sexta-feira, 28 de agosto de 2009

sobre vinhos alegres e vinhos tristes

foi uma descoberta. e aconteceu de um dia para o outro. literalmente.
primeiro tomei o vinho triste. tinha chegado em casa no final do dia, e achei que um pouco de vinho ia me ajudar a digerir entender aceitar as palavras duras que tinha acabado de ouvir. sim, eu, como a maioria dos mortais, passa mal quando escuta verdades profundas. daquelas que tocam a alma sem passar por nenhum lugar antes. daquelas que a alma escuta antes dos ouvidos, antes do coração.
e então, e eu ainda não sei por quê, liguei pra ele. eu não costumo fazer isso, porque ele é uma pessoa pra quem eu não tenho nada pra falar, descontando umas coisinhas cotidianas que podem ser resolvidas por email. mas eu liguei, e o telefonema durou horas. um telefonema de horas pra mim significa qualquer conversa pelo aparelho que dure mais do que dez minutos. mas durou mais do que isso. muito mais. pelo relógio talvez uma hora, mas pela minha alma durou uma eternidade.
eu consegui falar coisas horivelmente profundas dolorosas verdadeiras pra uma pessoa pra quem eu costumo falar, no máximo, oi e tchau. muitas vezes só oi, porque o tchau eu acabo achando desnecessário.
chorei, senti falta de ar, chorei mais ainda. quando desliguei o telefone, não acreditava que tinha rolado uma DR com quem eu não tenho R nenhuma. legenda: discutir a relação.
depois dessa DR sinistra, fiquei triste, mas tenho a impressão de que a tristeza não é em vão. a raiva que mora dentro de mim foi dar uma volta, e no lugar dela a tristeza chegou, sentou e ficou. tristeza pelo que já passou, pelo amor que era lindo e acabou, pelas coisas que eu sempre disse e que ele nunca escutou e, pior de tudo, pelas coisas que ele sempre disse e eu nunca considerei. porque nunca as entendi.
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o vinho alegre veio logo depois. mais especificamente, uma noite depois. quando eu tava dura, eu e meu corpo e minha alma, tentando juntar uns pedaços de mim que tinham ficado separados desde a noite anterior.
o vinho alegre veio acompanhado de pessoas doces, comida boa, músicas lindas e risadas. e de um vaso com três flores cor-de-laranja belíssimas. o oposto da noite anterior, que tinha tido conversa amarga, um pouco de sopa, nenhuma música e muitas, muitas lágrimas.
o vinho alegre era suave, tinha cheiro bom. era claro. diferentemente do vinho triste, que era quase amargo e escuro, horrivelmente escuro. vinhos tristes são escuros densos sem chão. uma merda.
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talvez eu devesse ler um livro de auto-ajuda daqueles bem iditoas, que dizem que o importante é ter bons pensamentos, acreditar que as coisas vão dar certo e blablablá. mas tenho nojo disso.
me sinto uma adolescente. parece que todo o esforço tem sido em vão. coisa chata essa sensação de o-amor-próprio-chega-ao-chão-e-eu-me-sinto-uma-idiota.
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faz frio lá fora. e aqui dentro também. e eu me lembro dos felizes dias que vivi em boston, quando fazia tanto frio mas eu estava sempre tão quentinha. uma parte doce da minha vida, quando achei bom sair do brasil e deixar um belo apartamento um bom emprego e um carro novo pra viver ao lado do meu amor. o bom disso tudo é que eu não sei se faria tudo de novo, mas não me arrependo de um segundo do que vivi lá. mesmo sabendo que, passados muitos anos, ele - o da DR - não lembra de nada disso nem nunca me disse que foi feliz como eu fui.
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às vezes acho que os anjos tiram sonecas longas e acabam esquecendo de cuidar da gente aqui na terra.

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