segunda-feira, 10 de agosto de 2009

como dá trabalho - ou o banho de mar sem sol

ela me ligou ao meio-dia de sábado e disse que ia pra praia no final da tarde. eu não queria ir junto?, ela perguntou. eu fiquei morrendo de vontade, mas disse que não, as crianças tinham acabado de voltar da praia, eu queria dormir cedo, e queria que eles também começassem a dormir cedo, para se prepararem pro fim dessas férias infindáveis. mas a vontade aumentou. a minha, claro.
falei pro joão e pra lívia que a paula tinha ligado e queria saber se queríamos ir pra praia. sim queremos, disseram eles, em uníssono. e então combinamos que eles, a paula e o marco, passariam para nos pegar perto das 5pm.
fomos pra casa arrumar uma mochila para passar uma noite fora da nossa casa - um pijama pra cada, uma roupa de verão e outra mais quente, um maiô. pouca coisa. mais cobertores lençois toalhas travasseiros e uma comidinha e pronto, parecia que nos mudaríamos pra praia, não que íamos dormir UMA noite numa casa fresca e linda.
descontando a ressaca da ida, porque chegamos tarde e os pequenos quiseram ficar pro churrasco, e a da volta, porque pegamos um trânsito surreal e chegamos em casa perto das 10pm, foi uma delícia. banho de mar, crianças correndo e fazendo castelo enquanto adultos liam revistas e conversavam e tomavam cerveja e comiam bolinhos de bacalhau. depois mergulhos na piscina e outro churrasco maravilhoso. e pra fechar com classe, umas partidas de dominó com chá quentinho no final da tarde, quando uma chuva muito fininha molhava o almofadão que eu deixei na beira da piscina.
eu tive de me esforçar pra entrar no mar. não tinha sol, e ventava. mas a água não estava gelada - claro que minha opinião não é parâmetro, porque lá no rio grande do sul, onde eu nasci, o mar é sempre geladíssimo.
hoje, um dia depois do banho de mar, volto pra casa e meus filhos estão indóceis. a lívia chorava, o joão gritava, e a empregada, que tinha chegado às 6:30am, já tinha voltado para o doce lar dela. uma banheira morninha e os ânimos se acalmaram. um dormiu, o outro geme no sofá.
e então minha ficha caiu. fazer diferente dá trabalho. não diferente de ninguém, mas diferente de MIM MESMO. ir pra praia à noitinha e voltar à noitinha dá trabalho. dá sono e exaustão quando a bunda da gente fica quadrada e a das crianças dança na cadeirinha do carro depois de três horas sentados. mas se não desse o trabalho que deu, como eu ia tomar banho de mar e pular ondas e cantar músicas no mar com meus filhos gargalhando em êxtase?
minha paciência foi dar uma volta em cingapura, e meu filho não tem nada com isso. enquanto ele segue gemendo no sofá dizendo que não consegue dormir, eu lembro que estou com o corpo moído.
ontem era dia dos pais, e eu sempre acho essas datas estúpidas. estúpida até o pai deles dizer que não queria vê-los porque preferia dormir. e quando o joão comentou que 'o dia dos pais tá chegando né mãe?' no sábado eu tive de citar verbalmente a data estúpida. mas ontem não falei nada. não aguentaria ouvir a pergunta deles, 'por que não estamos com o babbo?'.
o joão pergunta se pode dormir na casa do pai hoje. peço pra ele ligar e perguntar. ele liga, pergunta e desliga. e não me fala nada com a boca, mas explica com os olhos. lágrimas escorrem das bochechas dele depois do segundo ou do terceiro telefonema. escuto ele perguntar se a empregada não está na casa do pai.
ele chora no meu colo e eu choro junto. e pensei meu deus eu nunca tive um pai que não morasse na mesma casa que eu. e lembrei de um aniversário em que meu pai não pôde passar comigo porque estava no rio, a trabalho. e quando ele chegou à casa da praia, onde minha mãe meus irmãos e eu passávamos as férias de verão, com um saquinho de jabuticabas de presente! ele tava tão emocionado que acho que eu chorei.
ontem queria ter comemorado o meu dia, mas achei que era demais. não queria citar a data estúpida. nem entrar nessa idiotice de dizer que sou pãe, pai e mãe.
mas que era meu dia, era. sem contar pros meus filhos, porque eles não merecem escutar algumas coisas na idade que têm. e quando crescerem vão ler o que eu escrevi e entender um pouco o porquê de algumas lágrimas que jorram sem vergonha dos meus olhos.
eu não me arrependo de nada. e isso é bom de dizer e de pensar e de escrever. mas que às vezes podia ser mais fácil, ah, isso podia. 'o mió da vida é os caminho, não os ataio.' não lembro onde vi ou ouvi. mas gostei.