domingo, 21 de junho de 2009

quando tem tempo, ela trabalha

a minha casa tem duas caras. cara de 'aqui moram crianças', que é todo dia. mas, de 15 em 15 dias, tem a casa 'isso é uma zona'. quando eu fico sozinha, lavo a louça quando não consigo mais chegar até a pia da cozinha e deixo bolsas e casacos e óculos de sol espalhados, além da cama desarrumada e jornais largados pelo quarto, pela sala e pela cozinha. agora, a casa tá assim.
estou fazendo pão. minhas habilidades com receitas são muito mais teóricas do que práticas. adoro descobrir novas receitas, guardá-las numa pasta, anotar receitas de amigas. mas executá-las não é comigo. dou as instruções, e lá vai a doce nalva satisfazer meus desejos gastronômicos. então coloquei a tigela com a massa de pão para crescer no sol. nunca ouvi dizer que isso faz o pão crescer - aliás, nunca ouvi ninguém dizer que PÕE o pão para crescer no sol. mas o único lugar da minha casa que é frio é a cozinha, que recebe a visita do sol somente no verão, por poucos dias, de manhã bem cedo. portanto, trouxe o pão para a sala ensolarada e quente.
a massa não cresceu nada. agora bolinhas de massa crua repousam sobre a fôrma, coberta por um pano de prato, sob o sol. daqui a uma hora saberei se os pães cresceram e se serão comestíveis.
hoje é domingo e eu não vou sair de casa. dormi mais ou menos 14 horas, o que acho que é uma vingança do meu corpo: já que não dá pra dormir durante a semana, ele aproveita o fim de semana. aliás, ele, o meu corpo, tem dado sinais claros de felicidade. no lugar de frios sinistros que eu andava sentindo, tenho morrido de calor. claro que não é à toa: uso mantas e cobertores e durmo com um casaco de lã pura mais um cachecol muito macio e que me aquece muito. nessas horas é uma felicidade muito grande dividir minha cama apenas com a montanha de travesseiros que vivem lá.
mas desconfio que outro motivo que faz meu corpo dar sinais de alegria por meio do calor que sinto - além da diminuição de quilos que ele tem de carregar, graças à minha adorável e sinistra dieta - é a alegria que eu tenho sentido.
ontem marquei um almoço num restaurante 'de carnes', conforme o desejo da minha amiga. um restaurante argentino delicioso. tinha espera, e eu sentei no balcão sossegada, e pedi uma norteña. quando minha amiga chegou, havia uma mesa vaga para nós. como sempre acontece toda vez que nos encontramos, falamos de tudo e ainda faltou tempo. mas ela tinha aula de dança de salão e eu tinha de dormir. nós não temos muito em comum, além da profissão e de termos passado por dois casamentos. mas ao mesmo tempo a gente conversa e nunca é necessário explicar nada. eu entendo o que ela diz e ela entende o que eu digo. ela anda tão, mas tão feliz, que tem tido pouco tempo para trabalhar. isso não quer dizer que ela não trabalha nem que trabalhe sem dedicação. ao contrário. mas ela tem descoberto coisas maravilhosas na vida, o que faz dela uma mulher belíssima aos 53 anos. ela reformou inteiro o apartamento que comprou e para onde acaba de se mudar; ela tem trabalhado de forma comedida; ela tem muitos amigos divertidos; e ela descobriu que por muitos anos ajudava todos sem parar. agora, ela cuida mais dela do que dos outros.
quando cheguei ao nosso encontro, eu estava lenta. na verdade, esse é o meu objetivo de vida, mas eu não consigo segui-lo diariamente. na noite anterior ao nosso almoço, eu fui com uma amiga a uma festa de aniversário onde eu iria encontrar pessoas dos velhos tempos. gente com quem trabalhei entre 97 e 2000, quando eu era bem mais jovem e bem mais besta. a festa era uma balada, som alto que me fazia gritar no ouvido das pessoas para poder me comunicar. eu e minha amiga brincamos que tínhamos deixado as bengalas em casa para irmos à festa. mas tava tão bom que fomos embora às 3am, coisa excepcional para velhinhas como eu e a carla. na verdade o melhor da balada não foi ter dançado, mas ter tido uma companhia ótima. nós íamos a muitas baladas há uma década, quando éramos mais jovens, mais bobas e tínhamos muito mais energia. demos muitas gargalhadas e, na hora de ir pra casa, cumprimos o combinado, que era voltarmos juntas. ela tinha deixado uns remédios no meu carro, que não cabiam na bolsa minúscula. disse pra ela que quando estivermos casadas e cheias de filhos, vamos sair juntas para dançar e dar risada.
antes da balada de sexta, fui jantar na casa de uma amiga de infância. fui não, fomos. éramos três mulheres, que se conhecem há 32 anos. os filhos da dona da casa estavam jantando quando a paula e eu chegamos. logo eles foram encaminhados pra cama, e comemos e conversamos. havia sopa de ervilhas e salada, e quando a dani sugeriu uma pizza, a paula e eu declinamos. mas mais tarde chega o marido dela, com pães fresquinhos do supermercado. e então elas fizeram a segunda refeição, agora com queijos, geléia e doce de leite. conversamos durante horas, coisa difícil quando na conversa estão envolvidas moças ou casadas (caso da paula), ou com filhos (meu caso) ou os dois (caso da dani).
um dia antes do frugal jantar entre amigas, uma outra amiga veio à minha casa tomar sopa e vinho. fazia tempo que não nos víamos, a gente não lembra quando foi a última vez. há um ou dois anos, ou um pouco mais. foi um presente. a gente conversou muito e eu fiquei pensando no que há com essas amizades em que a gente se vê tão pouco porque estamos todos loucos trabalhando e dando conta da vida mas que continuam sendo grandes amizades. a gente conversa e parece que nunca parou de se falar.
acabo de ver que as bolinha de pão não cresceram nada. isso quer dizer que vou fazer pães-sola-de-sapato, ah ah ah. e agora vou lavar a louça que entope a minha cozinha para poder almoçar.

Um comentário:

Anônimo disse...

OI, Tita! belezinha?
Vortei!! sua dieta jah acabou eh?! tais podendo comer pão..ki bão!!ehhhehe eae qtos quilos perdeu? eu axu ki agora vc devia ter + frio..afinal, tem menos celular adiposas neh..:)
ah, qdo eu tava com mta fome deixava o pão crescendo no micro-ondas..ahuahua uns 20s cresce q eh uma beleza..hehehe tenta aí e me chama pra experimentar...ehheheh ;)
bjoks,
Lu