sábado, 4 de abril de 2009

mas o que esses loucos fazem dentro do carro? - parte II

esqueci. esqueci de falar das cousas menos estranhas que ando fazendo dentro do carro e que são, no mínimo, divertidas.
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meditar. diversão e paz garantidos. sim, os olhos têm de permanecer abertos, evidentemente. mas dá pra recitar mantras praticamente ad eternum, sentir espaços dentro da gente - espaços, não vazios, e acreditar que as cousas fazem algum sentido.
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cantar. quando o carro para, mesmo, eu ponho o som mais baixo, porque acho que ninguém paga IPVA pra ouvir o sujeito ao lado cantando. mas se tá frio e os vidros podem ficar fechados, dá pra cantar. e limpar a alma.
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orar. agora entro numa seção que pode parecer viagem na maionese, mas não é. eu não consigo rezar durante o dia, correndo feito uma louca mas fazendo cara de gente normal que sempre anda devagar. dentro do carro, com um mega trânsito, é perfeito.
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pensar. uau, será que isso também vai parecer uma viagem na maionese? mas não é. a quantidade de insights que surge é surpreendente.
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ia dizer agora chega, porque hoje é sábado e eu nem peguei trânsito. não peguei trânsito, mas dirigi muito, correndo feito uma louca mas fazendo cara de gente normal que sempre anda devagar. mas agora vou dormir. e na minha cama não há carros, nem trânsito. afe!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

mas o que esses loucos fazem dentro do carro?

a lista é extensa. e, no caso, esses loucos sou eu e todas as outras pessoas que desenvolvem atividades edificantes dentro do carro.
explico. hoje fiquei fazendo as contas, e sei que hoje não foi um dia 'normal'. mas passei umas QUATRO HORAS dentro do carro. e, pior, dirigindo.
as crianças foram levadas pra escola. depois eu parti pra dentista. voltei pra casa. fui buscá-las novamente na escola, onde almoçamos, porque minha doce empregada adoeceu. voltamos pra cidade, e fomos pegar um amigo meu para irmos ao banco resolver uma pendência que já se enrolava por um ano e pouco. finalmente, no meio da tarde, voltamos ao nosso colorido lar.
e eis que me dei conta, dia desses, dirigindo, que estou aproveitando meu tempo sentada no banco do motorista. não chego ao ponto de ler revistas enquanto dirijo na estrada, o que, segundo o alexandre, meu motorista durante um longo trabalho com mais de 3 mil km de estradas no ano passado, é uma coisa corriqueira.
mas enquanto engato a primeira marcha, ando meio metro e paro, no interminável trânsito que pego às 7:30am, quando volto da escola das crianças pra cidade, organizo meu dia. como é muito cedo, não ouso ligar para ninguém. mas escrevo listas e mais listas: telefonemas para serem feitos, emails para serem enviados, produtos a serem adquiridos no supermercado. faço listas de assuntos incríveis para escrever, como este texto, que começou a ser escrito dentro do meu carro. lixo as minhas unhas, quando começam a ficar grandes e me causam incômodo. passo protetor solar no rosto, se estou a caminho do parque para uma corrida matinal.
mas comecei a achar sinistro o dia em que peguei minha correspondência e levei pra dentro do carro. bingo! comecei a ler o conteúdo dos envelopes ali dentro. contas do cartão de crédito, atas das reuniões do condomínio, propagandas disfarçadas que eu só descubro que são propagandas depois de abrir o envelope.
talvez se eu carregasse uma pinça na minha bolsa, daria um jeito nas sobrancelhas. mais aí já beira a escatologia, e eu tenho tentado manter a linha durante essa fase que me parece tão longa de mulher-procura-carona-para-levar-filhos-na-escola-e-um-trabalho-bem-remunerado.
como não me maquio, essa parte também não entra na minha lista de coisas produtivas que podem facilmente ser feitas dentro do carro. poderia passar um pó, um rímel, um batom. mas ainda não cheguei lá.
ah, ia me esquecendo do jornal. é um pouco difícil ler uma frase enquanto olho o carro da frente para saber se ele se deslocou meio metro. se isso aconteceu, jogo o jornal no colo, engato a primeira, acelero quase nada e paro. pego o jornal e leio mais umas frases.
oh my god. será que estou acabando com a minha reputação de ser humano respeitável depois que apertar no botão 'publicar postagem' deste bloguezito?
deus esteja. e nos proteja.

terça-feira, 31 de março de 2009

'mamãe, você sabe quanto eu vou cobrar?'

ele me pergunta isso quando estávamos no carro, antes das 7am, a caminho da escola. pensei, como cobrar? para trabalhar você recebe um salário!
sorte que fiquei com a boca fechada. porque, claro, meu raciocínio não fazia o menor sentido. mas o dele, sim.
conversávamos sobre idades. o joão gabriel me conta que quando fizer 16 anos vai assistir sei lá eu qual filme - eu não deixo meus filhos assitir a dvds cuja censura não é livre, e acho que isso desenvolveu uma espécie de fixação em censura de filme no meu filho, que tem 6 anos e faz 7 daqui a 10 dias. depois ele me pergunta o que ele pode fazer quando tiver 18.
digo que quando ele tiver 18, ele pode fazer o que quiser: trabalhar, dirigir, viajar, sair de casa, casar. e então, animadíssimo, ele pergunta: 'mamãe, você sabe quanto eu vou cobrar?'. e completa: '200 mil por ano. é caro. mas eu sou bom'. eu demorei pra entender.
primeiro pensei hum, 200 mil nem é tanto assim. mas isso não importa. uma criança não tem noção de dinheiro. não a noção que os adultos têm. mas depois pensei que 200 mil é muito mais do que eu ganhava! e agora nem ganho nada.
mas ele falou o valor que 'vai' cobrar quando for trabalhar sem nenhuma empáfia. ele falou aquilo e explicou. como ele é bom, o trabalho é caro.
será que se eu escrever as frases dele no espelho eu aprendo?

domingo, 29 de março de 2009

mas quem não gosta de ficar sozinho?

mariana, minha amiga, tem três filhos. ela me disse, outro dia, que adora ficar sozinha, mas não fica. não porque não quer, mas porque não consegue. ela também tem um marido.
hoje eu acordei sozinha. aliás, fui dormir sozinha também. acordei no meio da noite depois de sonhar um sonho longuíssimo, daqueles que preenchem umas quatro páginas do meu caderno. chorei sozinha, e dormi sozinha de novo. acordei e li o jornal, tomei café da manhã e voltei pra cama, pra terminar de ler o jornal sozinha. chorei mais um pouco e fui lavar a alma na cozinha, lavando louça. é um santo remédio.
uma das coisas boas da solteirice - e uma das mais chatas também - é poder (e ter de) fazer muita, muita coisa sozinha.
dormir, acordar, comer, chegar no boteco pra encontrar os amigos, fazer supermercado, ligar pro gerente do banco no meio de um ataque de fúria, falar com a atendente que diz "mas isso não é comigo" do programa de milhagem smiles.
fazer as contas e descobrir quanto estou devendo pro banco, procurar trabalho, tomar vinho. tomar banho, lavar a louça, colocar a roupa na máquina, levar as crianças pra escola.
comecei a escrever esse texto no guardanapo do boteco onde fui dia desses encontrar a mariana e outras amigas cujos filhos fizeram o jardim de infância juntos. fui a primeira a chegar, sentei e comecei a escrever.
e ontem, quando voltei pra casa sozinha, e hoje, quando acordei sozinha, fiquei um pouco - para ser elegante - de saco cheio. e triste.
sozinha é bom. mas às vezes é muito, muito ruim.