domingo, 29 de novembro de 2009

estamos todos cansados

o ano tá acabando, e estamos todos cansados. mesmo depois de uma noite de 12 horas de sono, as crianças acordam com cara de ressaca. e eu também.
não há nenhum sonho mirabolante para o próximo ano, graças a deus. os cabelos brancos não são em vão. eu não quero emagrecer dez quilos nem começar a correr maratonas. sinto uns frios na barriga, mas só das coisinhas de todos os dias. onde encontrar um trabalho bom? como não comer pão? qual computador é mais eficiente? como fazer meu filho usar o aparelho nos dentes depois do investimento estratosférico?
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às vezes a gente dá conta da vida e acaba achando tudo tããão banal. a vida segue em preto e branco e em slow motion. chopps em slow motion, conversas com os amigos idem. estou terminando de editar um livro em slow motion, e bebo vinho gelado em slow motion também. é quase uma chatice, não fosse o conforto que essa velocidade lentíssima traz pra mim.
minha pequena casa tá enfeitada. no canto da sala o pinheirinho (porque é pequeno mesmo) tem luzinhas (pequenas também) acesas, e é doce olhar para ele e saber que é época de natal. calendários de advento espalhados pelas paredes também são visões boas. hoje meus filhos e eu cantamos músicas de natal com a primeira vela da coroa de advento acesa. morri de saudades do meu avô, e lembrei de quando cantávamos músicas de natal ao redor da pequena mesa de jogos, num canto da sala gigantesca da mansão onde ele morava. a maioria das músicas em alemão, e eu, meus irmãos e meus primos íamos pela melodia, não pela letra.
semana passada fui à kopenhagen comprar os adoráveis chocolates para pendurar na árvore. e não resisti: disse pra moça que me atendeu que a produção desses chocolates tinha no mínimo 40 anos - essa é a parte que eu conheço, mas os chocolates devem ser mais antigos que isso. ela fez cara de paisagem, e eu vim pra casa feliz da vida carregando aquela sacolinha valiosíssima. o preço desses chocolates em forma de bengalinha, pinheiro, bota, bola é um absurdo. e a alegria de ter esses chocolates na árvore não tem preço. mesmo.
um dia depois, convoquei as crianças pra cozinha: dia de fazer a primeira leva de biscoitos de natal. eles ficaram comigo na cozinha do início ao fim da tarde. quebraram ovos, misturaram a massa com as mãos, abriram a massa com o rolo, cortaram os biscoitos com as forminhas, colocaram os biscoitos na assadeira, jogaram açúcar com canela sobre eles. depois ainda rolou uma operação colocar-os-biscoitos-no-saquinho. e ainda a distribuição para os porteiros zelador e faxineiro do prédio.
nesta semana faremos a segunda rodada.
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ontem tomamos chá e comemos bolo ao som de um piano. meu filho deve ter algum antepassado nobre, cuja existência desconheço. ele se sentava na mesa do salão de chá e ficava bebericando e comendo bolo. uma hora numa mesa de amigos da professora dele, e depois sozinho, bem feliz. estávamos no bazar de natal da escola dos meus filhos, quando rola também a exposição dos trabalhos em cada classe. a pajelança teve direito a churrasquinho, pizza no forno à lenha, picolés, salada de frutas, sucos, pastéis. e o maravilhoso salão de chá, em que crianças de dez anos, da turma do quarto ano, servem em bandejinhas a bebida e os bolos feitos em casa pelas famílias das crianças pequenas que estão no jardim de infância.
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mesmo quando é em preto e branco, a vida pode ser muito bela. belíssima. hoje fiquei dando risada com meus amigos enquanto almoçávamos numa varanda enorme, no décimo primeiro andar de um prédio, numa parte muito alta de são paulo. o vento insistente fazia voar os guardanapos, e as crianças tiveram de usar agasalhos. e um céu muito cinza nos brindou. como é bom ter amigos que dão valor para almoços inesquecíveis sob um céu tão lindo.
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escureceu, e a sala está iluminada só com as luzinhas da árvore. e agora eu vou rezar pra que o pai do céu mande lindas criancinhas pra vida dos meus amigos, que querem tanto ter a imensa casa deles cheia de gente! mal sabem eles que eu ouvi um anjinho sussurrar um segredo no meu ouvido.
deus esteja.

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