terça-feira, 26 de outubro de 2010

tem outro blog no pedaço

http://sozinhaeodobro.blogspot.com/

pois é. primeiro a pessoa não gostava de blogues. depois, criou um. que era atualizado tãããão lentamente que às vezes nem parecia um blog.
e não é que agora vem outro? que pasa?

domingo, 17 de outubro de 2010

o texto do adeus

pensando num prato de massa super mega gordo, com molhos e carnes, me sento na cozinha para escrever, finalmente.
enquanto isso, minha filha tenta adormecer - quanto maior o cansaço, mais demora para chegar o sono - e meu filho está se divertindo numa festa da qual ele chegará muito tarde para os padrões familiares desta que escreve.
uma pilha de coisas boas para levar para um sítio estão sobre a pia. amanhã partirei - ou partiremos, porque aparentemente meus herdeiros não estão achando graça em passar o feriado com o pai - para ibiúna, para o sítio do fernando e da fátima. diversão garantida, e descanso também. tomaremos vinho, descansaremos à grande, comeremos com simplicidade - o maior luxo de todos - e ouviremos sinfonias de passarinhos antes do sol acordar.
e em grande estilo escrevo para me despedir deste blog, que chegou ao fim. quem me disse isso eu não vou contar. mas a minha cabeça está cheia de novas ideias, coisa que não acontecia havia muitos anos, porque eu estava ocupadíssima em dar conta dos meus dois filhos e de mim mesma. estava realmente sem tempo.
mas agora é diferente. estou com tempo. claro que estou falando do tempo de dentro de mim, não do de fora. sim, é uma ideia um pouco abstrata, e nova para mim. puta que o pariu, por que este computador para desse jeito??? mas esta jeringonça faz parte do processo. sim, minha máquina tem 8 (!!!) anos e será aposentada assim que meu computador com a maçãzinha chegar.
mas sobre o que estávamos falando mesmo? bom, acontece que o meu coração anda animadíssimo, e com ele estou animadíssima também. tenho falado e pensado com o coração e com a cabeça. mas às vezes tem um delay, e o coração fala primeiro, e só depois a cabeça fica sabendo o que está acontecendo. é uma experiência diferente.
a vida vai andando igual mas muito diferente. meu dinheiro ainda acaba antes do fim do mês - mas que saco que algumas coisas demoram tanto pra passar, não? -, mas tenho reclamado menos. tenho evitado olhar a sujeira do lar, evitado surtar com o valor do meu saldo negativo, e nem tenho sentido tristeza. aliás, hoje ouvi de uma pessoa uma frase que eu adoro: ela disse que é muito divertido ter filhos. filho, no singular, no caso dela, que tem uma filha. essa é a outra parte boa: das pessoas divertidas lindas e sinceras que eu encontro todos os dias. uma delícia.
nossa, como é difícil dizer tchau. estou há muitos e muitos dias pensando que tenho que escrever. aí escrevi um rascunho. tudo porque é difícil tirar da frente o que não é mais para estar na frente.
depois de eu passar umas noites insones até criar este blog, agora passo algumas horas dos meus dias pensando no fim dele. na verdade, é mais um fechamento do que um fim. porque um blog não acaba, a menos que ele seja apagado. o que não é o caso.
eu não sei explicar. assim como achei estranho quando comecei a escrever aqui, acho estranha a minha vontade de escrever pra dizer adeus. pronto, falei. ah ah ah.
estou aqui pensando, mas nunca fui muito boa com datas e dados específicos - nomes, títulos e quetais. portanto, não lembro direito quando tudo isso começou. acho que foi em 2008, porque lembro que viajei para minas. mas não vou pesquisar isso agora.
o que sei é que a imagem das orquídeas veio como um presente, em um sonho. estávamos eu e o pedro veríssimo, que eu não vejo há muitos e muitos anos.
eis que uns anos - e muitas lágrimas - depois, tudo ficou claro. sim, envelhecer tem seu lado bom. bom, não. excelente. os olhos enxergam com mais clareza. mesmo que os graus dos óculos aumentem. e o coração sente com mais clareza também. mesmo que o corpo já não seja tão resistente como era.
ora pois. como é difícil colocar algumas coisas em palavras.
eu ando pensando mais do que falando. o que é um fato inédito. mas é muito divertido. como vou falar disso? eu tenho pensado pra dentro, olhado pra dentro, sentido pra dentro. o oposto de olhar pra fora. é esquisitíssimo.
é mais ou menos assim: eu sempre falei muito. depois comecei a escrever muito - e continuei falando muito. aí, quando tudo ficou uma merda, eu, além de falar e de escrever muito, sofria muito. um horror, o ó do borogodó.
mas como tudo na vida passa, o horror também passou. uau, estou conseguindo escrever. então agora falo menos, escrevo menos e sofro memos. bingo! se alguém quiser a receita, favor me contatar. mas cobro em euros. eh eh eh.
todas as vezes em que o "texto do adeus" passou pela minha cabeça, ele tinha palavras e ideias totalmente diferentes das que eu estou escrevendo agora. puta merda. ah, a boca ainda tem resquícios de imundície.
é isso. arrivederci.
...
não tenho a menor ideia de quantas pessoas vão ler este texto. aliás, nunca quis saber quantas pessoas liam, porque eu escrevia porque queria escrever - nunca escrevi para "as pessoas lerem". mas foi sempre um cafuné na alma saber dos que leram.
...
o texto foi escrito faz uns dias. mas demorei até para apertar no botão "publicar postagem". se este texto tiver sido um equívoco, vocês logo saberão.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

mas por que mesmo ter um blog?

eu jurei que ia ser mais zen
e assim passei o dia dirigindo
e nem achei ruim

depois fiquei pensando
que faz tempo que não escrevo
e isso só acontece quando não tenho nada pra escrever

ando mau humorada
achando que tudo é muito chato
e sabendo que o mais chato sou eu

e o pior é que pouco me importa
porque finalmente meus dois pés
tocam o chão 24 horas por dia

e de repente eu tenho menos dúvidas
mas acho tanta gente chata
e tanta coisa sem graça

acho que o que eu tinha pra escrever eu já escrevi
e que é hora de dizer umas coisas
pra mim mesma

pra eu saber o que mudou
assim sem mais nem menos. graças a deus
porque eu não aguento coisas demoradas

finalmente não tenho nenhuma fantasia de mudanças
nem de grandes acontecimentos
porque comecei a gostar de coisas muito singelas

acho que virei gente
e devo virar um pouco mais gente
todos os dias

os filhos são poucos
e os amigos também
e eu nem posso acreditar. zen?

ando viciada em cancelar coisas não importantes
e lembrar de bobagens que aconteceram há mais de dez anos
até meus cabelos longos me causam estranheza numa foto desconhecida

mas que coisa
eu escrevendo assim
pra tentar entender o que ando enxergando

a marianinha nasceu
e é a coisa mais linda do mundo
e eu ando chorando de felicidade

hoje me perdi, e só fiquei brava
tão brava que chorei
e gritei de raiva dentro do carro até entrar sem querer na rua escondida

agora chega, isso é só um escrito curto
só pra eu saber
que tá tudo diferente. ponto

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

sobre trabalho, trânsito, prevaricação e loucura

eu levaria uma hora para voltar pra casa, e outra meia hora para vir à escola buscar as crianças.
A motorista tinha uma consulta médica às 11h. e talvez se atrasasse para buscar as crianças. Então resolvi não ir ao escritório, mas trabalhar em casa, para poder buscá-las. Mas feitos os cálculos do tempo gasto para ir e voltar da escola e depois ir novamente para buscá-las, vim trazê-las e não voltei.
Primeiro fiquei em dúvida se isso seria útil. Aí lembrei da 1 hora e meia ou duas horas que eu deixaria de estar sentada no carro e tive certeza que sim. Mas quando pensei que mui possivelmente eu não conseguiria me conectar à internet, a dúvida voltou.
Mesmo assim, preparei minha pesada mochila. Caso desistisse, voltaria pra casa. Mas aqui estou eu, sentada num canto da maravilhosa biblioteca da escola das crianças. Em meia hora, li dois textos que eu tinha de ler e que estavam no meu computador. Daqui a pouco, vou partir pros textos em papel que tenho de ler e onde tenho de fazer anotações, ter ideias e marcar minhas dúvidas.
Mas fiquei pensando: como as pessoas do escritório saberão que estou trabalhando se estou offline? Mas por que mesmo as pessoas do escritório TÊM DE SABER que estou trabalhando? Não basta eu trabalhar?
Pronto, cheguei ao ponto que estava me perturbando quase a ponto de me fazer ficar parte da manhã sentada no carro para ser mais “produtiva”. De onde é que surgiu a ideia de que pessoas que estão conectadas estão trabalhando? Aí quem está offline está prevaricando?
Eu consegui passar um fim de semana inteiro sem nem olhar pro meu computador. Não que isso seja um acontecimento. Mas saí do trabalho sexta no final da tarde e só fui ver e-mails na segunda, depois das 8am. Achei glorioso.
E agora estou aqui pensando em como fazer as pessoas saberem que estou trabalhando se não estou respondendo e-mails nem mandando mensagens via messenger.
Talvez seja esse mesmo pensamento tolo que faz muitas pessoas carregarem computadores para reuniões onde se discutem ideias. Aí temos a impressão de que vamos pensar melhor com uma tela azul na nossa frente. É bizarro.
Eu não leio e-mails no celular. E jamais carrego meu computador quando viajo. E mesmo assim, acho que me enquadro no grupo “os tolos que acham que estar online é tudo”. Socorro. Como posso me curar deste mal?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

o dia de motorista (ou: por que as mães ficam cansadas?)

eu vim dirigindo pra casa com vontade de dormir. toda vez que o farol fechava, eu quase fechava os olhos e ficava espiando pra ver se os farois vermelhos do carro da frente estavam perto ou longe de mim. pra saber se era hora de engatar uma primeira ou se eu podia quase fazer de conta que ia dormir e esperar mais um pouquinho.
passei o dia dentro do carro. e entre uma saída do carro e outra, trabalhei.
5am - acordei
6:30am - saí de casa, peguei os filhos da roberta do outro lado da ponte, e levei as quatro crianças pra escola
7:45am - saí da escola e peguei a estrada muito fluida
8:30am - passei pela esquina de casa e resolvi dobrar, entrar na garagem e ler o jornal em casa
9am - saí de casa para uma reunião na paulista
12:30 - terminou a reunião, e eu vim pra casa almoçar. coisa rara
1:30pm - saí de casa com a lívia, rumo à dentista
2pm - mesmo com muito, muito trânsito, chegamos na hora
3pm - saímos da dentista. olho no relógio e vejo que até comprar o sorvete da lívia, seguindo instruções da dentista - "ela merece um sorvete porque tem escovado os dentes muito bem" - e chegar em casa, ela se atrasaria pra natação. ligo pra casa e digo que a lívia vai direto pra natação
3:30pm - lívia e eu vemos joão e nalva na esquina. eles estavam andando em direção à natação. damos carona pra eles, e o joão acaba ganhando um sorvete também.
3:40pm - deixo todos na natação e vou pro trabalho
4pm - chego ao trabalho exausta. parece que a reunião que aconteceria às 17h não vai acontecer. mas acontece. só um dos participantes cancelou sua presença
4 e pouco - leio um e-mail bizarro do meu irmão, dizendo que é bom que eu e minha irmã desencalhemos até o natal, para que tenhamos pessoas novas nas comemorações. minha irmã responde, dizendo que meu tio de 70 e poucos anos que ficou viúvo há um já desencalhou. dou gargalhadas sonoras. foi mal. quem está perto de mim fica olhando e pergunta se tá tudo bem
5pm - começa a reunião. por isso que eu tinha ido até o escritório hoje
6pm - fim da reunião. mando uns e-mails, faço umas anotações, desligo minha máquina e vou-me
6:30pm - chego em casa. digo tchau pra nalva. e nem chego a ficar triste por não ter ido ao lançamento do livro de um colega de trabalho (afe, colega de trabalho é dureza, hein?)
8:14pm - termino de escrever este texto. estou morrendo de sono, e vou dormir. espero que os sonhos sejam óóótemos.

domingo, 29 de agosto de 2010

eram só mulheres

combinamos um almoço. do tipo que não dá trabalho. e se eu entrar em detalhes, parece até que vai perder a graça. mas eu vou entrar em detalhes, e se parecer sem graça, é engano. frango que um motoboy entregou na porta da casa, salada de rúcula, molho pra salada de um livro de receitas de um restaurante megablaster vegetariano de londres. ah, como posso esquecer, ervilha torta al dente, tomatinhos e palmito em rodelas.
mas antes de nos sentarmos à grande e bela mesa, comemos pão italiano e pão sueco com sardela cheia de pimenta e queijo de cabra cremoso e maravilhoso.
mas é claro que eu não pretendo descrever o frango da padaria - sei lá se era da padaria, mas suponho que sim.
na verdade, éramos quatro mulheres e um homem. mas este estava no carrinho, fazendo os barulhinhos típicos que um bebê pequeno e feliz faz no carrinho. bebemos vinho rosé e outros vinhos. mas antes tomamos chimarrão. menos a mãe do rapaz, porque moças que amamentam não bebem vinho nem chimarrão.
o que mais deu trabalho na preparação da nossa frugal refeição foi lavar a rúcula. e talvez espremer o limão para o molho da salada. mas a gente não estava preocupada com isso. os planos de se fazer uma torta para acompanhar o prato principal foram abortados. a gente queria conversar, e a torta era de fato dispensável.
como é bom beber falar comer e dar risada. uma dava de mamar para o filho, e fez uma bizarra mas eficaz compressa de ricota no seio esquerdo para tratar de uma incômoda mastite - aos leigos, uma explicação: mastite é uma inflamação que pode dar em moças que amamentam - entre uma mamada e outra. a segunda reclamava das vacas magras na vida afetiva. a terceira preferiu não tecer comentários sobre o tema - há assuntos que por vezes ficam muito chatos depois da milésima repetição. e a quarta dizia que no mundo gay não existem problemas, pelo menos no que se refere a relacionamentos sexuais - será que afetivos também?
as três não gays da mesa rapidamente perguntaram se "a vida gay é mais fácil". não, concluímos todas. ufa!
das quatro, duas têm filhos. uma delas acaba de ter o terceiro, desta vez sem marido. o rapaz arranjou uma namorada e se foi. agora mora na casa da namorada, mãe de três filhos. e de 15 em 15 dias busca os seus dois filhos - o terceiro é um bebê e não vai junto - para passar o fim de semana na casa da nova mulher.
como todo homem que se separa dos que nós conhecemos - nós as quatro mulheres -, ele mudou seus princípios depois que mudou de mulher. antes ele contava história para os filhos dormirem, agora ele liga o timer da TV e as crianças pegam no sono com o aparelho ligado. ah, vá!
mas a verdade é que não nos detivemos no comportamento nada exemplar de alguns rapazes que conhecemos. falamos mais é sobre as moças que casam com rapazes bobalhões. esses mesmos que depois arranjam uma namorada quando a mulher está grávida. e que se mostram tão pueris quando poderiam pelo menos mostrar que são homens de verdade. ai que preguiça.
mas é pra frente que se anda. e há moças neste mundo que dão conta de criar filhos sozinhas. minha amiga é uma delas. sofreu, chorou, mas a barriga cresceu e ela está linda, forte e ainda ganhou de presente do céu um filho. ela nunca esteve tão bem. tão bem que teve hoje a mesa da sala cheia de amigas, tá magérrima, e já consegue fazer piada a respeito - e na frente - do ex.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

ela foi viajar bem feliz

os filhos dela têm idades díspares. o mais velho tem 11, a do meio tem 6, e a menor tem quase 2. e então ela pensou que já era hora de retomar ao trabalho de um jeito mais intenso. e foi viajar por quatro dias, a trabalho. um dia em cada capital do nordeste. os filhos ficaram com o marido. e com a babá e a empregada.
e a viagem dela me fez lembrar das viagens que eu fiz no mesmo esquema, "está na hora de pegar novos projetos". a primeira vez, meus filhos tinham 5 e 2 anos, e ficaram com uma empregada na casa dos meus pais. eu viajava durante cinco dias, e voltava no fim de semana. foram duas semanas assim.
a segunda aventura foi um ano depois. o joão tinha 6, e a lívia, 3. fui pra minas, e meus filhos ficaram em casa. de dia a nalva cuidava deles, e à noite e nos fins de semana meus pais davam conta do recado. foram outros 15 dias, mas desta vez sem voltar pra casa nos fins de semana.
pensando em tudo isso, dentro do meu carro, de manhã cedo, me deu um frio na barriga. quanta coragem a gente tem de ter! primeiro pra ter filhos, depois pra cuidar deles, e aí para armar esquemas para deixá-los.
tenho a impressão de que férias familiares são sempre tônicos para a vida. é sempre bom ficar longe para ter saudades, lembrar do cheiro, abrir espaço dentro da gente pra lembrar das coisas boas. mas só dá pra tirar essas férias quando o peito tá cheio de coragem. pra ir sem medo e sem culpa. trabalhar passear aproveitar. e voltar feliz.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

uma vida mais feliz, com menos coisas


primeiro deu no new york times, semana passada. hoje, a folha publicou em português. a matéria versa sobre a felicidade e as coisas. no caso, sobre como "coisas" não trazem felicidade.
a versão em inglês era mais completa, mas a em português ainda é uma bela história.
é sobre um casal, que juntou pilhas e pilhas de pertences não tão úteis, doou, e foi morar num lugar menor. sem dívidas, os dois trabalham menos, porque gastam menos, e bingo!, dizem ser mais felizes. Roddykittens.com é o site de Tammy. ali ela fala da maravilhosa vida simples que ela e muitas outras pessoas levam.
a matéria fala de "adaptação hedonista", que até então para mim era "o ser humano se acostuma a tudo". mas o legal é o ponto de vista: se compramos uma casa, logo nos acostumamos a ela. se compramos um carro, o mesmo acontece. ou seja, vamos seguir comprando, comprando, comprando.
o texto ainda conta a história de um cineasta, Roko Belic, que há quatro anos roda um documentário. o título? "Happy". fala Belic: "o único traço comum entre todas as pessoas felizes são as relações fortes".

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

'adorando a vida de separada', ela escreveu

dias cinzas e frios, olhos que só enxergam em preto e branco, a boca suja.
era cedo de manhã, e me sentei com uma amiga para tomar um cafezinho. a bebida era desculpa, porque ela nem bebeu nada. conversamos sobre as férias dos nossos filhos, e ela me conta, com uma serenidade assustadora, que foi demitida. 'agora somos dois', disse ela. o marido também está sem trabalho.
e antes que meu estômago virasse vinte vezes dentro da minha barriga, ela foi me contando os planos. procurar trabalho E abrir um restaurante. ela falava calma e pausadamente, e quando dissemos tchau uma pra outra, eu tava impressionada. pensei que podia ter um bom dia, acontecesse o que acontecesse.
o dia não foi bom. várias coisas chatas. e um mau humor escandaloso quando cheguei em casa.
então tentei de novo. abri uma norteña, liguei para minha amiga que acaba de ter o terceiro filho, organizei uns papéis, jantei quando estava morrendo de fome. fui dormir com falta de ar e quase feliz.
às 4h56 olho no relógio e digo qualquer palavra imunda. teria de sair da cama em 4 minutos, e pensei nossa, por que o mau humor? o relógio que custou menos de 10 reais caiu no chão quando fui desligar o alarme, e o plástico que protege o papel com os números e os ponteiros voou pra debaixo da cama. nada como produtos chineses ordinários: o plástico não fazia clic pra encaixar. só encostei e ele, o plástico, ficou no lugar.
meus filhos riram com doçura quando partiram pra escola no carro do nêco. ele tinha dito que os filhos dele estavam atrasados, e que por isso levaria só o joão e a lívia. o paulo e a mari iriam mais tarde. 'faz de conta que eu tenho outros filhos', ele disse. e as crianças adoraram. me deram tchau com o vidro do carro aberto, as mãozinhas pra fora.
cheguei cedíssimo ao trabalho e fiquei tentando não esquecer da minha tentativa de ter um dia bom. quando tomei banho e demorei muito mais do que os 5 minutos habituais, tinha pensado nisso: posso fazer as coisas de um jeito diferente ou simplesmente encará-las de um jeito diferente.
uma manhã longa mas não chata, e minha amiga que mora mui longe me escreve: 'adorando a vida de separada'. morri de inveja da alegria dela quando lembrei que chorei muito, muito, quando me separei. chorei tanto que emagreci 10 kg.
mas fiquei dando risada. perguntei do que ela estava gostando, e ela respondeu: 'tenho um novo namorado fa-bu-lo-so'. como a vida pode ser linda. mesmo em dias incrivelmente cinzas.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

minhas máquinas de lavar

só me dei conta disso ontem à noite: acabo de comprar a minha primeira máquina de lavar. minha, só minha, comprada com o meu dinheiro. e de ninguém mais.
aí fiquei pensando em como eu tinha chegado perto dos 40 anos sem nunca ter tido uma máquina de lavar roupa só minha. e um filme passou pela minha cabeça. não tenho certeza se vou me lembrar de todas as partes, mas vamos lá.
a primeira máquina foi comprada pelo meu então namorado quando eu saí de casa e fui morar num apartamento com ele e um amigo dele. era uma enxuta, e devia ter capacidade para 5kg.
depois fomos morar noutro apartamento, agora sem o amigo dele, e acho que essa mesma máquina nos acompanhou. lembro que teve uma época em que ela saía "pulando" pela área de serviço durante a centrifugação. isso fazia com que uma pessoa tivesse de estar por perto nessa hora, para evitar danos graves à máquina e às paredes.
quando viemos morar em são paulo, eu não consigo lembrar de máquina de lavar no apartamento. logo depois me separei e fui morar sozinha, e então tive uma enxuta pequena de novo, dessas que dançam na área de serviço. terá sido essa a minha primeira máquina e eu não lembrava? não sei.
essa máquina, cuja procedência não me vem à cabeça, me acompanhou na casa que aluguei quase no meio do mato em cotia, e depois no apartamento no 15º andar de um prédio em pinheiros, onde eu tinha resolvido que ficaria solteira. mas meses depois me casei, e acho que quando me mudei com o alessandro devo ter levado a mesma máquina. e foi com grande alegria que nesse novo apartamento compramos uma máquina nova, agora grande, brastemp. estávamos mui entusiasmados. depois fomos pra uma casa e a máquina foi junto. e quando nos separamos, a tal da máquina ficou com ele.
vim morar no apartamento onde moro desde então, e ele, o apartamento, já tinha uma máquina. grande, brastemp. que eu achava ótima. até quebrar pela primeira vez. depois ela quebrou outras vezes.
e no sábado, enquanto eu tomava um vinho bem feliz, escutei um barulho de água que não era o barulho de água que a máquina costumava fazer. fui até a área e o que eu havia pensado estava de fato acontecendo: a água jorrava para FORA da máquina. pacientemente peguei o rodo e dei um jeito na pequena lagoa. centrifuguei a roupa cheia de sabão e pensei: está na hora de comprar uma máquina nova.
mas não foi um impulso. peguei as notas dos consertos dessa máquina que já devia estar velhinha, fiz uma pesquisa de preços in loco e na internet, e ainda liguei para o sujeito mais mão de vaca que conheço, que é o meu pai. tudo me levava a uma nova máquina.
compra feita no domingo. a máquina chegaria em 48 horas. doei a velhinha pra santa nalva, comprei uma tomada nova, e esperei. segunda, e nada. terça, e nada. só um e-mail dizendo que 'a transportadora pode ter tido problemas'. sim, a transportadora tinha tido problemas.
ah, e na segunda pedi à nalva que tirasse a máquina velha para deixar espaço para a nova. então descubro, depois de um telefonema que recebi à tarde da própria nalva, que a área de serviço do apê não tem um registro para a lavadora. isso significa que para tirar a máquina velha foi preciso fechar o registro de água da cozinha, o que também afeta a água quente do meu banheiro. mas quem tem medo de banho de canequinha?
o primeiro banho foi na banheira, onde joguei panelas com água quente (a água fria da banheira não havia sido fechada). no outro dia, fui tomar banho no microbanheiro anexo à área de serviço. do chuveiro elétrico saía água, mas não só dos furinhos. a água ia jorrando de vários lugares diferentes.
ontem, três dias depois, a máquina chegou. hoje de manhã ela foi inaugurada e lavou os edredons das crianças. e enquanto minha filha comia um pãozinho com geleia no meu colo e eu fazia carinho na barriguinha dela, perguntei se ela estava feliz de ter voltado para casa depois de uma semana na casa do pai. e ela disse: "gostei de voltar pra casa e gostei da máquina nova. ela é muito bonita'.
uau! todos ficamos felizes. ainda bem que às vezes é fácil assim ficar feliz.

domingo, 18 de julho de 2010

sobre a vida sem celular

ela foi direta: 12 dias.
eu havia comprado um aparelho de celular fazia menos de um mês. o que eu tinha caiu no chão pela milésima vez e não resistiu: partiu-se em dois. eu tentei juntar as duas peças, pensando "vai dar certo, vai dar certo, só mais um pouquinho". mas não deu.
e lá fui eu pra loja da operadora comprar uma engenhoca nova. pedi o aparelho mais simples que exisitisse. expliquei que só uso celular para fazer e receber chamadas, para mandar mensagens e para me acordar de manhã.
a solícita atendente me mostra dois aparelhinhos, um por 29 reais, outro por 69, que tinham desconto devido aos "meus pontos". ia comprar o de 29, mas meu filho disse "compra esse, mãe, vai, compra", que era um motorola (ponto negativo) quadrado (bonito) e com teclado fácil de digitar mensagens (incrível).
mas eis que meu brinquedo novo veio fraco. a bateria do maledeto dura quatro dias. liguei para o fabricante, que me disse que pra quem usa o telefone "só como telefone" sim, a bateria teria de durar mais do que meros quatro dias.
depois de uma semana atrás de assistências técnicas que fossem perto da minha casa ou do meu trabalho, levo o aparelho ao endereço indicado pelo serviço telefônico da motorola, mas a assistência não exisitia mais ali.
sábado sigo feliz da vida pra outro enredeço. e ali que a moçoila me informa que "como o celular está na garantia, ele será enviado pra fábrica e o conserto demora 12 dias". ah, bom. já que ele tá na garantia, o serviço demora mais. sensacional.
mas eu não falei nada. eu fiquei muda, olhando pra ela com meus olhos bem abertos, pensando uau, vamos experimentar uma vida emocionante, sem um relógio/telefone para me acompanhar.
me sinto praticamente uma monja. depois de ter jogado no lixo um maço de marlboros e estar vivendo sem inalar fumaças nojentas, vou dormir e acordo SEM um telefoninho ao meu lado. ainda não sei como vou acordar amanhã, já que meu despertador tá na fábrica da motorola.
o lado bom disso tudo é experimentar viver com menos COISAS na minha vida. as pessoas que quiserem falar comigo podem ligar para a minha casa, podem me mandar um e-mail, podem me mandar um telegrama ou vir me visitar. simples assim.
avisei meus filhos e meus pais que por uns dias eles só poderão falar comigo ligando para a minha casa ou para o meu trabalho.
mas a verdade é quando saio de casa e olho pra dentro da minha bolsa, acho ela muito vazia. não há mais cigarros nem isqueiro nem o telefone. a bolsa tá leve, leve. e isso dá um alívio e um medo ao mesmo tempo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

sobre a vida sem cigarros - hum, parece que já escrevi isso

outro dia tava lendo um texto da danuza leão sobre a saudade do cigarro. mas o melhor era ela dizendo que quando alguém perguntava como é que ela tinha conseguido para de fumar, ela contava tudo, tintim por tintim. morri de inveja. da coragem e da felicidade dela.
e agora cá estou eu, morrendo de saudade dos marlboros, e feliz da vida porque eu também parei de fumar.
hoje vou comemorar que os mais horríveis dias já passaram, que foram os sete primeiros. agora só é ruim. e daqui a uns dias, espero, não vai ser nem ruim.
no livro que li a respeito do edificante assunto "parar de fumar", o autor sugere que o ex-fumante tenha pessoas em quem se apoiar em momentos críticos. e eu pensei cá com os meus botões: meu pai, um não-fumante que já foi fumante e depois ex-fumante, e que odeia cigarros, pode ser de uma ajuda maravilhosa.
ainda não usei a ajuda. mas o velho foi uma das primeiras pessoas a saber da novidade, e um entusiasta que ficou felicissímo ao ouvir as boas novas.
já passei por alguns testes: cerveja na beira da praia, jogo do final da copa, chopp no bar com uma amiga, jantar sozinha em casa e, pior dos piores, andar na calçcada à noite bem triste da vida e ver vááááárias pessoas passando por mim com um cigarro pendurado entre os dedos.
sobrevivi. e como diz uma amiga minha, "um dia depois do outro". simples assim. basta encher a barriga de ar toda vez que ele faltar, e lembrar que tudo passa, e que isso também passará.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

as frases célebres

bom, eis que os dias passam, eu me divirto com as minhas férias sem filhos - continuo trabalhando, mas não tenho de voltar pra casa depois disso porque meus filhos não estão lá - e faz muito tempo que não escrevo.
numa tarde chuvosa em que as horas se arrastam, vou resolver isso.
...
dia desses, eu estava me arrumando pra sair para o trabalho quando perguntei aos meus filhos se a minha roupa estava legal. ao que meu filho, que tem 8 anos, disse: "mãe, se você fosse modelo, você seria demitida". uia! achei tão sensacional que deixei a frase num rascunho deste blog. e fiquei pensando no que deve passar pela cabeça dos meus pequenos herdeiros quando eles vêm com essas pérolas...
...
eu andava com desejo de comer uma comida gorda. e então lá fomos nós, minha amiga e eu, até um restautante que faz muitos tipos de massas e que fica no mesmo quarteirão onde trabalhamos. o almoço, gordo, estava ótimo. mas o melhor foi a sessão descarrego. uma olhava pra outra e falava coisas que não se falam num almoço de um dia qualquer da semana, entre o expediente matinal e o vespertino. e aí ela disse: "qualquer expectativa é brigar com a realidade". e foi como se alguém me mostrasse um filme que eu já tivesse visto muitas vezes mas nunca tivesse entendido e, de repente, o filme passasse a fazer todo sentido. viemos andando pela calçada às gargalhadas, e repetindo a frase dela muitas vezes, para não esquecermos. eu anotei o dito no mesmo rescunho deste blog. pra não esquecer.
...
ia escrever sobre a vida sem marlboros. mas deixo pra outro dia.

domingo, 4 de julho de 2010

sobre as coisas (bobas?) que trazem felicidade

os dias estavam maravilhosos. céu azul, sol quentinho. e um ar seco, que faz parte da vida de quem mora na cidade cinza. férias escolares, muitas horas de sono e o bom humor dos dias felizes.
chamei o faxineiro do prédio, que já trabalhou com obra, para resolver o vazamento da ducha do banheiro. eu tinha comprado uma borrachinha por módicos 50 centavos, tinha desenroscado a peça de onde sai a água e trocado a borrachinha velha, que tava amassada. mas a água continuava vazando quando eu ligava a torneira. o jailton olhou, mexeu, e me disse que o problema não estava na borrachinha, e que ele não sabia como resolver. era preciso chamar 'alguém que entenda', me falou.
tudo bem. o encanador vai me cobrar 50 reais, que é o que cobra para fazer serviços que levam de 10 minutos a cinco horas. vou ligar pra ele, e pensar que estou contribuindo para a divisão de renda do mundo.
adoro a tristeza, porque é o único sentimento que faz tudo andar mais devagar. ou como diz o mestre, é o sentimento que nos conecta com o coração. ponto.
e na lerdeza em que tenho vivido, fiquei contente com coisas que parecem tão bobas.
tudo começou quando fui fazer as contas do mês. parte chata da vida, mas como digo pro meu filho quando ele diz que não quer fazer alguma coisa, 'faz sem querer'. fiz as contas sem querer fazê-las. aí fiquei pensando nas minúsculas alegrias do dia a dia. eis as que contabilizei no fim de semana:
- lápis bem apontado. delícia. você escreve e a pontinha fina do grafite faz qualquer bilhete de merda ficar um bom bilhete
- preguiça. que maravilha não colocar o despertador pra tocar, quando sei que no máximo às 8am meu sono terá acabado. mas o melhor de tudo é acordar, não olhar no relógio, abrir as janelas e saber que o dia começou mas EU ainda não comecei
- pão com mortadela. o brasil ia jogar, as crianças não estariam em casa, e eu estava lenta. comprei pão francês quentinho e mortadela, que comi vendo o jogo, antes de o jogo ficar uma nhaca
- chimarrão. uma erva amarga maravilhosa, que eu comprei no mercado municipal de porto alegre, manda pra ásia meu mau humor e traz conforto
- filhos de férias. as crianças têm férias porque precisam delas. e porque precisam ficar em casa, sem fazer nada. como o corpo delas sabe disso, elas entram num ritmo lento. no caso da minha casa, isso significa noites de sono de 13 horas. o suprassumo do luxo (as pastilhas suprassumo não existem mais, creio. ai que saudade)
- sorvete de pistache. eu nunca compro sorvete para mim. compro para NÓS. meus filhos comem sorvete forazmente. mas dia desses me deu uma vontade, e eu comprei sorvete de pistache. dias depois, deitada na cama, lendo, lembrei dele, que estava no freezer. devorei um pote deitada na cama, e atingi o nirvana
- incensos. comprei uns pacotinhos de incensos mui baratinhos que têm o cheiro dos incensos que eu queimava quando era casada, vivia com pouco e era muito feliz
pronto. a pequena lista que fiz no fim de semana é essa. e só de pensar que fiz essa lista fico feliz.

terça-feira, 29 de junho de 2010

chega de apagar textos

acabo de apagar mais um. tenho escrito e apagado textos compulsivamente faz mais de uma semana. agora me sento mais uma vez para escrever. sobre o que mesmo? sobre os dias duros.
diz minha amiga flávia que a gripe é a tristeza da alma. quando falei isso a ele, ele soltou uma gargalhada. e eu fico entre os dois. bem no meio. acho que é um pouco verdade, mas não tudo verdade.
meu filho me ligou chorando hoje de manhã. a barriga dele doía e ele me perguntava o que tinha de fazer. não me lembro bem, mas acho que conversei com o pai dele. depois ele ligou de novo, chorando de novo. queria ficar comigo. tá aí um apelo duro, que atinge corações de mães em cheio.
depois de outros telefonemas, sugeri que o pai dele ligasse para o pediatra. sim, eu tinha o número. passei pra ele.
mas o joão me ligou mais outras vezes. não queria ir pra casa, queria ficar comigo. eu tinha de trabalhar. no fim do dia digo que vou buscá-lo, e ele pede para eu comprar melancia no supermercado. o pediatra havia dito que ele devia comer pouco, e ele levou isso muito a sério. comeu um teco de melancia, a ponta de um pão francês e foi dormir, com as bochechas vermelhas, o pescoço fervendo e o termômetro marcando 39 graus.
'eu disse pra lívia que ela podia ficar no babbo. eu estou indo pra casa da mamãe porque estou doente', ele me explicou muito sério quando os busquei. a lívia ficou quieta. ela não costuma dar o braço a torcer.
eles tinham ido passar os primeiros dias de férias na casa do pai ontem. tipo foi bem rápido. já voltaram. as roupas ficaram lá, mas duvido que voltem amanhã. eu vou tentar sair pra trabalhar. talvez trabalhe em casa uma parte do dia, saia para uma reunião e depois volte.
mas descontando a tristeza do dia - quando acordei e abri a janela, a lua, cheia, estava no céu, mas mesmo assim este foi um dia insuportavelmente triste -, os acontecimentos foram quase bizarros.
passei três horas dentro de um fórum de pequenas causas. é um dos lugares mais tristes que já vi. na verdade, acho que meus olhos viram tudo com tristeza hoje, mas o velhinho que estava na minha frente estava entrando com uma ação contra o plano de saúde, que não autorizou um exame para a mulher dele. as outras histórias, graças a deus, eu não escutei.
fui atendida por um advogado gentil, e que apesar de trabalhar com eficiência, só me liberou depois de três horas. agora tenho de aguardar a data da audiência, o que deve demorar um pouco. uns três meses, eu acho, pensando na lerdeza do fórum que vai julgar o processo. é um pouco engraçado, no processo tem uma liminar para a companhia de gás não cortar o fornecimento de gás da minha casa, e tem um pedido de indenização por danos morais, já que há um ano a tal da empresa, comgás, não esclarece uma cobrança indevida que já paguei.
...
escuto um barulho, vou procurar "quem acordou", e vejo o joão sentadinho na ponta da cama tomando o chá que deixei pra ele. 'quero mais'. vou buscar, e ele pula de volta pra debaixo das cobertas e diz 'deixa aí'. vou dar um beijo nele, e ele diz que é melhor eu sair senão 'você pega'. ele continua fervendo. e com as bochechas vermelhas e lindas.
a maior sensação de paz que eu já senti na minha vida é estar em casa com os meus filhos dormindo. deve ser nessa hora que os anjos tocam harpas alegremente no céu, e eu, aqui na terra, mesmo sem escutar a música, sinto a paz.
tomara que amanhã a trizteza vá dar uma volta. bem longe de mim. porque tem dias que a trizteza é tão grande que fica pesado andar.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

sobre os atrasos e o perdão

o dia ainda não era dia. estava aquela luz cinza, típica dos dias nublados, quando o sol ainda não apareceu. e eu dirigia pela rebouças e gritava feito louca dentro do carro.
a lívia ficou estava em silêncio, e o joão dizia que eu só reclamava, o que aumentava a minha fúria. quando finalmente chegamos à casa da roberta, onde eu deixaria as crianças, o joão tinha falado vários palavrões do grande repertório dele, e eu chorava.
deixei as crianças e voltei pra casa chorando no carro, dirigindo rapidamente para chegar em casa antes de ser multada, o que poderia acontecer depois das 7am.
arrumei minhas coisas para ir ao trabalho de ônibus, que é a rotina das quintas-feiras, dia do meu rodízio. tinha de carregar uma mochila com meu computador, mais a minha bolsa, onde entre outras coisas estava o meu almoço. hoje era o último dia de aula das crianças, e eu tinha pensado em buscá-los na escola. mas desisti do plano maluco porque não conseguiria trabalhar se fizesse isso.
e hoje é dia de são joão, que eu resolvi comemorar depois de 21 anos. o dia sempre era comemorado na casa da minha mãe, de onde saí aos 18 anos. e mesmo tendo sido casada com o joão e ter meu filho joão, nunca tinha dado importância à data. um bolo de fubá cheiroso fez parte das comemorações, e eu pendurei bandeirinhas feitas por mim uns anos atrás na sala e na cozinha da nossa casa.
quando as lágrimas pararam de jorrar, fiquei pensando em como tudo começou. sim, os acessos descontrol de mães sempre começam em algum momento. aí lembrei que minha filha dizia que não ia vestir nenhum agasalho para ir à escola. depois ela se superou, e disse que não iria à escola. eu estava na porta de casa, dizendo que estávamos atrasados, quando o meu filho foi procurar os tênis e buscar alguma coisa para levar à escola. crianças adoram levar coisas pra escola, mas só lembram de pegá-las quando estamos fechando a porta para sairmos.
busquei a não-culpa, mas era impossível. fiquei me achando uma idiota, incapaz de criar filhos com doçura e sem gritos.
mas deus é pai e passadas algumas horas do meu descontrol lembrei que sou gente e que não dá pra aguentar tudo na vida com doçura. sorry.
aí lembrei do perdão. na verdade, consegui mandar a culpa embora quando lembrei dele. sim, eu não sou perfeita. sim, meus filhos me enlouquecem. sim, eu sou gente. ponto.
...
e nesse dia chato que começou cinza, ficou ensolarado e terminou com a lua em forma de bola no céu, fui almoçar com uma amiga. um almoço que estava encantado. depois de mais de um mês de 'vamos almoçar?', hoje ela iria a uma reunião no meu trabalho. calculei o tempo que chegaria ao restaurante e claro, cheguei antes. sentei no banco de madeira na calçada, em frente ao restaurante, e fiquei esperando. e fiquei agradecendo o atraso dela. gente vestida com 'roupas da corporação' passavam na minha frente. mulheres bundudas em calças pretas, outras com roupas absurdamente justas, homens de gravata e muitos crachás pendurados em pescoços.
lembrei que os atrasos dos outros sempre me deixam feliz quando esqueço do que tenho que fazer. quando tenho tempo por causa dos atrasos, consigo não fazer nada. e isso é uma delícia. e com sol, é uma delícia vezes mil.
...
os motivos de celebração hoje vão além do dia de são joão. a partir de amanhã, e pelos próximos 34 dias, meu despertador não vai me mandar sair da cama às 5am. isso é que é luxo.
deus esteja.

domingo, 20 de junho de 2010

o dia e a mãe podem ser doces

a lista de coisas que eu TINHA DE FAZER era imensa. o pai dos meus filhos veio buscá-los cedo, lá pelas 8h30, e eu já estava mau humorada. mau sinal.
o tempo horrivelmente seco da cidade cinza me fez desistir de pedalar até o acupunturista. fui de carro.
saí de lá babando. a sova do dr. kong é sempre de uma eficiência inacreditável. fui dirigindo em direção à minha casa pensando no que eu TINHA DE FAZER. mas quando cheguei em casa risquei da lista umas dez coisas. podia fazer as compras da casa no domingo, não precisava tanto assim de calças para o inverno, e podia sobreviver sem incensos por mais uns dias.
primeiro, cortei bandeirinhas de papel de seda e as grudei em 20 metros de barbante. tinha procurado bandeirinhas prontas em duas lojinhas, mas não tinha encontrado. achei que fazê-las seria divertido. não foi divertido: foi o nirvana. e fiquei pensando no tempo. aliás, passei a semana pensando no tempo. não no tempo, mas na falta dele. que é o mantra dos dias de hoje. adoro dizer que não tenho tempo para um milhão de coisas. uma bela desculpa para só fazer o que quero. mas o melhor é ter o tempo necessário para as coisas importantes e entender que o resto é o resto.
à tarde eu tinha de levar minha filha a uma festinha de uma amiguinha da escola que eu nem conheço. fui, e encontrei pessoas verdadeiramente legais. mães de coleguinhas da minha filha com quem raramente encontro e dou oi, e com quem pude conversar e falar das coisas que fazem sentido na minha vida. como trabalho, filhos, viagens e felicidade.
já era noite quando voltamos pra são paulo - brincadeira, mas a festa era lá longe, perto da escola da lívia, onde fica a fronteira entre são paulo e osasco. a uma quadra da casa do pai dela, ela anuncia que quer ficar comigo.
chegamos em casa e fomos dormir. a lívia é uma criança que dorme a noite inteira desde que parou de mamar no peito durante a noite, o que aconteceu quando ela tinha seis meses.
ela dormiu a noite inteira, mas eu me acordei com sonhos e achei esquisito ter só um filho em casa. normalmente isso acontece quando estou com o joão. mas nunca com a lívia. desta vez, o joão tinha ficado na casa do pai feliz da vida. e a lívia, não.
hoje de manhã, depois de tomarmos café da manhã e um banho de banheira juntas, liguei pra empregada que estava com o meu filho na casa do pai dele e disse que estava levando a lívia. e ela diz: mas eu não quero ir pra casa do babbo, quero ficar com você. fomos ao supermercado, onde um dedo do pé dela foi atropelado por um carrinho. voltamos pra casa, almoçamos, jogamos um jogo com letras mesmo depois de eu dizer que ela só vai aprender as letras quando for para o primeiro ano (daqui a dois anos) e fomos pra casa da dinda paula ver o jogo. ela tinha me falado que não gosta de futebol. então levamos, além de chimarrão e cervejas, massinha de modelar e um quebra-cabeças.
é costrangedor chegar a uma casa onde não há crianças COM uma criança. isso que a paula é uma irmã para mim. adultos e o SEU FILHO. mas ela foi fofa, brincou sozinha, comeu toneladas de pão, amendoim, pipoca e sorvete. e fomos embora felizes, ela por ter brincado, eu por ter uma filha que convive com seis adultos e nenhuma criança e não enche o saco.
resgatei meu filho da casa do pai e chegamos em casa, eles reclamando de tudo, eu respirando e não dizendo nada.
fiquei pensando em como é incrível passar um fim de semana inteiro sendo doce, calma e feliz.

sábado, 12 de junho de 2010

a festa ia ser linda. que festa?


a lívia com a lanterna na festa do ano passado; este ano, não carreguei minha câmera

a festa é a mais linda entre as muitas que rolam na escola das crianças. é a festa da lanterna. uma peça de teatro é apresentada, e quando anoitece as crianças vêm lá de baixo, do jardim de infância, e dão uma volta pela escola, que está toda escura. a luz vem das tochas espalhadas pelo jardim e da lanterna de papel de cada criança, iluminada por uma vela. no fim, uma fogueira é acesa, ao som de um tambor, com tochas que alguns pais carregam.
eu estava meio borocoxô. na verdade tava achando muito chato ficar sozinha. a lívia foi pra sala dela, e o joão ficou correndo com os amigos. e eu fiquei olhando as pessoas se encontrando, se abraçando e se beijando, e me sentindo muito só.
o frio estava absurdo. e assim assistimos à peça, cujos atores são pais de crianças que este ano terminam o jardim de infância e ano que vem vão para o primeiro ano.
depois de um lanche maravilhoso, fomos ao pátio da entrada da escola, tudo escuro exceto as tochas, e ficamos ali esperando. o céu cheio de estrelas, e todo mundo falando mais baixo que o normal. e aí sobem as crianças, em fila, cantando, cada uma carregando a sua linda lanterna. nisso escuto uns gritos, penso que alguma criança foi atacada por formigas. e demorei até ver que meu filho rolava no chão com um amigo. quando cheguei perto alguém segurava o joão e outro alguém segurava o juliano.
eu não sabia o que tinha acontecido, e enquanto os pequenos do jardim passavam em fila cantando, peguei o joão e fomos pra entrada da escola, longe do passeio das lanternas. já faz tempo que sei o que fazer quando ele fica furioso. tenho de segurá-lo. é simples, eu tenho força, mas hoje as forças se acabaram. ele tomou muitos copos de água, que o beto, da portaria, deu pra ele. e eu me sentei no banco de madeira e comecei a chorar. o joão perguntou se eu estava chorando de alegria ou de tristeza. era de tristeza, disse.
eu não acho chato ser mãe sem marido. eu acho h-o-r-r-í-v-e-l. acho que tento disfarçar, mas às vezes não dá.
a festa terminou e eu não vi quase nada. não vi minha filha fazendo o passeio no escuro, nem a vi cantando ao redor da fogueira.
desde que eu moro sozinha com as crianças, eu faço um cálculo patético de quantos adultos e quantas crianças moram numa casa. assim, quando um casal reclama do árduo trabalho da paternidade, eu calculo em quantos eles são. comumente são três adultos (pai mãe babá) para dois ou três filhos. e se fosse pensar no equivalente, eu com duas crianças, a outra casa do cálculo patético poderia ter seis crianças (com pai mãe babá).
não sei se essa conta é uma idiotice para eu ter dó de mim, ou se vale como um 'uau, você está fazendo o que tem de fazer direitinho'.
o número de pessoas não alivia necessariamente a dura tarefa de educar. é óbvio. mas sozinha é o dobro.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

happiness is a journey, not a place

é infeliz escrever em inglês, mas me parece que é mais bem escrito do que a minha tradução, que é 'a felicidade é um caminho, não um lugar'.
eu estava trabalhando feliz da vida, numa força-tarefa para montar umas pastas para um evento. e ela perguntou: 'tita, e as crianças, tão com quem?'. disse que estavam com a santa nalva. e ela: 'vai pra casa, já tá no teu horário'.
mas eu não tenho horário. eu tenho trabalho. o que é bem mais divertido. terminei umas pastas e ela disse 'pode ir, a gente termina'.
vim pra casa pensando na felicidade. e estive pensando nisso nos últimos dias. não na felicidade, mas nas mudanças dentro da gente para que as coisas andem a contento.
ia escrever uma ode ao meu novo trabalho, mas achei brega e precipitado. mas não posso deixar de escrever sobre a felicidade de trabalhar num lugar decente, com pessoas idem. mas o que não sai da minha cabeça é a ideia de mudança para ter felicidade.
oh my god, parece que estou viajando na maionese, mas não tô.
depois de uns anos me rasgando em pedacinhos, agora parece que posso respirar confortavelmente. não é um pensamento, mas uma sensação.
dias atrás ouvi uma frase que me deixou sem ar. disse que a vida era muita dura, e ouvi uma resposta surreal: não, a vida não é dura.
como assim?
mas é uma opinião. que eu não entendo, com a qual eu não concordo e que eu acho absurda. mas é o que ele acha, não eu.
escrevendo isso até parace que finalmente consegui ser blasé. mas é só impressão. se deus quiser, nunca serei blasé. que é uma coisa tão sem graça que parece gelatina de limão. ruim e falsa, mas firme.
mas voltando aos pedacinhos, passei os últimos dias pensando em como é preciso matar o velho para deixar espaço para o novo. em outras palavras, como é importante parar de ter certezas e passar a ter muitas dúvidas. e em vez de ter medo de ter medo, ter coragem MESMO tendo medo.
toda vez que ela me pede para rezar, e ela me pede isso quase todos os dias, eu digo que eu rezo muito. acho que ela não acredita, mas não importa. até porque preces para mim têm mais agradecimentos do que pedidos.
pra isso tive que quebrar a marteladas as velhas crenças. não eram boas nem ruins, mas eram crenças ingênuas, em que o futuro era mais importante do que o presente, o dinheiro era mais importante do que o conforto do meu coração, e em que eu olhava mais pra fora do que pra dentro.
Life is what happens to you
While you're busy making other plans
e depois de tantos anos, a frase faz sentido. e eu nem sabia que era uma música do john lennon. "a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo planos."
não a minha.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

a doce visita

fazia um ano que não nos víamos. ele chegou na hora em que eu tinha de levar os meus filhos e os filhos da roberta pra escola. eu tava louca pra encontrá-lo, mas fui pro trabalho. ligava pra minha casa de 15 em 15 minutos, mas ninguém atendia. eu tinha deixado a chave na portaria.
só fui encontrá-lo quando voltei pra casa. eram quase 7pm.
é engraçado como a distância é abstrata. meu irmão mora nos estados unidos há mais de três anos, e só nos vimos duas vezes desde então. uma vez ano passado, quando ele veio com a leila e as gurias passar as férias na bananaland. e agora.
meus filhos foram passar o feriado na casa do pai. eu tinha de trabalhar um pouco no feriado, e o paulo tinha de estudar para o concurso que ele está prestando esta semana. a cobaia era eu: ele me deu aulas sobre dramaturgos, e eu ia dando palpites leigos sobre as aulas dele, muitas delas cheias de informação e sem nenhuma emoção.
ele queria ir ao teatro. eu queria ir ao cinema. eu sugeri um acordo, mas ele queria que fôssemos ao cinema e depois ao teatro durante os três dias. mas eu não aguento.
fomos ao cinema e ao teatro, e no terceiro dia meus filhos ficaram com saudades e pediram ao pai que os trouxesse de volta pra casa. eles devem ter sentido o cheiro de felicidade. e quiseram participar.
eu bebi muito vinho, dei risadas o dia inteiro, e fiquei tão feliz que parecia que eu pesava o que uma pena pesa. o paulo dormiu até as 10am, e não acreditou. disse que fazia mais de dez anos que não dormia tanto.
férias são sempre boas, mesmo quando não são. o paulo veio para o brasil, mas a leila e as gurias ficaram em casa, lá na terra do obama. ele sente muita saudade, e parece que sofre. e a leila, minha cunhada, também.
a gente ligava todos os dias pros estados unidos e pra porto alegre, onde estavam meus pais e minha irmã. como se ligando pra todo mundo nós estivéssemos todos juntos.
eu moro longe de todos eles há muito tempo. e toda vez que os encontro fico muito, muito feliz. mesmo quando é chato.
eu falei coisas engraçadas pro paulo. no nosso primeiro jantar juntos, pedi desculpas por pegar as folhas de alface com a mão. e disse que estava muito contente de jantar com ele, porque eu sempre janto sozinha.
domingo, quando ele estava arrumando a mala e vendo o que ia deixar dentro do meu armário - porque ele volta pra minha casa daqui a uma semana, para então voltar pras terras longínquas onde faz um doutorado -, eu disse que achava engraçado estar deitada na minha cama e conversando com ele. porque nunca fico deitada na cama conversando. porque durmo sozinha.
ele dava risada com os meus comentários. não sei se ele entendia o que eu tava dizendo, porque ele é casado há muito tempo. mas se não entendia, acho que ele sentia o que eu tava dizendo.
eu acho que ele pode passar no concurso. ele não acha. e só de pensar nisso fico feliz. de pensar que o meu irmão pode morar perto de onde eu moro, e que as crianças podem passar férias juntas. claro que não é tão simples assim, porque quando estamos com filhos eu e o paulo brigamos muito. eu fico mais chata, ele também. não conheço ninguém que não perca a compostura quando está com os filhos. faz parte.
e enquanto os dias passam, fico torcendo pra que ele se dê bem nas provas, mesmo sabendo que se ele passar ele não consegue a vaga, porque tem de voltar pro colorado e terminar o doutorado dele.
daqui a três dias ele volta pra minha casa, que vai ficar cheia de alegria. a lívia, que não lembrava do tio, passa o dia dizendo "ô paulo", como se tivesse visto meu irmão todos os dias desde que nasceu, cinco anos atrás. e o joão dá gargalhadas sonoras e felizes com as barbaridades que o meu irmão fala o tempo todo. e então ele pergunta: "tu prefere um tio lento ou um tio demente?", e o guri cai na gargalhada e diz "demente".
se tem uma coisa que ele NÃO é, é demente. mas como ele passa representando o tempo todo, o joão acha que isso é ser demente.
compraremos mamão - artigo de luxo lá naquele país onde ele mora - e bons vinhos. e vamos comemorar por poucas horas a distância inexistente. depois vem a distância concreta, que eu chamo de abstrata. e que mesmo assim me faz chorar de saudades.

sábado, 22 de maio de 2010

com amor é mais fácil

eu as vi entrando no restaurante, cada uma empurrando um carrinho de bebê. elas se sentaram na mesa ao lado da que eu estava. a primeira coisa que me veio à cabeça é como é legal ter amigas parceiras. duas amigas almoçando num sábado ensolarado, cada uma com o seu bebê.
depois olhei melhor e achei que os dois carrinhos eram iguais. uma das crianças, um menino, estava acordado, e olhava atento os meus filhos devorarem sorvete de chocolate. aí disse pras minhas vizinhas de mesa que o pequeno devia estar com vontade de comer o sorvete, só de ver os meus filhos tão animados com a sobremesa. logo descubro que OS DOIS filhos eram de uma delas. gêmeos.
na hora que vou embora, a mãe dos bebês vem com o fatídico comentário: 'os seus filhos estão numa idade boa'. eles - os meus filhos - tinham acabado de correr em direção à frente do restaurante, e de onde eu estava eu não conseguia vê-los.
respondi que em todas as idades havia alegrias e tristezas, e que agora eu conseguia ir a restaurantes com eles e era sossegado. a mãe dos gêmeos tentou corrigir a frase patética que tinha saído da boca dela e disse 'ah sim, todas as fases são boas'. mas eu não acreditei que ela acreditava no que estava dizendo.
fomos parar naquele lugar para comer por sugestão - para ser fina, porque foi quase uma exigência - do meu filho. é um lugar onde ele almoça frequentemente com o pai e a família dele.
o dia estava muito divertido. carreguei a lívia e o joão para as tarefas do sábado. fomos ao mercado municipal de pinheiros comprar frutas. depois fizemos mais várias coisas, e eles foram fofos, resistiram bravamente.
mas chega o fim do dia, e começa o chororô. depois de brincarem por duas horas numa oficina para crianças que uma amiga organizou, voltamos pra casa sob protestos. o joão reclamava mais do que um velho de 90 anos mau humorado.
cheguei em casa e fui pra função 'o dia está acabando'. a lição que não havia sido feita ontem tinha de ser feita hoje. mais o banho, o jantar, ó, as unhas compridas que tinham de ser cortadas, os botões do pijama que tinham de ser costurados.
tentei não bufar. uma pessoa mau humorada e bicuda é melhor do que uma pessoa mau humorada, bicuda e que bufa.
fiquei invejando as mulheres ricas que têm serviçais durante sete dias na semana. que têm babás que dão o banho e cozinheiras que prepraram as refeições de toda a família durante o fim de semana. que tomam banho e vão jantar num restaurante enquanto empregados tomam conta dos filhos. que dormem tarde e que conseguem acordar tarde, porque os empregados saíram com as crianças para ir passear na praça.
ai que tédio. a minha inveja durou. já acabou. eu dispenso todos os empregados citados acima. mas às vezes a paciência vai até cingapura e fica por lá passeando, e então tudo fica mais pesado do que realmente é.
mas a verdade é que desde que voltei a fazer parte da população que produz o PIB do país a vida ficou mais doce. e mais macia também.
acho que essa é a melhor lição dos tempos nebulosos de desemprego: a gente fica mais doce quando sai da lama, e redescobre os lados nossos que estavam escondidos no lugar escuro e com cheiro de mofo também conhecido como tristeza ou depressão.
não acho minha vida melhor nem pior porque meus filhos cresceram. não acho que as coisas ficaram mais fáceis nem mais difíceis. elas só mudaram.
talvez a única coisa que tenha mudado é que eu sei que não serei mãe de cinco filhos, conforme planos idílicos do passado. e sei que toda vez que eu fizer as coisas com amor, vai ser mais fácil.
but sometimes life sucks.

domingo, 16 de maio de 2010

sobre solteiros (as) e homens e as samambaias

'as únicas pessoas que querem casar são os homens e as pessoas solteiras', ela disse. eu estava num dia surto, e não parava de dizer que estou encalhada. troço chato, mas que acontece. e ela veio com essa.
ela é casada, e muito bem casada. mas nunca dá pra saber das vidas alheias. às vezes nem sabemos das nossas próprias vidas, então como saber das dos outros?
mas o comentário, and i am so sorry, foi bizarro.
casamento é bom quando é bom, e ponto.
...
eu e o joão tínhamos frases maravilhosas sobre casamento quando nos casamos. a que eu mais gostava, que ele dizia, era que ele não queria estar casado com alguém com quem não tivesse o que conversar. e ele sempre citava o exemplo, tão bobo e lugar-comum, da cena do casal num restaurante, em que um olha pro outro com cara de samambaia. a samambaia é ideia minha, porque faz muitos anos que ouvi as frases dele e agora não lembro a palavra que ele usava.
mas eu acho que eu soube que meus dois casamentos tinham chegado ao fim quando me senti uma samambaia na frente do homem que eu amava. plantas não falam. e quando não dá mais pra falar, é porque o casamento terminou.
a outra do joão, que é maravilhosa, é chamar o marido de pai. ele dizia que isso era o fim. não tivemos filhos para colocar à prova a nossa teoria. mas acho que provei quando casei com o alessandro, o pai dos meus filhos. nunca, jamais, o chamei de pai. ufa!
a ideia de casar com alguém que eu um dia chamaria de pai sempre me assustou. é o horror dos horrores. pai é o pai da gente, ou o homem que criou a gente - muitas crianças chamam o padrasto de pai, quando ele vira o pai 'de verdade', mesmo não sendo o 'pai de sangue'. não consigo pensar em ter tesão por alguém que eu chamo de pai. sorry.
...
fiquei pensando em como a gente consegue levar coisas insuportáveis durante mais tempo do que seria aceitável. empregos horrorosos, casamentos chatos, amigos que não são amigos, hábitos medonhos. e pensei em como é difícil ter uma vida em que NUNCA somos uma samambaia. aos mais jovens que eu, uma explicação: quando eu era criança, as casas eram enfeitadas com dezenas de samambaias, que eram colocadas nos jardins, nas salas de estar e nas de jantar. em vasos no chão, ou dependuradas em ganchos, nas paredes ou nos tetos. era um must. ah ah ah.
...
adoro pensar em como sou uma velhinha. sempre fui. uma vez duas amigas super hiper descoladas me convidaram para ir a um bar. eu devia ter 16 ou 17 anos. foi uma experiência assustadora. elas não iam a um bar para sentar e conversar, mas para circular e ver se havia rapazes intessantes. achei a noite nojenta, e fui pra casa infeliz.
na minha condição de louca que reclama do encalhe - graças a deus isso não é todo dia, só em dias de surto - escuto frases abomináveis. a mais legal de todas é 'você tem que sair'. eu não sei o que as pessoas que dizem isso querem dizer. como eu me nego a ter uma empregada que durma na minha casa, isso pode ser um impulso - algo tipo já que você não tem uma empregada que more na sua casa, você nunca vai conhecer um belo rapaz.
afe!
mas a minha resposta sai rápido da minha boca: eu saio, e muito.
aí fiquei pensando num exemplo equivalente ao raciocínio infeliz: alguém sai de casa para procurar um amigo? não que eu conheça. e o mesmo acontece com conhecer rapazes. pelamordedeus. amores cachos amigos acontecem. não procuramos, mas encontramos.
...
puta que merda escrever o que estou escrevendo. mas assim é que é.

domingo, 9 de maio de 2010

encontros de verdade

fazia mais de um ano que não nos víamos. e então ela me ligou por causa de um trabalho, e acabamos marcando um almoço.
no dia combinado, ela me liga e diz que não sabe se poderia almoçar comigo. mas depois me ligou pra dizer que sim, podia.
por conveniência, nos encontramos no lugar mais sem graça que existe no mundo: um shopping. e, horário de almoço, tudo lotado.
mas nada na vida substitui o bom humor. em menos de cinco minutos conseguimos uma mesa no restaurante, que estava muito cheio.
nos sentamos, conversamos e comemos. falamos de tudo, menos de marido - ela é casada - e filhos - nós duas somos mães. demos muito risada. e eu não conhecia esse lado dela. trabalhamos juntas, uns anos atrás, num projeto tenso. mas naquele dia ela era outra pessoa. uma pessoa melhor. me disse que engordou 10 kg, mas eu não acreditei. se é que engordou, os quilos a embelezaram. ela usa menos maquiagem, tem o corpo mais solto e tá visivelmente muito melhor. sabe mais das coisas e dela mesma, e já dá risada dos tempos chatos, que parecem já ter passado. leia trabalho com gente não mui idônea, muita pressão, e a fantasia de que 'deveria ganhar mais'.
depois do nosso almoço ela me escreveu para dizer que eu era muito engraçada. e me disse que tinha gostado muito de ter me encontrado.
e era nisso que eu fiquei pensando quando saí daquele shopping que já nem tava tão cheio, porque ficamos almoçando por quase duas horas. em como é maravilhoso encontrar pessoas e estar com elas de verdade. é isso que faz com que encontros sejam bons.
...
e por falar em encontros de verdade, ganhei de presente de dia das mães um dia bom de verdade. com pessoas doces e felizes, que não reclamam - ah, que diferença isso faz! - e que estão ali com a gente de verdade, inteiras.
passada uma fase sinistra da minha vida, estou voltando a ser uma pessoa doce, que não grita. um sábado e um domingo e nenhum grito saiu da minha boca. sinto um alívio gigantesco, e VEJO que meus filhos estão aliviados também. a bruxa voou pra longe.
e o dia que ganhei de presente - que na verdade foi um fim de semana inteiro - teve vento, frio, chuva, jantar à luz de velas porque não havia luz. teve flores, muitas flores, de cores e formatos lindíssimos, que eu não pude desenhar porque não levei folha nem lápis. teve sapatos embarrados com centímetros de lama, o sol que aparecia e logo ia embora, bergamota (que a minha filha sempre diz não saber o que é) tirada do pé e mais limão, laranja, abacate, alface e rúcula. teve um bacalhau com batatas delicioso, chimarrão no vento frio e prosecco pra comemorar.
...
é engraçado como a tristeza fica quase ridícula quando vem a alegria. como dizem os sábios, uma não existe sem a outra.
e como eu digo, a vida é bem melhor quando estamos perto dos amigos. e a gente ganha comida que alimenta a alma. como o bacalhau da dona margarida, que é tão linda que até nome de flor ela tem!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

por que não vivemos sem empregadas?

ela me ligou domingo à noite. e disse que chegaria mais tarde na segunda. 'acho que não vai dar tempo de fazer o almoço.' ok, vamos almoçar na escola das crianças, onde a comida é muito boa e barata.
a segunda-feira começou azeda, para ser fina. filhos exaustos e mau humorados. e um café da manhã com lágrimas. minhas, claro.
mas quando chegamos em casa depois do almoço, surpresa! a santa nalva AINDA não havia chegado. fiz de conta que não era comigo, e não arrumei nenhuma cama nem tirei a mesa do café da manhã. só que as horas passavam e nada da nalva. liguei pra ela perto das 3pm, e ela me disse que ainda estava numa fila gigantesca, acho que pra mudar o título de eleitor. então a maria eulália foi lavar a louça, dar um fim no lixo, varrer a cozinha.
apesar do bom humor, fiquei exausta. e pensei: varrer a cozinha no fim de semana cansa muito menos do que varrê-la numa segunda.
tarefas domésticas cumpridas, liguei para uma assessoria de imprensa para resolver uma pendência de uma matéria, liguei para marcar uma entrevista de trabalho, e nisso o pai dos meus filhos veio dar um oi. e batemos uma DR enquanto meu msn piscava e meu filho perguntava sobre o que estávamos falando. e eu fiquei tonta.
ah, no fogão duas panelas estavam no fogo pra cozinhar milhos e pinhão. e meus queijos da fazenda chegaram. com o freezer lotado, chamei as crianças para dar fim em dois potes de sorvete. ah ah ah. eles não cabiam no meio das carnes e queijos congelados.
pai das crianças fora de cena, milhos e pinhões cozidos, dei banho nas crianças e opa!, o cigarro acabou. os pequenos, de pijama, foram bem felizes comigo até a esquina para a mamãe comprar seus famigerados marlboros. em retribuição à gentileza e bom humor dos meus herdeiros, cada um ganhou figurinhas: o joão, as da copa, a lívia, umas de princesas, que ela vai colando num álbum que apareceu do limbo na minha casa e onde ela cola QUALQUER figurinha: moranguinho, princesas, copa.
e assim o dia feliz chega ao fim. eu com saudades da nalva, as crianças dormindo, e uma nuvem de possível felicidade rondando sobre a minha cabeça. muitas entrevistas, muitas possibilidades de trabalho. nada concreto, mas há movimento.
minha irmã me diz que sonhou que eu tinha arrumado um trabalho. e eu disse a ela que esperava que esse sonho fosse uma mensagem do que está por vir. mesmo sabendo que sonhos contam as histórias de dentro da gente, aquelas que a gente tem dificuldade em ver. mas quem sabe não era uma visão?
deus esteja.

domingo, 2 de maio de 2010

minha vida pacata e meus amigos sem filhos

tudo começou porque uma amiga minha não veio comer cachorro-quente na festinha da minha filha. então ela sugeriu: por que não fazer um jantar? no menu, cachorro-quente.
e lá fui eu ao supermercado escolher salsichas. logo eu, que só como salsichas quando faço festas de aniversário pros meus filhos. mas me diverti horrores, e demorei uns 10 minutos até escolher todos os pacotes que me pareciam interessantes.
eu havia chamado quatro ou cinco amigas, e só uma disse que viria. mas no fim do dia outra confirmou.
e como eu tenho TOC com eventos - nunca consigo ir embora -, o jantar-cachorro-quente se estendeu até altas madrugadas, para os meus parâmetros de mãe pacata de dois filhos pequenos. quando fui me deitar, o relógio marcava mais de 1am. pensei que minhas quatro horas de sono seriam insuficientes. e foram.
no dia seguinte eu tinha um texto para editar, umas contas para pagar no banco, uma entrevista de emprego. tinha ainda de levar e buscar meus filhos - coisa que só faço duas vezes por semana. e na lista interminável de tarefas ainda estavam uns telefonemas para dar.
o dia foi tranquilo. a metade de mim que estava acordada funcionou muito bem, a outra metade ficou dormindo mas acompanhou a outra parte bem bonitinha.
...
o fim de semana era de folga. meus filhos estariam na casa do pai. mas fomos para um sítio, o joão, a lívia e eu, para um encontro da classe do meu filho. voltamos pra são paulo no fim do dia, e depois de deixá-los na casa do pai, vim pra casa trabalhar. quatro horas depois, o sono tomou conta do meu corpo. fui dormir para acordar bem cedinho no domingo. um sonho estranho me acordou antes da hora, e por algum tempo fiquei me virando na cama e tentando esquecer do sonho. nada feito. sonhos não existem para ser esquecidos. saí da cama e antes das 7:30am estava sentada na frente desta maquininha, com a barriga cheia e banho tomado, na labuta.
no meio da manhã, para minha surpresa, o texto estava quase terminado. e então minha amiga-ainda-sem-filhos me ligou. vamos almoçar? oh sim. trabalhei ainda por umas duas horas, e na hora combinada cheguei ao restaurante fofo perto da minha casa, onde a comida é maravilhosa e muitos, mas muitos velhinhos vão para almoçar aos domingos.
...
fiquei pensando em como é bom ter esses amigos sem filhos e animados, que me tiram da minha vidinha pacata. conversas divertidas que me mantêm acordada até tarde da noite, cervejas geladas que refrescam e risadas que me fazem esquecer que eu não deveria frequentar restaurantes nessa fase em que a safra de trabalhos está miserável.
mas que maravilha esquecer das coisas chatas e só lembrar das boas. e que bom que é ter amigos que me chamam pra fora do meu mundinho. e me dão de presente umas horas leves, alegres. e a carrancuda vai pra longe, desaparece. só fica a bem humorada e risonha eu.

domingo, 25 de abril de 2010

sobre amigos e legendas

fazia quase um ano e meio que não nos víamos. nos conhecemos há mais de duas décadas, mas nos vemos pouco. e então ela veio do rio, onde mora, para passar uns dias em são paulo. mas depois de um telefonema, quando ela estava pegando o ônibus para vir da cidade maravilhosa à cidade cinza, e de um e-mail, que eu mandei sabendo que ela ainda estaria aqui em sp, não tínhamos marcado nada.
e hoje, quando voltei do supermercado com as crianças, onde tínhamos comprado um frango para o almoço, meu celular apita e vejo uma mensagem dela. liguei, e ela disse 'estou indo aí te dar um beijo'.
ela não conhecia minha filha, que tem 5, e se lembrou da noite em que ficou na minha casa para cuidar do meu filho, quase oito anos atrás, quando ele tinha 2 meses e eu fui ao casamento de um amigo. de onde tive de sair porque o leite começou a sair, e meus peitos doíam.
sem nenhuma legenda, conversamos como se nos víssemos todos os dias. contei coisas da minha vida, ela contou coisas da dela, e não precisamos de nenhuma legenda para entender o que a outra falava.
e ela, a minha amiga, é a prova de que é pra frente que se anda. aos 41 anos, está mais linda do que nunca. serena, alegre e íntegra.
e, na hora de ir embora - ela estava uma hora atrasada para um almoço que já havia sido combinado -, me disse que eu estava linda, e igual.
enquanto dávamos risada na cozinha, com a porta fechada para não ouvirmos o filme que meus filhos assistiam na sala, ela dizia 'nossa, tu continua a mesma'.
é um presente ter amigos de longa data. desses que a gente não precisa ligar dia sim dia não, e que se a gente esquece do aniversário deles eles não ficam magoados. amigos que não pedem nem cobram nada.
ela não tem filhos, mas falou de crianças com mais entendimento que muita gente cheia de filhos. é uma mulher sábia, que adora a idade que tem. que enxerga as coisas como elas são, sem enfeitar nada.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

meus dias sem azeite. sim, azeite de oliva

eu acho que se eu fosse pra uma ilha deserta e me perguntassem o que eu levaria para comer, e se eu tivesse só uma escolha, eu levaria uma lata gigante com azeite de oliva extravirgem. daquelas que são vendidas na beira da estrada na itália, e que a gente não compra simplesmente porque é impossível carregá-las.
pois eis que dei uma surtada e resolvi fazer uma dieta surreal de desintoxicação e emagrecimento. uma dieta xiita e maravilhosa, que faz a gente dar valor a qualquer rodela de abobrinha cozida no vapor, que faz o corpo da gente ficar com o formato orginial - ah ah ah, essa é boa, escapou sem eu pensar - mas que exige muito, muito esforço.
deve ser mais farta do que a dieta de um faquir (não lembro de ter escrito essa palavra na minha vida, e ela me soa estranhíssima). well, o resumo da ópera é: uma fruta por refeição e nos intervalos entre o singelo café da manhã e o verde almoço, uma torrada de pão sueco de manhã e à noite, e caldos de legumes com salsa fresca no almoço e no jantar, mais salada crua com limão e verduras cozidas sem gordura nem sal.
num ato heroico, cheguei ao quinto dia. vou ver se consigo completar uma semana e encarar a segunda. acho que as possibilidades são extremamente remotas, mas quando subo na balança fico beeeeeeem contente. a dieta não faz emagrecer, ela faz secar. e acho que como o esforço é animal, a gente seca com consciência. ah ah ah de novo. sei que o nirvana não se atinge pela boca, mas às vezes parece que o nirvana e o ponteiro da balança que vai descrescendo têm uma relação íntima.
afe!
eu odeio dietas de emagrecimento. dietas outras não me incomodam: para ficar mais forte, para tratar algo específico. mas para perda de peso eu acho sinistro. por isso sempre disfarço minhas iniciativas: a primeira da minha vida foi para parar de fumar: quando os marlboros deixaram de ser meus amigos, nos idos anos 90, eu estava magérrima. depois foi para engravidar. e assim engordei só 18kg, e não 25. ah ah ah de novo. depois vieram outras para tratar da saúde. mais ah ah ah.
daí que eu sinto falta do azeite de oliva. e sinto saudade. coisa de gente com alma gorda, que mesmo quando está magra pensa em comida.
mas é claro que é mui aflitivo. meu primeiro caldo de legumes foi no sábado, sozinha em casa, e sem ter o que fazer. foi bizarro, pra não dizer dramático. depois veio o domingo, e a metade da semana. filhos, escola, desemprego, falta de ar. sim, como brinde ganhei uma falta de ar amiga, que me acompanha desde as 5h, quando saio da cama, até a hora que vou deitar.
mas como eu acho um insulto não terminar as coisas a que me proponho - desde lavar a louça até aprender a respirar e não chorar depois de 1 hora dirigindo a 10km/h -, sigo firme, forte e louca.
propostas de trabalho que ficam só na proposta e não viram trabalho, juros para o banco que eu nem me aflijo mais em pagar - como é incrível a adaptação do ser humano a qualquer coisa, q-u-a-l-q-u-e-r uma mesmo -, os malabarismos diários para viver nesta cidade cinza e tão grande, as saudades que eu tenho daquilo que tá longe da minha vida agora.
ainda bem que a semana é curta. um feriado numa quarta-feira me faz ter certeza de que hoje é sábado, mas de que amanhã não é segunda, mas quinta. a semana começa e, de repente, acaba. com uma folga para o ócio bem no meio. è perfetto.
deus esteja!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

sobre o cansaço e o trânsito, com amor

ting abriu a porta com um sorriso no rosto. estendi minha mão para cumpimentá-la, mas ela abriu os braços, e acabamos nos abraçando. 'tá tá', disse ela, o que para mim parecia algo como 'ok, o abraço já foi suficiente'.
ela diz para eu subir. subo e me sento, e ela logo entra na sala. sigo as instruções dela: tiro o vestido, deito de bruços, com a cabeça virada para o lado que para mim seria o lado dos pés. e começa a sova.
logo entra o dr. kong, marido da ting, e eles conversam em chinês bem baixinho, quase sussurrando, e ambos saem da sala. depois ela volta, me sova mais um pouco e então entra ele, este sim um mestre da sova. mas em vez disso, ele me enche de agulhas e sai. durmo e sonho.
ele volta, e me parece que estou ali na cama há horas. muita massagem. e antes de eu achar que aquilo era o suficiente, ele diz 'pronto. se sentir dor, pode voltar mais uma vez.' o português do dr. kong dá de 10 a 0 no português da doce ting.
saio de lá lenta, e com mais dor do que quando cheguei. uma coisa bem espalhada: doem o meu pé esquerdo, o meu joelho e o meu quadril esquerdos, e meus ombros. ando devagar, dirijo devagar, e chego em casa.
eu tinha acordado cedo, às 5h15, para levar as crianças à escola. meu filho havia pedido para não ir à escola hoje, e eu também estava exausta. foram duas festas de aniversário em seis dias. a do joão, no sábado, e a da lívia, ontem.
hoje era o meu dia de levar meus filhos e os filhos da roberta, que reveza comigo esta tarefa hercúlea. no caminho de volta - e esta é que é a parte hercúlea -, o trânsito parou. fiz um cálculo rápido, e o resultado foi este: passaria três horas dirigindo hoje. da minha casa para a casa da roberta, dali para a escola. depois, a volta pra casa. ao meio-dia, iria de novo à escola e, dali, a alphaville, para a festa de um colega do joão. e no fim do dia, ufa!, voltaria para casa.
e então fiquei feliz quando meu carro teve de parar. abri minha agenda, organizei uma lista de supermercado, vi o que terei para fazer semana que vem. e senti um alívio ao ter de parar o meu carro por causa do trânsito. lembrei que esqueci do parque villa-lobos por uma semana. e que quero começar uma dieta violenta de desintoxicação. e lembrei que preciso de um trabalho, e que isso é urgente. urgentíssimo.
lembrei também das minhas dores espalhadas pelo corpo, e esperei dar 8h no relógio para ligar pro dr. kong. sim, ele tinha horário para me atender. e fui feliz da vida para o acupunturista. um presente para mim, depois de ter dado de presente aos meus filhos duas festas maravilhosas, com brigadeiros e bolos feitos com amor, mais outras trocentas delícias.
no fim do dia, o cálculo das horas no trânsito diminuiu. dirigi só 2h e 15 min. e feliz.
meus herdeiros dormem, e o silêncio reina. meus velhos, queridos e contentes, partiram hoje de manhã cedo. foram de táxi pro aeroporto, porque eu não chegaria em casa a tempo de levá-los. por uma semana, a casa ficou cheia de gente, de alegria e de bagunça. minha mãe dizendo que é um absurdo eu dar castigo pras crianças, e meu pai levando o joão à padaria e os dois se entupindo de sorvete. alegrias da vida com o vô e a vó, que com certeza é uma vida mais divertida do que a vida com a mãe.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

o nosso primeiro, e feliz, folar da páscoa

eu nunca tinha feito - nem comido - um pão de páscoa. mas eis que na minha busca por uma receita de bacalhau, encontrei num livro do receitas de imigrantes de são paulo uma de um folar da páscoa.
íamos almoçar na casa do bernardo, no domingo, e a mãe dele tinha me dito que ele tinha feito uma rosca de páscoa uma semana atrás, mas ela havia sido devorada. então achei que seria mui divertido fazer uma receita nova, colocar o joão para amassar a massa e ainda fazer uma surpresa pro bernardo!
claro que em dias em que não há escola meu filho sempre me acorda. é engraçado. aos sábados e domingos ele jamais tem sono lá pelas 5h30, 6h. diferentemente de t-o-d-o-s os dias da semana.
fui acordada quando ainda era noite. mas não tive sucesso: o joão não quis voltar pra cama e ainda começou a procurar ovinhos, o que era um pouco aflitivo, porque a lívia dormia. disse a ele para parar de procurar ovos, e ele, 'estou ansioso, mãe'. afe! será que é hereditário?



o joão mistura a massa do folar da páscoa

a lívia acordou em tempo de ajudar a colocar sobre a massa crua quatro ovos cozidos. eles deveriam ser cor-de-rosa, depois de cozidos na água do cozimento de beterrabas, mas não havia beterrabas em casa. e eu não queria intoxicar ninguém, por isso desisti da ideia de enrolar os ovos cozidos em papel crepon molhado para tê-los roxos e verdes.
depois dos ovos cozidos, colocamos tiras de massa sobre os ovos, para que o pão parecesse uma cestinha de ovos. depois de a massa ser pincelada a seis mãos com gema, o pão foi pro forno.




o cheiro da canela e do pão assando perfumou toda a casa. e o nosso primeiro folar da páscoa ficou sensacional. levamos a fôrma ainda quente pra casa do bernardo, que ficou com os olhos brilhando quando levantei o pano de prato e mostrei a ele a surpresa que tínhamos feito.
o almoço foi daqueles de 'filme com gente feliz'. no final da manhã, muita gente na cozinha. mas logo todos ficaram na varanda, ao redor da mesa decorada com flores e coelhinhos. enquanto as crianças brincavam e comiam chocolates sem parar, os adultos conversavam. comemos pães deliciosos, um queijo da serra da estrela de comer 'rezando ajoelhado', como disse a grei, um pernil com molho agridoce. mais umas terrines que eu não tive fome 'sobrando' para provar.



o folar ficou macio e pouco doce. e não fez feio ao lado da bandeja imensa de mil folhas recheadas com creme de baunilha que o raul levou.
o dia foi muito, muito alegre. e agora eu quero fazer muitos folares, para não ter de esperar para a páscoa do ano que vem!

sábado, 3 de abril de 2010

a chuva , o parque e o pêlo do coelhinho

combinamos de nos encontrar cedo. minha amiga tinha me dito que eu podia chegar à casa da mãe dela lá pelas 9am. 'o noah acorda cedo', ela falou no telefone. 'welcome to real life', eu respondi. a vida com crianças não é a vida que planejamos, mas é a vida como ela é.
mas como dias nublados são mais lentos que os dias com sol, eram quase 11am e ainda estávamos em casa. ela ligou e disse que não iríamos almoçar na casa da mãe dela. já que chovia e não levaríamos as crianças pra piscina, podíamos almoçar num restaurante, para passear. 'meus pais e uns amigos do stewart vão almoçar com a gente'.
fomos. na rua da casa dos velhos da mona tinha feira. tentei dois caminhos, nenhum funcionou. liguei, ninguém atendeu. olhei no mapa, e fiz um terceiro caminho, até que chegamos. meus filhos já tinham encontrado a mona, o stewart e o pequeno noah um ano atrás. mas não se lembravam.
o noah é um pequeno garoto poliglota. fala português por causa da mãe, que é brasileira. fala inglês por causa do pai, que é inglês. e fala espanhol porque nasceu e mora na espanha, onde a babá também fala espanhol.
eu não lembrava da rotina de crianças de 2 anos. assim que chegamos, a mona disse que o noah ia tirar uma soneca. mona, stewart e o casal de amigos gringos iam tomar café da manhã. eles tinham ido correr no parque e tinham comido pouco. meus filhos, que adoram comer, se sentaram e mandaram ver.
após protestos, o noah tirou a soneca dele e pudemos conversar. quando ele acordou, partimos a pé até o restaurante, onde outro casal de amigos nos esperava. começou a chover, a mona sugeriu que fôssemos de carro, mas o joão gabriel protestou. muitos guarda-chuvas em punho, e lá fomos nós por dentro do ibirapuera rumo ao restaurante.
eu não pisava no mam - museu de arte moderna, acho - havia muitos anos. a mona havia me dito que o restaurante era muito bom. no percurso, o noah no carrinho coberto por uma capa de chuva para carrinhos, meus filhos correndo felizes pela chuva, e os adultos andando com guarda-chuvas.
no bufê, NENHUMA comida interessava aos meus filhos. olho pro lado, e vejo o prato do noah CHEIO de comida: tomate recheado com queijo, torta de queijo e muitas outras coisas deliciosas. morri de inveja e lembrei de quando o meu filho comia tudo. literalmente.
as crianças - as minhas - ganharam uma taça de sorvete com calda gigantesca, e eu enchi um prato com comidas deliciosas. passada menos de meia hora, meu filho diz que quer correr no parque porque está com frio.
saio com a lívia, o joão e o noah. um presente para os adultos que ficaram sentados, conversando, almoçando e tomando café.
nossa mesa era enorme e me pareceu ser a mais barulhenta de todas. o casal de amigos do stewart - ela, alemã, ele, americano, inconfundível, com camisa social, bermuda creme muita curta, meias e umas botas timberland -; o casal que nos esperava no restaurante, que tem uma ong numa favela paulistana - ela de moletom, camiseta e pochete, e ele numa cadeira de rodas motorizada por causa da esclerose múltipla (acho que foi isso que a mona me falou, mas não tenho certeza); eu com os meus filhos, que reclamavam o tempo todo que eu não estava falando na língua deles; e a mona e o stewart, dando conta de todos esses amigos, mais o pequeno noah, que comeu pouquíssimo do gigantesco prato de comida dele e queria brincar.
na hora de ir embora, chovia. a 'pouring rain', ou em portugês claro, uma puta chuva. o stewart disse que ia buscar o carro. o casal gringo iria ver a exposicão do mam. do casal da ong estava apenas o marido: o motorista viria buscá-lo depois de levar a mulher ao cabeleireiro.
aí a conversa ficou engraçada. os gringos foram pro museu, e nós ficamos esperando o stewart, para quem não podíamos ligar porque estava sem celular. o élvio pediu ajuda para colocar as pernar na cadeira, e meus filhos perguntavam insistentemente por que ele tinha pés tão grandes. na verdade, ele usa sapatos maiores que os pés, para caber algum aparelho que eu desconheço. um homem adorável, que só mexe uma mão, e com ela come, atende o celular e comanda sua cadeira motorizada. as crianças olhavam com olhos arregalados. e eu digo que ele tem uma cadeira para ajudá-lo a andar, já que suas pernas não conseguiam fazê-lo. e ele conta, às gargalhadas, que uma vez uma criança ouviu do pai que ele, élvio, não podia andar. e a criança disse 'ele anda, sim, com a cadeira'.
finalmente o stewart chega, e voltamos à casa da miriam e do isaac - que no fim não foram almoçar com gente, porque nosso almoço foi à tarde. o dia tinha terminado, e lá fora já estava escuro. mas as crianças não tinham almoçado. colocamos uns milhos para cozinhar. eles devoram as espigas.
eu estava exausta, e consigui dizer 'crianças, tamos indo'. arrumamos a zona que estava na sala, e damos beijos em todos.
estou quase saindo quando o stewart me diz que estou fazendo 'a great job' com os meus filhos. e me dá um abraço. tchau pra todos, um abraço apertado na mona, e quando estamos saindo o noah vira a mesa de vidro do centro da sala em cima dele. daqueles milagres que só acontecem com as crianças: ele se assustou, mas não se machucou. foram buscar gelo, e eu e as crianças saímos silenciosamente pela porta, pegamos o elevador e tomamos um banho de chuva até entrarmos no carro.
agora as crianças dormem, e os ovinhos do coelhinho estão escondidos. a lívia deixou uma cenoura pro coelho, em cima de um pratinho. a cenoura já está roída. antes de dormirem, a lívia achou 'um pêlo branco do coelhinho'. eu estava fazendo xixi, e vi o joão colocando chinelos e gritando 'a gente vai lá embaixo ver se o coelhinho está lá'. eu gritei 'não, ninguém vai descer', e a resposta foi simplesmente 'mãe, a gente não vai de elevador'.
um minuto depois os dois estavam de volta, bufando. não tinham achado o coelhinho. mas a lívia me disse que tinha a 'barriga do coelhinho' debaixo da minha cama. e como ela tinha ficado com medo, havia fechado a janela do meu quarto.
depois de um dia como este, tenho certeza de que nada é em vão. e vou pra cama feliz. e, antes de dormir, vou agradecer. pelos amigos que moram do outro lado do mar e que são como irmãos para mim.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

mais do bacalhau - ou sobre celebrações

me sentei na poltrona, coloquei meus pés sobre a banqueta que é uma tartaruga entalhada na madeira, e comecei a reclamar.
das conversas sem respostas, da pindaíba financeira, do meu tamanho que é maior do que as calças que tenho no armário, de mim mesma.
é só uma cochilada e lá vêm os monstros acabar com tudo.
mas não há nada como ter um mestre. um ajudante para limpar a minha boca e tirar a areia dos meus olhos.
tem vezes em que fico muito brava. e hoje eu estava brava. louca. um dia doce, com as crianças em casa, uma ida à feira. melancia, pastel, verdes para a salada do almoço de páscoa, pimentões e batatas que faltavam para o bacalhau que vou fazer para a sexta-feira santa. e um mau humor horroroso grudou em mim. a pequena lívia me pergunta o que é mau humor. e eu tento explicar pra ela que mau humor é quando ela reclama de tudo, do início ao fim do dia. não sei se ela entendeu.
minha braveza me fez reclamar da lucidez. ou, para ser mui deselegante, das fases em que chafurdamos na merda. e ele, mui tranquilamente, me diz que a lucidez é um presente. e as merdas também. tive de concordar, e a braveza se foi.
os próximos dias serão de celebrações. ontem saí para comprar os chocolates que o coelhinho vai deixar aqui em casa no domingo. e para não dar bandeira, comprei um ovo minúsculo que o coelho vai deixar para mim, que não como mais chocolate.
no feriado de três dias, vou encontrar amigos queridos. daqueles que gostam de encontros, comidas, bebidas e alegria.
o bacalhau foi só uma desculpa. resolvi comprar um belo pedaço, que está de molho há mais de 24 horas na minha geladeira. e assim inventamos um almoço festivo para a sexta-feira santa - que ironia, justamente no dia em que minha mãe dizia que tínhamos de fazer jejum ela preparava um bacalhau à gomes de sá sensacional!
aí que calhou de a maluca da mona estar no brasil. uma amiga que eu sempre encontrei muito pouco desde que nos conhecemos, nas areias de uma praia lindíssima em santa catarina, o farol de santa marta, acho que 18 anos atrás. nos falamos pouco, nos vemos menos de uma vez por ano, e sempre sabemos uma da outra. ela parece um anjo, que sempre aparece na minha frente quando eu menos espero. assim foi num sábado em que ela me ligou para dizer que estava no brasil. e eu disse a ela para ir à minha casa, para comemorarmos o meu casamento. uma hora depois ela chegou, eu voltando do cartório, casada. e comemoramos. contei essa história pra ela hoje, no telefone, e ela deu risada. acho que não se lembrava.
no sábado vou à casa da mãe dela, com as crianças, para encontrá-la e rever o pequeno noah e o stewart, o marido da mona que eu só vi uma vez.
e para o feriado ser feliz do início ao fim, domingo vamos comemorar a páscoa com a famíla da flávia. na casa dela, com uma decoração festiva deslumbrante. casquinhas de ovos com coelhinhos cortados em papel colorido colados, amarradas com tirinhas de tecido em galhos secos. e com direito a um pernil daqueles de comer de joelhos.
acho engraçada aquela frase tão lugar-comum, quando as pessoas dizem que amigos se contam nos dedos das mãos. muitas vezes, dizem, nos dedos de UMA mão.
eu conto meus amigos nos dedos das duas mãos. e sobram amigos. desses que ligam pra contar como foi o dia, que nos chamam para comer na casa deles, que cuidam dos meus filhos melhor do que eu e pra quem eu posso dizer o que penso e o que sinto sem medo de chorar.
fico pensando no porquê de escrever tantas coisas aqui. só pensando, porque não há nada mais pra escrever sobre isso.
salve salve!
que a páscoa seja doce. por dentro e por fora.

terça-feira, 30 de março de 2010

você acabou de casar?

eu estava em êxtase, escolhendo postas de bacalhau do porto no mercado municipal de pinheiros, quando olhei para uma senhora ao meu lado e disse: 'é o meu primeiro bacalhau'. ao que ela respondeu, com uma pergunta: 'você acabou de casar?'.
nem sei que palavra usar para dizer o que senti. a primeira imagem que me veio à cabeça é de uma mulher jovem e feliz. jovem e feliz??? eu???
claro que poupei essa gentil e elegante senhora dos detalhes. eu só dei uma gargalhada, e disse a ela que quem fazia bacalhau na minha família era sempre a minha mãe. mas como ela mora longe, eu raramente provava a iguaria. então, tinha resolvido comprar bacalhau - e prepará-lo! - pela primeira vez na vida. aos 39 anos, e feliz da vida com a empreitada.
mas fiquei pensando no que seria uma mulher que compra o primeiro bacalhau porque acabou de casar. eu estava vestida de gente, e não de bicho, de vestido e sapatos mui decentes. mas daí a ter cara de recém-casada foi uma licença poética.
acho que me resta agradecer à manifestação gentil daquela senhora que escolhia postas de bacalhau maravilhosas ao meu lado. e talvez acreditar que velha é a vó do badanha. não eu.

domingo, 28 de março de 2010

existem os dias perfeitos, sim

'eu nunca mais vou brincar com você. eu nunca mais vou fazer nada pra você', me disse, muita séria, a lívia.
e com essa frase, nosso dia chega ao fim.
eles não passariam o domingo comigo. foram pra casa do pai deles ontem de manhã, sabendo que a irmã menor tinha quebrado a clavícula e, conselho do pai e da madrasta, eles não poderiam enlouquecer brincando com a pequena helena.
passei metade do sábado na escola, numa reunião de classe, e a outra metade do dia na casa de uma amiga, onde o churrasco já tinha acabado mas a comida, não. almocei uma comidinha maravilhosa. e fiquei fazendo bichos de massa de modelar com a pequena guilhermina, enquanto o irmão dela brincava no jardim e eu conversava com a doce flávia, a feliz mãe deles, que estava trabalhando.
volto pra casa no final da tarde. vejo que uma amiga deixou um recado, me convidando para ir ao cinema. preguiça. ligo, ela não atende. um pouco depois, meu telefone toca. 'mã?'. era o joão. perguntou se eu estava em casa, e me comunicou: 'a gente quer ir pra sua casa, pra dormir aí'. peço para falar com o pai dele, que me diz que se eles fossem dormir na minha casa, não voltariam pra casa dele no domingo. tudo bem, pensei. e foi tudo tão bem que não houve pedidos para voltar.
eles chegaram em casa e dormiram em minutos. em segundos, na verdade, depois que colocaram seus pijamas e escovaram os dentes.
fui acordada bem tarde, para os meus parâmetros domésticos. a lívia chegou ao meu quarto um pouco antes das 7am. e queria acordar o irmão. mas logo foi brincar na sala. e eu ganhei de presente mais uns minutos preciosos de sono.
mas ela voltou e anunciou que já era de dia, ou seja, eu tinha de sair da cama.
céu nublado, café da manhã, e depois de o joão pedir pra irmos ao parque andar de bicicleta, ele sugere que o passeio seja na liberdade.
vamos até o metrô de carro. na rua da estação, uma feira pequena os fez morrer de fome. queriam pastel. cada um com seu pastel na mão, andamos até o metrô. e lá fomos nós debaixo da terra. lembrei que já tinha andado com meus filhos de metrô, para fazer a carteira de identidade deles. olho na minha carteira, e vejo que isso foi há pouco mais de dois anos! lembro que foi uma aventura suada, a lívia no colo, o joão correndo, um bebum falando merdas na estação da sé, enquanto as crianças tomavam um picolé sentados num canto.
quando subimos a escada e demos na praça onde rola a feirinha da liberdade, o joão nos conduziu à loja onde havia espadas 'de samurai'. depois de percorrermos prateleiras tomadas de porcelanas japonesas deslumbrantes, chegamos ao canto das espadas. e meu filho me diz que quando eu arranjar um trabalho, voltaremos àquela loja para comprarmos pratos belíssimos. 'vamos trazer 2 mil reais'. não respondo. mas depois digo que sim, que compraremos pratos e cumbucas.
saindo da loja, vemos uma padaria do outro lado da rua. ele tinha ido à liberdade com a família do pai dele um tempo atrás, e tinha me contado que na liberdade havia espadas de samurai à venda ('meu pai disse que você corta a cabeça dele se ele me der uma', ele tinha me dito quando voltou daquele passeio) e uma padaria com brownie. pergunto se a padaria era aquela bem na nossa frente, e ele diz que sim.
brownie na bandeja, vamos atrás de algo para a lívia. ela quer um bolo de chocolate cujo tamanho ultrapassava umas cinco vezes o limite da barriga dela. mas logo encontramos os espetinhos de morango cobertos com brigadeiro que ela tinha comido da outra vez. a família feliz sobe as escadas à procura de uma mesa. tomo meu café, enquanto as crianças devoram seus doces, com os olhos brilhando.
bem, o passeio para eles já tinha terminado. mas para mim, não. eu queria andar pela praça, lotada. ali, andando pelas barraquinhas, lembrei que lá são vendidos limpadores de língua e cotonetes feitos de madeira, não descartáveis. eu não precisava de nada disso. eh eh eh.
volta na praça dada, descemos as escadas do metrô. e conseguimos chegar à feira uns minutos antes do encerramento das vendas. numa barraca de um cara bem malaco, compramos muitas frutas maravilhosas. e na hora de pagar peço que ele refaça os cálculos. economizei uns 15 reais. e ele nem se deu ao trabalho de dizer opa, me enganei. acho que o fato de eu ser loira estimula uns 'enganos' assim toda vez que vou à feira.
no caminho para casa, compramos um frango numa padaria. a lívia desempacota as frutas. e o joão lava a louça. almoçamos e eu ganho de presente o silêncio das crianças e durmo d-u-a-s horas. acordo num bom humor que quase não combina com uma tarde chuvosa de domingo. a campainha toca, e minha vizinha pergunta se duas sacolas de feira que ela havia encontrado na frente da porta do elevador eram minhas. ó, sim, são minhas. as crianças haviam carregado só metade das compras para dentro de casa.
banho de espuma, uvas azedinhas, e cama.
os dias perfeitos existem, sim.