terça-feira, 23 de junho de 2009

as unhas de puta pobre e as chatices da vida

estava dirigindo de volta pra casa, na velocidade média de 10 km/h, e fiquei olhando pras minhas unhas vermelho-escuro, com pedaços de esmalte faltando. parece esmalte de china pobre, como se diz na minha terra. e naquela velocidade estonteante em que ia o carro, o meu celular tocou. chamada a cobrar, da empregada que trabalha em casa e que ontem saiu daqui com 38,5 graus de febre. ela não viria trabalhar hoje, me diz, com voz de quem tá muito, mas muito gripado.
quando olhei no relógio, vi que tinham se passado somente 40 minutos desde que eu tinha deixado a escola. pensei 'nossa, como eu vim rápido!, sempre calculo uma hora e hoje fiz em apenas 40 minutos!'. só que ainda faltavam uns 10 minutos para eu chegar em casa e hoje o trânsito estava fluindo mais do que na maioria dos dias.
às vezes o otimismo é uma característica nojenta. o meu, por exemplo, que costuma me acompanhar durante umas 23 horas e 33 minutos por dia, às vezes me enche. neste momento, curto os 27 minutos do dia em que ele foi dar uma volta.
já faz quase uma hora que cheguei em casa. louça lavada, lixo recolhido, camas arrumadas, roupas sujas no cesto. o telefonema que eu ia receber sobre um possível trabalho eu não recebi, e uma possibilidade de outro trabalho que parece legal é só uma possibilidade remota.
ontem minha empregada me passou as datas de uma viagem que ela tem de fazer à bahia, para ver a casinha que tem lá. ficarei duas semanas sem ninguém em casa quando retornar dos pampas com as crianças. pedi a ela que me indicasse alguém, e ela suspirou e disse que é difícil.
estou procurando um motorista. para viabalizar a minha vida. ainda não sei como vou pagá-lo, mas preciso de ajuda para fazer o transporte escolar. e, se deus quiser, as compras no supermercado e na feira. ueba!
a minha garganta dói, e eu tô tomando uns 14 remedinhos, juntando o meu incrível tratamento que vai me fazer ser uma nova mulher mais bolinhas e gotinhas e sprays pra fazer a tosse parar e a garganta não arranhar. mas pelo menos meus filhos pararam de vomitar, motivo pelo qual eles não foram à escola ontem.
os homens do metrô continuam animados e felizes, muito felizes. ontem à noite eles gritavam muito e cantavam, e eu penso se não devia mandar meu currículo para o consórcio da linha amarela do metrô, onde, aparentemente, todos os trabalhadores estão extremamente contentes. hoje de manhã os rapazes acordaram por volta das 5am, como fazem todos os dias, e deram socos nos contêineres que parecem ser os alojamentos onde eles moram enquanto trabalham nessa obra ao lado das minhas janelas. cantaram, assoviaram, gargalharam, e me acordaram antes do meu relógio tocar, às 5:30am. dia desses me liga o sujeito que trabalha no departamento de relações com a comunidade do metrô. ele responde por luiz e disse que estava em contato com o pessoal do consórcio da linha amarela, 'que não são do metrô', deixou claro. mas os caminhões continuam manobrando entre 21h e 23h, dando marcha à ré com aquele sonzinho sinistro ió ió ió, e continuam fazendo muito, mas muito barulho. liguei para o luiz, para reclamar mais um pouco, mas ele não retornou a minha ligação, feita há vários dias.
e agora eu vou calcular as férias da minha empregada e organizar a minha feliz viagem aos pampas com as crianças. que serão muito divertidas. porque o meu filho adora viajar, e já combinamos de ir à serra gaúcha e ao interior, visitar minhas doces tias. e eu vou levar uma bolsa térmica para carregar minha quínua e minha tapioca, ah ah ah, enquanto os seres humanos em geral comem pãezinhos deliciosos e bolos de cenoura com calda ou bolinhos de fubá.
acho que os 27 minutos estão chegando ao fim.
deus esteja.

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