sábado, 27 de dezembro de 2008

voltei pra cidade cinza, que está vazia

como dizia um editor com quem trabalhei há mais de uma década, deveríamos colocar barricadas nas entradas de sp, pra que quem saísse não voltasse mais. é uma piadinha, claro, até porque meus filhos saíram da cidade. mas que são paulo é linda vazia, é.
estou olhando pra tv, onde na novela t-o-d-a-s as mulheres são magras, quase todas são gostosas, todas têm cabelos incríveis e todas trepam o tempo todo. meu deus!
estou me preparando espiritualmente para o primeiro réveillon sozinha. digo, sem os pequenos herdeiros. já passei natal sem meus filhos, mas réveillon, nunca. quem sabe a minha preguiça com a data passa... acho um saco ficar acordada, gritar quando chega a meia-noite, tomar prosecco com cara de feliz e usar calcinha nova.
mas como resolvi superar a crise-adiantada-dos-40-anos, vou me esforçar: vou armar um jantar, vou descolar uma festa - festinha, pelamordedeus -, não vou ficar com sono antes da meia-noite e vou brindar com, pelo menos, esperança de que o próximo ano possa ser bom. ou bem melhor que os anos que passaram.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

a lu toca piano e eu me divirto suando

o calor nesta terra longínqua é quase insuportável. na verdade, É insuportável, mas por um motivo ou outro a gente sobrevive.
as férias das crianças não estão sendo ruins, tenho de admitir. as noites de sono têm sido longas, e quando são curtas é sinal de que estou com pessoas divertidas, queridas e que me fazem bem.
as barrigas da pequena família trapo vão crescendo dia após dia, com comidas "de férias": sorvetes, cookies, torta de chocolate com avelãs, amendoins, iogurtes e outras coisas que me nego a citar.
daqui a pouco vou me aventurar e fazer um molho pra temperar um peru enorme que os velhos esqueceram de tirar do freezer ontem e que hoje jaz congeladíssimo sobre uma mesa na cozinha. no fim do dia vou me aventurar e fazer a primeira sangria da minha vida. uau! grandes aventuras na cozinha.
minha crise dos 40 chegou antes mesmo de eu completar 40 e vai se agravando nesta cidade em que as mulheres andam com decotes profundíssimos, vestidos mui justos e ou transparentes - normalmente os três juntos.
o povo daqui também é extremamente impaciente. e umbigocentrados. como disse um convidado do aniversário onde eu estava dia desses: o certo é falar tu, não você. mas certo pra quem? ele falou aquilo com uma certeza e uma tranquilidade que não tinha nem um pingo de maldade no que ele pensou e falou. o cara é gaúcho, só isso.
chove uma chuva de pingos grossos, mas o calor de 35 graus à sombra ainda não foi embora. os termômetros devem estar acima dos 30 graus. mas sobreviveremos, creio.
quando eu descer rolando do avião na cinza e bela são paulo, daqui a dois dias, vou voltar à rotina de acordar trabalhar e tal e todas as 6 mil calorias diárias que ingiro nesta terra longínqua dispersar-se-ão, se deus quiser. e eu vou morrer de saudade da piscina gelada, do azul absurdo do céu de porto alegre e da sensação de "meu-deus-como-é-boa-a-vida-numa-cidadezinha-interiorana-verde-calma-e-linda".
deus esteja.

domingo, 21 de dezembro de 2008

você não tá nem acordada, nem levantada nem andando

e assim eu fui gentilmente acordada na minha primeira manhã de folga da corporação. bon jour, feriado de natal!
minha filha estava brava, porque afinal ela estava acordada, o avô estava "tirando a barba", a avó parece que estava tomando banho e eu, a mãe, estava dormindo. inadmissível.
hoje é domingo, e a pequena família trapo - ou seria melhor família trapinho? - partiu rumo aos pampas há menos de 24 horas. no aeroporto eu me dei conta de que acho um horror ser mãe solteira, uma anomalia social. mesmo pensando que casamentos não costumam ser os eventos mais felizes/satisfatórios/alegres do mundo.
revoltas à parte, papais noéis chineses que cantam e gritam "merry christmas" fazem um barulho ensurdecedor quando são ligados. tiras e mais tiras de luzinhas iluminam portas e janelas da casa dos velhos, e a piscina nos aguarda o tempo todo com água fresca, maravilhosa para o calor porto-alegrense.
crianças e avô assistem a um filme totalmente impróprio, cujo barulho é bem insuportável, e um peru gigante foi colocado no forno porque talvez minha irmã venha almoçar aqui com a gente. e uma torta de chocolate com amêndoas sensacional aguarda nossa gula pós almoço dentro da geladeira.
eu não sei se vou sobreviver uma semana de folga, quando tudo parece mais simples - mesas fartas com comidas deliciosas feitas por doces cozinheiras - e mais denso, como a falta de ar que veio junto na minha mala sem eu tê-la colocado ali.
olho pro céu e fico boquiaberta com o azul, lindo, limpo e intenso. tinha esquecido da cor do céu desta terra longínqua e tranquila.
e tinha esquecido que férias de filhos não são férias de mãe.
mas não seria isso uma injustiça?