domingo, 28 de março de 2010

existem os dias perfeitos, sim

'eu nunca mais vou brincar com você. eu nunca mais vou fazer nada pra você', me disse, muita séria, a lívia.
e com essa frase, nosso dia chega ao fim.
eles não passariam o domingo comigo. foram pra casa do pai deles ontem de manhã, sabendo que a irmã menor tinha quebrado a clavícula e, conselho do pai e da madrasta, eles não poderiam enlouquecer brincando com a pequena helena.
passei metade do sábado na escola, numa reunião de classe, e a outra metade do dia na casa de uma amiga, onde o churrasco já tinha acabado mas a comida, não. almocei uma comidinha maravilhosa. e fiquei fazendo bichos de massa de modelar com a pequena guilhermina, enquanto o irmão dela brincava no jardim e eu conversava com a doce flávia, a feliz mãe deles, que estava trabalhando.
volto pra casa no final da tarde. vejo que uma amiga deixou um recado, me convidando para ir ao cinema. preguiça. ligo, ela não atende. um pouco depois, meu telefone toca. 'mã?'. era o joão. perguntou se eu estava em casa, e me comunicou: 'a gente quer ir pra sua casa, pra dormir aí'. peço para falar com o pai dele, que me diz que se eles fossem dormir na minha casa, não voltariam pra casa dele no domingo. tudo bem, pensei. e foi tudo tão bem que não houve pedidos para voltar.
eles chegaram em casa e dormiram em minutos. em segundos, na verdade, depois que colocaram seus pijamas e escovaram os dentes.
fui acordada bem tarde, para os meus parâmetros domésticos. a lívia chegou ao meu quarto um pouco antes das 7am. e queria acordar o irmão. mas logo foi brincar na sala. e eu ganhei de presente mais uns minutos preciosos de sono.
mas ela voltou e anunciou que já era de dia, ou seja, eu tinha de sair da cama.
céu nublado, café da manhã, e depois de o joão pedir pra irmos ao parque andar de bicicleta, ele sugere que o passeio seja na liberdade.
vamos até o metrô de carro. na rua da estação, uma feira pequena os fez morrer de fome. queriam pastel. cada um com seu pastel na mão, andamos até o metrô. e lá fomos nós debaixo da terra. lembrei que já tinha andado com meus filhos de metrô, para fazer a carteira de identidade deles. olho na minha carteira, e vejo que isso foi há pouco mais de dois anos! lembro que foi uma aventura suada, a lívia no colo, o joão correndo, um bebum falando merdas na estação da sé, enquanto as crianças tomavam um picolé sentados num canto.
quando subimos a escada e demos na praça onde rola a feirinha da liberdade, o joão nos conduziu à loja onde havia espadas 'de samurai'. depois de percorrermos prateleiras tomadas de porcelanas japonesas deslumbrantes, chegamos ao canto das espadas. e meu filho me diz que quando eu arranjar um trabalho, voltaremos àquela loja para comprarmos pratos belíssimos. 'vamos trazer 2 mil reais'. não respondo. mas depois digo que sim, que compraremos pratos e cumbucas.
saindo da loja, vemos uma padaria do outro lado da rua. ele tinha ido à liberdade com a família do pai dele um tempo atrás, e tinha me contado que na liberdade havia espadas de samurai à venda ('meu pai disse que você corta a cabeça dele se ele me der uma', ele tinha me dito quando voltou daquele passeio) e uma padaria com brownie. pergunto se a padaria era aquela bem na nossa frente, e ele diz que sim.
brownie na bandeja, vamos atrás de algo para a lívia. ela quer um bolo de chocolate cujo tamanho ultrapassava umas cinco vezes o limite da barriga dela. mas logo encontramos os espetinhos de morango cobertos com brigadeiro que ela tinha comido da outra vez. a família feliz sobe as escadas à procura de uma mesa. tomo meu café, enquanto as crianças devoram seus doces, com os olhos brilhando.
bem, o passeio para eles já tinha terminado. mas para mim, não. eu queria andar pela praça, lotada. ali, andando pelas barraquinhas, lembrei que lá são vendidos limpadores de língua e cotonetes feitos de madeira, não descartáveis. eu não precisava de nada disso. eh eh eh.
volta na praça dada, descemos as escadas do metrô. e conseguimos chegar à feira uns minutos antes do encerramento das vendas. numa barraca de um cara bem malaco, compramos muitas frutas maravilhosas. e na hora de pagar peço que ele refaça os cálculos. economizei uns 15 reais. e ele nem se deu ao trabalho de dizer opa, me enganei. acho que o fato de eu ser loira estimula uns 'enganos' assim toda vez que vou à feira.
no caminho para casa, compramos um frango numa padaria. a lívia desempacota as frutas. e o joão lava a louça. almoçamos e eu ganho de presente o silêncio das crianças e durmo d-u-a-s horas. acordo num bom humor que quase não combina com uma tarde chuvosa de domingo. a campainha toca, e minha vizinha pergunta se duas sacolas de feira que ela havia encontrado na frente da porta do elevador eram minhas. ó, sim, são minhas. as crianças haviam carregado só metade das compras para dentro de casa.
banho de espuma, uvas azedinhas, e cama.
os dias perfeitos existem, sim.

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