quarta-feira, 28 de outubro de 2009

ela não cabe dentro dela

eu tava voltando pra casa, dirigindo os últimos metros dos 50km diários, quando vi uma mulher andando na calçada ao lado de um garoto que, pra mim, era o filho dela.
a mulher vestia uma bata pink, uma calça jeans e umas sandálias de salto alto. tinha os cabelos compridos, bem cuidados, e uns óculos de sol enormes, acho que rosa.
ela andava e saltava aos olhos o desconforto. ela não cabia nela mesma. ela parecia não caber na vida dela.
como explicar isso?
fiquei pensando nas pessoas que falam e escrevem sobre elegância, sobre vestir-se bem. e lembrei da máxima da elegância, que é estar bem vestido e confortável metido na roupa. tanta gente - eu inclusive - diz que entre a elegância e o conforto, opta pelo segundo. mas os elegantes de verdade vestem-se bem sem abandonar o conforto.
porque eles cabem dentro da vida deles e cabem dentro das roupas que vestem também. bingo!
as pessoas que cabem dentro das próprias vidas podem vestir qualquer coisa que fica ótimo. lembrei dos pescadores em santa catarina, quando eu era muito feliz e sabia, e alugava casinhas singelas na praia da pinheira, que hoje já não é mais uma prainha singela nem tão linda. os pescadores vestiam camisetas velhas, shorts em tecidos sintéticos e havaianas gastas, e pareciam ótimos.
mas as roupas são a parte menor da história. mas mostram claramente como estamos lidando com as coisas da nossa vida.
o carro em que a gente anda, a casa onde a gente mora e o trabalho que a gente faz também cabem - e trazem conforto - ou não cabem - aí ajustes são necessários - na vida da gente.
e o esforço, hercúleo, é descobrir o nosso tamanho. pra tudo caber dentro da gente. até as pessoas que a gente ama e o olhar que a gente tem pro mundo.
porque o conforto não vem de fora, mas de dentro. ou você nunca comeu um PF numa espelunca que foi uma refeição inesquecível e achou horroroso um jantar num restaurante mega blaster incrível?
nas palavras do sábio hermann hesse:
"nada posso lhe oferecer que não exista em você mesmo. não posso abrir-lhe outro mundo além daquele que há em sua própria alma. nada posso lhe dar, a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo."
dio santo!

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