novembro de 2008

'daqui a pouco são 18h', disse ela antes das 9h

a frase eu ouvi tomando café da manhã na corporação. era sexta-feira, eu estava exausta e uma mulher sentada numa mesa atrás de mim dizia "tô feliz porque daqui a pouco são 18h". olhei no relógio e faltavam uns minutos para as 9h. ri sozinha e pensei 'isso é que é ver o lado bom das coisas'.
e comecei o dia mais leve por causa dessa mulher. e agora, domingo, respiro fundo e feliz porque o fim de semana também foi leve. nenhum programa. nada marcado. nenhuma festa, nenhum almoço, nada. maravilha. e assim fomos ao parque com as bicicletas - e eu consegui colocar as três bikes da família na geringonça que vai atrás do carro. almoço feliz em casa. lanche num lugar trash que eu havia prometido pras crianças - e eu nem me incomodei, apesar de ter nojo da comida, que eu não comi. locadora para pegar filmes - vários, porque minha pequena filha escolheu um filme e eu achei sacanagem não levar, afinal ela nunca escolhe nenhum filme. um dos que eu peguei era um lixo, e eu desliguei TV e dvd e fui pra cama dando risada, muito antes do filme acabar.
e domnigo de sol e meu filho diz que ir à pinacoteca pra ver quadros e almoçar. e lá fomos nós pra pinacoteca, o museu mais lindo de são paulo, no centro mais sujo e nojento que conheço. passeamos, vimos pouquíssimos quadros, é claro, tomamos água e suco no café que dá pro parque da luz - o tal do almoço não existia, e não consegui saber de que lugar ele falava quando falou de boa batata frita e bom bife - e passeamos em meio às árvores, aos coretos, às flores, às esculturas de ferro e um bando de gente de aspecto estranhíssimo que populam aquele parque onde carros da polícia passam de cinco em cinco minutos. e mais um almoço maravilhoso em casa. e o fim do dia brindado com sorvetes deliciosos e caros de uma doceria que abriu faz pouco perto de casa. andamos para ir e para voltar, e todos foram dormir felizes. todos, no caso, os meus pequenos herdeiros.
e acho que vou fazer assim pra sempre: fim de semana? não vou marcar nada. nenhum almoço, nenhum encontro, nenhuma visita. e então seremos felizes pra sempre!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

la vraie liberté c'est le vagabondage

a imagem é a de uma janela aberta, e a perspectiva é de alguém que olha de dentro pra fora. fora, no caso, são montanhas e umas casinhas aqui e acolá. fiquei olhando agora pra esse quadro, um pôster comprado numa livraria em pamplona, na espanha, quando eu estava a caminho de um refúgio nos pirineus espanhóis, refugio de bel'água. como eu ia seguir viagem, despachei o pôster por navio. demorou meses pra chegar, e até hoje, passados 20 anos, tem as marcas amassadas - a embalagem chegou bem avariada.
e enquanto os rapazes trabalham na obra do metrô, eu tento me concentrar pra escrever sobre a paz. ela veio me visitar ontem à noite. partiu de madrugada, e eu já acordei esgoelada, e fui pra corporação bem cedo. trabalhei feito uma mula jovem - ou feito um macaquinho, já que este tem mais penso, de acordo com uma das mais de 200 pessoas que trabalham no mesmo andar que eu e que pegam café da mesma máquina e água do mesmo filtro. e cheguei em casa e ela chegou logo depois.
como é estranho. depois de morrer de tensão, ficar mole. não super hiper mole, mas mole. sei que a sensação é pontual, e que de madrugada vou acordar pensando no trabalho, nas pessoas do trabalho, nas tarefas do trabalho, nas expectativas do trabalho. mas só o fato de ficar sem falta de ar por algumas horas já é um alívio.
e será que quem lê isso acha que eu estou enlouquecendo? penso di no. e espero que não. pelamordedeus. porque acho que a paz é uma indicação do caminho para o nirvana. e eu juro que vou estudar a respeito para poder escrever sobre isso.
será que eu chego lá?

domingo, 9 de novembro de 2008

sonhos de um domingo de (quase) verão

um helicóptero, para chegar a um sítio bem rapidinho. um marido podre de rico, que tenha o tal do helicópetero. uma equipe gigantesca de serviçais - babás, mergulhadores, salva-vidas, motorista (para se alguém preferisse ir para o sítio pela estrada, que é mais bucólico). e um saquinho de paciência que se expandisse toda vez que isso fosse necessário, o que, fazendo umas contas rápidas, seria umas 476 vezes por dia.
pronto. e então meu domingo no sítio perto de são paulo, com sol, flores belíssimas, uma piscina geladinha e todas as tortas salgadas feitas por mulheres prendadas teria sido um sossego. mas não foi.
dois adultos no banco da frente do carro, três crianças no de trás. uma hora de atraso para sairmos, e as crianças gritavam e cantavam e ouviam música no carro, enquanto os dois adultos tentavam manter o bom humor às 8am e pediam aos pequenos que não gritassem para não acordar meus vizinhos.
a chegada ao sítio foi sussa, só nos perdemos uma vez. menos de 5 minutos.
mas passada uma hora de sol, piscina e a sensação de "ah-finalmente-estou-de-maiô-e-vou-tirar-o-mofo-do-corpo-e-da-alma" e onde está o meu filho?
nenhuma amiguinha dele sabia. começou a busca, e deve ter passado cerca de uma hora. todos os adultos começaram a procurá-lo. e nada. uns ficavam na piscina cuidando das 10 ou 15 crianças que pulavam e mergulhavam e gritavam e se divertiam como só menores de 8 anos conseguem por horas e horas na piscina geladinha.
eu andei pelo sítio e gritei e nada. olhei dentro dos carros. nada. olhei para cima procurando o cara trepado numa árvore. andei pela casa, entrei em todos os banheiros. nada.
me sentei e comecei a respirar fundo, afinal nada horrível tinha acontecido, só meu filho não era visto por ninguém havia muitos, muitos minutos. me lembrei de velhas que ficavam nervosas - ou simplesmente adultos - e que tomavam água com açúcar quando eu era criança. e respirava fundo, tentando me conectar com a realidade: meu filho é esperto e sumiu. só isso.
"calma, ele vai voltar", me diz minha amiga, que o procurava havia muito tempo.
de repente pessoas gritam "ele tá aqui, ele tá aqui".
vejo o cara, pergunto o que aconteceu, ele explica que "estava com a helena e a mel e elas sumiram". tipo coitado, se perdeu.
eu acreditei.
até ele contar que havia molhado os pés no rio sujo, passado por duas cercas de arame farpado, visto um cavalo "que ficou me olhando mas não fez nada", ouvido o barulho da música, passado pela floresta e encontrado uns homens que perguntaram de onde ele vinha.
a helena ficou olhando pra ele e ouvindo o relato boquiaberta. nossa, ele é um herói, deve ter pensado ela. sim, ele falava calma e pausadamente, se achando um herói.
depois disso, passei o dia olhando para ele e para ela, ela no caso a minha filha de 3 anos que não saía da piscina.
não provei todas as tortas. não comi as frutas. não relaxei. e não escutei a melhor parte do dia: um pai tocando violão, uma mãe cantando e outra mãe tocando um instrumento de sopro que eu nunca tinha visto e cujo nome me foge. mas, resumindo, um belo pocket show debaixo de árvores e sobre panos estendidos sobre a grama.
e saí do sítio resmungando meus desejos mundanos de um marido mega super hiper rico, vários serviçais que olhassem não só as minhas mas t-o-d-a-s as crianças que brincavam felizes e a paciência que às vezes falta às loucas heroínas prendadas trabalhadoras e lindas mães, que, como eu, às vezes precisam de um copo com água e muito, muito açúcar.
que deus nos abençoe. e que meus amigos me perdoem a tanta loucura.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

corre devagar, menino!

o barulho do gerador do buraco do metrô faz vibrar o ambiente. no caso, a sala da minha casa. e eu, preocupadíssima com a minha reputação de blogueira - fajuta, para dizer o mínimo, afinal inventei que se escrevo menos de uma vez por semana sou sim, fajuta - me sento na frente do computador e começo a digitar, devagarinho.
o que fazer para correr devagar? a frase lá de cima não é minha. é de uma crônica sensacional sobre, creio, velocidade pessoal, que li há muito tempo na vejinha. nunca esqueci dessa frase, que era dita pela mãe do autor quando este era um menino.
me sinto uma leiga no assunto "desacelarando a velocidade pessoal", apesar de já ter lido trocentos livros sobre o assunto e saber que sim, eu escolho fazer menos, ter menos, falar menos, comer menos.
mas quero me aprimorar na atividade de desaceleração e conhecer menos pessoas, ir a menos lugares, falar menos o que penso, ler menos sites, navegar menos pela internet, ligar menos meu computador em casa, dirigir menos, reclamar menos, ter menos planos, pensar em menos coisas que eu tenho para fazer.
mas pelamordedeus quantos anos demora pra gente atingir a velocidade ideal? para andar devagar, falar devagar, fazer uma coisa de cada vez, ler uma coisa de cada vez, pensar numa coisa de cada vez?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

o barulho do aspirador de pó

toda vez que chego cedo na corporação, quem me dá bom dia é o barulho do aspirador de pó. não preciso olhar no relógio. sei que ainda não são 9am, e o menino que limpa o andar, cujo nome desconheço, aspira animado o carpete azul escuro.
tenho achado que as 24 horas do dia não são suficientes. mau sinal. e quando chego cedo na corporação minha ansiedade respira feliz porque sabe que terei mais horas de trabalho - menos horas de atropelo, provavelmente.
mas o atropelo é interno. sorry, sorry love.
fico pensando em espalhar cartazes sinistros, pare!, preferencial adiante e "corra devagar" pra ver se desacelero o passo.
quando vejo o menino do aspirador trabalhando, e quando o que faz os cafés na lanchonete cedo de manhã, o Jota, prepara uma bebibda atrás da outra, morro de inveja do que parece ser concentração e dedicação por parte desses meninos.
e se lexotan resolvesse?
acho que não. quando a gente fica louca, esgoelada, como diz minha amiga flávia, é preciso parar. não de viver, evidentemente, mas de correr.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

e se não doer, custa quanto?

não sei se você já passou por isso, mas dói. você pega um trabalho, termina, e o tempo passa. mas o trabalho não terminou. dois meses depois, você trabalhando feito uma mula, das bem jovens, pedem pra você dois textos que faltavam daquele trabalho. ninguém tá enganando ninguém, foi só uma questão de prazos e falta de certezas.
fiz. mas eu já tinha recebido, já tinha até esquecido, quando me foram solicitados os tais dos textos. pequenos, mas textos. fiz, e doeu.
aí me lembrei das mulheres que pedem ao médico um parto sem dor. é justo. e muitos médicos acatam. o que também é justo. mas uma vez ouvi uma velha mulher dizer que não há parto sem dor: para o filho nascer, tem de doer. assim é. e não fui eu que inventei isso, pelamordedeus.
eu tentei duas vezes, mas não consegui. mas isso é outra história. o fato é que uma mãe nasce depois de dar à luz seu filho. e depois dessa dor virão todas as outras dores que fazem parte. os filhos choram porque viver dói. a gente também chora pelo mesmo motivo, mas é claro que não gostamos - nem ousamos - admiti-lo.
aí fiquei pensando em como seria formidável você poder negociar a dor assim como negocia o parto com o médico. o melhor é pensar que há quem ache que médicos cobram "mais" se o parto for normal, porque demora mais. ou seja, um parto sem dor e com uma intervenção cirúrgica, além de tudo, é mais barato.
bullshit. desculpa aí, mas isso é bullshit.
conheço médicos que cobram pelo parto, e isso significa acompanhar a moça barriguda até o bebê sair de dentro da barriga, seja isso com dor, sem dor, com corte ou sem.
tá bom, tô viajando. mas que ia ser maravilhoso encomendar vivências sem dor, ah, isso ia. mas a vida ia ficar beeeeeem chata.
melhor doer. que tudo passa.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

os americanos e nós

"cada vez menos americanos sabem viver modestamente, até mesmo entre as classes mais baixas.
em termos morais, os norte-americanos substituíram o cristianismo por uma nova religião do sucesso.essa religião não tem vida após a morte nem consideração pelas gerações futuras, pois seu credo consiste em consumir o máximo possível aqui e agora."
esse trecho, escrito por kenneth serbin, professor de história na universidade de san diego, foi publicado pelo mais!, da folha de s. paulo, no último domingo.
mas por que será que ninguém fala disso? por que nem os jornais explicam lhufas? a crise e os mercados, e isso é tudo.
na verdade, onde se lê "norte-americanos" pode-se ler "brasileiros". o sentido continua o mesmo. meu deus! acho que vou imprimir a frase e grudar no espelho do banheiro, para todos os dias ler e lembrar disso.
disso o quê? de que menos é mais, zé mané. no caso, o zé mané sou eu.
que o dia seja leve. i hope.

domingo, 19 de outubro de 2008

o fim de semana perfeito

seus filhos terão férias da primavera, a.k.a. semana do saco cheio. se seus pais moram numa cidade que não a sua, chame-os para vir passar a semana com você. se o seu apartamento for pequeno, melhor.
ah, o pai dos seus filhos (ou a mãe) podem dizer que gostaria de levá-los à praia uns dois dias antes de as férias começarem...mas ele/a não sabia que você tinha chamado seus pais para ficar com eles.
a semana passa alegremente, você trabalhando feito uma mula jovem, e seus filhos se divertindo à grande com os avós. a sua empregada vai aparentar bastante cansaço toda noite, quando você chegar em casa. e você vai se sentir levemente culpada/o, porque afinal os filhos que estão de férias são os seus.
mas nem tudo está perdido. porque no fim de semana, você não vai trabalhar. mas como você pode ser uma daquelas pessoas sinistras que acham uma barbárie uma empregada doméstica trabalhar nos fins de semana, a sua casa vai ter de ser arrumada organizada e roupas terão de ser jogadas na máquina e o café da manhã terá de ser feito e a louça lavada. mas seus pais estarão na sua casa e vão querer sair para passear.
mas pode ser melhor: sua irmã pode chegar à sua casa no domingo, para talvez passar uma noite. e você consegue um colchão emprestado, para ela ter onde deitar. afinal, as camas da casa, que tem dois quartos, estão ocupadas com um vô, uma vó, dois netos e a mãe das crianças. mas a sua irmã chega na sexta, de surpresa. ou seja, quando você chegar em casa, depois do trabalho, feliz que a semana acaba e chega o fim de semana, sua empregada pode estar com uma cara de quase infartada. mesmo sendo uma baiana sossegada. você pode fingir que não há nada, afinal a vida é dura para todos. mas 15 minutos antes do horário dela, uma aflição pode acometê-lo e você a dispensa a moça. em vez de ela fica uma hora a mais, afinal não é todo dia que sua casa fica superlotada.
o fim de semana pode ser frio e chuvoso, e sua irmã pode escolher ficar no hotel com o marido e a filha. mas sem marcar horários, seus pais podem ficar plantados na sala, esperando por ela, a sua irmã, enquanto ou seus filhos querem almoçar e sua mãe, com muita sutileza, sugere que você é um ser humano inflexível, afinal é só dar uma banana para cada criança e aguardar a tia, porque enfim, ela veio fazer uma visita.
na verdade não é uma visita. ela está voltando das férias e tinha de parar em sp, por questões mais técnicas do que saudades propriamente.
então você vai almoçar com seus filhos enquanto seus pais ficam esperando sua irmã, que aparece às 14h, sem marido nem filha, que foram pro hotel dormir.
à tarde, uma pausa na garoa e as crianças vão gastar energia numa bela pracinha. os avós sentem frio e você pode sentir sono e muito, muito cansaço.
à noite todos vão pra cama, e o domingo pode amanhecer nublado e chuvoso. uma amiga sua de bh pode estar na cidade com a família dela, mas a sua exige tanto que você lembra de ligar para a amiga depois do meio-dia.
a sua irmã partiu, afinal ela tinha vindo a sp por motivos técnicos. seu filho e sua mãe podem travar uma batalha para decidir o restaurante onde almoçarão. um tem 6 anos, o outro, um pouco menos de 70. decidido. churrasco. crianças adoram churrascos.
nessas alturas seus ombros estarão visivelmente inclinados pra frente, e seu mau humor terá tomado proporções jurássicas (será que isso é português???). hum, delícia, famílias gaúchas e famílias paulistanas num salão enorme, garçons solíticos que não andam, mas trotam. comida maravilhosa, "as crianças não pagam", havia informado o garçom para sua mãe, logo depois de ela descobrir que custava quase 100 reais por pessoa a comida - não a bebida, tampouco sobremesa ou café.
crianças engolem comida e somem para uma nada simpática sala de recreação - existe sala de recreação de restaurante simpática? aceito e agradeço possíveis dicas. você come, leva um filho pra tal da sala, come, leva outro, come, e um que ficou no seu colo quer fazer xixi.
seus pais podem parecer entediados, afinal já pararam de comer há horas. você vai coletar seus filhos na sala das babás de branco e dos videogames.
à tarde o tempo continua cinza, e sua mãe lembra que não fez bolo para o seu pai e amanhã ele faz 72 anos. ele pode dizer a ela que não quer um bolo, mas ela pode não ouvir e fazer o bolo, com a batedeira, enquanto sua filha pode gritar que quer brincar.
agora são 8:26pm do abominável horário de verão. você pode achar que a vida às vezes é tão, mas tão sem graça que nem vale a pena pensar nisso. ou melhor, que deveriam existir maneiras de deletar idéias chatas monótonas tediosas da cabeça.
mas amanhã pode ser uma segunda-feira, e isso é muito, muito bom.
porque férias de filhos acabam, visitas também e a vida segue.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

os serviços masculinos e a minha casa

oh my god. minha credibilidade, que já não era das melhores neste mundo dos blogs, deve ter desmoronado um pouco mais. acabo de ver que a última vez que escrevi neste espaço tão rosa foi há mais de uma semana.
desculpas há várias: dois filhos de férias, muito trabalho na corporação, um pai e uma mãe visitando a pequena família, o guindaste do metrô fazendo muito barulho do lado de fora do meu apartamento.
só desculpas. porque escrever num blog nasce como uma pequena obsessão e vira uma grande, e se eu não cuidar, enorme obsessão. e o guindaste já tá quase parado, depois de semanas assustadoramente ruidosas.
mas o fato é que além de a minha casa estar bagunçada e de os meus filhos andarem comendo muito vendo muita tv e até brincando no meu antes intocável e sagrado computador, andamos todos felizes. eu, que sei que enquanto estou ralando meus filhos estão felicíssimos com os avós; os velhos, que estão fazendo atividades lúdicas, como comprar brinquedos, levar à natação e dar batatas fritas aos netos; e minha casa, que agora está tendo muitas coisas consertadas graças à presença de um ser do sexo masculino. agora o forno tem uma lâmpada, a prateleira de vidro dos shampoos e sabonetes que estava mole e caiu hoje de manhã já foi devidamente consertada e, essa é incrível, meu belo chuveiro foi desmontado e limpo, e agora acho que os banhos serão mais sensacionais, sem pingos indo pra lugares que não sobre o corpo do sujieto que está debaixo dele.
relatos de uma mãe louca, pra variar. aliás, esse será o próximo texto. nós, as loucas.
deus esteja. e abençoe os avós, todos, que são tudo na vida dos netos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

os casamentos nossos

depois de um dia frio, chuvoso e com vento, chego em casa e encontro meu apartamento bem iluminado. a obra do metrô está a mil, os peões estão tirando caçambas lotadas de pedras do buraco do metrô. essas caçambas têm o conteúdo jogado dentro de um caminhão. na rua, outro caminhão, este com uma caixa d'água gigante, aguarda para manobrar canteiro de obras adentro. um sujeito solda qualquer coisa, e isso quer dizer que as luzes das faiscas iluminam minha sala mais ainda. ah, um guindaste é que iça as caçambas do buraco, e o barulho é chato. depois as pedras são jogadas, e me sinto num conto do irmãos grimm. não pode ser real, é um conto de fadas. já no outro canto da obra, o que dá para as janelas dos quartos, também tem uma luz medieval que ilumina meu quarto, o das crianças e o banheiro. parece que são 10h de um dia ensolarado, mas são 19h38 de uma quarta-feira fria e cinzenta.
mas o dia foi leve. eu acordei pensando nos casamentos que a gente faz. não só com pessoas - marido, filhos, empregada, namorado, familiares -, mas com insituições e manias. o que, na verdade, tem a ver com as escolhas que fazemos. assim, podemos ter só um marido, mas vários casamentos felizes. ou não. podemos ter diversos casamentos infelizes. e nem ter um marido.
estava eu a pensar na vida, hoje cedo, metida debaixo das cobertas mui deliciosas da minha cama, e fiquei com vontade de tomar banho e me mandar pro trabalho. era minha manhã de folga, crianças na casa do pai. mas ontem tinha ido cedo pra cama, e hoje acordei cedo e feliz. e fiz o que tava com vontade de fazer: banho, roupa, e ao trabalho!
cheguei cedo na corporação, e fui tomar café da manhã. sim, grandes corporações - e pequenas também - oferecem cafés da manhã para os esfomeados começarem o dia felizes, com a barriga cheia. pão branco, pão preto, pão francês, croissant, pão com chocolate. frios, iogurtes, suco, frutas, café, leite. uma fartura admirável. e eu, depois de encher minha bandeja, me sentei numa mesona vazia - refeitórios têm mesonas, nunca mesinhas - e comecei a ler o jornal. e pensei em como estava feliz com meu novo trabalho, e que este estava me parecendo um casamento bem feliz, sereno, leve.
mas daí pros outros casamentos...fiquei pensando neles também. em como é bom a gente mudar, tentar não repetir tudo todo dia. acordar um dia mais cedo, colocar uma roupa que nunca usa, ligar pra quem a gente nunca liga, não reclamar de nada um dia inteiro. olhar pro outro lado, ver as árvores floridas e maravilhosas numa cidade tão cinza, falar mais baixo, tomar mais vinho. tomar banho com sal grosso, chamar a empregada de querida - mas só se ela for mesmo -, não ficar brava porque a saia nova rasgou no primeiro uso. olhar diferente, mudar de idéia, trocar de amigos, dar risada do que acontece sempre.
e depois de passar o dia trabalhando muito, muito mesmo, e nuns intervalos pensar nos casamentos de fazemos, fiquei feliz de saber que tenho escolhido bem. tenho suportado bem o que é ruim e inevitável, e tenho buscado com dedicação o que é bom e a gente pode escolher.
que venham mais dias frios, chuvosos e com vento, para eu ficar assim inspirada, e conseguir ver tudo com olhos diferentes.
antes de terminar: os peões ou foram jantar ou foram dormir. o silêncio é absoluto, exceto pelo uhuhuhuhuhuh do vento, pelos toc toc toc da maria helena, que mora sobre o meu apartamento e sempre anda com sapatos pelo seu, e pela tosse seca do meu filho.
deus esteja.

sábado, 4 de outubro de 2008

tudo tem o lado bom,

menos o disco do lulu santos, segundo a leticia, citando o humberto werneck, tio dela.
o fato é que a frase não me sai da cabeça há dias. e há dias tenho trabalhado e não tenho conseguido escrever sobre.
sábado. 5:44pm. exaustão. uma amiga que é mais um anjo do que uma amiga fez o dia ser ótimo. cuidou dos meus filhos para eu poder ir à primeira reunião da escola do meu filho. nova escola, quero dizer. eu não conhecia absolutamente ninguém. e para irônica surpresa uma pessoa igual ao pai dele, intelectualmente falando, me vez ter a impressão de que ele estava lá. ainda bem que ele não foi, senão teria sido too much. ah ah ah.
mas tudo começou - a idéia de que tudo passa - num dia da semana em que eu dormi míseras três horas. um coquetel na corporação, uma ida a um boteco, e poucas horas de sono agravadas pela colaboração dos fiéis operários da obra do metrô, cujo dia de trabalho começa às 6am, com guindastes ligados e caminhões manobrando. tudo na janela do meu quarto. uma delícia.
e qual o lado bom disso?
é que eu fiquei lenta, muito lenta. trabalhei muito, mas bem lentamente. com uma concentração incrível. e fiquei pensando nisso desde então. um dia depois, quando dormi muitas e muitas horas e fui novamente trabalhar, estava pilhada, acelerada, uma coisa horrível.
por que não conseguimos andar devagar? pensar devagar? comer devagar? conversar devagar? e eu tenho tentado, me esforçado, mas tem dias que consigo, tem dias que não consigo.
hoje eu consegui. talvez isso seja o suficiente para eu pensar que foi um dia bom, muito bom.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

eu não mexei, mamãe

essa foi a resposta que a dona lívia maria terezinha de jesus, 3, deu para sua mãe, esta que vos escreve, ontem à noite.
eu tinha tentado ligar para casa à tarde, porque tinha esquecido de avisar a santa nalva que a lívia tinha de tomar remedinhos. a guria tá gripada há semanas. mas eu liguei de um, dois, três, quatro aparelhos diferentes, e nada. desisti. minha casa estava sem telefone.
quando cheguei do trabalho, encontrei meus filhos já na cama. mas antes de vê-los, vi o modem totalmente apagado. digo, as luzinhas do modem. liguei o aparelho na tomada. e quando cheguei ao quarto dos caras, perguntei quem tinha mexido nos fios - que ligam o computador, a internet, o telefone e os canais da tv. bingo!, não tinha sido ninguém.
mas eis que descubro, como eu já imaginava, que essa é uma das brincadeiras preferidas da lilica.
zuzu bem. problema resolvido, conto uma história pra cada filho - por essas e outras dois filhos é um número bem razoável -, eles dormem. eu também, um pouco depois.
e o dia - hoje - amanhece nublado. e o que era nublado logo se transforma em chuva. e frio.
e as filas de carro nas ruas aumenta, e eu chego ao supermercado onde vou sacar a grana para pagar o salário da minha empregada. o caixa não funciona. depois de quatro ou cinco tentativas, pego aquele interfoninho. "bom dia meu nome é marcos", diz o carioca de voz forte e educada do outro lado da engenhoca. depois de uns minutos, o marcos desliga a máquina e diz que em 3 ou 4 min poderei fazer o saque. aguardo. quando vejo a máquina com a tela laranja, coloco meu cartão e surpresa, trava de novo. tento mais uma vez e decido ir embora. sem o dinheiro. aviso a gerente do supermercado, que simplesmente pede que um garoto coloque no terminal do banco um retângulo de papelão onde se lê "equipamento fora do ar" ou algo que o valha.
ao trabalho. um café, uma loira oxigenada ao meu lado super feliz, diz que a chuva vai molhar tudo, lavar as ruas.
e para que eu não ache que um dia chuvoso é só cinza, um email do xan me deseja um dia pink! viva!
deus esteja.

sábado, 27 de setembro de 2008

meu dia mundial sem carro...

...foi hoje.
parece egoista, mas não é. como diz uma amiga minha, dia mundial sem carro é pra lugares onde há transporte coletivo. não é o caso paulistano, onde andar sem carro é uma tarefa hercúlea.
bom, vou parar de me desculpar, que é uma coisa horrível e chatíssima. a idéia não era essa. queria só celebrar que hoje, com quase uma semana de atraso, consegui andar de um lado pro outro com meus próprios pés. sem trabalho, sem escola, sem filhos, então deu supercerto.
um dia chaaaaato. mas daqueles bem chatos. nublado, frio, e eu com uma lista gigantesca de afazeres. fiquei dizendo pra mim mesma, antes de sair da cama, "calma", "devagar", "menos".
olho ao redor do computador, que está sobre a grande mesa de jantar, e acho que dei conta do recado. sobre a mesa, além do computador, há duas velas que acendi, um prato enorme para devolver pra uma amiga, os passaportes da família, dois bichinhos que vêm na caríssima revista recreio, três árvores de playmobil, uma pilha de papéis sobre como conseguir o visto norte-americano, uma lista com compras-muamba que a renata vai fazer pra mim numa super liquidação estadunidense (é assim que se escreve essa palavrinha medonha?), minhas canetas numa caneca, uma taça com vinho, uma sacola com duas garrafas de vinho que acabo de comprar, uma terceira garrafa de vinho aberta, um saca-rolhas, um celular, um controle remoto, um filme para câmera fotográfica, minha agenda, um cd, colas que comprei hoje, um marzipan para eu adoçar a vida de uma pessoa - um surto de bondade que se abateu sobre a minha pessoa há meia hora-, um trailer do playmobil, minha carteira, uma boneca do playmobil sentada com os graços perpendiculares às pernas, uma sacola com duas fadas waldorf que as mães waldorf da escola das crianças farão para o bazar de natal. e o suporte de garrafinha d'água para pôr na bike da minha filha, duas velas para quando as que estão acesas acabarem e uma caixa de fósforo.
é. consegui.
saí de manhã para dar uma renovada no meu guarda-roupa. a vida na corporação exige roupas decentes e uma variedade mínima. definitivamente meus colegas não merecem me ver com as cinco ou oito blusas dia após dia. tudo na vida tem limites.
e já que estava num grande centro de consumo, a.k.a. shopping iguatemi, aproveitei e renovei a parte dos calçados com grande alegria.
eu tenho um problema com o assunto comprar roupas. e sapatos. acho um grande saco. por isso compro tudo sempre na mesma loja: calça, vestido, blusa, bolsa, bota, sandália, bermuda. mas ao dar uma olhada no site da dita loja, vi que um vestido custava 260 pilas e uma linda sandália, 240. socorro. e também uma boa desculpa pra eu me libertar da vila madalena. me fui pro grande centro de compras, entrei na c&a e me diverti à grande. depois fui a outra loja grande, dessas que vendem roupas caras e vagabundas, e descolei duas blusas de linha por 50 pilas cada. mas o grand finale foi adquirir três sandálias pelo preço do par que eu havia gostado no tal do site da loja onde costumo comprar acho que mais de 90% do que mora no meu guarda-roupa.
depois de tudo isso, fiquei mui cansada e fui ao cinema ver um filme que não era bom. ensaio sobre a cegueira. placas brasileiras em táxis gringos, atores falando em inglês em são paulo, muito ruim. mas voltei pra casa andando - assim como tinha ido ao cinema andando - e tive a brilhante idéia de adquirir uns vinhos tintos para me aquecer. como uma boa gaúcha meio falsificada, tô achando muito frios esses dias com temperatura de 15 graus centígrados, como agora no final da tarde.
pra mim já é tarde, mas o relógio marca 7:26pm. isso é ótimo: significa que depois de esquentar uma sopinha de ervilhas maravilhosa que a santa nalva fez, vou dormir. até amanhã às 6am, que é quando meus olhos abrem quando estou sem filhos. "acostumou", como dizem as pessoas.
a vida é tão parecida pra todo mundo... só que umas pessoas estão mais ligadas ao que é importante - e isso normalmente é bem pouco - e outras tão ligadas "em tudo", queimando a energia própria à toa.
por isso vou tomar o vinho bem devagar, ligar pra minha irmã também devagar, comer e me jogar na cama cheia de cobertas e ficar lá bem quietinha. pra chapar em 5 segundos. no máximo.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

as leis, o rodízio, o medo e a fuga

cheguei. depois de ficar com um pouco de culpa e ter dor de barriga ao ver um marronzinho na esquina, plantado feito uma samambaia, aplicando multas à grande.
hoje é meu rodízio. o que significa que é o meu dia de prática de exercícios compulsória. a família acorda cedo, toma café e se apronta sem demoras, e sai de casa às 7h15. andamos por mais ou menos 45 minutos. uma senhora de 37, esta que escreve, um garoto de 6 anos e uma menina de 3.
depois de deixá-los na escola, volto feliz da vida pra casa, andando. faço um pit stop na feira para comprar peixe. e depois tenho momentos de puro deleite: sou obrigada a esperar até as 10am pra sair de casa rumo ao trabalho. tenho de tomar banho e ler o jornal beeeeeem devagar. um luxo, uma delícia.
mas eis que hoje eu tinha de chegar antes das 10h à corporação, e fiquei quebrando a cabeça: levo as crianças de táxi? e depois vou andando pro trabalho? aciono o pai delas para ir buscá-las e não vou almoçar em casa? contrato um motorista e brinco de moça rica?
resolvi furar o rodízio. cousa rara, depois de três multas, uma delas anulada depois de eu recorrer e explicar numa carta que "moro sozinha com duas crianças em idade escolar, só tenho um carro e quando pego o carro no horário de restrição é por absoluta necessidade, e só para fazer o trecho casa-escola-casa". alguém se comoveu com minha carta, com a cópia do mapa que mandei marcando o trajeto, e anulou a infração. mas da segunda vez que mandei a carta, nada aconteceu. eu paguei a multa.
meu filho, animadíssimo, dizia que ia gritar quando enxergasse um marronzinho, pra que ele me multasse. suuuper emocionante, não? pra ele, que tem 6 anos. mas pra mim, um saco. saímos de casa por um caminho ninja. mas os marronzinhos estão infiltrados. no segundo quarteirão depois de sair da garagem, TRÊS marronzinhos conversam alegremente na calçada. tento ficar invisível e, por um milagre, NENHUM deles levanta a cabeça, nenhum olha pra mim, nenhum vê minha placa com final 8. ufa! ando mais três ou quatro quarteirões, dobro numa esquina e quem avisto na outra ponta, digo, outra esquina? bingo!, um marronzinho.
minha barriga ficou dura, e eu resolvi dar marcha à ré. algo tipo "já que estou fazendo uma patacoada, vou fazer bem feito". com paciência, esperei os carros entrarem na rua onde eu estava, de mão única, dei ré e voltei à rua onde estava. deixei as crianças na escola sem ver mais ninguém da CET. e dirigi até a corporação.
aparentamente não fui multada. mas fiquei com dor de barriga.
ou eu compro uma lambreta, ou ensino um cara de 6 anos e uma menina de 3 a andar de bicicleta pelas calçadas paulistanas, ou deixo de ser louca e furo o rodízio sem ficar passada.
acho que fico com a última.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

ode à amiga perfeita

o nome dela é márcia, e eu a conheço desde que pisei nessas terras, longínquas do rio grande, para ficar. há exatos 13 anos, se eu contar a partir de hoje.
pois ontem ela me ligou. domingo de manhã, eu no supermercado. quando ela me liga aos domingos sei que está de folga da rede globo. ela me diz que tem um vinho no carro. combinamos de ela passar na minha casa no final da tarde. fico de ligar para dizer "estou chegando", porque à tarde eu iria à escola das crianças, onde rolaria a frugal festa da primavera - e onde fui chamada de gângster por um dos pais presentes, o paolo, porque dancei a dança circular de calça, colete superhiperquente de pluma de ganso preto (um colete à prova de balas, me disse ele, jurando ser isso um elogio) e óculos escuros.
terminada a festa, e eu ainda não considerando os comentários do paolo uma coisa positiva, cheguei com as crianças ao apartamento e enchi a banheira. minha filha chorava, meu filho grudou na frente da TV. quando vou ligar pra márcia? dei banho nos dois, jantar pros dois. antes de levá-los à cama a márcia ligou, ufa!, e eu disse pra ela vir. amigas perfeitas, mesmo as que não têm filhos, caso da márcia, entendem o que é ter filhos. crianças na cama, porteiro avisado pra dizer pra márcia subir e entrar em casa sem tocar na campainha. canto duas músicas, minha filha chapa e meu filho quase, e escuto a márcia chegar. digo pra ele sair da cama pra ver a dinda. ele tava tão chapado que deitou no colo dela no sofá, eu coloquei um cobertor por cima e ele quase dormiu. levei o cara pra cama e ele chapou em um, no máximo dois minutos.
amigas perfeitas chegam na casa da gente a qualquer hora. a márcia não só tinha uma bela garrafa de vinho tinto dentro da bolsa, como um pão com tomate seco e um saco com 1 kg, no mínimo, de jabuticabas! amigos perfeitos não trazem presentes, trazem amor.
sentamos, bebemos, conversamos, e eu contei que estava cansada. ela só disse "eu sei". contei que estava trabalhando num projeto sobre o qual não podia falar. de novo ela disse "eu sei" e não perguntou nada.
acho que nossa conversa durou uma hora. ela disse "vou embora, você tem que dormir". disse que podíamos conversar mais um pouco, rimos, e ela se levantou e foi embora. antes das 9pm eu estava de pijama, dentes escovados, meias grossas para o rigoroso frio de 15 graus centígrados da capital paulista, deitada na minha cama, lendo o último caderno do jornal, que eu não tinha conseguido terminar de ler de manhã.
dormi feliz e acordei pensando na mesma coisa: como alguns amigos podem ser tão especiais a ponto de fazer a gente achar que a vida é mais leve do que temos pensado?

sábado, 20 de setembro de 2008

mas mãe também é gente?

as mulheres iam chegando quase timidamente. o encontro havia sido marcado num restaurante nos jardins, em são paulo.
eu chego com uma amiga, que havia me convidado. ela tinha me dito que era uma conversa, uma palestra (não lembro a palavra que ela usou) seguida de uma jantar, cujo prato seria arroz de polvo. isso era tudo o que eu sabia. ah, e que era só pra mulheres.
(eu nunca tinha participado de um evento exclusivamente feminino, exceto um ou outro encontro na minha casa com uma ou duas ou três amigas.)
no caminho até o restaurante - longo caminho, porque além do trânsito a flávia se perdeu. a gente conversava mais do que olhava as placas com os nomes das ruas -, descobri que quem falaria era a denise e sua sócia, renata. elas têm uma empresa show de bola, que faz pesquisas, mas só do universo feminino! é a uma a uma.
chegando ao restaurante, subimos. o restaurante é no térreo, mas o evento era no piso superior, numa sala com uma mesona. mas antes de chegarmos à mesona, vimos uma cozinha. não uma cozinha normal, mas uma cozinha para aprendizes. nova descoberta: nós teríamos de cozinhar nosso próprio jantar!
não, não era a gravação de um episódio de um reality show, "como mulheres de 30/40 anos com filhos se viram na cozinha". era uma aula de culinária.
mas voltemos ao início do encontro. a conversa começa, e cada mulher se apresenta. não éramos muitas, mas aparentemente nenhuma sabia todo o roteiro. na verdade, fomos gentilmente convidadas para esse encontro, pelas meninas da uma a uma, para sermos cobaias no primeiro do que pode vir a ser muitos encontros. a denise e a renata falaram sobre a mulher no último século, a relação entre o universo feminino e a mídia, e onde estaríamos nós. nós quem? as mulheres que não estão na mídia, que não são capa de revista, que não têm a boca da jolie, mas que saem de casa numa quinta-feira fria, arrumam babá ou marido ou alguém para cuidar do(s) pequeno(s), e vão a um encontro para conversar sobre a vida. sobre trabalhar, ganhar dinheiro, ficar feliz, casar, descasar, cuidar do corpo/cabelo/cor das unhas, parar de trabalhar, voltar a trabalhar, voltar a estudar.
e papo vai papo vem, hora de irmos aos fogões. sim, eram muitos fogões, seis deles, doze bocas no total. e na frente de cada boca, uma mulher, com avental, pronta para as instruções da jovem chef, que nos ensinou um risoto de polvo. foi sensacional. eu e todas as mulheres com quem conversei jamais tinham feito um curso de culinária. uma não sabia cozinhar. ela estava em estado de graça. outra não sabia fazer risoto, só arroz. outra odeia polvo, mas cozinhou até o final, só não comeu. e eu fiquei pensando por que cargas d'água já paguei DOIS cursos de culinária pra santa nalva, minha adorável empregada, mas nunca paguei NENHUMA aulinha sequer para mim.
o risoto ficou pronto, e cada aluna, radiante com seu pratinho branco e quadrado cheio de risoto com tinta de lula, voltou ao seu lugar. e mais conversa. e sobremesa - petit gateau de capim santo com sorteve. e café. e olhei no relógio e eram 11pm. saí de lá meia hora depois, eu e a flávia, as duas felizes de vida por terem feito um programa tão legal, tão diferente. cheguei em casa esbaforida, passava da meia-noite, e chamei um táxi pra doce nalva ir pra casa, para no outro dia acordar às 6am e levar os filhos dela pra escola. coisa que eu também faria. e bem feliz.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

o chão onde fica, por favor?

demorei, mas agora vai. daqui a dois dias completo um mês de volta à vida na corporação.
uf.
tudo está indo bem, muito bem. minha carteira de trabalho milagrosamente não tinha bolor. mas foram seis anos sem uso. ou quase, se eu considerar dois contratos temporários na super idônea rede globo.
dois dias antes de completar seis anos longe do mundo corporativo, tive minha carteira novamente assinada. crachá, vale-tranqueira (um cartão para pegar numa máquina coca-cola, barra de cereais e sanduíches não animadores), plano de saúde empresarial (leia beeeeeem mais econômico do que uma unimed ruim e particular), exame médico admissional (descobri que tenho uma escoliose leve, segundo o médico que me examinou) e todas essas coisas que quem trabalha em firma tem direito a ou obrigação de.
então desde que dei início às atividades na empresa não estou com um problema de falta de tempo. simplesmente não tenho tempo. sei que isso é relativo e que é uma viagem na maionese, mas os dias têm tido seus minutos, suas meias horas e seus turnos cronometrados. não vou entrar em detalhes senão vão achar que este blog é um saquinho de vômito de avião de uma mãe louca. e, convenhamos, não é essa a idéia.
mas dando continuidade às minhas elucubrações, eu fiquei pensando no chão que eu piso - ou no tempo que eu não tenho, o que eu acho que pode dar na mesma. não me sinto pisando em ovos, grazie al celo (ou seria com dois "l"s?). ao contrário. o trabalho é bom, e eu estou feliz. mas às vezes parece que o chão vai sumir. tenho de ficar atenta.
e preparar as comemorações dos meus 13 anos morando nesta adorável e cinza cidade. quantos números significativos, meu deus. e quantas garrafas de prosecco a beber! vou fazer, em vez uma to-do list, uma to-drink list. ah ah ah!

sábado, 13 de setembro de 2008

os luxos da vida

saí da banheira e obedeci às ordens do joão gabriel, 6: fique no quarto, e espere eu preparar o jantar-surpresa, disse ele.
lá fui eu me deitar, de camisola, com uma luzinha quase insuficiente para eu escrever num caderno que mora ao lado da minha cama. enquanto isso, escutava não só os diálogos dele com a lívia, 3, como tinha de responder a eventuais perguntas como "mãe, o que você vai jantar?".
quando achei que o tempo passado deitada na cama esperando era mais do que suficiente para a produção do jantar-surpresa, dei um grito do meu quarto, para saber se já podia ir.
sim, eu já podia. levei velas, que acendi, e busquei uma ou duas coisas na cozinha, como uma faca com serrinha para cortar o pão preto fresco e uma espátula para passar mostarda no pão.
o jg apagou as luzes, e jantamos à luz de velas. e aí pensei em como dias tediosos como sábados nublados e chuvosos com homens da obra do metrô fazendo um barulho desagradável que entra no nosso apartamento podem se tranformar em noites abençoadas e plenas.
costumo dizer pro meu filho que as coisas boas de verdade não custam dinheiro. e quando eu sinto uma alegria que vem de dentro - e não de fora, que é outra alegria - eu sei que o que eu falo pra ele é a mais pura verdade.
quanto alguém poderia pagar para ficar deitado na cama depois de um banho de banheira enquanto os filhos arrumam almofadas no chão da sala, com toalha de mesa sobre as almofadas e potinhos e pratinhos diversos, para depois sair da cama e jantar com essas crianças? e quanto custaria contar uma história maravilhosa - a pequena polegar - pra um filho, enquanto a filha veste sua boneca, e ao final da história ver o sujeito chorando, porque a andorinha teve de dizer tchau pra pequena polegar, que casou-se com o príncipe das flores e virou a princesa das flores?
eles dormem, e eu vou dormir para sonhar com um príncipe. não acredito que existam príncipes fora das histórias que eu conto pros meus filhos. mas eles existem.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

o trânsito que não nos enlouquece

ressaca, eu?
ontem, uma singela e cinza segunda-feira, era dia de festa. coisa leve, balada de trabalho, às 19h30. mas como era balada, tive direito a um pit stop em casa para banho maquiagem meia calça e essas coisas que moças fazem quando vão a festas onde têm de se apresentar minimamente decentes.
pois bem. como o evento era longe da minha casa, calculei "sair o mais cedo possível". o mais cedo possível, saindo do trabalho lá pelas 4:30pm, foi 5:50pm.
fui dirigindo alegremente pensando, nossa que mico que eu vou pagar quando chegar ao evento antes de todo mundo. será que os manobristas estarão lá? será que vou achar uma padoca pra tomar um café antes do evento?
mas meus pensamentos animados duraram pouco. pouquíssimo. depois de menos de 10 minutos dirigindo, o trânsito parou.
marginal pinheiros, pista expressa. cinco faixas, todas lotadas. entre a fila que eu estava, a mais próxima do rio, e a fila ao meu lado, passavam todos os motoqueiros do mundo, pelos meus cálculos.
eles iam em alta velocidade - ou seria impressão minha, já que eu tava parada? e eu escutava música. abrir a janela não dava porque o rio fedia bem.
quando meia hora havia passado, calculei que eu ainda tinha uma hora para chegar. passada uma hora, comecei a temer que eu não chegaria.
e eu pensava, é claro que todas essas pessoas estão indo pro mesmo evento que eu. por que quem em sã consciência fica nesse trânsito surreal?
mas surreal eram os meus pensamentos, claro. passada uma hora e 25 minutos que eu estava sentada no carro, e depois de falar todos os palavrões que eu lembrava, cheguei! eram 7:15pm, e eu me senti civilizadíssima por chegar 15 minutos antes do horário marcado no convite.
só não entendi a cara calma, a falta de rostos raivosos, no mar de carros que estavam na fétida marginal pinheiros.
e também não entendi muito bem meu amor por essa cidade tão grande e tão cinza.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

ronnie von e as calcinhas das filhas (dele)

estava eu a terminar minhas tarefas diárias na firrrrma quando o celular toca. "casa", leio no visor. mau sinal. meus filhos não costumam me ligar, muito menos minha adorável empregada, a nalva.
escuto gritos ao fundo. e a voz da nalva, afobada, irritada. só para esclarecimentos, a nalva é uma baiana de no máximo 1m45cm, olhos verdes e voz calma, tão calma que às vezes não escuto o que sai da boca dela.
ela começa dizendo rapidamente que meu filho acordou minha filha, fez uma bagunça no banheiro e estava a bagunçar a sala naquele momento. pergunto se ela quer que eu vá pra casa, e ela diz que não. falo com meu filho e peço a ele que deite e escute as músicas que a nalva vai cantar.
desligo. taquicardia. pernas mais bambas do que o normal para uma quinta-feira, 19h30, minutos antes de eu deixar as instalações da corporação e me encaminhar para a reunião de escola da classe da minha filha.
e se tudo der errado? e se minha empregada perdir demissão? e se eu não conseguir trabalhar porque meus filhos fazem uma zona e a empregada não dá conta? pra quem eu posso ligar? quem pode me ajudar?
ninguém. ninguém baby, and i am so sorry.
quando eu era criança e minha avó era viva, eu adorava assistir TV com ela. toda vez que eu dormia na casa dela - uma mansão numa então residencial avenida portoalegrense -, eu e ela nos sentávamos nas duas poltronas beges em frente à TV, enquanto meu avô, surdo que era, desligava o aparelho do ouvido e dormia alegremente na cama ao lado de onde estávamos. pra melhorar a situação, minha doce avó mantinha DENTRO DO GUARDA ROUPA uma lata daquelas antigas de sorvete kibom - acho que os desenhos tinham branco, vermelho e azul escuro - cheia de chocolates. os chocolates tinham gosto de armário de vó, algo como naftalina mais cheiro de mofo suave mais cheiro de roupa de gente velha guardada há tempos. o gosto do armário era desagradável, e alguns chocolates já tavam mais brancos do que marrons, porque estavam guardados fazia tempo na latinha da oma. oma era como chamávamos minha doce avó. mas o fato de poder comer dois chokitos e dois krema sem ninguém encher o saco compensava o gosto estranho.
pois bem, minha avó a-d-o-r-a-v-a o ronnie von. e uma vez, quando eu já nem era mais criança, assisti a algum programa idiota de entrevistas na TV com o ronnie von. ele contava que criava as filhas - ou seria A filha? - desde que tinha se separado da mãe delas (ou dela), que tinha levado à primeira consulta ao ginecologista e que quando comprava calcinhas e as vendedoras perguntavam com malícia para quem seriam dadas, ele dizia: "pras minhas filhas".
eu não achava nada demais nisso. mas a minha avó achava ele e a história dele o m-á-x-i-m-o.
o tempo passou, e põe tempo nisso, e hoje eu compreendi completamente a admiração da minha avó pelo sujeito. quando eu fiquei com as pernas bambas e pensei pra quem eu poderia ligar para pedir ajuda e lembrei que não tinha NINGUÉM pra ligar.
lembrei que meus filhos são meus e que quem toma conta deles sou eu. lembrei que quem paga o plano de saúde deles sou eu, e que quem pede pra parcelar o pagamento da consulta caríssima do pediatra sou eu. lembrei que quem paga o salário da santa nalva sou eu, e quem não poderia ir à reunião de classe da minha filha era eu. lembrei que quando eu chegasse em casa eu não poderia ficar furiosa com os meus filhos, porque eles acabam de ganhar uma irmã. e a chegada da irmã coincidiu com a falta de telefonemas do pai, com o cancelamento da ida à casa do pai às terças-feiras para dormir lá, e com o provável cancelamento do fim de semana com o pai.
como disse uma amiga minha, citando o médico dela: "se eu e meu marido nos separarmos e ele casar e tiver mais um filho, ele vai esquecer os nossos três filhos". e ela deu uma gargalhada, a minha amiga. acho que porque isso não aconteceu, é só uma suposição, ou exercício de imaginação. dá no mesmo.
como a sabedoria é uma coisa maravilhosa. como a paciência é igualmente maravilhosa. e como saber por que minha avó, que se casou aos 24, ficou viúva aos 68 e morreu linda aos 88, nunca soube preencher um cheque e me deu uma roupa de cama de casal quando fui morar com meu namorado aos 18 anos, idolatrava o ronnie von.
nem tudo está perdido.
hasta la vista, baby.

domingo, 31 de agosto de 2008

fim de semana COM crianças

dizem meus amigos casados e com filhos que eu tenho um privilégio: eu tenho finais de semana SEM filhos.
mas não posso deixar de escrever sobre o meu fim de semana COM filhos. vamos lá.
sábado. estou dormindo. escuto um mããããe. acordo, vou até a cama do sujeito, ele diz que quer fazer cocô. eu resmungo qualquer coisa do tipo "meu filho, pra fazer cocô não precisa chamar a mamãe". não tenho resposta. espero o cara, descarga, mãos lavadas, luzes apagadas, digo pra ele dormir porque ainda é de noite. na cama, vejo que são 4:15 am. oh my god.
perto das 6h, o cara me chama de novo. diz que quer fazer cocô. mas era um golpe. fez um xixizinho e foi pra minha cama - espiou pra fora da janela, viu que estava amanhecendo e ele sabe que quando o dia começa eles (ele a a irmã) podem deitar na minha cama. disse pra ele que ainda era cedo, que dormisse. nada. conversou comigo (um monólogo, porque acho que não respondi nada) e saiu da minha cama para ir pra sala brincar.
acho que menos de cinco minutos depois chega a minha filha à minha cama chorando que quer a chupeta. ela havia largado a chupeta na sexta: colocou a última que restava num caixinha cheia de brilhos pra fadinha levar. e a fadinha levou.
voltemos ao sábado de manhã. disse pra ela ir procurar na cama dela, pra ver se a fadinha tinha deixado uma estrelinha. ela sai do meu quarto e logo volta correndo e rindo: olha mãe, o que eu achei, uma estrelinha!
café da manhã. vou vesti-los. gaveta das calcinhas da minha filha com UMA calcinha. coloco roupas para lavar na máquina. vou tomar banho, enquanto os dois brincam e brigam.
às 9h eu tinha a missa de sétimo dia da annamaria, mãe da minha amiga dani. olho no relógio: 8h30. estendo a roupa correndo, ligo pra uma amiga que iria comigo à missa e na casa de quem meus filhos ficariam. "estamos atrasadas", digo no telefone, e a rafa concorda. estamos não né, EU é que estava atrasada.
dirijo rapidamente pela vila madalena. chegamos. descemos do carro, meus filhos e eu. entramos no prédio, subimos ao nono andar, jogo as crianças pra dentro e de dentro do apê saem a rafa e o juliano.
vou dirigindo rapidamente em direção à av. paulista, até a rafa gritar do banco traseiro "tita, assim a ramona vai nascer". a rafa está para parir a qualquer momento e eu estava correndo. entramos na igreja às 9h10, a missa já tinha começado.
depois de rezar e muito chorar, voltamos à casa da rafa, onde a fofa da mãe dela cuidava dos meus dois filhos mais da neta dela, filha da rafa.
estou morrendo de fome. eles almoçariam à tarde. são 11am, e eu acho que vou morrer de inanição. saímos, vamos ao um restaurante, onde depois do almoço meu filho fica uns 15 minutos trancado no banheiro. fazendo? cocô!
em casa, ligo pra NET. o aparalhinho da minha TV caiu - ou foi jogado - no chão. o técnico virá entre as 14h e as 17h, me avisa a moça do 4004.7000. coloco minha filha à força na cama, que está exausta mas grita...pela chupeta!
ela dorme. e eu jogo canastra na sala com meu filho. o cara da NET não aparece. ligo pro pai dos meus filhos, que teve um nenê que eu quero conhecer. ele diz que não podemos ir, porque a mulher dele e a pequena helena dormem.
esperamos. brincamos. e o cara liga. podemos ir visitá-los.
as crianças felizes que vão ver a irmã, mas a irmã tá mamando. não devem fazer barulho. até começarem a pular pelo sofá, dando gritos. eu penso "mas essa é casa do pai deles, não sei por que estou constrangida". mas morro de vergonha.
eles pulam feito selvagens, suam feito loucos. digo "vamos embora". nada. o pai deles abre a porta do apto, oh my god. coloco os agasalhos nos pequenos, as meias, os sapatos, e vamos na ponta dos pés ver a maninha, que dorme no berço. ufa, consigo ir embora.
em casa aborto o banho, coloco pijama nos caras e dou-lhes o jantar. pra cama. e então meu filho chapa e minha filha chora. quer a chupeta! duas horas depois, ela também chapa.
domingo. a moçada acorda feliz às 6h. café da manhã especial no meu quarto, depois varro o chão. e vamos pra pracinha. levamos a bicicleta do joão gabriel, cujos pneus têm de ser calibrados. beleza. posto e, finalmente, pracinha.
comemos, eles correm, a lívia anda de balanço, o jg anda de bici, e eu tomo chimarrão. eles descobrem um monte de areia de uma obra da pracinha, e ficam lá umas duas horas. imundos, vamos embora. padoca, frango. eles querem ficar no carro. quando chego com a sacola com frango e outra com sorvete, eles estão gargalhando: jogaram minha mochila mais o balde mais tudo o que estava no carro no porta-malas.
vamos pra casa. na cozinha, percebo que o frango não veio: me deram costela. eles pegam as respectivas havaianas e voltamos pra padoca! pegamos o frango. em casa, banho, todos na banheira, e almoço. lívia dorme, eu também, e meu filho, um anjo, brinca quase em silêncio na sala. até entrar no meu quarto correndo e gritando, dizendo que teve um pesadelo. "tu dormiu?", pergunto. ele diz que não. mas que viu uma sombra na sala. e ordena que eu acorde. eu não obedeço, é claro. porque em casa os adultos podem mandar, mas as crianças, não. eu sou antiga. ele enche o saco, até que eu saio da cama e vamos à canastra. depois a família toda lava louça - foi super rápido, todo mundo ficou molhado e nem tudo ficou beeeem limpo. estendo mais roupas da máquina - tudo o que tínhamos levado pra pracinha ficou cinza da areia, inclusive meu colete com pluma de ganso que saiu da máquina destruído e não poderá mais ser usado.
fim de tarde. vamos ao supermercado. não há mais frutas em casa. no meio das compras, minha filha diz que quer fazer xixi. deixo meu filho na fila do caixa, aviso o operador e vou com ela ao banheiro. compras pagas, vamos embora.
em casa, o carrinho de compras do prédio vira um brinquedo emocionante pras crianças na minha cozinha. digo pra pararem. nada. a lívia se machuca, e eles QUEBRAM uma parte do carrinho de supermercado. inacreditável.
levamos o carrinho quebrado pra garagem. estou brava, mas não posso ficar tão brava porque os carrinhos do prédio são do tempo do ariri pistola e precisam ser repostos, conforme já determinado na reunião de condo mas não cumprido pelo pulha do síndico. comemos. eles se espancam por causa de uma ameixa. até o jg dar sua ameixa pra lívia e aceitar outra, maior, que eu ofereço a ele.
escovar os dentes, lavar as mãos, colocar pijama, vou contar história. um quer uma, outro quer outra. começo com os 3 porquinhos, o jg fica puto e grita muito. digo que ele ficará sem história. ele grita mais ainda. canto pra lívia, ele grita. canto pra ele. e os dois saem do quarto.
escrevi metade do texto, levei os dois pra cama. ele dorme, e a lívia está organizando algo na sala, perto de mim, falando baixinho.
socorro.
eu vou levá-la à cama, tomar uma cerveja e bye bye baby, dormirei o sono dos justos. é assim que se fala? não seria o sono das santas? ah ah ah!
ps - a lica foi pra cama sozinha. são 8:34pm. ela costuma dormir às 7pm. será que amanhã ela estará cansada???
ah ah ah de novo!
deus esteja!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

desfazendo os nós

diz o meu velho e sábio pai que as abóboras se ajeitam com o andar da carroça.
e eu sei que a gente só escuta o que quer escutar, via de regra. portanto, o ditado repetido pelo velho é um dos meus favoritos. a gente sabe que tudo passa, mas quando o tudo vira uma nuvem cinza escuro e a vida fica pesada, eu pelo menos fico em dúvida. será que vai passar mesmo?
mas voltando às abóboras, tenho de confessar que elas estão ficando beeeeeeeeem ajeitadas.
será que quem ler isso vai achar que eu ganhei na loteria, achei um incrível marido e vou morar em paris?
pensei e pensei e claro, nada disso aconteceu. o que mudou nos últimos dois anos e meio, quando a minha vida ficou dura como eu jamais imaginei que uma vida pudesse ficar? há dois anos e meio eu pesava o mesmo que peso agora, não fumava pitos fedidos - cousa que tampouco faço agora -, já tinha meus filhos, já morava no pequeno apartamento onde continuo morando. ah, o carro. eu tinha um carro enorme e super ultra potente, turbo. e agora tenho um carro de gente normal, 1.4. os cabelos tão iguais. foram cortados bem curtos mas já cresceram. bom, acho que minha bunda caiu. acho não. tenho certeza. bundas não caem quando passamos há tempo dos 30 e nos aproximamos dos 40. elas despencam.
então, balanço final: carro menor, menos potente, e bunda mais caída. e, já ia esquecendo, meu pequeno apartamento tem uma linda banheira, coisa que não existia quando mudei, há dois anos e meio.
e então? como assim as abóboras estão ajeitadas?
é uma sensação. ah, esqueci mais um ponto mui importante: a conta no banco continua com menos dinheiro do que eu gasto. mas sinto os nós se desatando. não sei se conseguiria listar isso. mas grosso modo seria: agora tenho um trabalho fixo, os herdeiros crescem fortes, escolhi a escola dos pequenos para o próximo ano, meu apartamento terá uma escritura no meu nome, o ar me falta mas eu sei que vai voltar, meus amigos são amigos leais e fiéis e maravilhosos que me dão bom vinho e bom amor, eu tenho escrito, vou mandar quebrar uma paredinha do apartamento logo, vou pintar o apartamento de cores incríveis como lilás, verde e berinjela, eu acho normal meus filhos terem o pai que têm (legenda: antes eu não achava), eu ando mais quieta, minha filha parou de chupar chupeta hoje e é isso.
cousas tão singelas que fazem tanta diferença.
mas meu deus do céu, quando eu vou parar de escrever textos papo-cabeça que devem fazer pouco ou nenhum sentido senão para mim?
não sei.
mas às vezes é melhor não ter respostas. acho que dói menos.
hasta la vista.

sábado, 23 de agosto de 2008

a PF, o novo passaporte, sorvetes e a priscila

e então vamos fazer passaporte para a família.
primeiro passo: entrar no site da polícia federal. opa!, não tem data para marcar a ida a um posto da PF! mas tem um 0800! o que a moça diz? surpresa: você vai entrando no site até achar uma vaga. mas e se eu pagar as taxas (um pouco de 150 pilas por passaporte) e não achar data?, pergunto. o pagamento vale por cinco anos, me responde a atendente, super fofa.
aha.
paguei. e depois de uns dias, num domingo de pura prevaricação, entro no site e acho uma data! seria dali a dois meses. ueba!
nova surpresa: na data marcada, estou em minas gerais, a trabalho. sem alternativas. entrar de novo no site da PF e achar nova data. e mais uma surpresa, essa uma boa: havia data disponível no posto mais próximo da minha casa, dos cerca de 10 que existem na grande e cinza são paulo.
chegada a data, busco as crianças na escola e lá vamos nós. claro que escqueci que a família toda tiraria fotos. portanto, carrego dois filhos imundos e eu, e vamos com cara de paisagem até o posto, que é dentro de um shopping. temos tempo para almoçar tranqueiras de shopping, as crianças ganham sorvete e nos encaminhamos 15 minutos antes do horário agendado, conforme solicitado no site quando da marcação do horário.
ao chegar com dois pequenos selvagens sujos de areia e melados de sorvete, mostro ao guarda/segurança bem armado meus papéis que comprovam meus horários "reservados" desde maio e remarcados em julho - estamos no final de agosto. ah, em dois minutos gritam o meu nome. oh my god! as crianças AINDA estão comendo sorvete, e eu carrego restos de batata frita. mas ninguém vai encrencar com uma mãe que carrega dois filhos para todos fazerem passaporte. ó tarefinha ingrata. o sujeito que diz para eu entrar na sala só diz para as crianças terem cuidados com "os fios" - fios do computador, cabo de câmera fotográfica que vai nos fotografar e tal.
não há três cadeiras, só uma. peço às crianças que sentem no chão, no cantinho, que não gritem porque ali há muita gente e todos teriam dor de ouvido, e que não melequem NADA.
a moça que nos atende é simpática. vai pedindo os documentos - RG ou certidão de nascimento, certidão de casamento + divórcio, autorização do pai, título de eleitor, comprovante de votação, ai ai ai que pânico, será que esqueci de algo?
foto da líiva. limpo a boca dela com guardanapo - os wipes ficaram no carro, puta merda! -, ajudo com os dedos, troco a camiseta por outra que havia na mochila da escola, sento a guria no encosto da cadeira e clic! opa, não ficou boa. outro clic, opa, deu pau no sistema. mais um clic e opa, meu filho pede para fazer xixi.
espera, digo. tínhamos ido ao banheiro antes de chegarmos ao posto. mãe, é cocô, diz ele. espera, digo, cheia de esperanças. e ele diz 'não tô aguentando', torcendo as perninhas. olho pra gentil moça e anuncio que TENHO de ir ao banheiro, pego um filho na mão e a outra no colo e saio correndo. cara de paisagem mais uma vez, e faço de conta que ninguém tá me olhando.
voltamos. trocou o segurança armado, e explico que já estava sendo atendida. ninguém barra uma mãe com dois filhos. entramos, eu sento. hora da foto do meu filho - acho que a minha foi a primeira, enquanto eles comiam batatas fritas frias, terminavam o sorvete e brigavam sem escândalos, sentados no chão.
troco a camiseta do meu filho - um colega da escola gentilmente emprestou a camiseta de manga curta que ele usava debaixo de outra de manga comprida. pânico, meu filho não quer pôr a camiseta, que parece ser menor que ele. insisto, digo que é proibido tirar foto de passaporte com uma camiseta que é branca quando limpa mas que está marrom, com manchas beges e outras mais escuras. ele acata. clic. ficou ruim. clic, fechou os olhos. clic, foi!
digitais, só para maiores de 10 ou 12 anos. ufa! só eu que assino, só eu que deixo minhas digitais na máquina, sem sujar um dedinho sequer.
obrigada, priscila!, digo. atrás dela, da priscila, um cartaz sobre a pena para quem comete desacato a funcionário público. pergunto se muita gente baixa o nível, priscila diz que sim. acho o cartazinho bizarro...
saio feliz da vida, achando que foi suuuuper fácil fazer nossos passaportes. tendo encontrado uma moça tão gentil e gente da PF tão solícita e paciente com uma pequena família selvagem.
e para meu espanto, dois dias depois recebo um email que me avisa que os documentos estão prontos. a metade do tempo previsto.
foi suuuuuper fácil. afe!

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Signal Strength: Excellent

essa é a linda mensagem exibida num balãozinho, que sai do ícone da minha conexão sem fio do meu computador. ai como é bom quando as cousas dão certo.
na verdade, não é quando as cousas dão certo, mas quando a gente aceita o ritmo das tais cousas. qundo a gente vive um dia depois do outro sem reclamar. quando tá quente, a gente sua e isso não é ruim. quando as crianças - as minhas mais uma, emprestada por uma tarde - querem comprar pão comigo e eu saio com o carro lotado, e feliz.
ora pois, hoje foi um dia atípico. não reclamei. tô passada. não é possível que todos os dias eu passe amaldiçoando os acontecimentos. mas creio que sim. porque hoje não amaldiçoei nem a NET, que me deixou mais de 24 horas sem telefone. liguei 35,863 vezes, e quando a solícita atendente falou comigo - nas outras tentativas a ligação caía ou dava ocupado depois de eu apertar umas 23 opções -, eu fiquei satisfeitíssima.
mas não foi só isso. quando fui fazer o resgate dos herdeiros na escola, um mala sem alça de um motorista ficou mais de 10 minutos fechando duas vagas sem nem ao menos entrar na escola para "pedir" pelas crianças - não sei quantas ele ia levar. eu liguei o pisca-alerta, esperei, e quando vi que o cara não era um mala, mas um contêiner, desliguei o pisca, acelerei e fui atrás de uma vaga. não achei, dei uma volta na quadra e achei uma nos confins do universo. beleza. fui andando, feliz.
nossa, que estranho. acho que o mosquito-da-aceitação-da-vida-como-ela-é me picou. ah ah ah mil vezes!
e deixei para o final o melhor de tudo: estou há DOIS dias sem fumar. sim, eu sou uma fraca que caiu em tentação e andava mastigando marlboros havia um mês e meio - depois de uma longa abstinência de dois meses! mas aí pensei: é demais! ficar fedendo a marlboro é demais. comer marlboros em vez de conversar é demais. achar que marlboros são um meio de diversão é demais. pelamordedeus. então adeus marlboros mais uma vez. e não é que a abstinência me deixa bem humorada?
socorro! acho que mais dez anos de análise não serão suficientes!
e agora vou tomar minhas gotinhas homeopáticas e de florais para não querer comer aqueles pitos fedidos!

sábado, 16 de agosto de 2008

o que é bom e o que não é

"o que é bom, fedro,
e o que não é bom -
será preciso pedir a alguém que nos ensine isso?"
robert pirsig, nas primeiras páginas de "zen e a arte da manutenção de motocicletas. créditos para o meu primeiro marido, que me apresentou esse livro, que é uma luz.
acabo de chegar em casa. COM as crianças. depois de um churrasco. exausta.
paramos na locadora, e o filme que o meu filho queria, azur e asmar, está sem cópias. procurei outro, kiriku e a feiticeira, e estavam todos locados.
a casa. siamo arrivati.
e uma exaustão surreal toma conta do meu ser. e estou pensando sobre o que o dinheiro compra. tudo o que é muito bom na vida - dias de sol, ótimas companhias, gargalhadas, barulhos de pássaros - o dinheiro não compra. mas, surpresa!, tudo o que é horrível na vida o dinheiro também não compra: frases cretinas saídas das bocas de quem gostamos, lucidez pra sentir as bostas todas que vêm com a existência and so so on.
horror. horror absoluto. eu sempre achava que o dinheiro não compra as cousas boas desta vida. mas também não compra as cousas ruins.
o que nos resta?
orar, meditar, e pedir que o universo só nos mande o imprescindível. e que tenhamos sabedoria o suficiente para defenestrar o que não nos presta: amigos, conhecidos, amores.
pelamordedeus, onde é a saída???
deus esteja.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

será que deus lê blogs?

o título ia ser outro. ia ter a palavra gratidão. mas não consegui.
alguém disse que num trabalho criativo tem 99% de transpiração e 1% de inspiração. ou seria 90% de transpiração e 10% de inspiração? fico com a primeira opção.
ora pois. o fato é que deus tem iluminado meu caminho e eu tenho escrito muito. muito. todos os dias, textos com prazos para entrega. sim, respirem aliviados, não me refiro a este singelo blog.
muita inspiração. depois de trocentos litros de suor de transpiração. muito trabalho, mas muito mesmo. horas e horas. começa às 8h e alguma coisa, depois que os herdeiros foram desovados na escola, e termina muitas horas depois, quando os herdeiros já estão dormindo faz tempo. não chega a ser uma obsessão, porque trabalho por amor e por necessidade também. nenhuma tia rica me deixou milhoões de dólares (nem reais) para eu poder trabalhar por lazer. graças a deus.
mas eu queria falar de gratidão. me sinto uma vovozinha - eu sei que sou uma vovozinha, mesmo não tendo chegado aos 40 ainda - ao usar essa palavra. mas é gratidão que eu tenho por ter taaaaaaaanta inspiração. como se escreve sem inspiração? sorry, mas sem inspiração não se escreve.
vou perguntar pro joão ubaldo e pro verissimo se isso é verdade, porque eles sim escrevem com muita inspiração. mas enquanto não o faço, digo que sem ela eu não existiria profissionalmente. sei que minha visão é deveras limitada, porque profissionamente não sou um exemplo de variedade, digamos. sou jornalista não por opção, mas por falta de. antes, dei aulas de inglês e fui publicitária. mas sempre soube que tinha de escrever, e por isso fui ser jornalista. nossa, que chatice.
deus esteja.

domingo, 10 de agosto de 2008

forget love. i'd rather fall in chocolate

é uma brincadeirinha.
ontem, sábado, caí na estrada, a trabalho. mas antes disso, parei na loja do "melhor bolo de chocolate do mundo"(no google deve haver explicações. eu não posso dá-las porque não provei). o cartazinho em inlgês estava dependurado numa das paredes.
ontem traduzi a frase pra uma companheira de viagem/trabalho como "esqueça o amor. eu prefiro me atolar no chocolate". hoje de manhã, domingo, dia dos pais, meu pai longe, lá nos pampas, e eu reli a frase. "esqueça o amor. eu prefiro me apaixonar pelo chocolate."
tão simples, tão frio, tão sinistro, tão fácil.
bobagem. se não tiver amor, não tem graça nenhuma.
mas aí que tirei o fim de semana i-n-t-e-i-r-o para trabalhar. não por vontade, mas por prazo. mas fui convidada para comer um salmão na casa dos meus compadres. trabalhei muito por 3 horas, e me fui. uma gauchada, uma maravilha, um casal se mudando para o rio, a cidade mais bela do país, eu morrendo de inveja, mas inveja da boa. e não é que surge um jornalista da antiga, tipo um pouco mais jovem que o meu velho pai, que tem quase 72 anos. e a conversa descamba para política, direita, esquerda, brasil, amazônia, poderosos, clima mundial? socorro, onde é a saída de emergência???
fugi. vim trabalhar.
e fiquei pensando na linda frase acima. forget love. i'd rather fall in chocolate. e acho que entre o amor, o chocolate e a chatice, eu fico com o amor. depois com o chocolate. e nunca, nunca, com a chatice. que deus me abençoe, me proteja e me permita viver longe das coisas chatas.
amém.
estou sentindo cheiro bom. cheiro de coisas novas.
deus esteja.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

faltou luz. e agora?

estava eu a trabalhar alegremente quando muitas nuvens escuras fizeram o início da tarde parecer o início da noite. abri as cortinas da imensa janela, mas mesmo assim tive de acender as luzes. a chuva chegou, e levou a energia elétrica. faltou luz.
a bateria do meu computador estava dentro dele, não sei por que. e continuei trabalhando alegremente, mas sem conexão com internet. viva! não podia mandar emails nem recebê-los. nem poderia mandar mensagens ou recebê-las pelo msn. viva! concentração total.
meu filho, jogado sobre a mesa gigante onde trabalho, começou a gemer gemidos de criança entediada. ele havia acabado de começar a ver um filme.
o que eu faço?, resmungava. e eu dizia pra ele brincar. e os resmungos não passavam.
mas eis que a bateria do meu computador acabou, e assim meu trabalho teve de ser encerrado, até a luz voltar. mas a tal da luz não voltava. e então fui dar uma dormida, daquelas bem no meio da tarde, maravilhosas.
quando acordo, meu filho está recortando, desenhando e colando pedacinhos de papel, uns sobre os outros. os serviços domésticos também foram suspensos, de forma que a santa nalva estava a desenhar e recortar e colar com meu filho.
sem internet, sem telefone - que está ligado "com" a internet -, sem computador. sem ferro de passar, sem luz para enxergar.
as crianças saem para a casa do pai, a santa nalva vai embora - porque não havia nada a ser feito sem luz. e eu sem trabalhar.
aí finalmente a noite chegou. e nada da luz. e nada de trabalho, nada de mensagens, nada de telefone, nada de barulho.
parei.
acendi as velas dos meus três castiçais, abri mais ainda as cortinas da imensa janela e fiquei olhando pra fora. vi a lua, e vi apartamentos sem nenhuma luz. "ufa, não é só comigo", percebi, aliviada e louca, ainda achando que era ruim não ter luz, não poder trabalhar, não poder nem ler o jornal.
a única coisa que dava pra fazer era parar. sentar no sofá e olhar pra fora. bem quietinha. sem barulho nenhum, sem filho nenhum, sem empregada nenhuma. e então finalmente comecei a achar bom. praticamente atingi o nirvana, sentada no sofá, olhando pra fora da janela. sem luz, sem barulho.
mas com a chegada da noite chegou também a energia elétrica. imediatamente me levantei, abri meu computador e me pus a trabalhar: ver emails, escrever meus textos, ver quem estava online. uma amarga paranóia.
e me deu uma saudade do escuro, uma saudade do silêncio, uma saudade de ter de ficar sentada olhando pra fora da janela, sem falar, sem escutar, sem ter o quê fazer. só olhando e respirando.
e então me veio uma idéia perversa: por que todos os dias eu não desligo a chave geral do meu apartamento e vivo uma ou duas horas no escuro? por que mesmo adorando jantares à luz de velas organizados no chão da sala pelas crianças sempre tenho uma "luzinha" acesa - fraquinha, 25w, mas uma luzinha? por que não consigo desligar o computador e esquecer que ele existe por algumas horas? por que não me sento no sofá e olho pra fora da imensa janela todos os dias?
e então comecei a ouvir o barulho dos ônibus e o barulho dos carros. e comecei a ouvir os barulhos dentro de mim. e achei uma pena a tal da energia ter voltado, e as luzes poderem ser acesas.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

a paciência

"a paciência é um músculo, e ele tem de ser exercitado diariamente." filosofia de botequim. nesse caso, um pouco pior: filosofa de pracinha. ouvi essa frase em alguma ida à pracinha, cousa tão usual na vida de seres humanos que já procriaram.
mas estou precisando de um "método avançado de exercícios de paciência" já. não vale nada do que eu já conheço: respiração, meditação, prática regular de exercícios físicos, observação de passarinhos que cantam de manhã cedo quando ainda não saí da cama, idas à praia com pés na areia, longas noites de sono, amigos divertidos que fazem a gente rir, uma casa com as cores que a gente gosta pra fazer a vida ficar mais leve. também não vale boas bebidas nem boas comidas. tudo isso eu já conheço, mas não me parece suficiente.
vou fazer uma pesquisa e quando descobrir o método que faz a paciência da gente ser um músculo extremamente flexível vou vender o método, ficar beeeeem rica e tomar banho de mar na grécia toda vez que meu próprio método não funcionar comigo.
ah ah ah.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

eu esqueci que tinha um blog

e isso aconteceu pela primeira vez.
tô tentando fazer meus dedos andarem pelo teclado, mas escrevo e apago porque não gosto. tenho de trabalhar muito hoje e parece que se eu ficar aqui estarei prevaricando. o que não é verdade. porque tenho trabalhado muitíssimo e feito as outras coisas da vida também, como pintar as unhas de rosa choque. ah ah ah.
vou bloquear meu blog pra ninguém ler coisas horríveis como essa.
a inspiração não vem quando a gente chama. é como quando a gente quer conhecer gente legal, descobrir uma comida deliciosa ou achar um belo café. tem muita coisa na vida que a gente não procura, a gente acha. a inspiração é uma delas. ficar feliz também.
vou trabalhar.

sábado, 26 de julho de 2008

não sabendo que era impossível, foi lá e fez

estava eu a lavar louça alegremente quando a frase, velha conhecida, apareceu na minha cabeça e não foi embora.
sábado. programas com as crianças. geral na casa antes de sair. uma luta livre na sala, duas crianças brigando porque devem estar de saco cheio das férias. graças a deus as aulas das crianças voltam. logo. em pouco menos de 48 horas.
mas enquanto eu lavava a louça e a frase ficou na minha cabeça, fiquei pensando nas questões hercúleas dos seres humanos. cada um com suas tarefas, que sempre parecem tão difíceis e normalmente são tão duras.
meu deus, que pensamentos para uma manhã de sábado ensolarada! mas fiquei pensando: contra todas aquelas baboserias de "mulher da revista nova", que é gostosa pra sempre, bem-sucedida pra sempre, tem namorado pedaçudo pra sempre, trabalha e ganha superbem e cria filhos sem depender da parte masculina do casal, como é possível que tantas e tantas mulheres criem filhos sozinhas? levam pra escola, arranjam a empregada, pensam na comida, contam história à noite, levam ao parque no sábado, passeiam com eles e os levam ao cinema, apartam brigas selvagens?
(me vêm à cabeça aquelas mulheres norte-americanas mães de três filhos, que não têm nem empregada, nem babá, nem faxineira. que não têm mãe que ajude, e cujo marido trabalha o dia todo e à noite vê tv. que imagem assustadora! elas andam pelo supermercado carregando os três, com cabelos que não vêem um cabeleireiro há tempos, com unhas que não sabem o que é uma manicure, e normalmente com um excesso inimaginável de gordura no corpo. chega a dar falta de ar pensar nisso.)
lembro de uma mulher linda que conheci numa...festa infantil! começamos a conversar e ela me mostra as duas filhas, lindas como ela. cabelos pretos, encaracolados, olhos espertos e grandes. e vamos conversando e ela me conta tudo o que seria difícil de acreditar: ela, linda, mora sozinha com as crianças, mudou-se para outra cidade, longe do ex-marido, a família do tal nem fala com ela. ela trabalha e estuda e dá conta das duas filhas e ainda sai uma vez por semana, feliz da vida, para ir ao cinema ou encontrar amigos. feliz, feliz, feliz.
sou daquelas pessoas muito antigas, que acreditam que crianças têm de ter um pai e uma mãe. não necessariamente casados, não necessariamente morando na mesma casa, não obrigatoriamente dividindo a mesma cama e todas as contas da casa. mas um pai e uma mãe.
e como será que tem gente que dá conta de tudo?