quinta-feira, 23 de julho de 2009

pão, iogurte, manteiga

pão, iogurte, manteiga. pão, iogurte, manteiga. eu ia repetindo enquanto estendia a roupa hoje de manhã, pra não esquecer de escrever os itens na lista do supermercado que anda na minha bolsa há quase uma semana. e não paro de pensar no que significa as duplas (ou triplas) jornadas femininas de que tanto ouço falar mas que eu nunca tinha experimentado assim, de verdade e com exaustão.
o joão gabriel acordou cedo, foi pra minha cama e fungou durante uma hora. saí da cama às 7 e meia. pilhas de louça suja me deram bom dia quando cheguei à cozinha. e lá fui eu lavá-las, e jogar umas roupas na máquina. olho pro chão e vejo que a situação está crítica. varro tudo, e limpo a mesa, onde tinham passado a noite muitos e muitos farelos de pão do jantar das crianças.
o joão entra na cozinha e me convida para jogar canastra. ele vai pra sala arrumar as cartas, enquanto eu recolho a roupa seca do varal, dobro tudo, levo pro meu quarto, esquento água, coloco a mesa do café da manhã e faço chá e café. ele chega na cozinha e reclama: eu demorei tanto, diz ele, que ele já tinha pegado o morto. mas sem roubar, me garante, sem olhar nos meus olhos.
sento na mesa da sala e jogamos uma partida na qual ele fez muitas canastras e eu, nenhuma. a lívia acorda e vamos tomar café.
encho a banheira, convenço um de entrar no banho. depois convenço outro. limpos e vestidos, os sujeitos se sentam em frente à TV. penteio os cabelos dos dois, corto as unhas sob protestos, e vou tomar banho. quando me visto, não estou com calor, mas estou suando.
sei que são 10 horas quando toca a campainha. abro a porta e dou o lixo pro jailton, o faxineiro do prédio. vejo que ele veste uma blusa de lã e pergunto se está frio. ele diz que sim, que está muito frio.
morrendo de calor, escovo os dentes das crianças e peço que coloquem os agasalhos e sapatos. desligada a TV - depois de uma minúscula discussão, afinal são dois filhos e uma só TV, mas os dois querem desligá-la -, saímos de casa.
meu filho havia ligado pro pai dele cedo, pra perguntar se iriam pra praia hoje ou amanhã. o joão desliga o telefone e diz "não vamos pra praia. nem hoje, nem amanhã. a gabi está doente". bingo!
deixo as crianças na casa do pai e descubro que a madrasta deles está travada na cama. dores nas costas. ontem, que seria o dia de dormir na casa do pai, o próprio iria a uma festa. hoje, a mulher está doente. e amanhã, "não dá", me diz ele, meu ex-marido.
passadas quatro semanas de férias das crianças, estou exausta. passamos duas semanas no sul e duas semanas em são paulo. nessas duas últimas, eu levo as crianças pra casa do pai de manhã e busco no final da tarde.
o pão tinha acabado em casa. por isso, depois de deixá-los no pai hoje de manhã, fui ao supermercado. entrei de óculos escuros, chorando. de raiva e de solidão, acho. fui trabalhar e no trabalho cancelei com três amigas o nosso encontro de hoje à noite.
busco as crianças quando já é tarde pros parâmetros deles. hoje é meu rodízio e só saí da corporação às 8 da noite. eles já tomaram banho e "comeram na festa de aniversário da prima", me explica o pai deles. chegamos em casa e meu filho some. está na cama. escovo os dentes dele. minha filha quer tirar as compras que fiz de manhã e que passaram o dia no porta-malas do carro das sacolas. logo ela vai pra cama, e eu vou atrás escovar os dentes da guria.
então meu filho diz que está com fome. minha filha havia comido um pedaço de pão que ela tinha abandonado do café da manhã. digo pros dois que são quase 9 da noite e que não é hora de jantar. e a lívia pede água. levo um copo, que ela toma aos golinhos, bem devagar, até terminar tudo. enquanto eles dormem, penso no que sobra de mim para dar a eles a essa hora da noite. nada. ou quase nada.
mas tenho uma noite inteira de sono para amanhã acordar feliz e cansada e enchê-los de beijos, cheirar pescocinhos que têm o melhor cheiro do mundo e dizer muitas e muitas vezes que eu os amo.
e essa é a melhor parte da vida.

Um comentário:

Jansen disse...

Bob: It gets a whole lot more complicated when you have kids.

Charlotte: It's scary.

Bob: The most terrifying day of your life is the day the first one is born.

Charlotte: Nobody ever tells you that.

Bob: Your life, as you know it... is gone. Never to return. But they learn how to walk, and they learn how to talk... and you want to be with them. And they turn out to be the most delightful people you will ever meet in your life.

Charlotte: That's nice.


senti um prazer enorme ao ler esse teu post. ótimas palavras, ótimo blog. :)