sexta-feira, 26 de junho de 2009

tudo vai dar certo no final, disse o mané

e o mané sou eu.
a manicure foi embora da minha casa, e olhei pros meus pés e vi um borrão de esmalte pink. meti o dedo e piorei, ficou uma meleca. desde o meio-dia meus filhos estão de férias, e por isso hoje ganharam brigadeiro à tarde. comeram à grande e agora fazem corrida da cama pra sala da sala pra cama e não ficam deitados.
a raca veio me visitar e trouxe uma fatia de strudel de cerejas da doceira húngara. eu disse que estava numa dieta que restringe a ingestão de açúcar e ela deu risada. ela foi embora porque os gatos dela estavam em casa sem comida. pensei hum ela tem gatos mas não tem filhos.
ontem enquanto eu perambulava entre gôndulas de supermercado a paula me ligou e perguntou 'você quer trabalhar com a gente?'. sim eu quero respondi, mas o trabalho não tem data para começar, pode ser daqui a uma ou duas semanas. eu estou saindo de férias com as crianças e minha empregada está saindo de férias com as crianças dela. eu não sei quando voltarei pra cidade cinza e não sei quem ficará com as crianças quando eu voltar.
o meu filho chorou ontem antes de dormir e disse que estava triste porque o pai dele estava trabalhando muito e não tinha estado ou conversado com ele quando ele, meu filho, foi dormir na casa do pai. então hoje eu liguei pro pai dele e disse que seria ótimo se ele pudesse ir à festa junina da escola das crianças, e que o joão vai se apresentar, vai dançar, mas o pai dele disse que estava indo viajar naquele momento e que não estaria em são paulo amanhã ponto final acabou a ligação.
amanhã levaremos à festa uma salada de frutas e um bolo feito em casa segundo instruções vindas da escola e por isso a nalva vai fazer umas horas extras porque amanhã é sábado. eu tenho de fazer as malas e pensar nas coisas que tenho de meter dentro delas, dela, na verdade, porque uma mala eu já mandei e a outra eu vou levar. agasalhos e camisetas e meus 15 remedinhos mais os remedinhos das crianças caso elas fiquem gripadas nas baixas temperaturas sulinas mais um livro de histórias e as agulhas de tricô minhas e do joão, que aprendeu a tricotar e fica compenetradíssimo no trabalho.
eu tento manter a calma enquanto as crianças enlouquecem e folheiam o aurelião. eu gostaria de ter uma varinha mágica fazer plim e parar numa praia desabitada da bahia numa casinha com uma rede e um silêncio ensurdecedor. como não tenho a varinha estou pensando em como resolver as pequenas pendências que surgiram nesta semana.
a raca viria cozinhar na minha casa ontem à noite, risoto de ervilhas, mas meia hora antes de chegar ligou dizendo que não viria. a paula, esta a ana paula, que tricotava no sofá, foi comigo pra cozinha e fizemos uma salada esplêndida com folhas verdes e lascas de maçã. a dela tinha lascas de parmesão, a minha não. fui dormir tarde e hoje acordei cedo e passei a manhã me divertindo pendurando estrelas de chita e fita de cetim nas árvores da escola. minha bunda dói, e amanhã meus braços estarão doloridos, porque eu fiz muita força amarrando as estrelas com pedaços de arame e carregando uma escada pra cima e pra baixo. 'você gosta de trabalhar sozinha' disse a vânia quando me viu carregando a caixa com rolos de fita de cetim e a escada. eu nunca tinha pensado nisso mas deve ser verdade porque amo trabalhar em casa, sozinha, em silêncio.
hoje participei de uma meditação/energização pela saúde do dudu, filho de uma pessoa querida e especial. ele tem descolamento de retina num dos olhos, e depois de três cirurgias a coisa não melhorou. foi maravilhoso, um grupo com pouco mais de dez pessoas entoando mantras enquanto lágrimas escorriam insistentemente dos meus olhos fechados. lágrimas essas que molharam meu rosto dois dias atrás, quando eu soube que outra amiga querida não estava grávida - eu tinha certeza absoluta de que o exame ia dar positivo.
e depois dessas lágrimas jorrarem eu acho sinistro eu ficar tensa porque NÃO VOU TER EMPREGADA PARA CUIDAR DAS CRIANÇAS durante os poucos dias em que a nalva estará de férias mas nossa família não. tudo na vida se arranja, e mais lágrimas teimam em molhar meus olhos e escorrer pelas minhas bochechas, e eu não posso reclamar de nada.
como diz a liv ullmann no seu maravilhoso livro 'mutações', eu nunca passei fome, só tive de escolher entre comprar manteiga ou margarina. as palavras são dela, e eu não como margarina, ma questo è la stessa cosa.
mas por que cargas d'água às vezes fico tão emocionada que nem consigo ficar de pé?
entrei no quarto dos selvagens, fechei a porta e me sentei contra ela. o joão disse que estava com falta de ar, ele e a lívia reclamaram que estavam com sede. disse que havia chá, eles andaram no escuro até uma pequena mesa que fica encostada na parede do quarto deles e cada um tomou seu chá. a lívia perguntou se eu podia cantar a música da casa, 'aquela do cozinheiro de sopetão'. era 'a porta'. o joão perguntou se eu podia deitar na cama dele. e depois de cantar 'a porta' cantei 'se essa rua fosse minha', que o pai dele cantava tanto pra ele quando morávamos em boston e éramos muito, mas muito felizes.
e lembrei daquele documentário maravilhoso do coutinho cujo título não lembro em que uma mulher gorda e desengonçada canta esta música e no final do filme volta e pede para cantá-la de novo. ou não, acho que no final ela volta e diz que faltou algo que ela queria dizer, e então ela canta, com uma voz doce que corta o coração. ela conta dos pais dela, extremamente rígidos, e de como ela cantava esta música para a filha. e essa cena corta o coração da gente em pedacinhos porque mostra como todo mundo, t-o-d-o m-u-n-d-o, pode ser doce. muito doce.
eu queria que alguém muito, mas muito doce, arrumasse minha mala agora. que dobrasse as roupas, depois de tê-las escolhido no armário. e que fosse tão doce a ponto de me fazer dar risada de todo o peso que sinto, que me fizesse parar de ter medo de não dar conta da minha vida, e que me cobrisse com muitas cobertas e ficasse comigo até eu adormecer, assim como às vezes eu fico deitada ao lado do joão fazendo cafuné na barriga dele até ele dormir.

terça-feira, 23 de junho de 2009

cenas domésticas



os pãezinhos deram certo. eu atingi o nirvana quando experimentei um deles com geleia de cerejas pretas.



crianças na cozinha indicam o quão civilizada uma casa pode ser. no dia do aniversário da ale, fizemos um pão de ló sensacional de presente para ela.



esse é o resultado do pão de ló. agora com creminho amarelo feito de leite + leite condensado + gemas + creme de leite. e, por cima, geleia de cerejas pretas bem azedinha.



e finalmente faço uma foto - meia-boca, mas uma foto - do lustre de cristal que mandei colocar na sala. em homenagem à minha jovem amiga lu, que diz que blog tem de ter foto, at least!

as unhas de puta pobre e as chatices da vida

estava dirigindo de volta pra casa, na velocidade média de 10 km/h, e fiquei olhando pras minhas unhas vermelho-escuro, com pedaços de esmalte faltando. parece esmalte de china pobre, como se diz na minha terra. e naquela velocidade estonteante em que ia o carro, o meu celular tocou. chamada a cobrar, da empregada que trabalha em casa e que ontem saiu daqui com 38,5 graus de febre. ela não viria trabalhar hoje, me diz, com voz de quem tá muito, mas muito gripado.
quando olhei no relógio, vi que tinham se passado somente 40 minutos desde que eu tinha deixado a escola. pensei 'nossa, como eu vim rápido!, sempre calculo uma hora e hoje fiz em apenas 40 minutos!'. só que ainda faltavam uns 10 minutos para eu chegar em casa e hoje o trânsito estava fluindo mais do que na maioria dos dias.
às vezes o otimismo é uma característica nojenta. o meu, por exemplo, que costuma me acompanhar durante umas 23 horas e 33 minutos por dia, às vezes me enche. neste momento, curto os 27 minutos do dia em que ele foi dar uma volta.
já faz quase uma hora que cheguei em casa. louça lavada, lixo recolhido, camas arrumadas, roupas sujas no cesto. o telefonema que eu ia receber sobre um possível trabalho eu não recebi, e uma possibilidade de outro trabalho que parece legal é só uma possibilidade remota.
ontem minha empregada me passou as datas de uma viagem que ela tem de fazer à bahia, para ver a casinha que tem lá. ficarei duas semanas sem ninguém em casa quando retornar dos pampas com as crianças. pedi a ela que me indicasse alguém, e ela suspirou e disse que é difícil.
estou procurando um motorista. para viabalizar a minha vida. ainda não sei como vou pagá-lo, mas preciso de ajuda para fazer o transporte escolar. e, se deus quiser, as compras no supermercado e na feira. ueba!
a minha garganta dói, e eu tô tomando uns 14 remedinhos, juntando o meu incrível tratamento que vai me fazer ser uma nova mulher mais bolinhas e gotinhas e sprays pra fazer a tosse parar e a garganta não arranhar. mas pelo menos meus filhos pararam de vomitar, motivo pelo qual eles não foram à escola ontem.
os homens do metrô continuam animados e felizes, muito felizes. ontem à noite eles gritavam muito e cantavam, e eu penso se não devia mandar meu currículo para o consórcio da linha amarela do metrô, onde, aparentemente, todos os trabalhadores estão extremamente contentes. hoje de manhã os rapazes acordaram por volta das 5am, como fazem todos os dias, e deram socos nos contêineres que parecem ser os alojamentos onde eles moram enquanto trabalham nessa obra ao lado das minhas janelas. cantaram, assoviaram, gargalharam, e me acordaram antes do meu relógio tocar, às 5:30am. dia desses me liga o sujeito que trabalha no departamento de relações com a comunidade do metrô. ele responde por luiz e disse que estava em contato com o pessoal do consórcio da linha amarela, 'que não são do metrô', deixou claro. mas os caminhões continuam manobrando entre 21h e 23h, dando marcha à ré com aquele sonzinho sinistro ió ió ió, e continuam fazendo muito, mas muito barulho. liguei para o luiz, para reclamar mais um pouco, mas ele não retornou a minha ligação, feita há vários dias.
e agora eu vou calcular as férias da minha empregada e organizar a minha feliz viagem aos pampas com as crianças. que serão muito divertidas. porque o meu filho adora viajar, e já combinamos de ir à serra gaúcha e ao interior, visitar minhas doces tias. e eu vou levar uma bolsa térmica para carregar minha quínua e minha tapioca, ah ah ah, enquanto os seres humanos em geral comem pãezinhos deliciosos e bolos de cenoura com calda ou bolinhos de fubá.
acho que os 27 minutos estão chegando ao fim.
deus esteja.

domingo, 21 de junho de 2009

quando tem tempo, ela trabalha

a minha casa tem duas caras. cara de 'aqui moram crianças', que é todo dia. mas, de 15 em 15 dias, tem a casa 'isso é uma zona'. quando eu fico sozinha, lavo a louça quando não consigo mais chegar até a pia da cozinha e deixo bolsas e casacos e óculos de sol espalhados, além da cama desarrumada e jornais largados pelo quarto, pela sala e pela cozinha. agora, a casa tá assim.
estou fazendo pão. minhas habilidades com receitas são muito mais teóricas do que práticas. adoro descobrir novas receitas, guardá-las numa pasta, anotar receitas de amigas. mas executá-las não é comigo. dou as instruções, e lá vai a doce nalva satisfazer meus desejos gastronômicos. então coloquei a tigela com a massa de pão para crescer no sol. nunca ouvi dizer que isso faz o pão crescer - aliás, nunca ouvi ninguém dizer que PÕE o pão para crescer no sol. mas o único lugar da minha casa que é frio é a cozinha, que recebe a visita do sol somente no verão, por poucos dias, de manhã bem cedo. portanto, trouxe o pão para a sala ensolarada e quente.
a massa não cresceu nada. agora bolinhas de massa crua repousam sobre a fôrma, coberta por um pano de prato, sob o sol. daqui a uma hora saberei se os pães cresceram e se serão comestíveis.
hoje é domingo e eu não vou sair de casa. dormi mais ou menos 14 horas, o que acho que é uma vingança do meu corpo: já que não dá pra dormir durante a semana, ele aproveita o fim de semana. aliás, ele, o meu corpo, tem dado sinais claros de felicidade. no lugar de frios sinistros que eu andava sentindo, tenho morrido de calor. claro que não é à toa: uso mantas e cobertores e durmo com um casaco de lã pura mais um cachecol muito macio e que me aquece muito. nessas horas é uma felicidade muito grande dividir minha cama apenas com a montanha de travesseiros que vivem lá.
mas desconfio que outro motivo que faz meu corpo dar sinais de alegria por meio do calor que sinto - além da diminuição de quilos que ele tem de carregar, graças à minha adorável e sinistra dieta - é a alegria que eu tenho sentido.
ontem marquei um almoço num restaurante 'de carnes', conforme o desejo da minha amiga. um restaurante argentino delicioso. tinha espera, e eu sentei no balcão sossegada, e pedi uma norteña. quando minha amiga chegou, havia uma mesa vaga para nós. como sempre acontece toda vez que nos encontramos, falamos de tudo e ainda faltou tempo. mas ela tinha aula de dança de salão e eu tinha de dormir. nós não temos muito em comum, além da profissão e de termos passado por dois casamentos. mas ao mesmo tempo a gente conversa e nunca é necessário explicar nada. eu entendo o que ela diz e ela entende o que eu digo. ela anda tão, mas tão feliz, que tem tido pouco tempo para trabalhar. isso não quer dizer que ela não trabalha nem que trabalhe sem dedicação. ao contrário. mas ela tem descoberto coisas maravilhosas na vida, o que faz dela uma mulher belíssima aos 53 anos. ela reformou inteiro o apartamento que comprou e para onde acaba de se mudar; ela tem trabalhado de forma comedida; ela tem muitos amigos divertidos; e ela descobriu que por muitos anos ajudava todos sem parar. agora, ela cuida mais dela do que dos outros.
quando cheguei ao nosso encontro, eu estava lenta. na verdade, esse é o meu objetivo de vida, mas eu não consigo segui-lo diariamente. na noite anterior ao nosso almoço, eu fui com uma amiga a uma festa de aniversário onde eu iria encontrar pessoas dos velhos tempos. gente com quem trabalhei entre 97 e 2000, quando eu era bem mais jovem e bem mais besta. a festa era uma balada, som alto que me fazia gritar no ouvido das pessoas para poder me comunicar. eu e minha amiga brincamos que tínhamos deixado as bengalas em casa para irmos à festa. mas tava tão bom que fomos embora às 3am, coisa excepcional para velhinhas como eu e a carla. na verdade o melhor da balada não foi ter dançado, mas ter tido uma companhia ótima. nós íamos a muitas baladas há uma década, quando éramos mais jovens, mais bobas e tínhamos muito mais energia. demos muitas gargalhadas e, na hora de ir pra casa, cumprimos o combinado, que era voltarmos juntas. ela tinha deixado uns remédios no meu carro, que não cabiam na bolsa minúscula. disse pra ela que quando estivermos casadas e cheias de filhos, vamos sair juntas para dançar e dar risada.
antes da balada de sexta, fui jantar na casa de uma amiga de infância. fui não, fomos. éramos três mulheres, que se conhecem há 32 anos. os filhos da dona da casa estavam jantando quando a paula e eu chegamos. logo eles foram encaminhados pra cama, e comemos e conversamos. havia sopa de ervilhas e salada, e quando a dani sugeriu uma pizza, a paula e eu declinamos. mas mais tarde chega o marido dela, com pães fresquinhos do supermercado. e então elas fizeram a segunda refeição, agora com queijos, geléia e doce de leite. conversamos durante horas, coisa difícil quando na conversa estão envolvidas moças ou casadas (caso da paula), ou com filhos (meu caso) ou os dois (caso da dani).
um dia antes do frugal jantar entre amigas, uma outra amiga veio à minha casa tomar sopa e vinho. fazia tempo que não nos víamos, a gente não lembra quando foi a última vez. há um ou dois anos, ou um pouco mais. foi um presente. a gente conversou muito e eu fiquei pensando no que há com essas amizades em que a gente se vê tão pouco porque estamos todos loucos trabalhando e dando conta da vida mas que continuam sendo grandes amizades. a gente conversa e parece que nunca parou de se falar.
acabo de ver que as bolinha de pão não cresceram nada. isso quer dizer que vou fazer pães-sola-de-sapato, ah ah ah. e agora vou lavar a louça que entope a minha cozinha para poder almoçar.