segunda-feira, 15 de junho de 2009

o lado B

amanhã, às 6am, quando eu entrar no quarto dos meus filhos, eles não sairão da cama prontamente. passada uma hora e meia da hora da lívia dormir, ela chega na sala e diz 'eu vou dormir no sofá, eu odeio dormir na minha cama'. penso em dizer uma coisa horrível pra ela, que há crianças que não têm nem casa nem cama. respiro fundo e não digo nada. me sentei e comecei a escrever.
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meu filho voltou há pouco de uma festa de aniversário. entrei no bufê para buscá-lo, e o lugar era uma espécie de ginásio, cheio de brinquedos a la parque de diversões. todos desligados, porque era o fim da festa. mas a música era alta, e eu não conseguia chamá-lo sem gritar. no carro ele me disse que tinha música muito alta. agora ele dá socos na mesa de jantar e fala barbaridades impublicáveis.
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eu tenho horror de festas prontas. de festas em que o anfitrião - ou os pais dele - assinam um cheque, e esse é todo o esforço. sem querer desmerecer ninguém. minha barriga dói, e meus filhos andam pela sala.
eu sou uma pessoa antiga, acho. adoro brigadeiros feitos em casa, e não esqueço da festinha do joão em que o bolo de cenoura do parabéns ainda estava quente quando foi cortado. as pessoas falavam oh!!!!! como os americanos falam oh!!!! quando comem um bolo feito em casa - coisa que eles devem fazer no máximo uma vez por ano, pelos ohs!!!!! que falam ao provar homemade food.
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ele disse 'você está bem', e eu concordei. mas lembrei do cansaço que senti quando estava com as crianças no sítio de uns amigos e meu filho estava indócil. assim como o bernardo, filho da minha amiga que me convidou para o ir ao sítio.
eu nunca achei legal criar filhos sozinha, e continuo não achando. acho que é um descompasso, um acidente de percurso que deus não deve ter previsto. aí em momentos como este, em que escuto impropérios de um filho, e vejo uma filha andando pela sala, acho um horror ter de dar conta de tudo sozinha. horror é pouco. mas eu vou ser fina.
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minha cunhada achou o máximo quando soube que teria uma filha sozinha. a marcela, a filha mais velha, tinha então 4 anos. e a béti resolveu se separar do marido. um mês depois, descobriu que estava grávida. sem marido, morando a umas 10 horas de carro da família, fazendo plantões em hospitais, ela teve a linda vitória.
eu na época não tinha ideia do que isso significava. nem filhos eu tinha. mas eu achava que ela era a mulher 'revista nova'. linda, gostosa, trabalhadora, sustentava a família e ainda achava isso bom!
numa época ela dizia que nunca mais teria cuecas em casa. e eu dizia que isso era radicalismo e uma grande bobagem. ela gargalhava e insistia nas gavetas sem cuecas.
os anos se passaram e ela se casou com o homem ideal, de acordo com a visão dela e com a visão dele, o novo marido. e de acordo comigo também.
o felipe, um homem descasado e sem filhos por opção, convidou a então namorada E suas duas filhas para morar com ele. reformou o apartamento, e vivem felizes.
quando eles se casaram, a béti trocou de nome. por telefone, me explicou: aos 42 anos, não tinha de provar mais nada pra ninguém, por isso estava trocando de sobrenome.
esse é o conto de fadas da béti. que eu não inventei nem li em nenhum lugar. ele existe.
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eu sonhei com L., como tenho sonhado há tanto tempo. uma fantasia louca de um príncipe encantado que vai me salvar. vai me amar incondicionalmente, vai comprar um sítio comigo e vai achar excelente a ideia de termos um filho. um homem que vai me fazer feliz até o fim da minha vida. e como L. é um homem lindo, bem-sucedido, inteligente e tem um puta senso de humor, nos meus sonhos ele vira o príncipe salvador.
quando acordo, fico aterrorizada. escrevo o sonho, leio e releio o que escrevi, e fico furiosa com uma fantasia tão sem cabimento.
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minha barriga ainda dói. e os selvagens dormiram, cada um com uma bolsa de água quente na barriga.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Tita, tô aqui, acompanhando tuas belas palavras. Torcendo pra que L. apreça, mas um L. de verdade, que talvez não seja tão perfeito quanto o do sonho, mas que seja muito legal!
Beijos,
Dani J.