domingo, 16 de agosto de 2009

o corpo, a alma e a pressa

eu abri os olhos e vi que eram 6:58am. e lembrei que hoje era domingo. virei pro lado, me cobri e tentei dormir. mas minha cabeça pensava rapidamente, e meu corpo, mesmo relaxado, também parecia estar com pressa.
fiquei ainda quase uma hora na cama, mas uma falta de ar, um presentinho que a pressa traz com ela, não me deixou muito feliz. e então me levantei como se estivesse atrasada para viver.
tentei tomar o café da manhã devagar, e enquanto comia um pedaço de pão sensacional, com grãos integrais (coisa que está fora da minha dieta há alguns meses) recheado com frutas secas e castanhas, ia lendo o jornal. mas não consegui nem comer devagar, nem ler devagar. e como o antídoto da pressa para mim é a limpeza, fui lavar louça e colocar roupas para lavar na máquina. aproveitei para lavar com uma escovinha e água morna meu canivete, que tava pedindo uma limpeza. e desentupi a bomba do chimarrão, um trabalhinho zen que consiste em colocar um pedacinho de arame por dentro da bomba e depois lavar com água e assoprar. dói a boca.
estava com a sensação de estar atrasada ainda quando olhei no relógio e eram 9am!
na sala estou arrumando minha bolsa, minhas contas, uns papéis. quando meus filhos voltarem pra casa do final do dia a mesa da sala estará limpa, sem nada em cima, o que não acontece há um mês.
outro dia, enquanto arrumava meu armário, tirei umas fotos de antes e depois. here they are. e antes de eu pensar que posso estar mostrando sem inibições meu TOC, respiro aliviada ao entender que não é TOC, é inspiração. arrumar por fora para dar tempo de arrumar por dentro.

antes



não basta arrumar, é preciso limpar



inspirada no método marlene-manda-seus-filhos-arrumar-os-armários, que eu aprendi ao ouvir relatos do joão: tirar tudo, primeiro




ulalá! parece uma mágica, mas é o mesmo armário, com as mesmas coisas guardadas dentro



menos é mais





eu gosto de ter finais de semana livres. e por livres quero dizer sem nada marcado. nenhum encontro, nenhuma ida ao cinema, nenhum almoço. mas aconteceu o contrário. o pai dos meus filhos ligou na sexta pra dizer que viria buscá-los ãs 7:30am no sábado. aproveitei e minha manicure chegou antes das 8am. depois fui fazer um programa a-gente-rala-a-semana-inteira-mas-também-é-gente com a doce paula. fomos comprar roupas maravilhosas numa venda promocional, umas pechinchas. quando sentei para almoçar, numa salinha onde não se entra com sapatos num restaurantezinho indiano perto de casa, consegui COMER devagar. e pela primeira senti uma alegria enorme por estar separada. pensei no horror, no caos, na tristeza que seria a minha vida se eu não tivesse escolhido viver sozinha com os meus filhos. mas assim que saí do restaurante, depois de ter comprado uma caixa de incensos gorduchos e excepcionais, minha pressa voltou. e dirigi por uma hora para passar a tarde sentada escutando sobre shiva e parvati, divindades hinduístas que representam o homem e a mulher e que na mitologia passaram milhares de anos fazendo amor. quando dirigi outra hora para voltar pra cidade - o workshop era fora de sp -, encontrei com minha dinda, que está na cidade cinza a trabalho. exausta, fomos jantar. e assim que a comida acabou, disse 'vamos embora?'. fina, eu.
quando cheguei em casa, meu corpo doía. e pensei que ele doía não porque eu tinha passado o dia todo fazendo coisas em vez de não fazer nada, mas porque eu só tinha feito coisas boas e meu corpo doía de felicidade. iguais às dores que sentimos depois de passar um dia fazendo uma caminhada de 15km pela chapada diamantina ou depois de nadar por uma hora no mar.
hoje acordei pensando em shiva e parvati, pensando que eu queria sair para andar de bicicleta, pensando na ida a uma exposição com uma amiga querida, pensando no almoço que eu tenho na casa de outra amiga que tá numa casa nova, pensando na volta às aulas das crianças amanhã, pensando no abraço meu-deus-eu-vou-desaparecer-me-tornar-uma-nuvem-que-delícia que recebi depois do workshop de ontem. mas não tinha pensado numa coisa maravilhosa: eu não posso ir morar numa casa nem me mudar pro meio do mato porque eu não aprendi a viver sem pressa. só quando eu não sentir mais que estou atrasada para a vida é que vou poder construir uma casinha com janelões gigantescos e chão de madeira e uma varanda com rede e poltrona e mais um gramado pros meus filhos correrem e ficarem bem sujos de terra.
por ora minha visão idílica de mundo é morar no meu pequeno apartamento. e quando meus pés ficarem com saudades de pisar no chão, ir ao parque pisar na grama ou ir pra praia correr na areia.

2 comentários:

ativistabiscate disse...

Oi Tita!

Não teve jeito, li, li e liii praticamente metade do seu blog,super interessante, coisa que nao acho nem da metade desses blogs pessoais!
Vi em você a imagem da minha mae que, também com dois filhos pequenos (um casalzinho)teve que se virar sozinha sem um marido,parabéns!voc~e escreve de um jeito leve e descontraido que só nos faz querer ler mais!

acompanharei sempre! beijos.

tita berton disse...

uau! que comentário animador para uma segunda-feira linda e ensolarada, com um trânsito que dá dó!