terça-feira, 15 de setembro de 2009

coisas que eu nunca pensei que faria - parte 2

demorar uma hora pra chegar ao trabalho e achar que foi bom.
achar que foi bom parece um exagero, mas hoje não foi. eu levei 63 minutos para chegar ao trabalho, e cheguei aliviada, sorrindo, feliz da vida.
há 60 dias faço caminhos diferentes - desde que voltei à vida corporativa, depois de alguns meses de prevaricação. nos primeiros 30 dias, meus filhos estavam de férias, então o caminho casa-corporação era mais curto.
mas as férias intermináveis acabaram, e com o fim delas vieram os longos, longuíssimos trechos que eu tenho de percorrer todos os dias.
no início eu ficava com falta de ar. mas agora já evoluí e só sinto dor de barriga. às vezes acho que vou vomitar, mas é um pouco de fantasia. eu ainda não vomitei por causa disso.
primeiro veio a parte quase lúdica: ver no google maps quais os caminhos para ir do km 17 da raposo tavares, a.k.a escola das crianças, até a barra funda, a.k.a. meu local de trabalho. vi vários caminhos no mapa, e experimentei um por um.
dia 1 - pela marginal tietê. mas saí antes do que devia, peguei uma avenida parada, e achei que era ruim.
dia 2 - rodoanel. claro!, como eu não tinha pensado nisso antes? chovia, e lá fui eu conhecer um trecho dessa via que, me diziam, era maravilhosa. mas aí tive uma surpresa: o rodoanel também para. depois de 45km percorridos em uma hora e meia, cheguei ao trabalho decepcionada.
dia 3 - marginel tietê, agora pegando a saída correta. bem melhor. mas depois de vários dias, o trânsito piorou, as obras tomaram mais pistas e levei uma hora e meia para chegar ao meu destino.
quinta-feira da semana passada - tentei ir pela lapa. me perdi. em vez de parar na pio XVI, fui dar perto da anhanguera. dei risada, e uma volta enorme, e cheguei via sumaré.
mais uma vez fui dar uma olhada na inteligência do google maps e sim, ali estava o que eu supunha: eu podia pegar a avenida sumaré. e lá fui eu, raposo tavares, av. escola politécnica, ponte do jaguaré, pinheiros, e opa!, parou. eu não podia acreditar. enquanto tentava raciocinar se devia parar na casa de uma amiga para ir ao banheiro, comecei a ficar aflita com a possibilidade de chorar de raiva. chorei e segui, a 5km/h quando o farol abria. num surto de raciocínio ilógico típico de quem está há uma hora e meia dirigindo, segui pelas ruas congestionadas pensando 'é claro que adultos não fazem xixi nas calças'. cheguei ao trabalho duas horas e muitas lágrimas depois. e sem ter feito xixi no carro, claro.
hoje - tentando manter o bom humor, que por sua vez teimava em não me acompanhar, fiz um caminho que o google maps não conhece. dei voltas e mais voltas por ruas pequenas e sem trânsito. e cheguei ao trabalho em apenas 63 minutos.
noooooooossa.
estou ficando com um pouco de nojo de dirigir. e tenho me portado como uma pessoa nojenta enquanto brinco de carrinho. digamos que eu já fui mais civilizada no trânsito. não que eu tenha feito ultrapassagens pela direita ou cortado motoristas, mas digamos que meu modus operandi dentro do meu pequeno carro está longe de ser elegante.
como dizia a marilei, quando perdeu metade do espaço da sala dela na rede globo, 'deus tá vendo tudo'. mas será que isso pode aliviar meus pensamentos sinistros sobre as duas ou três horas por dia que passo sentada dirigindo todo dia? (aha, até então eu só estava falando da minha IDA ao trabalho. mas tem a IDA à escola, e a VOLTA do trabalho)
não sei. mas que acho que melhores coisas têm de vir, ah, isso eu acho. e, enquanto as melhores coisas não vêm, eu uso a frase como meu mantra, pra que os surtos diários sejam breves e indolores. deus tá vendo tudo.

domingo, 13 de setembro de 2009

coisas que eu nunca pensei que faria - parte 1

gastar R$ 165 para ir ao cinema.
meus filhos são pequenos, e eu acho que cinema não é o melhor programa do mundo pra eles. pode ser um programa, e só. e eis que meu filho queria ver um filme que EU também queria. e o filme, Up, entrou em cartaz.
e então hoje ligo meu computador de manhã cedo para comprar os ingressos e evitar chegar ao cinema e ver que a sessão tá esgotada. cada filho se senta de um lado, e ficam olhando eu fazer a compra. surpresa: ao comprar pela internet, paga-se MAIS CARO. ó! diferentemente de um livro, por exemplo, que é 30% mais barato se comprado sem você colocar os pés na livraria. fiquei em dúvida, mas achei covardia de mãe desistir no meio do caminho. 60 reais.
escolhi uma sessão no início da tarde, pra evitar aquela multidão que estranhamente entope shopping centers aos domingos. e nova surpresa: o restaurante onde eu pensei em comer comida estava em reforma. e os outros dois, fechados.
nessa hora o joão gabriel já tinha pronunciado a palavra mc donald's umas 48 vezes. dou o braço a torcer, e vou comprar comidinha falsificada pra eles. 20 reais.
na hora de colocar a bandeja na mesa, ploft, o suco de uva da lívia cai. numa tentativa hercúlea de manter a fleuma, peço ao joão que vá pedir a uma das atendentes que alguém vá limprar a meleca. ele volta e diz que a moça falou algo que ele não entendeu. mudo de mesa, e vou buscar uma água de coco pra minha filha. 3,25 reais.
quando eles terminam, vamos aonde eu queria comer comida - já era meio-dia, e o salão estava aberto. explico que meus filhos não vão comer, e graças a deus cada um tinha uma bexiga vazia para encher e esvaziar 956 vezes enquanto eu me servia e comia. a comida não era horrível, mas estava a muitas léguas de distância de algo que eu chamo de bom. no fim cada um pedm um suco, e meu filho devora os pães do couvert depois que eu disse que ele não almoçaria de novo, que era o que ele queria. 54 reais.
e então eu tenho a brilhante ideia de não enriquecer mais ainda o dono do cinema e vou com eles ao carrefour comprar chocolate. e isso foi quase rápido, simples e barato. 3,75.
quando estamos a caminho do cinema, minha filha diz que tem de ir ao banheiro e começa a rebolar. mau sinal. chego nas vendedoras de pipoca do cinemark, uma me diz que os banheiros ficam 'no caminho para as salas'. a resposta me surpreende e eu pergunto se tenho direito de usar banheiros do cinema onde vou ver um filme. ela solta um grunhido que devia significar 'sim'.
a próxima barreira é a moça que pega os tickets. peço pra ir ao banheiro, e ela solta uns três grunhidos. mas deus é pai e meus filhos de fato precisavam ir ao banheiro, o que iria me livrar de sair no meio do filme com dois filhos, águas, pipoca, agasalhos e minha bolsa para levá-los para fazer xixi.
todos felizes, vamos comprar pipoca. e água. 15,25. meu filho pergunta o que é uma carrinho de papelão em pilhas no canto do balcão, e a atendente fala que é combo médio fucking blaster. pergunto o que significa, e era uma pipoca e um refrigerante. mas sem escândalos, porque nesse momento cada filho segurava sua garrafa de água - um só toma com gás, o outro só sem gás.
volto à moça do ticket para passar meu cartão - um sistema incrível, mas a maquininha pra passar o cartão tava quebrada e ela fala no seu pequeno microfone acoplado a fones de ouvido com a bilheteria. pergunta se tem uma fulana de tal, e a fulana de tal era eu. então ela olha pra mim e pros meus filhos e confirma se são três ingressos. como éramos três pessoas, acho que ela até tinha raciocínio lógico. dessa vez ela conseguiu ser simpática, afinal eu TINHA ingressos para poder fazer xixi no banheiro do corredor das salas.
finalmente chegamos dentro da sala. olho no relógio, e oh my god, faltam 30 minutos pro início do filme.
brincamos, conversamos, e os trailers de desenhos começam. e logo o filme. a lívia sentou no meu colo e disse 'acho que vou tirar uma sonequinha'.
o filme termina, as águas também, e a barra de chocolate também. e minha energia também. vamos andando e pegando escadas rolantes, acho um caixa do estacionamento, R$ 9, pago, achamos o carro sem demoras, e chegamos em casa em poucos minutos.
como se fosse um milagre, meu filho começa a montar um lego cujas peças ainda estavam em plásticos fechados dentro da caixa, e minha filha brinca com um quebra-cabeças e depois fica furando papel e recortando marcadores de livro, diz ela.
o dia foi lindo. sol, bom humor, um pouco de bola e bicicleta no pátio do prédio, chimarrão, cinema, brincadeiras em casa, e um jogo de canastra que começou cedo de manhã e terminou agora há pouco. meu filho ganhou.
e eu, que acho que sou pão-dura, contei pra uma amiga que me ligou que tinha gastado 150 reais para ir ao cinema (eu ainda não tinha somado, pra escrever este texto). e ela disse que isso é são paulo, e que por isso ela faz uns programas off-cinemark, tipo levar as crianças ao teatro no clube. clube? i can't afford to it.