sábado, 13 de junho de 2009

os sonhos de dentro e os sonhos de fora

as crianças foram incumbidas de buscar lenha pra fogueira. e saíram animadíssimas para cumprir a missão. quando fomos ver, tinha muita lenha. depois a flávia e eu saímos com os seis pequenos para catar pinhas. não encontramos muitas, então catamos galhos secos dos pinheiros. no caminho até a porteria do sítio, várias poças d'água barrentas tentaram as crianças, e lá foram elas. pisaram em todas, no mínimo umas 24 vezes em cada. quando voltamos pra casa, elas tinham barro até no cabelo - olhos, bocas e testas incluídos.
a fogueira foi acesa, e comemos pinhão, castanhas, sanduíches quentinhos. e a flávia disse que estava no céu. o que eu chamo de nirvana. uma escuridão e a fogueira. eu tinha saído de são paulo na manhã do feriado, e surpresa!, demoramos quase três horas para percorrer um trecho que em condições normais de temperatura e pressão é feito em 45 minutos. meu filho dizia que podia vomitar caso eu desse uma freada - ele tinha vomitado trocentas vezes à noite, na casa do pai. mas como a cara dele, na minha seguinte pós vomitadas, era ótima, eu achei que não tinha problema nenhum pegarmos a estrada rumo ao sítio.
eu nunca pensei que eu andaria numa velocidade média de 10 km/h e ficaria feliz. mas foi o que aconteceu. aliás, eu nunca viajei na manhã de um feriado em são paulo, desde que cheguei a essa bela e cinza cidade. mas sempre tem a primeira vez.
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eu estava sentada num balanço pendurado por umas cordas longuíssimas nos galhos de uma árvore gigantesca e fiquei boquiaberta quando olhei colina abaixo e vi vacas e cavalos que pastavam. os animais pareciam imóveis, e eu tinha a impressão de estar diante de um quadro. um quadro que tinha na casa da minha avó, há quase 30 anos, e que eu não sei que fim levou. então a empregada do sítio apareceu na porta da casa para me dizer que a quínua que eu havia colocado para cozinhar tinha queimado. fui até a cozinha, mas a flávia já estava salvando a parte que não tinha esturricado no fundo da panela.
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amanhã de manhã vou fazer um bolo de aniversário para uma amiga. ela fez 40 anos e a festa será amanhã. de acordo com a receita portuguesa de pão de ló, deve-se fa6e-lo na véspera. mas ligar uma batedeira por 10 minutos à noite é insalubre. então amanhã o pão de ló será feito a seis mãos, e o creminho amarelo para o recheio e para a cobertura também. só não terei de fazer a geléia de cerejas que vai por cima, porque essa uma fábrica na frança já fez! eu não comerei o bolo, porque minha dieta sinistra prossegue, e eu não considero mais doces como doces. eu não os considero. ponto. ah ah ah.
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meu filho pede para eu correr na estrada. agora ele tem um número, diz que eu tenho de ir a 140 km/h. eu não digo pra ele qual a velocidade que ando, nem vou dizer aqui, é claro. meu bom senso está acordado. mas ontem vínhamos pela estrada, à noite, enquanto a livinha dormia docemente e o joão me pedia para desligar o som para ele dormir, coisa que não aconteceu. digo, EU desliguei o som, mas ELE não dormiu. vínhamos felizes, e quando chegamos à cidade grande, a marginal estava parada. assim como estavam paradas quase todas as ruas que pegamos para chegar em casa. saco, mas um saco grande. vontade de morar num lugar em que a estradinha de chão batido nunca veja mais de um carro passar por vez. mas não sei se eu conseguiria viver longe daqui, donde moro. que é um lugar tããão adorável.
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meu sonho de ser uma pessoa flexível está se realizando. estou começando a ver muito mais coisas boas do que ruins. e falo não só dos meus amigos, que me chamam para almoçar e jantar e viajar e cuidam dos meus filhos, mas dos meus sonhos também. os de dentro e os de fora.

terça-feira, 9 de junho de 2009

a diminuição da bunda, a alegria de viver e a tristeza de não comer


eu cheguei ao consultório dela achando que seria mais uma consulta de rotina. uma longa consulta, como sempre acontece, porque a minha médica é uma médica de verdade - sim, eu tenho uma médica que é minha clínica geral, que trata da minha saúde; das doenças eu consigo dar conta, por ora, eventualmente com um telefonema pra ela.
mais eis que não deitei na maca, que ela não mediu minha pressão tampouco escutou meu coração. não tocou da minha barriga, como sempre fazia. mas examinou meu corpo inteiro. ela mudou o approach. com o meu braço, ela descobriu algumas intolerâncias alimentares, viu que meus órgãos estavam muito fortes e que eu não tenho câncer.
achei tudo muito incrível, inacreditável talvez. e saí da clínica com duas folhas de papel cheias de prescrições. o que não comer e quais remédios tomar. 376 alimentos cortados e um milhão de remédios. e um tratamento complementar, que eu não vou comentar. um investimento físico, espiritual e financeiro. talvez dois guarda-roupas novos.
passado um mês, soube que várias pessoas já passaram por isso. ah, bom, eu não sou a única a sofrer! depois que a bunda diminuiu e as calças dançam no meu corpo, fiquei felicíssima. mas ando com sofrimentos profundos nas minhas idas ao supermercado. não posso olhar pra padaria nem pras prateleiras com massas. muito menos pros queijos.
mas as coisas melhoraram. é claro que não estou falando da balança, cujo ponteiro vai marcando cada vez números menores, mas de outra coisa. é difícil de explicar, porque eu não entendo muito bem. mas basicamente é assim: quando os alimentos viram fonte de cura, a vida melhora. e isso vem de dentro, não de fora.
acho que estou me embabananando para escrever. o que essa dieta mega restritiva tem a ver com a minha vida? eu acho que nada. mas o que acontece de fato é que TEM a ver. é como se algumas partes dentro de mim não estivessem encaixadas e agora, crec, se encaixaram.
me faz lembrar o dia em que resolvi que o casamento que eu mantinha não era mais um casamento. ou talvez fosse um casamento, mas um que não me deixava feliz. a imagem que eu trago dessa decisão, unilateral e solitária, é a de uma maçã madura caindo da árvore. neste caso específico, a maçã madura caiu na minha cabeça.
agora outras maçãs vão despencando. a visão fica clara, o coração fica livre e o corpo ganha nova vida.
mas meus pés andam frios, minha barriga anda gelada - falta de comida, me disse o roberto - e às vezes acho que estou excessivamente feliz. acordo feliz e durmo feliz, só com um pouco de tristeza, porque não comer é horrível. um sofrimento, uma dor. pra compensar - porque sim, tudo tem o lado bom -, uma certeza absurda de que as coisas estão no lugar certo. por coisas quero dizer eu, minha vida, meu trabalho, meus sentimentos. tenho certezas que nunca tive, e que nem sabia que eram possíveis.