segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

finalmente, o ano começou

o despertador tocou às 5:15am. eu saí da cama animadíssima. para quem tem herdeiros em idade escolar e que dependem de alguém que os leva à escola, a volta às aulas é sinônimo de início de ano.
estava escuro, como sempre é nesse horário. mas como a janela da cozinha é enorme, eu vejo o céu escuro e vejo também o dia nascendo. o horário mais glorioso de todos.
este ano vai ser diferente. e eu estou com medo.
levar e buscar os filhos todos os dias da escola é o plano A. o plano B é levá-los e buscá-los da escola todos os dias. e o plano C é idêntico aos planos A e B.
e para sair de casa à noite sem estar acompanhada dos meus pequenos herdeiros eu terei de subornar a doce nalva. até então, nos últimos quatro anos, meus filhos dormiam uma vez por semana na casa do pai deles - primeiro na casa da noiva do pai, onde ele morava, depois na casa da namorada do pai, que virou a mulher do pai deles. mas eles têm outros planos para este ano, e a ida à casa do pai durante a semana não existe mais.
eu tenho a sorte de ter amigos adoráveis. tão adoráveis que cuidam e amam meus filhos de uma maneira surpreendente e inacreditável para quem não é nem parente. isso é um alívio para o coração, pelo menos.
...
eu contei a ela que tinha passado umas semanas na praia com as crianças durante as férias delas, e que depois tinha ficado quase 20 dias sozinha em são paulo, quando as crianças viajaram com o pai delas. e ela disse 'nossa, que tédio'. o quêêê? disse a ela que o tédio não tinha me visitado. e que com os meus dias sem horários, sem obrigações e sem nenhum 'manhêêê' eu consegui me divertir, visitar muitos amigos, passear, viajar, dormir. ao que ela respondeu: 'eu não consigo ficar sem a minha filha'. é engraçado como algumas pessoas conseguem casar com os próprios filhos que têm. grudam neles como grudam nos seus maridos ou mulheres. ninguém pode ir até a esquina sozinho porque a esquina é muito longe do alcance dos olhos. eu tento não encarcerar ninguém que eu amo. é um esforço diário, que pelo que me lembro começou quando nasci. nunca acreditei nisso, desde pequena. não gosto de gaiolas, de grades, de carros blindados nem de ciúmes.
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ele disse que eu sou 'foderosa'. ela disse 'então você é guerreira'. é engraçado como as pessoas veem coisas na gente para as quais estamos cegos. hoje vi um filme belíssimo - será que é isso mesmo ou meu cérebro também engordou nas férias e está lesado? - e fiquei surpresa. meus filhos assistem a muita coisa que eu considero lixo e que eles amam. mas mulan II - 'em números romanos', disse o joão gabriel - fala das escolhas do coração. as imagens são surpreendentes, e o texto é maravilhoso, um escândalo, se eu considerar o tanto de filmes-lixo que são produzidos 'para crianças'.
mas voltando à minha cegueira em relação aos comentários que escutei: se eu tivesse que escolher de novo o que escolhi na minha vida, eu faria exatamente as escolhas que fiz. meu adorável sogro clemente dizia isso, e por isso eu acho que ele morreu feliz. ele dizia que fez tudo o que queria ter feito na vida dele.
e penso nas minhas escolhas mais recentes. morar sozinha com os meus filhos, comprar um apartamento em são paulo quando estava muito dura, sair de um trabalho assustador. na hora da decisão, a gente nunca sabe o que virá. mas eu sempre soube que estava escolhendo o que era viável para o meu coração. o resto é detalhe, é pouco, é bullshit.
mas o resto pode ser ficar dura. morrer de medo. e ter a sensação de que não vou dar conta. sentir falta de ar. e chorar.
mas é também deitar a cabeça no travesseiro e dormir longas horas de um sono bom. ter sonhos doces. e ver meus filhos crescendo fortes, alegres. ver meu filho fazer a lição e escrever letrinhas com cuidado no caderno. e ouvir minha filha perguntar: 'já é 1h?', e eu responder 'a 1h da madrugada já passou, mas a 1h da tarde ainda não chegou'. e ouvir a resposta: 'mas mãe, a 1h é a primeira hora das horas são, né?'.
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deus esteja.

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