terça-feira, 9 de junho de 2009

a diminuição da bunda, a alegria de viver e a tristeza de não comer


eu cheguei ao consultório dela achando que seria mais uma consulta de rotina. uma longa consulta, como sempre acontece, porque a minha médica é uma médica de verdade - sim, eu tenho uma médica que é minha clínica geral, que trata da minha saúde; das doenças eu consigo dar conta, por ora, eventualmente com um telefonema pra ela.
mais eis que não deitei na maca, que ela não mediu minha pressão tampouco escutou meu coração. não tocou da minha barriga, como sempre fazia. mas examinou meu corpo inteiro. ela mudou o approach. com o meu braço, ela descobriu algumas intolerâncias alimentares, viu que meus órgãos estavam muito fortes e que eu não tenho câncer.
achei tudo muito incrível, inacreditável talvez. e saí da clínica com duas folhas de papel cheias de prescrições. o que não comer e quais remédios tomar. 376 alimentos cortados e um milhão de remédios. e um tratamento complementar, que eu não vou comentar. um investimento físico, espiritual e financeiro. talvez dois guarda-roupas novos.
passado um mês, soube que várias pessoas já passaram por isso. ah, bom, eu não sou a única a sofrer! depois que a bunda diminuiu e as calças dançam no meu corpo, fiquei felicíssima. mas ando com sofrimentos profundos nas minhas idas ao supermercado. não posso olhar pra padaria nem pras prateleiras com massas. muito menos pros queijos.
mas as coisas melhoraram. é claro que não estou falando da balança, cujo ponteiro vai marcando cada vez números menores, mas de outra coisa. é difícil de explicar, porque eu não entendo muito bem. mas basicamente é assim: quando os alimentos viram fonte de cura, a vida melhora. e isso vem de dentro, não de fora.
acho que estou me embabananando para escrever. o que essa dieta mega restritiva tem a ver com a minha vida? eu acho que nada. mas o que acontece de fato é que TEM a ver. é como se algumas partes dentro de mim não estivessem encaixadas e agora, crec, se encaixaram.
me faz lembrar o dia em que resolvi que o casamento que eu mantinha não era mais um casamento. ou talvez fosse um casamento, mas um que não me deixava feliz. a imagem que eu trago dessa decisão, unilateral e solitária, é a de uma maçã madura caindo da árvore. neste caso específico, a maçã madura caiu na minha cabeça.
agora outras maçãs vão despencando. a visão fica clara, o coração fica livre e o corpo ganha nova vida.
mas meus pés andam frios, minha barriga anda gelada - falta de comida, me disse o roberto - e às vezes acho que estou excessivamente feliz. acordo feliz e durmo feliz, só com um pouco de tristeza, porque não comer é horrível. um sofrimento, uma dor. pra compensar - porque sim, tudo tem o lado bom -, uma certeza absurda de que as coisas estão no lugar certo. por coisas quero dizer eu, minha vida, meu trabalho, meus sentimentos. tenho certezas que nunca tive, e que nem sabia que eram possíveis.

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