quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

siamo arrivati a porto alegre

o céu escandalosamente azul nos deu as boas vindas. as férias começaram, oficialmente. e por um milagre da natureza, não estamos morrendo de calor.
entro na casa dos velhos e logo uma moça sorridente me pergunta se quero ajuda. é o sistema de qualidade dessas terras do sul: a nova empregada da minha mãe, que acaba de começar a trabalhar na casa dela mas que já disse que vai embora semana que vem, é solícita.
jane - este é o seu nome - fez uma comida deliciosa. depois, as crianças se joam na piscina gelada. eu quero arrumar a bagagem, e ela pergunta se quero ajuda. digo que é só prestar atenção ao movimento na piscina. e entõ escuto ela conversando com a minha filha, que ainda usa boias mas estava felicíssima na piscina onde os pés dela tocam o fundo. escuto as gargalhadas da lívia e a voz da jane, que conversa lindamente com ela.
mais tarde saio a pé, e quando estou voltando pra casa vejo uma mulher andando na calçada, na direção oposta à minha. ela fala ao celular, e quando chega perto de mim, diz ao interlocutor para aguardar. reconheço a jane. ela me dá dois beijinhos de tchau e diz 'fala pra tua mãe que eu passei toda a roupa. tchau, patricia'.
eu já queria levar essa pessoa pra minha casa. aliás, toda vez que venho pra essas terras do sul fico com vontade de levar muita coisa pra minha casa: essas pessoas daqui, que olham no olho da gente quando dizem oi, o céu azul que me deixa boquiaberta, e o jeito mais calmo que os gaúchos vivem os dias. e queria também as calçadas largas, limpas e sem buracos, e a cantoria dos passarinhos, que também me parece mais calma.
minha filha sai da cama e pede que eu 'vaia' ficar com ela. digo que já vou, pra ela esperar um pouquinho. 'não quero esperar. quero que você vaia agora'. lá vou eu.

domingo, 13 de dezembro de 2009

o natal e as crianças

"Sempre esperamos milagres, porque eles se realizam!!! E porque nós não precisamos de mais 'coisas'; desejamos mais significados, propósitos e espírito no que vivemos."
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último dia de aula das crianças. saímos de carro, à tarde, para pegarmos filmes na locadora. 'você tá há dias prometendo', andava dizendo meu filho. um trânsito surreal, desvio o caminho, e ele me diz que 'as pessoas estão enlouquecidas fazendo compras, a luli me disse'. a luli é a motorista das crianças.
e eu, que mesmo tendo gastado pouquíssimo para as compras deste natal me acho uma consumista boba, explico pros meus filhos que o natal é uma época em que devemos pensar nas coisas de dentro, não nas coisas de fora. mas vamos nos perdendo e comprando e comprando.
o joão gabriel faz uma defesa fervorosa da data, dizendo que é justamente nesta época em que eles ganham chocolates deliciosos - aqui em casa cada criança ganha um chocolatinho daqueles de pendurar em árvore por dia, até o dia do natal. nisso a lívia solta a pérola: 'se tesse só frutas, não ia ter graça'.
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disse pra eles que no ano que vem eu vou FAZER todos os presentes. eles acharam a coisa mais sem graça do mundo. até porque já ganharam de natal um jogo da velha de feltro maravilhoso feito por mim, uma boneca de crochê que eu fiz - a única coisa de crochê que fiz na vida depois das 'correntinhas' que fazia com a vó maria, que não era minha vó, mas tia da minha mãe, e cuidou de mim e dos meus irmãos quando meus pais foram viajar pela primeira vez pra europa e deixaram os filhos em porto alegre.
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leio matérias ridículas sobre 'natal sustentável', contando histórias de pessoas que fazem biscoitos e outros presentes. eu faço biscoitos de natal com os meus filhos há alguns anos, e nunca pensei que isso era uma forma de natal sustentável. pra mim isso é uma forma de natal.
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pra celebrar a data, convidei algumas amigas para jantar na minha casa. aparentemente quase nenhuma poderia vir, e eis que aos 45 min do segundo tempo chegam todas, menos a marcia, que trablaha na globo e claro, tem a agenda lotada. diferentemente da minha, que agora é super livre. algumas amigas minhas não se conheciam, e eu ia apresentando cada uma de acordo com os anos que nos conhecíamos. foi maravilhosos ver juntas mulheres de 28 a 50 anos tomando vinho e comendo comidinhas deliciosas, todas feitas por mãos femininas e dedicadas - eu não cozinhei nada, mas preparei tudo. eh eh eh.
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uma jornalista que trabalha no desenvolvimento de uma ferramenta para empresas acompanharem o que saiu na mídia sobre elas, uma psicanalista, uma jornalista que toda vida trabalhou numa grande editora e agora trabalha em casa e mui feliz, uma ex-jornalista que virou arquiteta da informação, uma publicitária que atualmente é mãe full time (existe mãe que não o é full time?), uma obstetra, uma anestesista e uma jornalista free lance. e eu, jornalista desempregada.
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moças sem filhos, com filhos pequenos, com filhas adultas, tentando engravidar e nem pensando nisso.
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variety is the spice of life, estava escrito numa camiseta linda que eu comprei há uma década numa livraria na itália,. segundo o daniel piza, a frase é de shakespeare. que seja. mas é fato.
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depois desse jantar alegríssimo, em que comemos e bebemos e falamos barbaridades, fiquei pensando que os meus presentes de natal eu já estava ganhando, antes da noite do dia 24, para escândalo dos mais ortodoxos. eu ficava muito brava quando era pequena e minha mãe achava que qualquer coisa que fosse comprada perto do natal era um presente de natal e só deveria ser aberto no dia 24.
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já ganhei tantos presentes neste mês que nem preciso abrir nenhum pacotinho na noite do dia 24.
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ontem fui convidada pra tomar um mate na casa da minha comadre. eu acreditei, levei um mate, e que mate que nada! cerveja uruguaia e uma mesa tomada de delícias. crianças brincavam alegremente, e adultos conversavam e comiam e bebiam dando risadas. quando fomos embora, minha filha sorria na cadeirinha do carro. e meu filho, que é tão branco como eu, tinha o rosto vermelho como eu nunca tinha visto. de tanto correr, brincar e dar risada.
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esta semana mais encontros com pessoas que fazem muito sentido para mim. despedidas do ano mais duro de todos. e sei que tenho de me despedir em grande estilo, porque o ano que vai começar será novo de verdade.
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acho brega repensar a vida em dezembro, considerando que há 12 meses no ano. mas aconteceu. foi uma coincidência. meu limite de dor chegou, e eu tive de parar. e agora repenso, e não quero repetir coisas que já fiz.
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hoje é domingo, tá frio e chove. não saímos de casa. alegria total. a cozinha está intransitável, e eu estou me preparando espiritualmente para limpar a bagunça. o vinho está maravilhoso, e as crianças devoram pipoca e assistem um dvd do tom e jerry emprestado pela minha comadre. estamos todos felizes com as férias.
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semana passada a doce nalva adoeceu e não pisou na minha casa por dois dias. foi o nirvana, mas o nirvana com cheiro de pó. porque minha mania por limpeza não é grande a ponto de me fazer pegar um balde e passar pano pela casa. graças a deus. e eu pensei, nesses dias de lavar louça-arrumar camas-colocar roupas na máquina-recolher lixo-varrer a cozinha e tal que é bom criar filhos que saibam viver sem serviçais. os meus, com 4 e 7 anos, sabem um pouco. fazem camas, dobram roupas, tiram a mesa, lavam louça. hoje tentei ensiná-los a fazer bifes, mas não se animaram. mas meu sonho de consumo é fazer minha casa funcionar só com a gente. empregada só pro luxo do luxo, como um jantar com quiche e salada de folhas com molho de manjericão fresco.
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e sobre a frase lá de cima, de que não precisamos de mais 'coisas', isso é que vai nortear nossa vida no próximo ano. mamãe não vai comprar uma land rover, nem um sítio. não vai sonhar com sandálias prada nem com finais de semana em paris. o que vier é lucro. mas vamos querer mais domingos chuvosos em casa com bom vinho, mais encontros com amigos, mais cafunés na cama de manhã cedo, em dias que não tivermos de sair de casa às 6h30. mais conversas todos os dias, mais abraços e mais declarações de amor. mais telefonemas pro meu irmão, que mora do outro lado do mar, e mais atenção pra olhar os passarinhos que passeiam na nossa janela e que cantam muito de manhã e de noite.
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mas se a mamãe não quer comprar uma land rover, ela quer tomar mais banhos de mar. pra isso talvez tenhamos de mudar algumas coisas. mas se os sonhos trazem mares com ondas maravilhosas, posso trazer isso pra minha vida, non?
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eles irão pra cama muito cedo hoje. e eu também. pra que os sonhos tenham tempo suficiente para aparecerem enquanto durmo.